quarta-feira, 19 de maio de 2021

Judeus de origem marroquina e ashquenazim que ocuparam a Amazônia

  • Mas o que fazia essa comunidade marroquina e sionista na Amazônia? A imigração marroquina para a região amazônica, em busca de ouro, borracha, castanha e outros produtos do comércio local, iniciou-se por volta de 1808, ano da chegada da família real portuguesa ao Brasil. Em 1822, ano da Independência do Brasil de Portugal, era constituída a primeira comunidade formal em Belém, a sinagoga Shaar Hashamaim (Portal dos Céus), que continua em atividade até os dias de hoje, em Belém. Os jovens marroquinos embrenhavam-se pela mata, estabelecendo-se em pequenas cidades à beira dos rios. Muitos se mantinham observantes dos preceitos religiosos judaicos, inclusive da Cashrut. Outros acabaram por se assimilar e casar com caboclas locais, sendo que seus descendentes hoje em dia só podem ser identificados como descendentes de judeus por seus sobrenomes tipicamente judeus marroquinos: Sicsú, Serruya, Benzaquen e outros. De qualquer modo, a vida judaica no interior da Amazônia era marcada por hábitos judaicos: muitos armazéns de beira de rio fechavam na sexta-feira à tarde e reabriam somente no domingo, nada funcionava nos feriados do calendário judaico, e o hábito da circuncisão era mantido nesses rincões distantes. Pequenas sinagogas pontuavam cidades como Cametá, Parintins e outras, e cemitérios judaicos até hoje podem ser encontrados em pequenas e médias cidades do interior do Pará e do Amazonas. 
  • O jornal Kol Israel se tornou um símbolo das primeiras publicações e iniciativas sionistas no Brasil. O que o torna peculiar, no entanto, é ter sido publicado em plena região amazônica, e distribuído em barcos pelos rios da bacia do Amazonas para todas as pequenas comunidades judaicas marroquinas que habitavam Cametá, Santarém, Alenquer, Itacoatiara, Macapá, Igarapé-Miri, etc. Assim, os judeus que moravam no interior da selva eram mantidos informados sobre a Declaração Balfour, a construção do Hospital Hadassah, os esforços internacionais de Chaim Weizmann e a construção dos kibutzim e moshavim que caracterizavam a colonização judaica inicial em terras da então Palestina. 
  • Eliezer Levy de Gurupá, 29 de novembro de 1877, se dedicaria com afinco à comunidade judaica, tornando-se um importante líder local. Apesar de não ser diplomado em Direito, era possível, na época, praticar Direito em escritórios de advocacia. Eliezer Levy entrou inicialmente na Guarda Nacional, tendo chegado ao posto de Coronel. Apesar disso, ficou conhecido como Major Eliezer Levy. Trabalhou no escritório de advocacia de Francisco Jucá Filho, Procurador da República, e de Álvaro Adolfo da Silveira, futuro Senador da República e assessor de Oswaldo Aranha, na ONU. Tendo desenvolvido grande amizade com Álvaro Adolfo da Silveira, meu avô o introduziu ao ideário sionista precocemente, o que facilitou, segundo conta a comunidade judaica de Belém, o apoio do então chanceler Oswaldo Aranha   à partilha da Palestina em dois estados, um judeu e um árabe, em 29 de novembro de 1947, e que levaria à declaração da Independência de Israel, em maio de 1948. Em visita à comunidade de Belém para homenagens, em 1952, Oswaldo Aranha disse, agradecendo: “Não é a mim que vocês têm que agradecer, é ao Álvaro Adolfo, que me fez atrasar a votação por dois dias para que conseguíssemos o quórum favorável à Partilha, e que resultou na criação do Estado de Israel”. Segundo meus familiares, era tudo obra do Major Eliezer Levy... O Major Eliezer Levy terminou por ligar-se, politicamente, ao governador Magalhães Barata e acabou sendo nomeado por três vezes, entre janeiro de 1937 e julho de 1944, prefeito de Macapá. Até hoje seu nome é conhecido e homenageado na capital do Amapá, tendo dado seu nome a importante rua e ao porto (trapiche) de Macapá.

