Enquanto o mundo debate maneiras de reduzir a desigualdade, na esteira do best-seller francês Thomas Picketty, "O Capital no Século 21", o escolhido dos think tanks Ron Paul é taxativo: "Distribuição de renda é sempre forçada, é como se o governo apontasse uma arma e tirasse dinheiro de um para dar ao outro; isso é autoritarismo"
Fragmentada segundo diferentes linhas de
pensamento, a "nova nova" nova direita do país se une, porém, em prol do ideal de um Estado
mínimo. Articulados em torno de instituições pedagógicas e partidos nascentes,
ideólogos acreditam que população deva ser educada a trocar assistencialismo
por empreendedorismo, destruindo de vez a esperança do povo brasileiro a uma vida digna.
Paulo Guedes e Hélio Beltrão Instituto Millenium e Mises juntos praticando a engenharia social na cabeça dos jovens brasileiros:
Os Think Tanks liberais Induziram os jovens, universitários, a "GRITAR" PRIVATIZAÇÃO DE TUDO, sem ensinar, explicar aos jovens que o problema deles, desses "Liberais" é o Estado, e sair privatizando tudo sem antes organizar, auditar contas, dar continuidade ao que está em andamento sem interromper obras devido os prejuízos é atraso para o país. DEVEM sim esses "liberais", tirar os empresários das mãos de poucos banqueiros que escraviza financeiramente ditando juros absurdos, domina o mercado, as indústrias; esses Ph.D liberais, individualistas, não tem um plano eficiente para o Brasil e sim plano para as empresas deles, para os bancos em que eles dirigem e, ou, são proprietários; As privatizações servirão para aumentar o estelionato empresarial brasileiro e aumentar as empresas deles e não pagar os impostos, sonegar, é normal como hoje acontece, impostos que prescrevem durante o tempo, sob o não julgar da Justiça omissa, conivente.
Bolsonaro infelizmente, terá muito problema no decorrer do seu governo, com essa turminha dos Think Tanks.
Hélio Beltrão do Mises Brasil e Ron Paul
No dia 7
de setembro, o político americano Ron
Paul foi recebido por cerca de 400 jovens brasileiros como
se fosse um pop star. Na conferência promovida em São Paulo pelo Instituto Ludwig von Mises
Brasil, o ex-deputado Paul, 79, ídolo dos libertários, foi
ovacionado ao defender o fim do assistencialismo e da intervenção do Estado na
economia.
Paul se
surpreendeu com o entusiasmo dos seus fãs brasileiros. "Não tinha ideia de
que houvesse tantos libertários no Brasil", declarou à Folha.
Os eguidores da escritora russo-americana Ayn Rand(1905-82), "olavettes": a nova direita brasileira é um corpo diverso, mas que compartilha da crença de que o Estado deve limitar ao mínimo seu papel na economia e na vida das pessoas. Em comum, os grupos que a compõem manifestam, ainda, um sentimento de orfandade nesta eleição presidencial.
"O
Brasil de hoje é marxista, o Estado intervém em tudo, controla preço de energia
e gasolina e usa o BNDES politicamente, estamos nos transformando na
Venezuela", dizia o estudante de economia Marcel Perez, 28,
esperando na longa fila para o pegar um autógrafo de Ron Paul, que vendeu 300
livros no evento. "Não temos nenhum candidato presidencial que chegue
perto de ser libertário."
Enquanto os principais candidatos passam o horário eleitoral reafirmando que vão manter e ampliar o Bolsa Família, os benefícios para indústria e outras bondades estatais, grandes empresas como Suzano, Gerdau e Localiza patrocinam conferências e grupos que vão até as universidades para evangelizar jovens sobre as virtudes do livre mercado.
Libertários e liberais rejeitam veementemente o rótulo de nova direita. Mas todos são anti-PT. "Não somos nem de direita nem conservadores", diz o libertário Helio Beltrão, 47. Beltrão é presidente do Instituto Mises Brasil -- batizado em homenagem a um nome fundamental da escola austríaca de economia, em cujos estudos se centra o grupo-- e filho de Helio Beltrão (1916-97), que foi ministro da Desburocratização entre 1979 e 1983.
"Infelizmente, o tipo de conservadorismo mais comum no Brasil é aquele que pretende regular a vida sexual de terceiros e as substâncias que eles ingerem. Nós focamos na liberdade", diz Hélio Beltrão, numa fala que, de certa forma, resume o pensamento libertário.
Dentro do
amplo espectro das ideologias liberais, os libertários são os mais radicais:
suas propostas abarcam desde a legalização integral das drogas até o fim do
Banco Central, passando pela privatização da polícia e da saúde.
Porque se colocam de forma mais flexível quanto a questões sociais, como o casamento gay, fazem questão de se diferenciar dos conservadores, como os seguidores do jornalista Olavo de Carvalho --chamados pejorativamente de "olavettes"-- e dos fãs de Reinaldo Azevedo, colunista da Folha.
