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amigos de fé, irmãos, camaradas,...
Documento da CIA vincula Médici à 'violência' [5]
Nixon
perguntou a Médici, em um encontro na Casa Branca em 9 de dezembro de 1971, se
os militares chilenos eram capazes de derrubar a Allende para eleger Pinochet. Médici respondeu que
sim, em sua opinião, e "deixou claro que o Brasil estava trabalhando com
esse objetivo", Médici
disse que estava feliz por ver que as posições e pontos de vista brasileiro e
americano eram tão parecidos. Apenas dois meses depois do golpe de 11 de setembro de 1973, o
Brasil, sob o governo ditador de Médici, concedeu um empréstimo de US$ 50
milhões ao Chile de Pinochet (David Lillo/AFP/)
O
Brasil também acelerou as compras de cobre chileno, abriu linhas de crédito
especiais para os empresários brasileiros interessados em exportar ao Chile e
adotou medidas para estimular as vendas de açúcar e automotores a esse país.
Com
essa política, em 1976 o Brasil tirou da Alemanha o posto de maior importador
de cobre chileno. O
Brasil também ajudou a financiar a compra de um sistema de comunicações para a
Interpol no Chile. O país
atuou ainda na área diplomática a pedido da junta militar chilena para
‘proteger os interesses do Chile’ no México, Polônia e Iugoslávia, países que
condenaram o golpe de Pinochet. Os
diplomatas brasileiros nesses países assumiram tarefas da Embaixada do Chile,
como negociar a chegada de presos políticos e pagar dívidas do serviço
diplomático. O
regime brasileiro defendeu também o chileno em fóruns internacionais como a
Organização dos Estados Americanos (OEA).
Em
contrapartida, o Chile apoiou diversos candidatos brasileiros a cargos em
órgãos internacionais. [5]
Ditadores
Pinochet (Chile), Videla (Argentina) e Médici (Brasil): documentos contêm
evidências de colaboração entre ditaduras na América do Sul nas décadas de 1970
e 1980. Divulgação Armando Cardoso / Nira Foster [4]
Mas por que Paulo Guedes tem tanto apreço pelo
sistema econômico do ditador Pinochet? Há
alguma relação entre ultra-liberalismo, autoritarismo, e neonazismo? (adendo)
Max
Seitz - @maxseitz
Enviado
especial da BBC Mundo a Berlim
25
julho 2016
O
Parlamento alemão aprovou em 30 de junho de 2017 a criação de um fundo de ajuda
para as vítimas da Colônia Dignidade, assumindo a "responsabilidade
política" do Estado alemão no fracasso à proteção dos direitos humanos de
centenas de vítimas da seita no Chile. O
governo da Alemanha não fez o suficiente nas décadas de 1970 e 1980 para
conter Schäfer e proteger seus cidadãos. O atual ministro das Relações
Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, reconheceu que a colônia é um
"capítulo obscuro" na diplomacia do país.
Os
papeis revelam a colaboração estreita com a Dina (polícia secreta da ditadura
Pinochet), que foi "treinada para ser brutal" e supostamente recebeu
apoio técnico em construções subterrâneas e comunicações. A origem de
"incalculáveis recursos financeiros" do reduto; seu
"notório" arsenal de pistolas, metralhadoras e granadas, e seu nível
de influência nos círculos de poder no Chile e na Alemanha.
O reduto
marcou um episódio indigno na política internacional.
A
Colônia Dignidade é uma mancha na história chilena, uma comunidade agrária de
alemães fundada por um ex-militar nazista; uma seita que, durante décadas,
mediante isolamento e doutrinação, criou "robôs" humanos; um local
onde se abusou sexualmente de dezenas de adolescentes e crianças e em cujo
hospital se administraram psicofármacos ilegais e choques.
Finalmente,
foi um centro clandestino de detenção e tortura após o golpe do general Augusto
Pinochet contra o presidente socialista Salvador Allende em 1973.
Tudo
isso era a Sociedade Beneficente e Educacional Dignidade, criada perto de
Parral, a 350 km ao sul de Santiago, por um personagem sinistro, já morto: Paul
Schäfer, ou "O Professor", médico das Forças Armadas alemãs durante a
Segunda Guerra Mundial.