Em 1981, o Beth Hatefutsot pediu ao fotógrafo Sérgio Zalis, na época aluno da escola de arte Betzalel,  em  Jerusalém,   uma  documentação   do  judaísmo    brasileiro.      Sérgio  veio  ao  meu encontro, em São Paulo, sem maiores recursos além de sua boa vontade, e eu fiz ver a ele que a  comunidade  judaica  brasileira  estava  espalhada  pelos  quatro  cantos  do  país,  e  seria interessante   estabelecer   qual  comunidade   seria   objeto     de  sua    pesquisa.  Elaboramos  uma relação  de possíveis registros, e Tel Aviv foi consultada. O  Beth, depois de  várias reuniões, decidiu-se pelo Norte do Brasil.

Em janeiro de 1983, finalmente, o Beth Hatefutsot, o Museu da Diáspora da Universidade de Tel-Aviv,Israel, encomendou-nos a realização de uma documentação sobre o que até então era uma história muito pouco conhecida: a saga dos judeus marroquinos e de seus descendentes, os hebraicos, na longínqua e misteriosa Amazônia.

Com  o  apoio  do  empresário  Israel  Klabin,  durante  um  mês,  percorremos  aquela  imensidão, começando por Belém do Pará, seguindo depois para Cametá, às margens do rio Tocantins. Dali,  partimos  para  Abaetetuba,  Alenquer,  Santarém,  Óbidos,  Maués,  Itacoatiara,  Manaus, Porto Velho e Guajará Mirim.

Em  todos  esses  lugares,  encontramos  judeus,  descendentes  de  judeus  e  registros impressionantes da passagem dos judeus de origem marroquina pela Amazônia. Elaborei um texto, quase crônica, e Zalis produziu as fotos. Com esse material, o Museu de Tel-Aviv  realizou,  em  outubro  de  1987,  uma  exposição  sobre  os  judeus  na  Amazônia.  Essa exposição, que depois percorreu o mundo, de Londres a Paris, Roma a Madri, ao Marrocos e aos  Estados  Unidos,  ainda  é  desconhecida  do  público  brasileiro.  Foi  uma  das  exposições transitórias do Museu, de  maior afluência de público.

O rei Hassan V, do Marrocos, tomou conhecimento da exposição, daí resultando um convite para que prosseguíssemos  em nossas pesquisas sobre a presença judaico-marroquina na Amazônia. Isto aconteceu em 1988, quando uma equipe de televisão, comandada por  Fábio  Golombek  e  acompanhada  por  mim,  viajou  pelo Marrocos,  buscando  os  elos  de  ligação  entre  os  judeus,  o Marrocos, o Brasil e o Estado de Israel. Dessa viagem resultou um documentário de TV, "Marrocos, uma nova África". Em  1990,  a  RAI,  televisão  estatal  italiana,  encomendou  a  uma produtora local a realização de um pequeno documentário sobre os hebraicos da Amazônia.

Esse  documentário,  produzido  por  Carlos  Nader  e  dirigido  pelo cineasta  Henrique  Goldman,  foi  exibido  em  diversos países,  tais como Inglaterra, França, Itália, Bélgica, EUA; Foi exibido pela TV Cultura  de São Paulo; em Israel,  em  1991,   foi  o  programa  especial  de  Tishabeav  (dia  de  lembrança  da  queda  dos Templos de Jerusalém)

UMA PEQUENA HISTÓRIA DOS JUDEUS NO BRASIL

Em  1770,  teve  início  um  novo  ciclo  para  a  vida judaica  no  Brasil,  sem  nenhuma  semelhança  com todo  o  seu  passado. Em  Portugal,  o  cenário  mudara  e  a  Inquisição acabava  de  entrar  nos  seus  últimos  estertores, golpeada de morte pelo poderoso ministro Sebastião José  de  Carvalho  e  Melo,  conhecido  como  o Marquês de Pombal.  Em 25  de  maio  de  1773,  conseguiu  ele  junto  ao  rei,  D.José  I,  a promulgação  de  uma  lei  que  extinguiu  as  diferenças entre  cristãos-velhos  e  cristãos-novos, revogando todos os decretos e disposições até então vigorantes com respeito à discriminação contra  os  cristãos-novos.  As  penalidades  pela  simples  aplicação  da  palavra  "cristão-novo"  a quem quer que fosse, por escrito ou oralmente, eram pesadas: para o povo - chicoteamento em praça pública e banimento para Angola; para os nobres - perda dos títulos, cargos, pensões e condecorações; para o clero - banimento de Portugal, estava praticamente anulada a Inquisição portuguesa.

