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terça-feira, 11 de abril de 2017

Renca: Temer na surdina "doa" reserva de cobre, ouro e outros minerais ao capital estrangeiro. O Almirante Gama e Silva descobre que o anglo-americano Daniel Ludwig, do Projeto Jarí, tinha ações da BP (British Petroleum) e autoriza em 1984 a criação da RENCA protegendo as reservas minerais numa área pré-cambriano da Amazônia do contrário, já tinha ido.

Fiquemos atentos:  em 2019  Paulo Guedes "secretamente",  permitiu aos globalistas, a exploração da Renca - Reserva Nacional de Cobre e Associados, ato inconstitucional porque é área preservada desde 1984 por obra e luta pela Amazônia do saudoso Almirante Gama e Silva, que Figueiredo decretou.   Atentos!

Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca)
DECRETO Nº 89.404, DE 24 DE FEVEREIRO DE 1984
Constitui Reserva Nacional de cobre e seus associados a área que menciona, no Estado do Pará e no Território Federal do Amapá, e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , usando das atribuições que lhe conferem o artigo 81, itens III e V, da Constituição e o artigo 54 do Decreto-lei nº 227, de 28 de fevereiro de 1967,
DECRETA: 


     Art. 1º.   Constitui Reserva Nacional de cobre e seus associados a área compreendida entre os paralelos 01º00'00" de latitude norte e 00º40'00" de latitude sul, e os meridianos 052º02'00" e 054º18'00" de longitude oeste, no Estado do Pará e no Território Federal do Amapá. 

Brasília-DF, 24 de fevereiro de 1984; 163º da Independência e 96º da República.
JOÃO FIGUEIREDO 


Cesar Cals Filho 

Danilo Venturini  [1]

Governo abre reserva mineral na Amazônia à exploração privada

É da maior gravidade a notícia publicada hoje, pelo Valor, de que o Governo Michel Temer se prepara para conceder à iniciativa privada – leia-se, ao capital estrangeiro uma imensa área da Amazônia rica em ouro onde a mineração está proibida há mais de 30 anos.  Diz o jornal que uma portaria publicada na edição de sexta-feira do Diário Oficial da União, o Ministério das Minas e Energia abriu caminho para a extinção da Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca). 
http://www.geologo.com.br/MAINLINK.ASP?VAIPARA=RENCA%20a%20Reserva%20Nacional%20do%20Cobre

DOU Nº 68 DE 7/4/2017 (SEXTA-FEIRA) - SEÇÃO 1
MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA
GABINETE DO MINISTRO
PORTARIA Nº 128, DE 30 DE MARÇO DE 2017 – PÁGINA 32 

O MINISTRO DE ESTADO DE MINAS E ENERGIA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 87, parágrafo único, incisos II e IV, da Constituição, tendo em vista o disposto no art. 54 do Decreto-lei nº 227, de 27 de fevereiro de 1967 (Código de Mineração), no art. 120 do Decreto 62.934, de 2 de abril de 1968, no Decreto nº 84.404, de 24 de fevereiro de 1984, o que consta do Processo nº 48000.001769/2016-47, e considerando a importância de se criar mecanismos para viabilizar a atração de novos investimentos para o setor mineral;

- que, para viabilizar a proposta apresentada à Presidência da República de extinção da Reserva Nacional de Cobre e Associados - RENCA: 
http://www.ibram.org.br/150/15001002.asp?ttCD_CHAVE=266833


Renca: Temer revoga polêmico decreto que ameaça reservas da Amazônia
Governo recua na proposta de abrir a região, entre Pará e Amapá, para exploração de mineradoras

Alta de desmatamento na floresta amazônica era consequência inexorável
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/25/politica/1506372008_097256.html

A Reserva Nacional de cobre e seus associados (RENCA) foi criada por decreto do então presidente João Batista Figueiredo, em fevereiro de 1984, a pedido do Almirante Gama e Silva, e abrange uma área considerada de grande potencial nos estados do Pará e Amapá. Pelo decreto, os trabalhos de pesquisa na área passaram a ser exclusividade da CPRM, usando recursos próprios ou de convênios firmados com o Gebam (Grupo Executivo para a Região do Baixo Amazonas).  A outorga de áreas para outras empresas somente poderia ser feita a empresas que tivessem negociado os resultados dos trabalhos de pesquisa com a CPRM.