As muitas vertentes do pensamento de direita se encontram representadas por instituições novas --e crescentes-- no país.
O Instituto Millenium, de cunho mais liberal, existe desde 2005 e tem entre os fundadores ou mantenedores, além de Helio Beltrão, Gustavo Franco, Paulo Guedes, Daniel Feffer, Fábio Barbosa e João Roberto Marinho.
Rodrigo
Constantino,
colunista da revista "Veja" e nêmesis da esquerda, é o presidente
do Instituto
Liberal, no Rio. O diretor-executivo, Bernardo Santoro, é o
guru econômico do pastor
Everaldo, único candidato à Presidência a falar abertamente de
privatizações.
O IFL (Instituto de
Formação de Líderes) --que começou em Belo Horizonte e é patrocinado por Salim Mattar, dono da
maior empresa de aluguel de veículos do país, a Localiza, e David Feffer, do Grupo Suzano --
tem como meta "conscientizar jovens empreendedores sobre a importância do
livre mercado, da propriedade privada e da redução do tamanho do Estado".
O Instituto de Estudos Empresariais,
no Rio Grande do Sul, foi fundado pelo empresário William Ling, tem
a bênção de Jorge
Gerdau, do gigante da siderurgia, e costuma reunir até
6.000 pessoas em seus eventos.
Já os Estudantes pela Liberdade formam
grupos de estudos em torno da obra de economistas conservadores como Hayek, Mises e Milton Friedman. O
slogan de boa parte desses jovens é "menos Marx, mais Mises". O grupo
Ž uma franquia do americano Students
for Liberty, ligado ao Cato Institute, que é financiado pelos
irmãos Koch,
grandes patrocinadores de causas conservadoras nos EUA.
Obscurantismo
"Que
Brasil queremos" era o mote do Fórum Liberdade e Democracia, realizado
dois dias depois da conferência no Instituto Mises. Abrindo o evento, Ricardo Salles, 39,
secretário particular do governador Geraldo
Alckmin e fundador do Movimento Endireita Brasil, anunciou:
"Aqui se discutem ideias que vão fazer o Brasil voltar para o rumo depois
de 12 anos de obscurantismo. O liberalismo está voltando à moda".
Salles agradeceu
a Jorge Gerdau, da
Gerdau, e David
Feffer, do Grupo Suzano, grandes apoiadores do evento, e,
especialmente, a Roberto
Civita (1936-2013), e à revista "Veja", por ele
editada.
Entre os
palestrantes, estavam Maria
Corina Machado, deputada oposicionista venezuelana
cassada, que falou de Caracas por Skype, e Carlos Alberto Montaner,exilado cubano
autor de livros anti-Fidel Castro e do "Manual do Perfeito Idiota Latino
Americano".
"Somos
de uma geração que nasceu depois da abertura da economia, já com a liberdade de
expressão garantida e livres da hiperinflação", disse o empresário Tomás
Martins, 28, presidente do Instituto de Formação de Líderes, que organizou o evento
para 800 pessoas. "Mas será que isso é suficiente? Há 12 anos vejo nossas
liberdades sendo tolhidas. Queremos o caminho da Venezuela e da
Argentina?", inquire, indignado.
O IFL foi criado há
cinco anos pelo empresário Salim
Mattar, 66, que diz ter lido "A Riqueza das
Nações", de Adam
Smith, quando ainda era um rapazola de 16 anos. "Este
governo demonizou o liberalismo; tornou-se mais intervencionista, destruiu as
agências reguladoras e permitiu que uma plêiade de empresas se pendurasse no
BNDES", afirmou à Folha após
o fórum. "Hoje, a carga tributária é de 40% do PIB --durante a
malfadada revolução [ditadura militar],a cunha fiscal era 22%."
O
empresário diz que o objetivo do IFL é
trazer as ideias para debate público, porque "a massa não é muito educada
e vota em propostas populistas".
Um dos
jovens expoentes do libertarianismo brasileiro é Joel Pinheiro da Fonseca, 29
anos, filho do economista Eduardo
Giannetti da Fonseca, principal conselheiro econômico da
candidata Marina
Silva. Joel, formado em economia pelo Insper e com
mestrado em filosofia na Universidade de São Paulo, é assíduo articulista do
site Spotniks, preferido dos jovens liberais e libertários, e membro do comitê
executivo do Libertários, partido que ainda não tem registro no Tribunal Superior
Eleitoral.
Em seus
artigos, ele ataca o BNDES ("está
na hora de abolir esse gigante jurássico que nada contribui para a economia do
país"), e defende propostas como a legalização do comércio de órgãos para
aumentar a oferta. "O que mais se aproxima do candidato libertário é o
pastor Everaldo", disse Fonseca à Folha. "Eu não voto nele, mas fico
feliz de alguém ter adotado o nosso discurso". Fonseca esclarece
que não tem nenhuma ligação com a campanha de Marina.