..quando,  pelo  tratado de comércio formado em 19 de fevereiro de 1810, na cidade do Rio de Janeiro, entre a Inglaterra e Portugal, foi dado mais um passo à frente no caminho da liberalização, ficando oficialmente proibidas as atividades da Inquisição no Brasil, o governo de Portugal ainda receava os judaizantes. É como se explica que, no mesmo artigo nº 12 do aludido tratado, em que se dispunha que: "nem os vassalos da Grande Bretanha, nem outros quaisquer estrangeiros de comunhão diferente da religião dominante dos Domínios de Portugal, serão perseguidos ou inquietados por matérias de  consciência,  tanto  nas  suas  pessoas,  como  nas  suas  propriedades,  enquanto  eles  se conduzirem com ordem, decência e moralidade, e de uma maneira conforme aos usos do País e ao seu estabelecimento religioso e político",acrescentou-se: "porém, se se provar que eles pregam  ou  declamam  publicamente  contra  a  religião  católica,  ou  que  eles  procuram  fazer prosélitos ou conversões, as pessoas que assim delinqüirem poderão, manifestando-se o seu delito,  ser  mandadas  sair  do  País..."Foram  necessários  mais  outros  15  anos  para  que, alcançada  a  independência  do  Brasil  em  1822  e  promulgada  a  constituição  de  1824, desaparecesse, pela via aberta da assimilação, o problema judaico brasileiro. A transição para uma política liberal, que não mais sofreria retrocessos, ampliando cada vez suas conquistas até a eclosão definitiva em 1824,  após  a  proclamação  da  independência  do Brasil e sua constitucionalização. e assim,  reforça o historiador Adolfo Varnhagen: "Os judeus foram os pioneiros da  independência  do  Brasil. 

Logo  após  a  Independência,  principiaram  a  afluir  para  a  Amazônia  elementos  judaicos provenientes do Marrocos,  passou a crescer em número e a espalhar-se pelo território brasileiro. Foram chegando ao Rio de  Janeiro  -  de  onde  irradiavam  para  os  estados  vizinhos,  especialmente  para  São  Paulo  e Minas Gerais - judeus procedentes de vários países da Europa Ocidental - franceses, ingleses, austríacos e alemães, e sobretudo, alsacianos. Em  1857,  funda-se  uma  sinagoga  no   Rio  de  Janeiro, por  estes  judeus  alsacianos.  Seu primeiro presidente, Leopoldo Hime,  o bisavô do compositor Francis Hime. A partir da criação da Jewish Colonization Association, a JCA, em 1891, abriram-se as portas das Américas aos judeus perseguidos na Europa. Foi assim que surgiram as colônias do Rio Grande  do  Sul  e  da  Argentina,  onde  foi  nascer  o  judeu  de  bombachas,  no  dizer  de  Alberto Gershunoff, los gauchos judios.

na  década  de  80  do  século 19. Milhões  de  judeus  foram  deslocados  da  Europa  para  as Américas, especialmente para os Estados Unidos, no hemisfério norte, e Argentina, no sul. Essa imigração era conseqüência da situação  em  que  os  judeus  viviam  na  Zona  de  Residência  do Império Czarista, caracterizada por uma grande concentração de população sem os meios mínimos de subsistência e acossados por pogroms e legislação discriminatória. zonas de residência eram um artíficio dos governos czaristas, que não admitiam a liberdade de  ir-e-vir  dos  súditos  judeus.

Em  meados  século  18,  o  atual  território  amazônico correspondia, em sua parte já apropriada, a um Estado à parte do Estado Colonial Brasileiro, diretamente subordinado à metrópole lusitana. Aí acontece o ciclo da borracha, o qual desvendou uma nova Amazônia. Ao lado dos mitos, fantasias,  lendas  e  sonhos  de  enriquecimento  rápido,  inaugurou-se  uma  nova  sociedade, opulenta  para  os  padrões  da  época  nas  capitais  e  principais  centros  urbanos  e  ativa, organizada,  expansionista  nas  imensas  áreas  dos  seringais  que  avançavam  do  território paraense aos altos rios.  Uma nova sociedade e uma nova geografia, com a consolidação da incorporação da Província do  Amazonas  e  do  norte  matogrossense,  incluindo   Rondônia  e  a  incorporação  de  novos territórios, como o Acre. Tudo, conseqüências inevitáveis do chamado surto da borracha.   fato desses grupos familiares se constituírem em uma situação de abundância de terras e recursos extrativos, possibilitou um regime de reprodução social que viabilizou a existência de centenas de milhares de pessoas por todo o interior amazônico.

