- Mas o que fazia essa comunidade marroquina e sionista na Amazônia? A imigração marroquina para a região amazônica, em busca de ouro, borracha, castanha e outros produtos do comércio local, iniciou-se por volta de 1808, ano da chegada da família real portuguesa ao Brasil. Em 1822, ano da Independência do Brasil de Portugal, era constituída a primeira comunidade formal em Belém, a sinagoga Shaar Hashamaim (Portal dos Céus), que continua em atividade até os dias de hoje, em Belém. Os jovens marroquinos embrenhavam-se pela mata, estabelecendo-se em pequenas cidades à beira dos rios. Muitos se mantinham observantes dos preceitos religiosos judaicos, inclusive da Cashrut. Outros acabaram por se assimilar e casar com caboclas locais, sendo que seus descendentes hoje em dia só podem ser identificados como descendentes de judeus por seus sobrenomes tipicamente judeus marroquinos: Sicsú, Serruya, Benzaquen e outros. De qualquer modo, a vida judaica no interior da Amazônia era marcada por hábitos judaicos: muitos armazéns de beira de rio fechavam na sexta-feira à tarde e reabriam somente no domingo, nada funcionava nos feriados do calendário judaico, e o hábito da circuncisão era mantido nesses rincões distantes. Pequenas sinagogas pontuavam cidades como Cametá, Parintins e outras, e cemitérios judaicos até hoje podem ser encontrados em pequenas e médias cidades do interior do Pará e do Amazonas.
- O jornal Kol Israel se tornou um símbolo das primeiras publicações e iniciativas sionistas no Brasil. O que o torna peculiar, no entanto, é ter sido publicado em plena região amazônica, e distribuído em barcos pelos rios da bacia do Amazonas para todas as pequenas comunidades judaicas marroquinas que habitavam Cametá, Santarém, Alenquer, Itacoatiara, Macapá, Igarapé-Miri, etc. Assim, os judeus que moravam no interior da selva eram mantidos informados sobre a Declaração Balfour, a construção do Hospital Hadassah, os esforços internacionais de Chaim Weizmann e a construção dos kibutzim e moshavim que caracterizavam a colonização judaica inicial em terras da então Palestina.
- Eliezer Levy de Gurupá, 29 de novembro de 1877, se dedicaria com afinco à comunidade judaica, tornando-se um importante líder local. Apesar de não ser diplomado em Direito, era possível, na época, praticar Direito em escritórios de advocacia. Eliezer Levy entrou inicialmente na Guarda Nacional, tendo chegado ao posto de Coronel. Apesar disso, ficou conhecido como Major Eliezer Levy. Trabalhou no escritório de advocacia de Francisco Jucá Filho, Procurador da República, e de Álvaro Adolfo da Silveira, futuro Senador da República e assessor de Oswaldo Aranha, na ONU. Tendo desenvolvido grande amizade com Álvaro Adolfo da Silveira, meu avô o introduziu ao ideário sionista precocemente, o que facilitou, segundo conta a comunidade judaica de Belém, o apoio do então chanceler Oswaldo Aranha à partilha da Palestina em dois estados, um judeu e um árabe, em 29 de novembro de 1947, e que levaria à declaração da Independência de Israel, em maio de 1948. Em visita à comunidade de Belém para homenagens, em 1952, Oswaldo Aranha disse, agradecendo: “Não é a mim que vocês têm que agradecer, é ao Álvaro Adolfo, que me fez atrasar a votação por dois dias para que conseguíssemos o quórum favorável à Partilha, e que resultou na criação do Estado de Israel”. Segundo meus familiares, era tudo obra do Major Eliezer Levy... O Major Eliezer Levy terminou por ligar-se, politicamente, ao governador Magalhães Barata e acabou sendo nomeado por três vezes, entre janeiro de 1937 e julho de 1944, prefeito de Macapá. Até hoje seu nome é conhecido e homenageado na capital do Amapá, tendo dado seu nome a importante rua e ao porto (trapiche) de Macapá.