Relatos
como o do homem torturado com olhos vendados na chamada Colônia Dignidade, um
enclave fundado por nazistas no Chile em 1961, integram milhares de documentos
diplomáticos que acabam de ser desclassificados pelo governo alemão.
"Por
um período indeterminado fui submetido a tortura com choques elétricos, e perdi
várias vezes a consciência. As perguntas eram sobre minha militância […] e
outros opositores ao regime de Pinochet."
"Em
um momento lembro de escutar perto do ouvido a voz de um homem ameaçando
apertar o gatilho se eu não falasse […] Senti o cano da arma sobre minha
têmpora esquerda e […] escutei o 'clique' da arma ser engatilhada sem um
projétil...".
'Campo
de concentração'
Os
milhares de documentos desclassificados estão em aproximadamente 200 pastas,
cada uma com centenas de páginas em alemão.
A BBC
Mundo consultou os papeis por uma semana no Arquivo Político do Ministério das
Relações Exteriores da Alemanha, em Berlim.
Os
arquivos liberados incluem comunicações entre a embaixada da Alemanha em
Santiago e a Chancelaria do país, informes e cartas de diplomatas e
parlamentares; declarações de testemunhas chilenas e alemãs perante a Justiça
em Bonn e relatos de membros que escaparam da colônia.
O
acesso teve condições específicas: não se podia tirar cópias nem fotografar as
folhas. A reportagem também só foi autorizada a citar documentos produzidos
pela diplomacia alemã - papeis do governo chileno que integram o material não
podem ser citados, segundo a lei alemã.
Também
não é permitido citar nomes de pessoas mencionadas, nem de remetentes ou
destinatários de mensagens.
EPA/Villa Baviera - Na Colônia Dignidade centenas de pessoas viveram sob o lema "Silêncio é fortaleza"
Os
documentos indicam que a Colônia Dignidade era "um Estado dentro de outro
Estado", uma fortaleza hermética, porém com mais força e influência no
lado de fora do que se imaginava, o que permitiu que operasse impune por muito
tempo.
Schäfer,
que chegou ao Chile foragido da Justiça alemã por acusações de pedofilia, criou
um reduto secreto cercado por uma vala e cercas de arame farpado, torres de
vigilância, refletores e cachorros.
Quase
300 cidadãos alemães e 20 crianças órfãs chilenas que viviam lá — segundo os
arquivos desclassificados— tinham "tudo" o que precisavam: escola,
hospital com 60 camas, padaria, açougue, escolas, estábulos, áreas de cultivo,
gerador elétrico e até um departamento jurídico.
Um dos
alemães que fugiram da colônia disse que "os membros […] deveriam
trabalhar da manhã à noite, sem finais de semana livres".
O
enclave tinha regras próprias: Deus, esforço, disciplina. Almas
"rebeldes" ou "difíceis" eram submetidas a tratamentos com
psicofármacos e choques.
Um dos
escritórios trazia um cartaz com o lema do local: "Silêncio é
fortaleza".
EPA/Villa Baviera - Crianças foram vítimas de abusos sexuais no local
Membros
da comunidade tinham dinheiro retido pelos líderes, que também tomavam seus
documentos de identidade e passaportes, para evitar fugas a outros países.
Um
alemão que conseguiu fugir do lugar confirmou que nenhum morador tinha
documentos válidos. "Tudo é eliminado […] ou trancado no escritório da
colônia."
"A
maior parte não tem contato com a moeda chilena e não mantém vínculo com o
exterior há décadas", acrescentou outro ex-interno.
Numa
mensagem à Chancelaria em Bonn, a embaixada alemã em Santiago alertava sobre
maus-tratos a membros da colônia, sobre o isolamento forçado e a preocupante
situação de crianças no local.
"Seria
importante mudar as condições de vida que guardam reminiscências dos campos de
concentração […] e que não seja permitido ao senhor Schäfer dormir com as
crianças".