Iniciativas  comunitárias  e  algumas  de  caráter  religioso  mantinham  uma  modesta  oferta  de serviços (escolas, associações, clubes) nas pequenas vilas e cidades, substituindo a ausência de poderes públicos na prestação de serviços. Rabinos, curiosos, curandeiros e pessoal com rudimentares conhecimentos de saúde exerciam uma  medicina  curativa  de  forte  conteúdo  empírico  e artesanal.  O  rabino  Hamu  teve  a oportunidade,  durante  uma  visita  ao  mercado  de  Belém,  de  nos  demonstrar  seus  amplos conhecimentos dessa medicina popular,  voar  de  Belém  a  Cametá,  no  baixo  rio  Tocantins,   lindo o por-do-sol nos rios da Amazônia.  Quando iniciaram suas viagens para a Amazônia, os judeus marroquinos levaram  consigo as rivalidades e divergências entre os arabizados e berberizados, e os espanhóis. Que foram se refletir, por exemplo, na criação das duas primeiras sinagogas de Belém, uma dos bérberes, Essel Avraham, fundada em 1823, outra dos espanhóis, Shaar Hashamaim, fundada em 1824. Foi a situação de extremo desconforto no Marrocos que teve papel decisivo na organização e realização  de  uma  tarefa  que,  aos  olhos  do  estudioso  de  hoje,   parece  quase  impossível:  a emigração metódica e racional dos judeus de Tetuan,e também de Tanger, para o longínquo, misterioso e perigoso Amazonas, no Brasil.

... a  Carta-Régia  de  1808  e  o  Decreto  de 1814  fizeram  inserir  o   Brasil  no comércio internacional, com reflexos imediatos na Europa.  Esse  livre comércio e a abertura dos  portos  "às  Nações  amigas",  criaram  boas  perspectivas  para  as  judiarias  marroquinas, especialmente Tetuan e Tanger, cidades portuárias, onde os judeus já estavam envolvidos no comércio de importação  e exportação -  além de falarem espanhol e hakitia.  Mais  ainda: em 1810, é  assinado  o Tratado de Aliança  e Amizade  entre o Reino Unido (Grã   Bretanha)  e o Brasil, que autoriza a prática de outras religiões que não a católica, "contanto que as capelas sejam construídas de tal maneira que exteriormente se assemelhem a casa de habitações e também que o uso de sinos  não lhes seja permitido". O Tratado assumia o compromisso de que, no futuro, não haveria inquisição no Brasil.

É importante também registrar que, proclamada a República brasileira, em 15 de novembro de 1889,  o  Decreto  119  do  governo  provisório  de  Deodoro  da  Fonseca  aboliu  a  união  legal  da Igreja com o Estado e instituiu o princípio da plena liberdade de culto.Neste mesmo momento os judeus oriundos do Marrocos viviam, na Amazônia, o pleno apogeu do ciclo da borracha, o que serviu para incentivar ainda mais a contínua emigração.

Marranos eram os judeus que assumiram o cristianismo à força, mas continuavam a professar sua fé judaica secretamente. O marranismo foi  basicamente português, embora haja também o caso de marranos no mundo islâmico, especialmente no Irã.O Brasil moderno é considerado o maior país  marrano do mundo, pelos especialistas da Universidade Hebraica de Jerusalém.

Em 1982, o general Abraham Ramiro Bentes publicou em Belém, pela Mittograph  Editora, o livro "Os sefardim e a hakitia", uma pesquisa filológica sobre o dialeto hispano-árabe-judaico, e que  nos  confins  da  Amazônia,  acabou  sendo  enriquecido  por  vocábulos  portugueses  e indígenas.  O  general  Bentes  editou  ainda,  em  1987, o  livro  "Das  ruínas  de  Jerusalém  à verdejante Amazônia"(Bloch, Rio de Janeiro), um alentado volume de quase 400 páginas, onde traça  a  trajetória  judaica  a  partir  do  profeta  Elias  até  chegar  à  instalação  da   primeira comunidade israelita brasileira.