Em 1981, o Beth Hatefutsot pediu ao fotógrafo Sérgio Zalis, na época aluno da escola de arte Betzalel, em Jerusalém, uma documentação do judaísmo brasileiro. Sérgio veio ao meu encontro, em São Paulo, sem maiores recursos além de sua boa vontade, e eu fiz ver a ele que a comunidade judaica brasileira estava espalhada pelos quatro cantos do país, e seria interessante estabelecer qual comunidade seria objeto de sua pesquisa. Elaboramos uma relação de possíveis registros, e Tel Aviv foi consultada. O Beth, depois de várias reuniões, decidiu-se pelo Norte do Brasil.
Em janeiro de 1983, finalmente, o Beth Hatefutsot, o Museu da Diáspora da Universidade de Tel-Aviv,Israel, encomendou-nos a realização de uma documentação sobre o que até então era uma história muito pouco conhecida: a saga dos judeus marroquinos e de seus descendentes, os hebraicos, na longínqua e misteriosa Amazônia.
Com o apoio do empresário Israel Klabin, durante um mês, percorremos aquela imensidão, começando por Belém do Pará, seguindo depois para Cametá, às margens do rio Tocantins. Dali, partimos para Abaetetuba, Alenquer, Santarém, Óbidos, Maués, Itacoatiara, Manaus, Porto Velho e Guajará Mirim.
Em todos esses lugares, encontramos judeus, descendentes de judeus e registros impressionantes da passagem dos judeus de origem marroquina pela Amazônia. Elaborei um texto, quase crônica, e Zalis produziu as fotos. Com esse material, o Museu de Tel-Aviv realizou, em outubro de 1987, uma exposição sobre os judeus na Amazônia. Essa exposição, que depois percorreu o mundo, de Londres a Paris, Roma a Madri, ao Marrocos e aos Estados Unidos, ainda é desconhecida do público brasileiro. Foi uma das exposições transitórias do Museu, de maior afluência de público.
O rei Hassan V, do Marrocos, tomou conhecimento da exposição, daí resultando um convite para que prosseguíssemos em nossas pesquisas sobre a presença judaico-marroquina na Amazônia. Isto aconteceu em 1988, quando uma equipe de televisão, comandada por Fábio Golombek e acompanhada por mim, viajou pelo Marrocos, buscando os elos de ligação entre os judeus, o Marrocos, o Brasil e o Estado de Israel. Dessa viagem resultou um documentário de TV, "Marrocos, uma nova África". Em 1990, a RAI, televisão estatal italiana, encomendou a uma produtora local a realização de um pequeno documentário sobre os hebraicos da Amazônia.
Esse documentário, produzido por Carlos Nader e dirigido pelo cineasta Henrique Goldman, foi exibido em diversos países, tais como Inglaterra, França, Itália, Bélgica, EUA; Foi exibido pela TV Cultura de São Paulo; em Israel, em 1991, foi o programa especial de Tishabeav (dia de lembrança da queda dos Templos de Jerusalém)
UMA PEQUENA HISTÓRIA DOS JUDEUS NO BRASIL
Em 1770,
teve início um
novo ciclo para
a vida judaica no
Brasil, sem nenhuma
semelhança com todo o
seu passado. Em Portugal,
o cenário mudara
e a Inquisição acabava de
entrar nos seus
últimos estertores, golpeada de
morte pelo poderoso ministro Sebastião José
de Carvalho e
Melo, conhecido como o
Marquês de Pombal. Em 25 de
maio de 1773,
conseguiu ele junto
ao rei, D.José
I, a promulgação de
uma lei que
extinguiu as diferenças entre cristãos-velhos e
cristãos-novos, revogando todos os decretos e disposições até então
vigorantes com respeito à discriminação contra
os cristãos-novos. As
penalidades pela simples
aplicação da palavra
"cristão-novo" a quem
quer que fosse, por escrito ou oralmente, eram pesadas: para o povo -
chicoteamento em praça pública e banimento para Angola; para os nobres - perda
dos títulos, cargos, pensões e condecorações; para o clero - banimento de
Portugal, estava praticamente anulada a Inquisição portuguesa.