Boa visão do  Almirante Gama e Silva, chefe do GEBAM (Grupo Executivo do Baixo Amazonas), que descobre que o anglo-americano Daniel Ludwig, do Projeto Jarí, tinha  ações da BP (British Petroleum) e autoriza a criação da RENCA protegendo as reservas minerais numa área pré-cambriano da Amazônia do contrário, não teríamos mais essa reserva à disposição do Brasil que acompanhemos o que Temer pretende fazer com ela. O PMDB usando o secreto ,está destruindo o Brasil.(Falta Almirante Gama e Silva faz hoje para o Brasil)
Publicado a PORTARIA Nº 128, DE 30 DE MARÇO DE 2017 que extingue o RENCA , uma das maiores confissões de incompetência dos nossos governos.
É o fim do Decreto nº 84.404, de 24 de fevereiro de 1984, que protegeu, ao povo brasileiro os recursos minerais da chamada Reserva Nacional do Cobre, uma gigantesca área cobrindo importantes terrenos Arqueanos, repletos de greenstone belts e supracrustrais, possivelmente a fonte de vários importantes jazimentos minerais.
Por quê, os Senadores Alcolumbre e Randolfe se calam frente ao Cobre da Renca no AMAPÁ?

Por 33 longos anos nós os pesquisadores minerais deste país aguardamos pacientemente que a CPRM ou qualquer outro órgão governamental fizesse algo significativo e, com isso, trouxesse as novas descobertas para a nossa depauperada economia.

Nada disso ocorreu. Os empregos não foram criados, os dólares não chegaram e, finalmente, a declaração de total incapacidade chegou ao Diário Oficial.

O pior é que a CPRM continua de posse dos títulos minerários que possuía... (CPRM é uma Empresa Pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia com as atribuições de Serviço Geológico do Brasil)

A incompetência continua.

http://www.portalclubedeengenharia.org.br/info/governo-abre-reserva-mineral-na-amazonia-a-exploracao-privada
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O primeiro passo para o fim da RENCA



