O objetivo é favorecer as tradings, grupos internacionais a dominarem o comércio de soja e grãos em geral. Gulosos, planejam construir uma ferrovia de 930 quilômetros, de Mato Grosso ao Pará, entre parques, florestas e áreas indígenas, para fugir dos para fugir dos portos de Santos e Paranaguá e exportar pelo Norte. O óleo de soja, por exemplo, subiu 103% em 2020. China e problemas climáticos à parte, o preço foi determinado pelas tradings. É mais um capítulo de uma história que devemos à nefasta colonização portuguesa, a qual, a partir da ideia das capitanias hereditárias, criou a daninha tradição das monoculturas: pau-brasil, cana-de-açúcar, borracha, café. Parida no tempo de Dilma Rousseff, a ideia da Ferrogrão, orçada em 8,4 bilhões de reais, encorpou com Michel Temer e virou vedete com Jair Bolsonaro. “A missão começa a ser cumprida pelo governo em 2021, com o leilão da concessão”, declarou o presidente em janeiro. O Ferrogrão desobedece a uma liminar do Supremo Tribunal Federal, passa por cima de tratado internacional, tenta aliciar indígenas, em nome de um projeto com riscos econômicos reconhecidos pelo próprio governo, para figurar uma temeridade do ponto de vista ambiental e sociológico, que em nada facilitará a missão do Brasil.
LEILÃO DOS PORTOS FEITO PELOS MILITARES
O ministro militar da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas 43 anos, formado com o dinheiro do povo brasileiro pela Academia Militar das Agulhas Negras, pelo Instituto Militar Engenharia (IME), ganhou pontos com o chefe ao adotar uma postura pragmática em relação a demandas de ambientalistas e de comunidades indígenas que eventualmente cruzam o caminho de projetos em andamento, diz ter convicção de que Bolsonaro foi ungido por Deus Esse cara em nada facilitará a missão do Brasil na reunião dos líderes mundiais, convocada para os dias 22 e 23 de abril, sob proposta de Joe Biden para debater mudanças climáticas. A Ferrogrão saiu da cabeça de quatro tradings multinacionais (ADM, Bunge, Cargill e Dreyfus, o time ABCD) e uma brazuca, a Amaggi.
As cinco estão entre as 15 maiores empresas do agronegócio no Brasil em um ranking de março da Forbes. Vendas de 171 bilhões de reais em 2020, quadro de 66 mil funcionários.
Foi o quinteto que financiou o estudo da ferrovia, coisa de 30 milhões de reais, através da Estação da Luz Participações, a EDLP. As estrangeiras do grupo são centenárias.
A holandesa Bunge é de 1818,
a francesa Dreyfus, de 1851, e,
as americanas Cargill e ADM, de 1865 e 1902, respectivamente.
Um compatriota da dupla ianque, Dan Morgan, publicou em 1979 o livro Mercadores de Grãos e dizia que as tradings gostavam da penumbra e tinham poder, inclusive político, “comparável ao do petróleo e das armas, por seu volume e sua influência sobre as relações internacionais e sobre o bem-estar da humanidade”.
Os rincões da família AMaggi
A Amaggi é de uma família que enriqueceu aqui na cola do poder. Seu fundador, André Maggi, era um gaúcho que nos anos 1950 foi tentar a sorte no Paraná. Fundou a empresa ali em 1977, um ano após a ditadura inaugurar a BR-163 entre Mato Grosso e Pará. Logo Maggi foi plantar soja em Mato Grosso, onde lucrou horrores.. “Ninguém fica rico agindo tudo certinho”, disse em maio de 2020 o então presidente da Assembleia Legislativa estadual, Eduardo Botelho. “São predadores da economia local.”. Um dos filhos de Maggi, Blairo, chegaria a governador e senador de Mato Grosso e a ministro da Agricultura de Michel Temer, época em que a Ferrogrão conquistou o governo.
Em dezembro de 2016, Temer baixou a Medida Provisória 758, (Medida Provisória nº 758, de 19/12/2016, feita pelo ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho e assinada pelo presidente Michel Temer, que altera os limites do Parque Nacional do Jamanxim e da Área de Proteção Ambiental do Tapajós) Tirar 862 hectares do Parque Nacional do Jamanxin, no Pará.
A área excluída abriga um trecho da BR-163. Era uma tentativa de legalizar a possibilidade de a Ferrogrão passar ao largo da rodovia, como o traçado da ferrovia prevê. Freitas era chefe da área de Parcerias de Investimentos e apoiou a medida. É essa MP, convertida em lei em 2017, que levou o governo Bolsonaro a descumprir uma liminar do Supremo.
A liminar foi dada em 15 de março por Alexandre de Moraes, em uma ação do PSOL de setembro de 2020. O partido alegava que, pela Constituição, só uma lei do poder público pode alterar áreas protegidas. Por MP, não.
A Ministro Freitas é obcecado pela Ferrogrão. Em 30 de março, disse a propósito da liminar que a ferrovia sairá do papel de qualquer jeito. Nem que seja coladinha à BR-163, área de controle do governo graças à lei nascida da MP 758. “O importante é que vamos fazer" Por um caminho ou por outro caminho, vamos fazer”, disse. Não é à toa que é chamado por aí de “lobista” das tradings. O clã presidencial também parece ser.