..quando, pelo
tratado de comércio formado em 19 de fevereiro de 1810, na cidade do Rio
de Janeiro, entre a Inglaterra e Portugal, foi dado mais um passo à frente no
caminho da liberalização, ficando oficialmente proibidas as atividades da
Inquisição no Brasil, o governo de Portugal ainda receava os judaizantes. É
como se explica que, no mesmo artigo nº 12 do aludido tratado, em que se
dispunha que: "nem os vassalos da Grande Bretanha, nem outros quaisquer
estrangeiros de comunhão diferente da religião dominante dos Domínios de
Portugal, serão perseguidos ou inquietados por matérias de consciência,
tanto nas suas
pessoas, como nas
suas propriedades, enquanto
eles se conduzirem com ordem, decência
e moralidade, e de uma maneira conforme aos usos do País e ao seu
estabelecimento religioso e político",acrescentou-se: "porém, se se
provar que eles pregam ou declamam
publicamente contra a
religião católica, ou
que eles procuram
fazer prosélitos ou conversões, as pessoas que assim delinqüirem
poderão, manifestando-se o seu delito,
ser mandadas sair
do País..."Foram necessários
mais outros 15
anos para que, alcançada a
independência do Brasil
em 1822 e
promulgada a constituição
de 1824, desaparecesse, pela via
aberta da assimilação, o problema judaico brasileiro. A transição para uma
política liberal, que não mais sofreria retrocessos, ampliando cada vez suas
conquistas até a eclosão definitiva em 1824,
após a proclamação
da independência do Brasil e sua constitucionalização. e assim,
reforça o historiador Adolfo Varnhagen:
"Os judeus foram os pioneiros da
independência do Brasil.
Logo após
a Independência, principiaram
a afluir para
a Amazônia elementos
judaicos provenientes do Marrocos,
passou a crescer em número e a espalhar-se pelo território brasileiro.
Foram chegando ao Rio de Janeiro - de onde
irradiavam para os
estados vizinhos, especialmente
para São Paulo
e Minas Gerais - judeus procedentes de vários países da Europa Ocidental
- franceses, ingleses, austríacos e alemães, e sobretudo, alsacianos. Em 1857,
funda-se uma sinagoga
no Rio de
Janeiro, por estes judeus
alsacianos. Seu primeiro
presidente, Leopoldo Hime, o bisavô do
compositor Francis Hime. A partir da criação da Jewish Colonization
Association, a JCA, em 1891, abriram-se as portas das Américas aos judeus
perseguidos na Europa. Foi assim que surgiram as colônias do Rio Grande do
Sul e da Argentina, onde
foi nascer o
judeu de bombachas,
no dizer de
Alberto Gershunoff, los gauchos judios.
na década
de 80 do
século 19. Milhões de judeus
foram deslocados da Europa para
as Américas, especialmente para os Estados Unidos, no hemisfério norte,
e Argentina, no sul. Essa imigração era conseqüência da situação em
que os judeus
viviam na Zona
de Residência do Império Czarista, caracterizada por uma
grande concentração de população sem os meios mínimos de subsistência e
acossados por pogroms e legislação discriminatória. zonas de residência eram um
artíficio dos governos czaristas, que não admitiam a liberdade de ir-e-vir
dos súditos judeus.
Em meados
século 18, o
atual território amazônico correspondia, em sua parte já
apropriada, a um Estado à parte do Estado Colonial Brasileiro, diretamente
subordinado à metrópole lusitana. Aí acontece o ciclo da borracha, o qual
desvendou uma nova Amazônia. Ao lado dos mitos, fantasias, lendas
e sonhos de
enriquecimento rápido, inaugurou-se
uma nova sociedade, opulenta para
os padrões da
época nas capitais
e principais centros
urbanos e ativa, organizada, expansionista
nas imensas áreas
dos seringais que avançavam
do território paraense aos altos
rios. Uma nova sociedade e uma nova
geografia, com a consolidação da incorporação da Província do Amazonas
e do norte
matogrossense, incluindo Rondônia
e a incorporação
de novos territórios, como o
Acre. Tudo, conseqüências inevitáveis do chamado surto da borracha. fato desses grupos familiares se constituírem
em uma situação de abundância de terras e recursos extrativos, possibilitou um
regime de reprodução social que viabilizou a existência de centenas de milhares
de pessoas por todo o interior amazônico.