EPA/Villa Baviera - A escola dentro da "fortaleza"
De
acordo com os arquivos, a embaixada alemã em Santiago tinha ciência das
denúncias de violações e pedofilia na colônia.
Contudo,
quando seus funcionários visitavam o local, Schäfer e outros dirigentes —
sobretudo seu braço direito, o médico Hartmut Hopp — evitavam recebê-los ou
negavam todas as denúncias, pintando um cenário de vida pacífica e harmoniosa.
Em
um dos arquivos liberados, um morador que fugiu da colônia lembra que durante
um almoço Schäfer chegou a dizer, com punho cerrado: "Tenho a embaixada
nas minhas mãos".
Bunkers
e túneis
Acusações
de abusos contra adultos e crianças rondam a Colônia Dignidade desde sua
criação, mas aquele era apenas o começo de sua história perturbadora: logo
viria o período de cooperação com a Direção de Inteligência Nacional (Dina),
órgão de repressão política durante o regime Pinochet (1973-1990).
O
período expõe o nível real de poder e influência — pouco esclarecido até agora
— que o reduto de alemães chegou a ter enquanto participava ativamente de atos
de tortura e desaparecimento de dissidentes.
AP - Os vínculos entre a colônia e Augusto Pinochet eram fortes
"Sei
que desde 1973 Manuel Contreras [chefe da Dina-Dirección de Inteligencia Nacional], inclusive com sua mulher, era
convidado no fundo [Colônia Dignidade]", disse uma mulher que fugiu do
local. "Cozinhei para ele."
Outro
fugitivo alemão ratificou que a colônia "trabalhava estreitamente com o
governo". "Pinochet voou de helicóptero até lá, e a senhora Pinochet
participou da inauguração da escola."
EPA/Villa Baviera - Campo de pouso dentro da colônia
Os
papéis trazem ainda um depoimento de um ex-agente da Dina que diz ter
participado de interrogatórios e torturas dentro da colônia.
E
mais: ele afirma que o reduto era um campo de treinamento, dirigido por alemães
e que abrigou numerosos presos políticos [seriam 112 naquele momento], além de
uma poderosa estação de rádio que era a central de recepção de informação
exterior da Dina.
Um
ex-soldado chileno que esteve na colônia disse que funcionários da Dina eram
"treinados para ser brutos". E citou os conhecimentos em comunicações
dos membros do enclave - os alemães cediam ao Exército chileno, por exemplo,
transmissores portáteis de grande potência.
EPA/Villa Baviera - Central telefônica da Colônia Dignidade: expertise em comunicações
Um
informe confidencial da Chancelaria Alemã indica que o regime de Pinochet
também aproveitou os conhecimentos do enclave alemão sobre construção de
bunkers e túneis.
"Comenta-se
que os moradores da colônia são recolhidos por helicópteros do governo […] para
ajudar em instalações subterrâneas na nova residência do presidente [Pinochet],
pois na colônia possuem grande experiência nessas construções."
Cabe
questionar se a estação de rádio da colônia foi usada na Operação Condor, o
plano de coordenação de ações e ajuda mútua entre regimes militares no Cone
Sul.
EPA/Villa Baviera - A sala de vigilância da Colônia Dignidade
Os
documentos agora liberados não respondem a questão, mas oferecem detalhes de
como Schäfer e seus subordinados colaboraram com a Dina no desaparecimento de
pessoas.
Em
um deles, um membro da colônia que desertou afirma que, a partir de 1973,
veículos da comuna entravam habitualmente na unidade da Dina na cidade vizinha
de Parral para recolher presos e levá-los até a comunidade agrária.
Aos
prisioneiros era dito que seriam levados a um "lugar bonito", de onde
voltariam "mais dignos", segundo uma série de denúncias penais
apresentadas contra Schäfer na Justiça alemã por violações de direitos humanos
de dirigentes e militantes políticos.
ASOC. POR LA MEMORIA Y LOS DD.HH. COLONIA DIGNIDAD
Corpos foram encontrados em fossa na Colônia Dignidade
Um
desses processos cita um ex-colaborador da Dina que levou um preso à colônia em
meados dos anos 1970.