Onde  os hebraicos puderam resistir, sua presença prosseguiu por várias décadas. Eles  se  espalharam  por  toda  a  Amazônia.  Fica  difícil  até  mesmo  acompanhar  a   sua  saga, pelos mapas.  Eles  estiveram  em  Alenquer,  Altamira, Brasil  Novo,  Curuá  Una,  Faro,  Itaituba, Juriti, Monte Alegre, Óbidos, Oriximiná, Porto Trombetas, Porto Vitória, Santarém, Terra Santa, Maués, Itacoatiara, Gurupá, Buiussu, Boim, Aveiro, Manacá Puru, Manicoré, Macapá, Teffé... "No Alto Solimões", Nesta altura dos acontecimentos, aliás, esta é uma  regra  geral  para  os  judeus:  os  filhos  ficam  em Belém  ou  Manaus,  os  pais  resistem  no interior. Nas férias, a criançada vem para o interior. Quando crescem, porém, preferem o Rio de Janeiro, São Paulo, o exterior. A médio prazo, a presença judaica está condenada em lugares como Óbidos, Santarém, Alenquer.

Para o então presidente do Centro Israelita de Belém, a comunidade local está resumida a 250 famílias, umas mil almas. O rabino Hamu foi mais radical, acha que não há mais do que 660 judeus 'de verdade". Como já foi registrado, a comunidade dispõe de duas sinagogas, as mais antigas do Brasil, Essel Avraham (Bosque de Abraão) e Shaar Hashamaym (Porta dos Céus). Uma é a dos judeus de Belém, ligados às casas aviadoras - portanto, a dos "ricos". A outra, Eschel Avraham, da rua Campos Sales, é a dos "pobres", dos que viviam nossítios e barracões ao longo dos rios...

Quando terminou a Guerra de Secessão, nos EUA, americanos insatisfeitos com a derrota para os nortistas emigraram para o Brasil, onde se estabeleceram em duas cidades: Americana, em São Paulo, e Santarém, em Belém do Pará. Descendentes  daqueles  americanos,  na  Amazônia,  protestantes,  aproximaram-se  dos hebraicos, até por afinidade de minorias discriminadas. Não foram raros os casamentos entre judeus e americanos, e muitos de seus descendentes até hoje vivem em Santarém, onde os rios  Tapajós  e  Amazonas  correm  paralelamente,  sem  se  misturar,  e  o  tucunaré  é  o  rei  dos peixes.

Fordlândia/Belterra está parada no tempo. A cidade chegou a ser quase um Estado americano em plena selva, até suas leis eram as mesmas dos Estados Unidos. Além disso, abrigou 6 mil moradores. Hoje, cerca de 800 pessoas vivem lá, aproveitando benfeitorias realizadas há mais de 70 anos.

ITACOATIARA "Terra que não tem judeu, acaba", sentencia Chunito. É o apelido de Rubens José Ezague, 74 anos,  o  último  judeu  de  Itacoatiara.  Em  1980,  ele  deixou  a  cidade,  transferindo-se  para Manaus. Vive e trabalha num bar típico do Amazonas, um barraco de madeira, onde se bebe cerveja, petica-se, joga-se dominó e aceitam-se apostas do jogo do bicho. Chunito nasceu em Itacoatiara em 1909. Nos bons tempos, dedicava-se ao comércio, viajando com o seu regatão pelo interior.

O Comitê Israelita do Amazonas foi fundado em Manaus em 15 de julho de 1929. Seu primeiro presidente foi Raphael Benoliel, proprietário da então mais rica e próspera firma exportadora e de aviamentos para o interior. Samuel Benchimol. 

Os Levy cultivam em 18 hectares pés de guaraná com mais de oitenta anos de produção. Toda a produção é artesanal e a família de hebraicos está intimamente ligada à produção da fruta que fez a fama de Maués como a capital do guaraná. A filha do finado Isaac Sayag Aboab, natural de Tanger e descendente, em linha direta, do rabino Isaac Aboab da Fonseca, o primeiro rabino do Brasil ! A  sensação  é  a  de  que  estamos  sendo  enganados.  Afinal  de  contas,  como  veio  Aboab  da Fonseca aparecer ali ? Moysés Levy  não se perturba. Sabe da expulsão dos holandeses em 1654 e dos judeus da Congregação Zur Israel, no Recife. Sabe dos caminhos do rabino Isaac Aboab (sabe até que ele participou do processo de excomunhão contra Spinoza !) e afirma que seu pai lhe contou a história de como, onde e quando descendentes do rabino foram parar em Tanger e Tetuan. E  assim,  Isaac  Sayeg  Aboab  veio  parar  em  Maués,  aí casou  com  uma  cabocla  do  Arari  e produziu três filhos, entre eles Mazal, que cozinhava para a comunidade, nas páscoas; eu pai era casado - "ele só ajuntou, a mãe não era da nação"- e explica que recebeu educação formal  judaica.  Aprendeu  a  cozinhar  rigorosamente  dentro  dos  preceitos  da  cashrut  e  ainda hoje prepara uma dafina (prato típico da culinária judaica marroquina) de dar água na boca !