Iniciativas comunitárias
e algumas de
caráter religioso mantinham
uma modesta oferta
de serviços (escolas, associações, clubes) nas pequenas vilas e cidades,
substituindo a ausência de poderes públicos na prestação de serviços. Rabinos,
curiosos, curandeiros e pessoal com rudimentares conhecimentos de saúde
exerciam uma medicina curativa
de forte conteúdo
empírico e artesanal. O
rabino Hamu teve a
oportunidade, durante uma
visita ao mercado
de Belém, de
nos demonstrar seus
amplos conhecimentos dessa medicina popular, voar
de Belém a
Cametá, no baixo
rio Tocantins, lindo o por-do-sol nos rios da Amazônia. Quando iniciaram suas viagens para a
Amazônia, os judeus marroquinos levaram
consigo as rivalidades e divergências entre os arabizados e
berberizados, e os espanhóis. Que foram se refletir, por exemplo, na criação
das duas primeiras sinagogas de Belém, uma dos bérberes, Essel Avraham, fundada
em 1823, outra dos espanhóis, Shaar Hashamaim, fundada em 1824. Foi a situação
de extremo desconforto no Marrocos que teve papel decisivo na organização e
realização de uma
tarefa que, aos
olhos do estudioso
de hoje, parece
quase impossível: a emigração metódica e racional dos judeus de
Tetuan,e também de Tanger, para o longínquo, misterioso e perigoso Amazonas, no
Brasil.
... a Carta-Régia
de 1808 e
o Decreto de 1814
fizeram inserir o
Brasil no comércio internacional,
com reflexos imediatos na Europa.
Esse livre comércio e a abertura
dos portos "às
Nações amigas", criaram
boas perspectivas para
as judiarias marroquinas, especialmente Tetuan e Tanger,
cidades portuárias, onde os judeus já estavam envolvidos no comércio de
importação e exportação - além de falarem espanhol e hakitia. Mais
ainda: em 1810, é assinado o Tratado de Aliança e Amizade
entre o Reino Unido (Grã
Bretanha) e o Brasil, que
autoriza a prática de outras religiões que não a católica, "contanto que
as capelas sejam construídas de tal maneira que exteriormente se assemelhem a
casa de habitações e também que o uso de sinos
não lhes seja permitido". O Tratado assumia o compromisso de que,
no futuro, não haveria inquisição no Brasil.
É importante também
registrar que, proclamada a República brasileira, em 15 de novembro de
1889, o
Decreto 119 do governo
provisório de Deodoro
da Fonseca aboliu
a união legal
da Igreja com o Estado e instituiu o princípio da plena liberdade de
culto.Neste mesmo momento os judeus oriundos do Marrocos viviam, na Amazônia, o
pleno apogeu do ciclo da borracha, o que serviu para incentivar ainda mais a
contínua emigração.
Marranos eram os judeus
que assumiram o cristianismo à força, mas continuavam a professar sua fé
judaica secretamente. O marranismo foi
basicamente português, embora haja também o caso de marranos no mundo
islâmico, especialmente no Irã.O Brasil moderno é considerado o maior país marrano do mundo, pelos especialistas da
Universidade Hebraica de Jerusalém.
Em 1982, o general
Abraham Ramiro Bentes publicou em Belém, pela Mittograph Editora, o livro "Os sefardim e a
hakitia", uma pesquisa filológica sobre o dialeto hispano-árabe-judaico, e
que nos
confins da Amazônia,
acabou sendo enriquecido
por vocábulos portugueses
e indígenas. O general
Bentes editou ainda,
em 1987, o livro
"Das ruínas de
Jerusalém à verdejante
Amazônia"(Bloch, Rio de Janeiro), um alentado volume de quase 400 páginas,
onde traça a trajetória
judaica a partir
do profeta Elias
até chegar à
instalação da primeira comunidade israelita brasileira.
Onde os hebraicos puderam resistir, sua presença
prosseguiu por várias décadas. Eles
se espalharam por
toda a Amazônia.
Fica difícil até
mesmo acompanhar a
sua saga, pelos mapas. Eles
estiveram em Alenquer,
Altamira, Brasil Novo, Curuá
Una, Faro, Itaituba, Juriti, Monte Alegre, Óbidos,
Oriximiná, Porto Trombetas, Porto Vitória, Santarém, Terra Santa, Maués,
Itacoatiara, Gurupá, Buiussu, Boim, Aveiro, Manacá Puru, Manicoré, Macapá,
Teffé... "No Alto Solimões", Nesta altura dos acontecimentos, aliás,
esta é uma regra geral
para os judeus:
os filhos ficam
em Belém ou Manaus,
os pais resistem
no interior. Nas férias, a criançada vem para o interior. Quando
crescem, porém, preferem o Rio de Janeiro, São Paulo, o exterior. A médio
prazo, a presença judaica está condenada em lugares como Óbidos, Santarém,
Alenquer.