"Logo
que o prisioneiro foi retirado pelos alemães, [o ex-colaborador] conheceu um
homem que seu superior chamava de 'professor'. Para ele ficou claro, pelo o que
o 'professor' dizia e como dizia, que aquele homem havia matado detentos que
eram levados para lá. O 'professor' usou a palavra 'liquidar' [fertigmachen em
alemão]".
Um
informe reservado da Chancelaria alemã sugere ainda que a colônia tenha se
apropriado de bens de vítimas, ao mencionar versão sobre "um enorme
estacionamento subterrâneo [no local] com uma fila de veículos chilenos de
pessoas desaparecidas ao longo dos anos".
'No
comando' de um massacre
Os
arquivos trazem detalhes assustadores da participação direta da administração
da Colônia Dignidade no massacre de Cerro Gallo, em 1975, dentro da chamada
Operação Colombo.
Esquadrões
militares chilenos fuzilaram dezenas de prisioneiros, que depois de mortos
foram caracterizados como guerrilheiros que tentavam entrar no Chile pelos
Andes, desde a Argentina.
EPA - "Usavam velhos uniformes alemães", disse uma testemunha
Um
dos processos contra Schäfer na Alemanha, sobre a morte de um militante de
esquerda no Chile, sustenta que a vítima morreu no massacre "pelas mãos de
unidades do Exército comandadas por líderes da Colônia Dignidade" que
"vestiam velhos unformes alemães".
O
próprio Schäfer supervisionou a operação sobrevoando a região de helicóptero.
O
relato de um ex-soldado chileno corrobora a cumplicidade da colônia no
massacre.
"Fomos
lá perseguir uns extremistas e os alemães nos ajudaram […] Conheciam uma
montanha, o Cerro Gallo, onde diziam ter visto extremistas. Mas não usamos
nossos veículos, apenas os deles […] Eles iam com uniformes militares alemães
[…] Os veículos eram Unimog [Mercedes Benz]".
O
complexo contava com "ao menos uma pista de pouso de 2 km, adequada para
[…] grandes aviões", afirmam os papeis.
EPA - Testemunhas dizem que a atividade na colônia era 'frenética'
quando caía a noite
Arsenal
'notório'
O
ex-soldado chileno afirmou ainda que a colônia "tinha armas melhores do
que nós". "Algumas metralhadoras enormes. E quando usavam trajes
civis levavam casacos de lã e ninguém via o que havia embaixo".
Informes
reservados da Chancelaria alemã confirmam a hipótese da existência de um
"notório arsenal" no local.
Atrás da fachada pacífica escondiam-se numerosas armas
Um
dos textos diplomáticos cita um ex-membro da colônia afirmando que no local
"fabricavam-se armas, entre elas granadas de mão".
Há
ainda cartas de parlamentares alemães que, preocupados com a situação, pediam à
Chancelaria em Bonn explicações sobre fortes suspeitas de colaboração alemã e
chilena em relação a armas.
"Quais
facilidades técnicas a Colônia Dignidade importou da Alemanha Ocidental para
fabricação de armas, e houve planos de compra de materiais estratégicos como
urânio e titânio do Chile por meio da colônia?", questiona uma das
mensagens.
WIKIMEDIA - Gerhard Mertins, famoso traficante de armas, teria criado um "círculo de amigos" na Colônia Dignidade
Em
outra, um parlamentar chama a atenção sobre a versão de que o famoso traficante
de armas alemão Gerhard Mertins, um nazista ligado a Schäfer, teria criado, na
Alemanha, um "círculo de amigos" da colônia.
E
questiona: "Seria admissível que, segundo as regulações de exportação de
armas da Alemanha Ocidental, fossem enviadas armas a 'colonos alemães' no Chile
sem permissão de exportação?".
Um
ex-funcionário da colônia citado em um documento diplomático dava pistas sobre
esse tipo de operação ilegal: "Por ordem de P. Schäfer comprei armas no
mercado negro em 1970/71, especialmente pistolas, 2 MG [metralhadoras] e
algunas pistolas-metralhadoras. Canalizei-as sob a cobertura de carregamentos
de caridade ao Chile".