"O
pastor Everaldo aceitou tudo o que eu sugeri e tem lido muitos livros",
diz Bernardo
Santoro, do Instituto Liberal. Ele acredita que a maior
proliferação da ideias libertárias no Brasil se deu de 2006 para cá,
coincidindo com a "radicalização da postura econômica do governo do
PT". "O que falta ao movimento liberal, libertário e conservador é
uma maneira melhor de vender nossa mensagem para o público."
Na opinião
de Santoro,
"o pobre brasileiro é um empreendedor nato e a agenda de livre mercado vai
ajudá-lo". "Assistencialismo nunca é bom, traz incentivos perversos
porque desestimula a produção."
Armário
São poucos
os candidatos liberais que saem do armário para defender privatizações e outros
palavrões nesta eleição. Paulo
Batista (PRP-SP), candidato a deputado estadual que ganhou
fama com suas propagandas do "raio privatizador", prega o fim do
Bolsa Família, dizendo que "pobre precisa de liberdade, não de
esmola", e quer privatizar a USP,
a Unicamp,
a Unesp e
o metrô.
"As pessoas não têm informação, por isso usamos o raio privatizador, é bem
didático", diz.
Numa sexta
de setembro, Batista foi
entregar rolos de papel higiênico no consulado da Venezuela em São Paulo.
"O objetivo era alertar para os perigos do socialismo bolivariano, que
bate à nossa porta através de medidas autoritárias do governo petista",
disse.
Evandro
Sinotti,
38 anos, candidato a deputado estadual pelo PMDB paulista,
usa frases da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher (1925-2013)
em sua campanha e propõe redução de ICMS, privatização de estatais deficitárias
e vouchers para escolas particulares.
Ele admite
que o PMDB não
é exatamente um partido antigoverno, mas argumenta que não tinha muita opção de
sigla. "Meu pai também: ele é vice-prefeito de Pirassununga pelo PT, mas
nem por isso é petista", diz Sinotti.
É fácil
entender por que pouquíssimos candidatos estão defendendo ideias liberais nesta
campanha: o brasileiro não é particularmente fã do livre mercado. Segundo
pesquisa do Datafolha de
3 de setembro, 66% dos brasileiros acham que o governo deve ser o maior
responsável por investir para a economia crescer, e 51% acham que é bom que o
governo atue com força na economia para evitar abusos nas empresas. Mas nem por
isso os liberais e libertários desanimam.
"Tem que se posicionar, participar da política, disputar eleição. Não adianta ficar discutindo filosofia liberal enquanto toma chá da tarde no clube Harmonia", diz Ricardo Salles, que foi candidato a deputado federal por São Paulo pelo PFL em 2006 e a estadual pelo DEM em 2010.
"Daqui
a uns dez anos, a sociedade estará pronta para nossas ideias", diz Helio Beltrão.
O Partido Novo pretende lançar seus primeiros candidatos em 2016. Já reuniu as 492 mil assinaturas necessárias (e aceitas pelos cartórios) para formalizar o partido; agora, aguarda apenas o TSE conceder o registro.
O Partido Novo pretende lançar seus primeiros candidatos em 2016. Já reuniu as 492 mil assinaturas necessárias (e aceitas pelos cartórios) para formalizar o partido; agora, aguarda apenas o TSE conceder o registro.
"Nós
queremos mudar o modelo de Estado do Brasil, que é extremamente
intervencionista e se propõe a resolver os problemas das pessoas", diz o
presidente do partido, João
Dionísio Amoedo, 51.
Segundo Amoedo, há uma demanda por esse novo tipo de Estado, evidenciada nas manifestações populares do ano passado.
Segundo Amoedo, há uma demanda por esse novo tipo de Estado, evidenciada nas manifestações populares do ano passado.
"Todo
mundo reclama que pagamos muitos impostos e que os serviços que temos são
ruins, isso estava no cerne das manifestações", diz. Segundo Amoedo, essa
é uma agenda difícil de abordar no meio de uma campanha eleitoral. "Os
candidatos têm medo de dizer que o Estado vai deixar de fazer coisas pelas
pessoas."
Já o
americano Ron Paul, que
concorreu duas vezes à indicação republicana à candidatura presidencial nos
EUA, não tem pruridos ao defender ideias pouco populares. Ao menos não no
Brasil.
Enquanto o
mundo debate maneiras de reduzir a desigualdade, na esteira do best-seller do
francês Thomas Picketty, "O Capital no
Século 21", Paul é taxativo: "Distribuição de renda é sempre forçada,
é como se o governo apontasse uma arma e tirasse dinheiro de um para dar ao
outro; isso é autoritarismo", afirmou à Folha.
A reportagem é de Patrícia Campos Mello e publicada pela Folha de S.Paulo, 05-10-2014.
https://www1.folha.uol.com.br/
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