TADINHOS NÉ! Judeus marroquinos na Amazônia caladinhos se instalaram, ficaram ricos, e formaram Estados dentro dos Estados brasileiros, aonde o goi ou não judeu o brasileiro, não pode entrar.

O  êxodo  dos  judeus  ibéricos  em  1492,  expulsos  pelos  reis  da  Espanha,  e  em  1496  por D.Manuel, de Portugal, é uma das páginas mais dramáticas da história do povo judeu. Expulsos da península, onde sofreram durante séculos torturas, massacres e humilhações, a sua  transferência  para  o  Marrocos  não  foi  mais  que uma  seqüencia  de  sofrimentos  e atribulações.  Confinados  nos  mellahs  de  Fez,  Tetuan,  Marrakech,  passaram  a  sofrer  toda  a sorte de humilhações, confisco de bens - e massacres. Os expulsos escolheram o Marrocos, antes de mais nada, pela proximidade geográfica. Basta olhar  o  mapa.  Depois,  o  idioma  também  contou  como  ponto  importante:  o  espanhol  era  a língua franca do nordeste marroquino, o português era muito difundido por ser o idioma dos comerciantes.  A  hakitia,  finamente,  uma  mistura  de espanhol,  português,  Em  dezembro  de  1943,  antigos  militantes  nacionalistas  marroquinos,  inclusive  muitos  de origem judaica, fundam o Partido Istiqlal que, num manifesto datado de 14 de janeiro de 1944, reclama a Independência do país. É o que finalmente veio a ocorrer em 2 de março de 1956, após uma longa série de tratativas diplomáticas, de um lado, de uma curta mas intensa guerra de libertação nacional.hebraico  e  árabe, também facilitava (aparentemente) a inclusão no mundo marroquino. Em  maio  de  1948,  na  seqüência  da  proclamação  do  Estado  de  Israel,  e  a  fim  de  evitar tumultos, o sultão lançou um apelo ao povo marroquino, no qual recorda aos muçulmanos que os  judeus  marroquinos,  vivendo  há  séculos  no  Magreb,  "testemunharam  sua  devoção  e fidelidade  ao  trono".  Mais:  os  judeus  marroquinos  tem  no  sultão,  no  trono,  em  todas  as circunstâncias, "o melhor defensor de seus interesses e seus direitos". Estas  declarações,  a  reafirmação  da  amizade  do  sultão  ao  povo  judeu  marroquino,  suas atitudes de defesa da comunidade ante o regime pró-nazista de Vichy, foram interpretadas de uma forma liberal pelos dirigentes marroquinos, os quais tinham todo o interesse em divulgar que "o Marrocos de amanhã, democrático, tanto no plano ecnômico como no político e social, permitirá a todos os seus filhos de desenvolver seus talentos e colocará uns e outros, judeus e muçulmanos, diante de suas responsabilidades, com direitos iguais e deveres iguais" (palavras de Pacha Bekkai, publicadas pelo jornal Évidences). Entre 1948 e 1956, mais de 90 mil judeus da zona francesa deixaram o Marrocos, destinando-se  principalmente  a  Israel.