AP - A colônia passou a se chamar Villa Baviera em 1991
'Amplos
meios financeiros'
A
quantidade de recursos disponíveis à colônia é outra incógnita, e chave para
algumas respostas específicas sobre o complexo.
EPA/Villa Baviera - Os habitantes da colônia se dedicavam, entre outras cosas, à agricultura
Entre
os arquivos desclassificados pelo governo alemão está o testemunho de um dos
vários alemães que fugiram da comuna.
"Seu
caráter social é uma fachada. Na verdade trata-se de uma potente firma
comercial que fornece produtos a dois supermercados e cuja operação
provavelmente inclui minas de ouro e extração de titânio."
E
acrescenta: "Tem sido notadamente fácil passar pela aduana com contêineres
a serem descarregados na CD [Colônia Dignidade]. Isso vem de uma boa cooperação
com o governo [chileno]".
O
reduto, diz a testemunha, também "mantinha contas em dólares na
Alemanha".
EPA - O caráter social da colônia era aparentemente fachada para uma organização comercial
Sobre
operações de mineração, um informe da embaixada alemã em Santiago, feito após
uma visita diplomática à colônia no final dos anos 1980, afirma que a comuma
extraía ouro na região de Temuco.
Cita
também a existência, no local, de uma unidade de trituração de rochas que
vendia seus produtos a uma empresa de transporte em Santiago.
Sobre
a gerência do dinheiro, um membro da cúpula disse que "todos os recursos
em espécie eram guardados no quarto de Schäfer" e que "ninguém sabia
quando dinheiro manipulava" o chefe do local.
AP - Acredita-se que todo o dinheiro da colônia ficasse guardado no quarto de Schäfer
Os
documentos levantam suspeitas de parlamentares alemães de que Schäfer teria
comprado a área da colônia com dinheiro da venda de imóveis das Forças Armadas
alemãs.
Mencionam
possíveis vínculos da colônia com a poderosa indústria alemã, algo que o
governo da ex-Alemanha Ocidental sempre negou.
Mas
os arquivos mostram que houve um laço comercial entre funcionários da sede
diplomática alemã no Chile e a Colônia Dignidade.
Um
dos desertores da colônia disse que a embaixada se tornou cliente da colônia
"desde o primeiro contato". "Assim, por exemplo, recebia
mantimentos da colônia toda segunda-feira".
EPA - A Alemanha receonhceu que a Colônia Dignidade é um 'capítulo obscuro'
da diplomacia do país
Investigações
oficiais
Apesar
de ter ciência de informes e denúncias sobre o que ocorria na colônia, a
Alemanha Ocidental "fez vistas grossas" e falhou ao evitar abusos no
local, reconheceu recentemente o ministro de Relações Exteriores alemão,
Frank-Walter Steinmeier.
A
embaixada perdeu a orientação no afã de manter boas relações com o pais
anfitrião"
Frank-Walter
Steinmeier, ministro das Relações Exteriores da Alemanha
O
governo da Alemanha "deveria ter feito pressão diplomática sobre a cúpula
da colônia", lamentou Steinmeier. "A embaixada perdeu a orientação no
afã de manter boas relações com o país anfitrião."
Quando
Bonn decidiu agir, no final dos anos 1980, já era tarde. O regime de Pinochet
estava em decadência, e era época da queda do Muro de Berlim, símbolo da Guerra
Fria.
Os
arquivos sugerem uma série de fatores que explicam a impunidade mantida pela
colônia por tanto tempo: relação estreita com o regime de Pinochet, vínculos
com círculos políticos na Alemanha e um formidável aparato jurídico.
EPA/Villa Baviera - Entrada de uma câmara subterrânea na Colônia Dignidade
Outra
pergunta —mais fundamental— feita por um parlamentar ao Executivo em Bonn é
porque a Alemanha Ocidental não pediu ao Chile a extradição de Schäfer, que era
procurado no país europeu por acusação de pedofilia.
Suspeita-se
que serviços secretos alemães tenham cooperado com a comuna chilena, mas tais
denúncias não puderam ser comprovadas de forma definitiva. E dificilmente serão
até a liberação de documentos classificados como ultrassecretos.
