Consenso de Washington e neoliberalismo
OS PROBLEMAS DO
NEOLIBERALISMO, SEGUNDO ECONOMISTAS DO FMI
Um artigo de maio de 2016, assinado por dois
economistas do FMI, chamou a atenção justamente por questionar a
eficiência do receituário neoliberal. Eles afirmam que em alguns casos, em
vez de entregar crescimento econômico, medidas neoliberais
aumentaram a desigualdade e prejudicaram um crescimento duradouro.
Segundo os autores, dois aspectos do
neoliberalismo podem acabar desequilibrando a trajetória de crescimento
econômico de países que adotam tais medidas:
·
livre movimento de
capitais;
·
a austeridade fiscal (redução da dívida pública e do tamanho do Estado).
No longo prazo, essas medidas podem causar
instabilidades e também aumentar a desigualdade de renda, o que acaba minando o
crescimento econômico – que é o grande objetivo de medidas neoliberais. Essa visão,
apesar de ter sido compartilhada por economistas do FMI, não reflete o
posicionamento da instituição como um todo, mas mostra que mesmo nessa
organização há divergências sobre sua eficiência.
A controvérsia sobre a eficácia do
neoliberalismo em melhorar a situação de países em
desenvolvimento continua em aberto, visto que muitos economistas discordam
desse conjunto de medidas econômicas. De qualquer forma, é importante entender
que o neoliberalismo é uma doutrina econômica que continua a influenciar muitas
decisões de políticas públicas no Brasil e no mundo.
Harvard: o consenso de Washington
Harvard: o consenso de Washington
O termo neoliberalismo já era registrado em
alguns escritos dos séculos XVIII e XIX, mas começou a aparecer com mais
força na literatura acadêmica no final dos anos 1980, como uma forma de
classificar o que seria um ressurgimento do liberalismo como ideologia
predominante na política e economia internacionais. A ideia é que durante um
certo período de tempo, o liberalismo perdeu predominância para o keynesianismo, inspirado pelo trabalho de John
Maynard Keynes, que defendeu a tese de que os gastos públicos
devem impulsionar a economia, especialmente em tempos de recessão.
Keynes era favorável ao Estado de bem-estar social.
A partir dos anos 1970, o mundo passou a vivenciar um declínio
do modelo do Estado de bem-estar social, o que deu espaço para que ideias
liberais aos poucos voltassem a ter preferência na política. Uma das
primeiras experiências consideradas neoliberais no mundo foi levada a cabo pelo
Chile. Em 1975, o ditador chileno Augusto Pinochet entrou em contato com acadêmicos da Escola de Chicago, que
recomendaram medidas pró-liberalização do mercado e diminuição do Estado. Entre tais medidas estavam a drástica redução do
gasto público, demissão em massa de servidores públicos, privatização de
empresas estatais, das aposentadorias, que deu em grande fracasso. As eleições de Margareth Thatcher no Reino Unido e de Ronald Reagan nos Estados Unidos no início dos anos 1980 também foram
indicativos desse fenômeno. Ambos são considerados até hoje líderes
neoliberais.
CONSENSO DE
WASHINGTON E NEOLIBERALISMO
Mas o conjunto mais claro de ideias chamadas de
neoliberais veio no ano de 1989, quando o economista John
Williamson publicou um artigo apresentando um conjunto de regras
econômicas acordadas por economistas de grandes instituições financeiras.
Essas regras, que ficariam conhecidas como Consenso
de Washington, seriam o mínimo denominador comum, os pontos com
que todas as principais instituições financeiras do mundo concordavam. Nos anos
seguintes, esse ideário neoliberal orientaria a elaboração das políticas
econômicas recomendadas por grandes agências internacionais, e de
fato foram implementadas em vários países em desenvolvimento a partir do
início dos anos 1990 – inclusive no Brasil. O conjunto de regras
neoliberais seria:
·
Disciplina fiscal
·
Redução dos gastos públicos
·
Reforma tributária
·
Juros de mercado
·
Câmbio de mercado
·
Abertura comercial
·
Investimento estrangeiro direto
·
Privatização de
empresas estatais
·
Desregulamentação (flexibilização de leis
econômicas e trabalhistas)
·
Direito à propriedade intelectual
Enquanto a definição de “liberal” é ampla e abriga
formas de pensamento bem diferentes entre si, a definição de neoliberal é
mais específica. Trata-se de uma doutrina prática, voltada a
ações econômicas concretas, já que poucos acadêmicos de fato se
definem como neoliberais ou desenvolvem uma filosofia política ou
econômica neoliberal. Também não existem muitas tentativas de
definição rigorosa do termo. Dessa forma, o artigo de Williamson e as políticas
do FMI e do Banco Mundial são o que temos de mais concreto sobre o que
compõe o ideário neoliberal.
AS CONDICIONALIDADES DO FMI
AS CONDICIONALIDADES DO FMI
O Fundo Monetário Internacional (FMI)
talvez seja a organização mais atrelada ao chamado
Consenso de Washington. Esse fundo foi criado após a Segunda Guerra Mundial,
junto com o Banco Mundial, conta com recursos principalmente de países
desenvolvidos e é responsável por supervisionar o sistema monetário
internacional. O FMI atende a países com problemas de instabilidade financeira
– geralmente, países em desenvolvimento. Os recursos aportados
para esses países vêm quase sempre em caráter emergencial, para evitar que
o governo socorrido quebre definitivamente. Em troca desse socorro financeiro,
o FMI exige de seus devedores o cumprimento de condicionalidades,
que nada mais são do que medidas alinhadas com o chamado receituário neoliberal
(ou seja, as medidas que listamos acima).
Referências
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