Para o então presidente
do Centro Israelita de Belém, a comunidade local está resumida a 250 famílias,
umas mil almas. O rabino Hamu foi mais radical, acha que não há mais do que 660
judeus 'de verdade". Como já foi registrado, a comunidade dispõe de duas
sinagogas, as mais antigas do Brasil, Essel Avraham (Bosque de Abraão) e Shaar
Hashamaym (Porta dos Céus). Uma é a dos judeus de Belém, ligados às casas
aviadoras - portanto, a dos "ricos". A outra, Eschel Avraham, da rua
Campos Sales, é a dos "pobres", dos que viviam nossítios e barracões
ao longo dos rios...
Quando terminou a Guerra
de Secessão, nos EUA, americanos insatisfeitos com a derrota para os nortistas
emigraram para o Brasil, onde se estabeleceram em duas cidades: Americana, em
São Paulo, e Santarém, em Belém do Pará. Descendentes daqueles
americanos, na Amazônia,
protestantes, aproximaram-se dos hebraicos, até por afinidade de minorias
discriminadas. Não foram raros os casamentos entre judeus e americanos, e
muitos de seus descendentes até hoje vivem em Santarém, onde os rios Tapajós
e Amazonas correm
paralelamente, sem se
misturar, e o
tucunaré é o
rei dos peixes.
Fordlândia/Belterra está
parada no tempo. A cidade chegou a ser quase um Estado americano em plena
selva, até suas leis eram as mesmas dos Estados Unidos. Além disso, abrigou 6
mil moradores. Hoje, cerca de 800 pessoas vivem lá, aproveitando benfeitorias
realizadas há mais de 70 anos.
ITACOATIARA "Terra
que não tem judeu, acaba", sentencia Chunito. É o apelido de Rubens José
Ezague, 74 anos, o último
judeu de Itacoatiara.
Em 1980, ele
deixou a cidade,
transferindo-se para Manaus. Vive
e trabalha num bar típico do Amazonas, um barraco de madeira, onde se bebe
cerveja, petica-se, joga-se dominó e aceitam-se apostas do jogo do bicho.
Chunito nasceu em Itacoatiara em 1909. Nos bons tempos, dedicava-se ao
comércio, viajando com o seu regatão pelo interior.
O Comitê Israelita do
Amazonas foi fundado em Manaus em 15 de julho de 1929. Seu primeiro presidente
foi Raphael Benoliel, proprietário da então mais rica e próspera firma
exportadora e de aviamentos para o interior. Samuel Benchimol.
Os Levy cultivam em 18
hectares pés de guaraná com mais de oitenta anos de produção. Toda a produção é
artesanal e a família de hebraicos está intimamente ligada à produção da fruta
que fez a fama de Maués como a capital do guaraná. A filha do finado Isaac
Sayag Aboab, natural de Tanger e descendente, em linha direta, do rabino Isaac
Aboab da Fonseca, o primeiro rabino do Brasil ! A sensação
é a de que estamos
sendo enganados. Afinal
de contas, como
veio Aboab da Fonseca aparecer ali ? Moysés Levy não se perturba. Sabe da expulsão dos
holandeses em 1654 e dos judeus da Congregação Zur Israel, no Recife. Sabe dos
caminhos do rabino Isaac Aboab (sabe até que ele participou do processo de
excomunhão contra Spinoza !) e afirma que seu pai lhe contou a história de
como, onde e quando descendentes do rabino foram parar em Tanger e Tetuan. E assim,
Isaac Sayeg Aboab
veio parar em
Maués, aí casou com
uma cabocla do
Arari e produziu três filhos,
entre eles Mazal, que cozinhava para a comunidade, nas páscoas; eu pai era
casado - "ele só ajuntou, a mãe não era da nação"- e explica que
recebeu educação formal judaica. Aprendeu
a cozinhar rigorosamente
dentro dos preceitos
da cashrut e
ainda hoje prepara uma dafina (prato típico da culinária judaica marroquina)
de dar água na boca !
TADINHOS NÉ! Judeus marroquinos na Amazônia caladinhos se instalaram, ficaram ricos, e formaram Estados dentro dos Estados brasileiros, aonde o goi ou não judeu o brasileiro, não pode entrar.