Durante os anos 1944-1945, a Organização SIonista Mundial havia estabelecido contato com o judaísmo local. Seus emissários trabalhavam não apenas nos setores de categoria social mais elevada, que justamente eram os que resistiam mais à cantilena sionista, mas sobretudo junto às massas empobrecidas, onde sua mensagem soava  como a realização de um velho sonho messiânico. No  mesmo  instante  em  que  o  Marrocos  se  organizava  no  pós-guerra,  da  luta  pela  sua independência, outra luta se travava no solo da Terra Prometida. E ao mesmo tempo em que o Marrocos afirmava seus laços com a Liga Árabe, os irmãos judeus a combatiam. No dia 15 de maio de 1948, foi proclamado o Estado de Israel. Os judeus marroquinos não ocultaram sua alegria, os muçulmanos, seu desapontamento. Numa declaração de 23 de maio de 1948, o Sultão ordena a seus súditos muçulmanos que não cometam quaisquer atos de desordem pública. Ao mesmo tempo, dirige-se aos seus súditos israelitas,  lembrando-lhes  "que  não  percam  de  vista  que  são  marroquinos". 

SEFARDITAS E ASQUENAZITAS Como  regra  geral,  costuma-se  dividir  o  povo  judeu  em  dois  grupos  básicos  e  distintos,  os asquenazistas e os sefarditas. Os sefarditas seriam os descendentes dos antigos judeus que habitavam  Sefarad,  a  peninsula  ibérica,  conservando  até  hoje  sua  cultura,  sua  língua  (o espanholito ou ladino e a sua vertente marroquina, a hakitia) e seus costumes. Há registros da presença  judaica  na  Ibéria  desde  o  período  do  rei  Salomão.  Após  o  édito  de  expulsão  da Espanha,em 1492, e o de Portugal, em 1496, os sefarditas iniciaram o período marcado como o  galut  dentro  do  galut,  o  exílio  dentro  do  exílio.  Sempre  conservando  a  riqueza  espiritual conquistada  ao  longo  dos  séculos  na  península.  Ao  serem  dispersados,  dirigiram-se  para  o norte da África (Marrocos), Grécia, Turquia, os Balcãs, Egito e a Palestina. Apesar de todo o terror  da  Inquisição,  os  sefarditas  mantiveram  o  que  se  pode  chamar  de  saudosismo  que perdura  até  hoje.  Já  o  judaísmo  português  acabou  praticamente  absorvido  pelo  espanhol  - nada  obstante,  persistem  até  hoje  as  Comunidades  Sagradas  de  Évora  e  de  Lisboa.  E  a sinagoga de Botafogo ostenta, orgulhosa, os termos: sinagoga de rito português.Contudo,  costuma-se  incluir  entre  os  sefarditas  os judeus  orientais  ou  mizrahim,  por desconhecimento ou comodidade. Estes, viveram em países árabes próximos do Mediterrâneo e  possuem  costumes  semelhantes  aos  dos  sefarditas. Os  mizrahim  já  habitavam  o  Oriente Médio desde os tempos mais remotos, bíblicos, e nunca se distanciaram muito da Terra Santa. Usam o árabe como língua do dia a dia e habitavam o Iraque, Líbano, Síria, Iêmen e Egito. No Marrocos,  onde  ainda  existe  outro  ramo  judaico  importante,  o  dos  bérberes  judaizados, costuma-se  dizer  que  os  mizrahim  são  mais  religiosos  que  os  sefarditas.  No  cemitério  de Tetuan, as alas são divididas, e podemos imaginar que, num passado não muito remoto, era difícil o casamento de um sefardita com um mizrahi.Quanto aos asquenazitas, atribui-se sua origem à conversão da tribo dos khazares e a uma pequena  imigração  de  judeus  ibéricos.  O  idiche  descende  do  alemão,  e  as  diferenças  de costumes entre os asquenazitas é pequena e irrelevante. O que não impediu, até recentemente (criação do Estado de Israel, fundamentalmente), que existissem divisões entre asquenazitas russos e romenos, de um lado, poloneses de outro e, é claro, alemães e lituanos distantes de todos,  graças  aos  seus  fôros  de  cidadãos  mais  instruídos...  O  nazismo  não  levou  estas diferenças em conta.

FAMÍLIAS JUDAICAS DA AMAZÔNIA Em seu "Eretz Amazônia", Samuel Benchimol elaborou uma lista das famílias marroquinas que se instalaram na Amazônia, a partir de 1820. Por oportuno, reproduzimos aqui essa relação, fruto de uma pesquisa incomum e extremamente valiosa: .  Relação de famílias judaicas de Belém Nome

Sob o domínio holandês, o judaísmo prosperou e afirmou-se. Foi criada a congregação Zur Israel, e marranos e cristãos-novos abandonaram os disfarces. Falamos  do  ouro  que  brota  em  todos  os  pontos  da  região,  e  com  mais  evidência  na  Serra Pelada e em Maués.