O Ministério de Minas e Energia deu o primeiro passo com vistas à extinção da RENCA (Reserva Nacional do Cobre). Através de portaria assinada no dia 30 de março de 2017, o ministro Fernando Coelho Filho determinou que os títulos que objetivem áreas situadas dentro da RENCA e que tenham sido protocolizados no período de vigência do decreto nº 89.404, de 1984 (que criou a reserva) que estiverem pendentes de decisão, sejam indeferidos. Por outro lado, ele decide que sejam mantidos os requerimentos minerários (autorizações de pesquisa, concessões de lavra, permissões de lavra garimpeira e registros de licença) dentro da área da RENCA que tenham sido protocolizados antes da promulgação do decreto de criação da reserva e que estejam regularmente outorgados.
Os processos que tenham sido indeferidos pela autoridade serão sobrestados até que seja publicado o decreto de extinção da RENCA, o que já foi solicitado à Presidência da República. Estas áreas deverão ser colocadas em disponibilidade pelo DNPM, que contará com o apoio técnico da CPRM para fazer a divisão em módulos que serão disponibilizados separadamente ou em grupo. Ficam de fora, no entanto, as áreas dentro da RENCA que tenham sido outorgadas à CPRM.
O objetivo do ministro, ao propor a extinção da RENCA, é estimular a exploração mineral numa área de pré-cambriano da Amazônia, considerada de grande potencial e que pode ser revisitada utilizando-se técnicas mais modernas de pesquisa geológica.
Criação da RENCA
A Reserva Nacional de cobre e seus associados (RENCA) foi criada por decreto do então presidente João Batista Figueiredo, em fevereiro de 1984, a pedido do Almirante Gama e Silva, e abrange uma área considerada de grande potencial nos estados do Pará e Amapá. Pelo decreto, os trabalhos de pesquisa na área passaram a ser exclusividade da CPRM, usando recursos próprios ou de convênios firmados com o Gebam (Grupo Executivo para a Região do Baixo Amazonas).  A outorga de áreas para outras empresas somente poderia ser feita a empresas que tivessem negociado os resultados dos trabalhos de pesquisa com a CPRM.
O decreto também estipula que a concessão de áreas na região pelo DNPM somente poderia ser feita mediante consulta prévia ao Conselho de Segurança Nacional. E preserva as autorizações e concessões de lavra regularmente outorgadas antes de sua edição.
O interesse pela área
De acordo com depoimento do geólogo Breno Augusto dos Santos, que vivenciou o processo que levou à criação da RENCA, o interesse pela área surgiu em 1969, quando a empresa Codim, após a descoberta de Carajás e o fracasso dos trabalhos na zona do Bacajá, desloca-se para a região Jari-Paru, onde o geólogo Décio Meyer descobriu o complexo alcalino-ultramáfico do Maraconaí.
A notícia chegou à Meridional (que descobriu Carajás), a qual decide sobrevoar toda a Asa Norte, chegando à descoberta do anatásio de Maicuru nos anos 1969/1970.  
“Paralelamente, Décio Meyer trabalha toda a região para a Codim, atravessando a pé o trecho entre os rios Jarí e Paru, em 1970”, narra Breno.
Em 1971/1972, ainda segundo relato de Breno dos Santos, é criada a Docegeo e Gene Tolbert, que comandava a empresa, decide contratar os geólogos da Meridional e da Codim, incluindo Décio Meyer. Nessa época a Meridional e a Codim encerram seus programas de exploração geológica.
Em virtude de sua experiência e o gosto pela região, Décio Meyer fica responsável pela exploração geológica da Asa Norte. Em 1972, é montado o acampamento no rio Ipitinga, afluente do Jarí.
Em 1972, o programa RADAM-Brasil, que fazia mapeamento geológico na Amazônia, decide trabalhar na região e o DNPM solicita à Docegeo apoio ao RADAM, que convida o geólogo Wilson Scarpelli para prestar assessoria, tendo em vista seu conhecimento da região de Vila Nova.
A empresa Icomi requer áreas na região Jarí-Paru e, segundo Breno, a Docegeo e Décio Meyer abandonam a região e seguem para oeste, requerendo a área de Maicuru. De acordo com Wilson Scarpelli, “como a Icomi pagou pela cobertura de radar por duas folhas de 1:250.000, as imagens chegaram primeiro a ela, que identificou as serras e as requereu antes mesmo das imagens serem entregues ao RADAM. Já há alguns meses eu estava ajudando o RADAM na interpretação do precambriano do sul do Amazonas. Quando o RADAM recebeu as folhas do Amapá, convidou a Icomi a coordenar a interpretação dessas duas folhas. E para isso foi criado um grupo com geólogos da Icomi, CPRM  e DNPM, tudo às claras”.
Depois a Icomi decide abandonar a área, que fica livre para requerimento. Em 1975, Décio e Equipe são transferidos para Carajás. Embora as áreas do Jarí-Paru estivessem livres, Breno dos Santos afirma que não conseguiu aprovação da diretoria da Docegeo para voltar à região. “Devido às primeiras descobertas de cobre, a Docegeo concentra os trabalhos em Carajás. Assim, apenas é requerido o complexo de Maraconaí”.
Em 1981, Décio Meyer deixa a Docegeo e vai para a BP (British Petroleum). Dois anos depois, em 1983, ele convence a BP a fazer requerimentos na região.
Conforme o relato de Breno, “o Almirante Gama e Silva, chefe do GEBAM (Grupo Executivo do Baixo Amazonas), descobre que Daniel Ludwig, do Projeto Jarí, tem ações da BP é fantasia (nota minha: não fantasiou, Gama e Silva era nacionalista de visão aguçada na defesa do Brasil e naquela época, já sabia da cobiça que as reservas minerais sofria vista por não nacionais e nacionais entreguistas)  que os requerimentos da BP fazem parte de um plano para o Ludwig dominar a região. O GEBAM tem assento no Conselho de Segurança Nacional e veta a concessão dos alvarás da BP”.
Em 1984, Gama e Silva liga para Breno, em Belém, informando que “já havia falado com Eliezer Batista (na época presidente da Vale) e com Francisco Fonseca (que presidia a Docegeo), para que a área fosse requerida pela Docegeo. “E que preparasse os pedidos e requeresse logo após oindeferimento dos pedidos da BP”. Naquele ano as áreas são de fato requeridas pela Docegeo. 
Insatisfeita, a BP recorre ao ministro Delfim Neto e avisa que se fossem aprovados os alvarás da Vale, ela (BP) entraria com uma ação contra o governo brasileiro, “por discriminação do capital estrangeiro”.
Gama e Silva liga novamente para Breno dos Santos, narrando o fato, e pedindo que ele desistisse das áreas. Breno respondeu que somente faria isso se tivesse autorização superior da Vale. Então solicitou instruções por escrito à Vale e Docegeo sobre como proceder. Nada conseguiu. O almirante, então, pediu a criação da RENCA., o que de fato aconteceu em fevereiro de 1984, por decreto.
Em 1994, quando foi secretário de Minas no MME, Breno dos Santos solicitou às consultorias jurídicas do Ministério e do DNPM que verificassem a situação legal da RENCA, para ver a possibilidade de acabar com a mesma. E descobriu, surpreso, que quando a RENCA havia sido criada não tinham sido indeferidos os pedidos existentes, a maioria em nome da Vale. “Por razões ética, decidi deixar como estava”, diz.
Breno dos Santos recebeu com muito otimismo a notícia de que o MME propõe a extinção da RENCAhttp://www.brasilmineral.com.br/noticias/o-primeiro-passo-para-o-fim-da-renca