A inconstitucionalidade da MP 758 havia sido apontada pela juíza federal Sandra Maria Correia da Silva, de Itaituba, no Pará, em uma liminar de 22 de maio de 2020 que barrava o projeto do Ferrogrão.
O traçado da ferrovia liga Sinop, em Mato Grosso, área sojicultora, a Itaituba, onde há portos fluviais, a partir dos quais se chega ao Atlântico.
A juíza atendera a uma ação civil pública do Instituto Socioambiental Floranativa (ISA Floranativa). Itaituba, de 100 mil habitantes, foi palco de outra batalha judicial. Episódio a mostrar que pela Ferrogrão o governo Bolsonaro afronta um tratado internacional. Segundo uma convenção de 1989 da OIT, a 169, os indígenas, as terras que usam ou ocupam e o meio ambiente devem ser considerados uma coisa só, dado o modo de vida dos povos tradicionais. O uso das terras por eles ocupadas exigiria consulta prévia aos indígenas. O Brasil aderiu ao tratado de cara e incorporou-o à legislação interna nos anos 2000.
Jamais houve consulta prévia aos indígenas afetados pela Ferrogrão, apesar da insistente queixa deles, em particular os de duas etnias, os Mundurukus e os Kayapós. população de cerca de 20 mil indivíduos. Em 19 de outubro de 2019, procuradores da República e entidades defensoras de indígenas recorreram ao TCU, a cobrar a consulta e a anulação de tudo o que foi feito. O apelo ao TCU ocorreu três dias após uma derrota judicial dos indígenas, obra de Freitas e do hoje juiz do Supremo Kassio Nunes Marques, nomeado por Bolsonaro. História que remonta ao primeiro mês do atual governo.
Em 16 de janeiro de 2019, o diretor-geral da ANTT, Mário Rodrigues Júnior, validou audiências públicas da agência de 2017 sobre a Ferrogrão. Só duas haviam sido presencias, uma em Cuiabá, outra em Brasília. Nessa última, indígenas cobraram a consulta formal, ou seja, um grande debate público no local de áreas afetadas. O então chefe da ANTT, Alexandre Porto, topou e prometeu que o projeto só iria ao TCU após cumpridas as “etapas necessárias”, inclusive “o que exige organização internacional”. Freitas comandava o Programa de Parceria de Investimentos. Em abril de 2018, foi a um seminário no Congresso sobre a Ferrogrão e declarou: “A oitiva como vocês estão falando, tem que ser pós-leilão. Não adianta gastar energia agora”. Encerrado o debate, emendou: “Isso (a consulta) não vai acontecer, assim assim não. Não vai ter projeto assim. Nós não temos tempo”.
Já ministro de Bolsonaro, articulou a derrubada de uma liminar que impunha a consulta. Dias depois de a ANTT, ter validado as audiências de 2017, o ISA Floranativa moveu uma ação civil pública em Itaituba. Diante da recusa da agência de realizar a consulta, a juíza Sandra deu a liminar. O governo recorreu ao TRF1. O recurso caiu com Marques, então na corte. Freitas negociou com ele e o juiz cassou a liminar em outubro de 2019. Não foi à toa que a bancada ruralista apoiou a indicação de Marques ao Supremo.
Segundo uma portaria de 2015 do governo Dilma, se um projeto de ferrovia na Amazônia passar a menos de 10 quilômetros de povos indígenas, há impacto socioambiental merecedor de exame. Estudos da Funai indicam que há Kayapós a 30 quilômetros do traçado da Ferrogrão. É um dos argumentos usados agora para recusar pleitos desse povo. O mesmo estudo indica, porém, que há Mundurukus a 4,19 quilômetros (na Praia do Mangue) e 7,84 quilômetros (na Praia do Índio) do traçado. A situação dos Mundurukus custou ao governo uma acusação de tentar aliciar um líder desse povo e, assim, conseguir docilidade.
A acusação foi feita à juíza Sandra em 7 de dezembro de 2020, em uma ação do MP que buscava proibir o governo de repetir o alegado gesto. Um mês antes, o presidente da Associação Indígena Pariri, Anderson Painhum, fora procurado pela secretária do Ministério da Economia responsável por licenciamento ambiental, Rose Hofmann. A associação representa povos do Médio Tapajó. Primeiro, por Whatsapp, depois por telefone, Rose falou com Painhum para marcar uma reunião em 2 de dezembro, em Itaituba, na qual se negociaria a consulta baseada na convenção 169 da OIT. Painhum topou e pediu que a Funai bancasse uma viagem de 70km de barco para ele conversar antes com os povos do Alto e do Baixo Tapajós.