Pg.51 Alenquer Pará,  uma  figura  extraordinária:  Ambrósio  Benzaquen.  Seu  avô  "foi  vizir  na corte  do  sultão  de  Marrocos".  Seu  pai,  David  Benzaquen,  um  chacham  que  enriqueceu  no Brasil. A  mãe,  uma  cabocla  chamada  Maria  Nepomucena Rodrigues.  Ele  nasceu  em Barreirinha, no Amazonas, em 1913.

Os angloamericanos também se infiltraram na Amazônia com a desculpa do "comunismo"
Bobby Kennedy visitava o Amazonas cumprindo uma agenda voltada à implementação, no Estado, do programa cooperativo "Aliança para o Progresso" - protocolo de intenções destinado a "acelerar" o desenvolvimento econômico e social da América Latina, e, por vias transversas, barrar o avanço do Socialismo no Ocidente, tema que entrou na pauta permanente dos americanos. Bobby Kennedy e sua comitiva foram recebidos por uma multidão no Aeroporto da Ponta Pelada. Além de visitar diversos pontos turísticos em Manaus, o casal Kennedy fez um 'tour', à bordo da Chata de Rodas "Percival Farquhar", da frota da SNAAP, pelo Careiro, Manacapuru e localidades vizinhas, sendo recepcionado pela população, pelos padres americanos, da Ordem dos Redentoristas, ali atuantes; e pelas autoridades locais. Em Manaus o ilustre casal fez questão de banhar-se nas águas límpidas e gélidas dos emblemáticos balneários da Cachoeira Alta do Tarumã e do Tarumãzinho, ambos belos recantos manauaras, ainda em total condição de balneabilidade àquela época. Foi uma visita marcante e que, pelo inusitado e pela simpatia do jovem político 'yankee' - que, tal como seu irmão dois anos antes, viria a ser tragicamente assassinado, em junho de 1968. Fonte: Manaus Sorriso - Foto: A.s.d. - Acervo da Fan Page "Manaus Sorriso".

judeu Benedicto Sabbá, que era filho de Jacob Sabbá e Carlota Sabbá que tinha dois irmãos Fortunato Sabbá e Mimom Sabbá(Primo) pai do Isaac Benayon Sabbá o pioneiro do petróleo na Amazônia., que também tinham mais três filhas, Merian Sabbá e Ledicia(Alice)(Serruya) Sabbá(Bendelakc) e Simy Sabbá. A casa de meu bisavô ficou para o meu tio Jacob Sabbá,(Benjamim) era na foz do rio Tocantins com o rio Maxi, que deu origem a cidade de Mocajuba, lá os navios que iam para Baião e Tucuruí( Alcobaça), paravam para abastecer de lenha as caldeiras e também para embarcar, borracha,massaranduba, cacau, ucuúba, óleos e essências que eram vendidos em Belém para outros judeus, para exportação. JACOB SABBÁ chegou ao Brasil em 1836 e casou em 1856 com CARLOTA SABBÁ de 22 anos com quem teve 6filhos, Fortunato Sabbá, (Ledicia- Alice Sabbá), Simy Sabbá, Benedicto Sabbá, Mimom(primo) Sabbá e Mirian Sabbá . CARLOTA SABBÁ, faleceu em 04.11.1911, na foto meu avô Alyrio Sabbá. (copiado da internet página do facebook de Alyrio Sabbá II Amazônia)

NOTAS:

1.https://silo.tips/download/os-hebraicos-da-amazonia

2.http://www.morasha.com.br/brasil/kol-israel-a-voz-sionista-na-amazonia.html

3.http://www.morasha.com.br/brasil/kol-israel-a-voz-sionista-na-amazonia.html

4.https://blogdacidadania.com.br/2021/03/conheca-a-saga-da-familia-endinheirada-de-pazuello/

5.Família do General Pazuello: do enriquecimento ao lado do “Rei da Amazônia” ao colapso político  https://mudancaedivergencia.blogspot.com/2021/05/familia-pazuello-do-enriquecimento-ao.html

6.Judeus Marroquinos em Israel e na Amazônia, construção das identidades étnicas    https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8152/tde-02082010-191511/publico/2010_Wagner_Lins.pdf

7.https://issuu.com/animarse_a_mas/docs/usf-_issuu_3dcafea7f68215

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