O
que fica claro no material agora liberado é que a Alemanha tendia a direcionar
denúncias sobre a colônia ao governo chileno, que não dava andamento aos casos.
EPA/Villa Baviera - Quando as acusações se acumulavam, a colônia dava amostras de seu
grande aparato jurídico
Um
documento da Chancelaria em Bonn reclamava da "demora" no governo
chileno em encaminhar processos "que tinham um olhar ou tratamento crítico
dos problemas na CD [Colônia Dignidade]".
Quando
as denúncias se acumularam, na segunda metade dos anos 1980, e embaixadores da
Alemanha no Chile se tornaram mais críticos, diretores da colônia fizeram de
tudo para bloquear visitas de delegações diplomáticas, barrando-as antes do
famoso arco de entrada da propriedade.
E
não era só isso: também começaram a processar todos que citavam a colônia
negativamente - a Anistia Internacional, meios de comunicação alemães e até
cônsules da embaixada foram alvo de ações.
AP - O primeiro presidente democrático do Chile depois de Pinochet, Patricio Aylwin,
se comprometeu a investigar Schäfer e seu reduto
O
"professor" negava participação em crimes e violações de direitos
humanos. "É uma loucura, uma bobagem", insistia.
Mas
com a volta de democracia no Chile os dias de Schäfer estavam contados.
O
novo presidente, Patricio Aylwin, se comprometeu a investigar a colônia e mais
tarde criou uma Comissão da Verdade.
Em
1997, Schäfer fugiu para a Argentina, onde foi detido em 2005.
Um
ano depois, após ser extraditado ao Chile, ele foi condenado a 33 anos de
prisão por abuso sexual de menores, torturas, assassinato e posse ilegal de
armas.
Morreu
do coração em 2010, numa prisão de Santiago. Tinha 88 anos.
Seu
braço direito, o médico Hartmut Hopp, foi condenado em 2011 pela Justiça
chilena a cinco anos de prisão por ajudar Schäfer a estuprar crianças.
EPA/Villa Baviera - O médico Hartmut Hopp, braço direito de Schäfer, em imagem de 2000.
Hoje ele vive "confortavelmente" na Alemanha
Hopp,
de 72 anos, fugiu para a Alemanha antes de começar a cumprir sua pena.
Hoje,
após questionamentos sobre sua vida confortável no povoado de Krefeld, um
tribunal analisa um pedido da Promotoria local para que o médico cumpra a pena
que recebeu no Chile em uma prisão alemã.
Já
a Colônia Dignidade foi rebatizada como Vila Baviera após perder sua
personalidade jurídica em 1991, e logo foi reformada.
O
legado do local, contudo, continua vivo, e parentes de desaparecidos ainda
exigem investigações sobre tudo o que ocorreu lá.
'Queremos
saber'
Na
última semana, a Associação pela Memória e Direitos Humanos Colônia Dignidade
apresentou uma queixa "contra responsáveis pelos crimes de
extermínio" no enclave.
"Queremos
saber quantos desaparecidos houve na colônia [acredita-se que tenham sido mais
de cem], quais eram seus nomes e qual foi o destino final deles. Além disso,
queremos que continuem buscando mais fossas comuns na área. Sabemos de oito ou
nove, mas poderia haver mais", afirma Margarita Romero, presidente da
entidade.
A
apresentação da queixa coincidiu com a visita a Santiago do presidente alemão,
Joachim Gauck, que reconheceu que diplomatas do país deveriam ter agido diante
das atrocidades cometidas na colônia, mas negou responsabilidade do Estado
alemão.
AP - O presidente da Alemanha, Joachim Gauck, esteve recentemente no Chile e disse que o país
está disposto a ajudar em investigações sobre fatos ocorridos na Colônia Dignidade
Um
fator inesperado contribuiu para a decisão de liberar os arquivos sobre a
colônia em Berlim.
Foi
o lançamento do filmeColônia Dignidade, de Florian Gallenberger, estrelado por
Emma Watson e Daniel Brühl. O diretor investigou o assunto por cinco anos e
visitou várias vezes a região.