Em um e-mail à Funai em 16 de novembro, Rose escreveu que a reunião teria a “participação de todas as comunidades em conjunto”. Ficou subentendido que Painhum falaria em nome dos três povos (Alto, Médio e Baixo). Dois dias depois, ele mandou a Rose um áudio de WhatsApp e disse que não participaria da reunião, pois não falaria em nome do trio. Continuou a receber mensagens e documentos sobre a reunião. Em 30 de novembro, Rose pediu à Funai apoio para a realização do encontro. Só desistiu em 1o de dezembro, conforme um áudio a Painhum. Segundo os defensores do governo no processo, não houve tentativa de aliciar, só um “equívoco” comunicacional de Rose.
Problemas ambientais e indígenas à parte, o projeto não para em pé do ponto de vista econômico e financeiro, na visão de Cláudio Frischtak, que comandou a área de análises sobre indústria e energia do Banco Mundial nos anos 1980.
Diante de tudo isso, acadêmicos da área ambiental malham a Ferrogrão.
Em parceria com o think tank internacional Climate Policy Iniative, a PUC do Rio publicou dois estudos em 2020. Em um deles, procurava identificar impactos ambientais. Avaliou que o frete da soja cairia, em média, 8% em 38 cidades, um incentivo à procura por terras e à expansão da produção do grão em áreas novas. O desmate atingiria 2.043 mil quilômetros quadrados, ou 285 mil campos de futebol. Tradução em grana de desse impacto, tendo por base o preço da tonelada de carbono no mercado: 1,9 bilhão de dólares. Pelo câmbio atual, supera o custo estimado para toda a obra (8,4 bilhões de reais). A partir de dados do mercado de soja em 2018, o Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG chegou a conclusões parecidas em 2020, porém piores: desmate de 10 mil quilômetros quadrados.
NOTA Medida Provisória nº 758:
O
objetivo da edição da Medida Provisória nº 758, de 19 de dezembro de 2016, foi
apenas para ampliar, de forma ardilosa e até mesmo criminosa, os limites do
PARNA do Jamanxim, retirando da APA do Tapajós, uma área de 51.000 ha
(cinquenta e um mil hectares), onde existe a Reserva Garimpeira do Tapajós,
criada em 25 de julho de 1983, sendo publicado o ato de criação, no Diário
Oficial da União, no dia 28/07/1983 e que abriga atualmente milhares de
garimpeiro e pequenos agricultores, expulsos quando da criação do PARNA do
Jamanxim em 2006, juntamente com outras unidades de conservação, deixando o
Município de Itaituba, com somente 14% (quatorze por cento) de seu território
livre, sem a incidência de áreas restritivas. Além do
mais, existem vários projetos minerais sendo implantados nessa área da
ampliação do PARNA do Jamanxim, dentre os quais o Projeto da Brazauro (Eldorado
Gold), que está investindo 523 milhões de dólares na implantação da mina, sendo
que, em parceria com o Município de Itaituba, revitalizou a Estrada Municipal
do Tocantinzinho, com 76 Km, tendo, por força de acordo com órgãos ambientais,
desviado a referida estrada, do PARNA do Jamaxim, uma vez que essa estrada já
existia quando da criação, em 2006, de referido Parque, e hoje possibilita,
inclusive, a presença constante dos órgãos ambientais, principalmente o ICMBio,
na fiscalização das atividades na área onde hoje, pela Medida Provisória nº
758/2016, foi ampliado o PARNA do Jamanxim. Jornal
O Impacto: Muita gente ficará desempregada com a publicação dessa Medida
Provisória? Dr.
José Antunes: Diante de todo o exposto, se conclui que o Ministro do Meio
Ambiente simplesmente ludibriou a sua Excia. Sr. Presidente da República, que
deixou com a edição da Medida Provisória nº 758/2016, milhares de trabalhadores
e pequenos agricultores sem sua fonte de
renda, destinando-os a viver nas periferias das cidades, além de inviabilizar a
implantação de um empreendimento que já estava gerando centenas de empregos
diretos e também sem a possibilidade de assentamento em outras áreas, vez que
com a implantação da Usina Hidrelétrica de São Luís do Tapajós, serão inundadas
grandes áreas pertencentes ao Município de Itaituba. https://oimpacto.com.br/2017/01/19/dr-antunes-ministro-agiu-de-forma-criminosa-no-parna-do-jamanxin/
Nota de crédito à:
1. ANDRÉ BARROCAL 9 DE ABRIL DE 2021 -22:41 https://www.cartacapital.com.br/politica/governo-ignora-stf-e-tratado-internacional-em-nome-da-ferrograo/
2.https://mudancaedivergencia.blogspot.com/2020/11/general-mourao-quer-br163-ate-o-baixo.html?fbclid=IwAR1C41cCaRyxvL0wi_jSdftgRTqgvmEKCTutKEIQ_YBsPTkfdptFFAmYCn0
3.Os rincões da família AMaggi https://mudancaedivergencia.blogspot.com/2021/04/os-rincoes-da-familia-amaggi.html
4.BR-163
até o Oceano Atlântico, fragmentando terras, destruindo territórios indígenas,
para favorecer as transacionais que levam tudo, isentas de impostos pela Lei
Kandir
https://mudancaedivergencia.blogspot.com/2020/11/general-mourao-quer-br163-ate-o-baixo.html
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