O êxodo
dos judeus ibéricos
em 1492, expulsos
pelos reis da
Espanha, e em
1496 por D.Manuel, de Portugal, é
uma das páginas mais dramáticas da história do povo judeu. Expulsos da
península, onde sofreram durante séculos torturas, massacres e humilhações, a
sua transferência para
o Marrocos não
foi mais que uma
seqüencia de sofrimentos
e atribulações. Confinados nos
mellahs de Fez,
Tetuan, Marrakech, passaram
a sofrer toda a
sorte de humilhações, confisco de bens - e massacres. Os expulsos escolheram o
Marrocos, antes de mais nada, pela proximidade geográfica. Basta olhar o
mapa. Depois, o
idioma também contou
como ponto importante:
o espanhol era a
língua franca do nordeste marroquino, o português era muito difundido por ser o
idioma dos comerciantes. A hakitia,
finamente, uma mistura
de espanhol, português, Em
dezembro de 1943, antigos militantes
nacionalistas marroquinos, inclusive
muitos de origem judaica, fundam
o Partido Istiqlal que, num manifesto datado de 14 de janeiro de 1944, reclama
a Independência do país. É o que finalmente veio a ocorrer em 2 de março de
1956, após uma longa série de tratativas diplomáticas, de um lado, de uma curta
mas intensa guerra de libertação nacional.hebraico e
árabe, também facilitava (aparentemente) a inclusão no mundo marroquino.
Em maio
de 1948, na
seqüência da proclamação
do Estado de
Israel, e a
fim de evitar tumultos, o sultão lançou um apelo ao
povo marroquino, no qual recorda aos muçulmanos que os judeus
marroquinos, vivendo há
séculos no Magreb,
"testemunharam sua devoção
e fidelidade ao trono".
Mais: os judeus
marroquinos tem no sultão, no
trono, em todas
as circunstâncias, "o melhor defensor de seus interesses e seus
direitos". Estas declarações, a
reafirmação da amizade
do sultão ao
povo judeu marroquino,
suas atitudes de defesa da comunidade ante o regime pró-nazista de
Vichy, foram interpretadas de uma forma liberal pelos dirigentes marroquinos,
os quais tinham todo o interesse em divulgar que "o Marrocos de amanhã,
democrático, tanto no plano ecnômico como no político e social, permitirá a
todos os seus filhos de desenvolver seus talentos e colocará uns e outros,
judeus e muçulmanos, diante de suas responsabilidades, com direitos iguais e
deveres iguais" (palavras de Pacha Bekkai, publicadas pelo jornal
Évidences). Entre 1948 e 1956, mais de 90 mil judeus da zona francesa deixaram
o Marrocos, destinando-se
principalmente a Israel.
Durante os anos
1944-1945, a Organização SIonista Mundial havia estabelecido contato com o
judaísmo local. Seus emissários trabalhavam não apenas nos setores de categoria
social mais elevada, que justamente eram os que resistiam mais à cantilena
sionista, mas sobretudo junto às massas empobrecidas, onde sua mensagem
soava como a realização de um velho
sonho messiânico. No mesmo instante
em que o
Marrocos se organizava
no pós-guerra, da
luta pela sua independência, outra luta se travava no
solo da Terra Prometida. E ao mesmo tempo em que o Marrocos afirmava seus laços
com a Liga Árabe, os irmãos judeus a combatiam. No dia 15 de maio de 1948, foi
proclamado o Estado de Israel. Os judeus marroquinos não ocultaram sua alegria,
os muçulmanos, seu desapontamento. Numa declaração de 23 de maio de 1948, o
Sultão ordena a seus súditos muçulmanos que não cometam quaisquer atos de
desordem pública. Ao mesmo tempo, dirige-se aos seus súditos israelitas, lembrando-lhes "que
não percam de
vista que são
marroquinos".