A
influência do filme foi reconhecida pelo próprio ministro das Relações
Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, para quem a liberação dos arquivos
demonstra como a cultura pode "atuar como impulso para a política".
Direito de imagem
Florian Gallenberger, diretor do filme "Colônia Dignidade".
Um
porta-voz de Steinmeier disse à BBC que a liberação dos documentos "busca
lançar luz sobre o que ocorreu na colônia e aprender lições para o
futuro".
A
Colônia Dignidade já não existe, mas sua história de infâmia, passados mais de
40 anos do golpe militar no Chile, começa a ser compreendida apenas agora.[1]
NOTAS:
[5]https://noticias.uol.com.br/ultnot/internacional/2009/08/17/ult1859u1333.jhtm - https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,documento-da-cia-vincula-medici-a-violencia,70002312059
[6]Adendo Agosto de 2020:
Reuniões
secretas e conflitos para Pinochet capitalizar a aposentadoria no Chile. As
tratativas para os neoliberais capitalizarem a Previdência e os receios dos
militares chilenos foram registrados em uma Ata Secreta, até recentemente guardada nos
porões da ditadura. Pinochet e o seu ministro ChicagoBoy José Piñera que
capitalizou a Previdência. A lógica do sistema previdenciário chileno tem
provocado resultados avassaladores, como o aumento de suicídios entre pessoas
maiores de 70 anos. O Brasil à caminho.
É narrado no livro
Economists in the Americas, organizado por Verónica Montecinos e John Markoff,
os EUA financiaram com bolsas, empregos e passagens aéreas inúmeras
universidades na América Latina para que o liberalismo se expandisse e virasse
o mainstream das escolas econômicas daqueles países – o que acabou dando certo.
Milton Friedman colaborou com governo chileno;
Em 1980 Paulo Guedes com o título de doutor pela Universidade de Chicago
aceita o convite do governo ditatorial
chileno para dar aulas na Universidade do Chile – que àquela época era dirigida
por um general , Jorge Constantino Demetrio Selume Zaror de origen árabe,
estudió en el Colegio Alemán de la capital, con mención en economia doutorado ,
pela University of Chicago, ex-diretor
de Orçamento do regime de Pinochet. Em
1985 com o novo ministro da Economia
Hernán Büchi, foram vendidas mais de 30 estatais, uma perda estimada em mais de
US$1 bilhão. Uma comissão da Câmara chilena investigou as privatizações e
relatou que ex-funcionários de Pinochet passassem a ser proprietários das
antigas estatais.
O governo chileno
concluiu que metade dos aposentados daquele país recebia míseros 30,6% de um
salário mínimo. Hoje o governo de do Chile, já prepara uma nova reforma da
Previdência para fazer com que empresários contribuam com 4% sobre os salários
dos seus trabalhadores para que as aposentadorias deixem de ser tão baixas como
determinou o plano dos chicagoboys de Pinochet.
Ignorando o próprio
exemplo internacional de capitalização do Chile, Paulo Guedes continua a
defender o sistema de capitalização para o Brasil, um país ainda mais pobre do
que aquele.
Mas por que Guedes tem
tanto apreço pelo sistema econômico do ditador Pinochet? Há alguma relação
entre ultra-liberalismo, autoritarismo, e neonazismo? Os economistas admitiram que não poderia ser possível fazer
“as mudanças no Chile sem um regime
autoritário”. O mesmo que Paulo Guedes e militares estão fazendo no Brasil.
Apesar de estar no seu
mundo perfeito como ele queria, Paulo Guedes decidiu voltar para o Brasil
apavorado, quando encontrou agentes da polícia secreta chilena vasculhando o
apartamento onde ele morava – afinal de contas, ditadura só é bom nos olhos dos
outros.
Jorge Selume Zaror, a envolver-se em
casos polémicos, o escândalo CNA. Hoje,
na mira da Receita Federal - e suas universidades no Chile
[8]O laço de Paulo Guedes com os ‘Chicago
boys’ do Chile de Pinochet
[9]Golpe de Pinochet no Chile CIA
continua sem revelar tudo o que os EUA sabiam