SEFARDITAS E
ASQUENAZITAS Como regra geral,
costuma-se dividir o
povo judeu em
dois grupos básicos
e distintos, os asquenazistas e os sefarditas. Os sefarditas
seriam os descendentes dos antigos judeus que habitavam Sefarad,
a peninsula ibérica,
conservando até hoje
sua cultura, sua
língua (o espanholito ou ladino e
a sua vertente marroquina, a hakitia) e seus costumes. Há registros da presença judaica
na Ibéria desde
o período do
rei Salomão. Após
o édito de
expulsão da Espanha,em 1492, e o
de Portugal, em 1496, os sefarditas iniciaram o período marcado como o galut
dentro do galut,
o exílio dentro
do exílio. Sempre conservando
a riqueza espiritual conquistada ao
longo dos séculos
na península. Ao
serem dispersados, dirigiram-se
para o norte da África
(Marrocos), Grécia, Turquia, os Balcãs, Egito e a Palestina. Apesar de todo o
terror da Inquisição, os
sefarditas mantiveram o que se
pode chamar de
saudosismo que perdura até
hoje. Já o
judaísmo português acabou
praticamente absorvido pelo
espanhol - nada obstante,
persistem até hoje
as Comunidades Sagradas
de Évora e de Lisboa.
E a sinagoga de Botafogo ostenta,
orgulhosa, os termos: sinagoga de rito português.Contudo, costuma-se
incluir entre os
sefarditas os judeus orientais
ou mizrahim, por desconhecimento ou comodidade. Estes,
viveram em países árabes próximos do Mediterrâneo e possuem
costumes semelhantes aos dos sefarditas. Os mizrahim
já habitavam o
Oriente Médio desde os tempos mais remotos, bíblicos, e nunca se
distanciaram muito da Terra Santa. Usam o árabe como língua do dia a dia e habitavam
o Iraque, Líbano, Síria, Iêmen e Egito. No Marrocos, onde
ainda existe outro
ramo judaico importante,
o dos bérberes
judaizados, costuma-se dizer que os mizrahim
são mais religiosos
que os sefarditas.
No cemitério de Tetuan, as alas são divididas, e podemos
imaginar que, num passado não muito remoto, era difícil o casamento de um
sefardita com um mizrahi.Quanto aos asquenazitas, atribui-se sua origem à
conversão da tribo dos khazares e a uma pequena
imigração de judeus
ibéricos. O idiche
descende do alemão,
e as diferenças
de costumes entre os asquenazitas é pequena e irrelevante. O que não
impediu, até recentemente (criação do Estado de Israel, fundamentalmente), que
existissem divisões entre asquenazitas russos e romenos, de um lado, poloneses
de outro e, é claro, alemães e lituanos distantes de todos, graças
aos seus fôros
de cidadãos mais
instruídos... O nazismo
não levou estas diferenças em conta.
FAMÍLIAS JUDAICAS DA AMAZÔNIA Em seu "Eretz Amazônia", Samuel Benchimol elaborou uma lista das famílias marroquinas que se instalaram na Amazônia, a partir de 1820. Por oportuno, reproduzimos aqui essa relação, fruto de uma pesquisa incomum e extremamente valiosa: . Relação de famílias judaicas de Belém Nome
Sob o domínio holandês, o judaísmo prosperou e afirmou-se. Foi criada a congregação Zur Israel, e marranos e cristãos-novos abandonaram os disfarces.
Pg.51 Alenquer Pará, uma figura extraordinária: Ambrósio Benzaquen. Seu avô "foi vizir na corte do sultão de Marrocos". Seu pai, David Benzaquen, um chacham que enriqueceu no Brasil. A mãe, uma cabocla chamada Maria Nepomucena Rodrigues. Ele nasceu em Barreirinha, no Amazonas, em 1913.
NOTAS:
1.https://silo.tips/download/os-hebraicos-da-amazonia
2.http://www.morasha.com.br/brasil/kol-israel-a-voz-sionista-na-amazonia.html
3.http://www.morasha.com.br/brasil/kol-israel-a-voz-sionista-na-amazonia.html
4.https://blogdacidadania.com.br/2021/03/conheca-a-saga-da-familia-endinheirada-de-pazuello/
5.Família do General Pazuello: do enriquecimento ao lado do “Rei da Amazônia” ao colapso político - https://mudancaedivergencia.blogspot.com/2021/05/familia-pazuello-do-enriquecimento-ao.html
6.Judeus Marroquinos em Israel e na Amazônia, construção das identidades étnicas https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8152/tde-02082010-191511/publico/2010_Wagner_Lins.pdf
7.https://issuu.com/animarse_a_mas/docs/usf-_issuu_3dcafea7f68215
Nenhum comentário:
Postar um comentário