fontes:

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Amapá guarda ruínas da base militar americana - Herança de guerra


Herança de guerra
Amapá guarda ruínas da base militar americana que defendeu o Atlântico e protegeu a entrada da Amazônia na 2a Guerra Mundial
Texto: Sérgio Adeodato
horizontegeografico.com.br

O bombardeiro B-17 dos EUA passou pelo Brasil na 2ª Guerra, onde ganhou o nome “muito trabalho”.A antiga oficina mecânica dos americanos está em ruínas,  coberta pelo mato na cidade do Amapá, norte do Estado .

Tratores, caminhões e tanques de fabricação americana, enferrujados pela ação do tempo, destacam-se na paisagem verde, nos arredores da cidade do Amapá, situada a 306 km de Macapá (AP). Das residências dos soldados, restaram apenas os pisos de cimento e lajota, escondidos no bosque de ameixeiras. A 500 metros dali, duas pequenas inclinações do terreno plano, forradas por vegetação rasteira, preservam no subsolo os antigos paióis de armamentos, como 50 anos atrás.

No alto de uma torre metálica, o farol de sinalização dos aviões de combate que ali pousavam funciona até hoje. Na frente dele, o poço artesiano, o reservatório de água, o almoxarifado-geral e os escombros da casa de bombas hidráulicas dão pistas sobre o poderio do lugar no passado. De fato, esse grotão do extremo-norte do país, localizado a 284 km do Oiapoque, guarda um patrimônio que poucos brasileiros conhecem ou ouviram falar: os vestígios da base aérea construída pelos Estados Unidos em plena Amazônia durante a 2ª. Guerra Mundial.

Em 1942, uma semana após o Brasil aderir à guerra contra alemães e italianos, uma delegação de engenheiros, arquitetos e topógrafos dos Estados Unidos, França e Inglaterra começou a construir a base militar do Amapá. O local era considerado estratégico para a patrulha do Oceano Atlântico contra uma eventual incursão inimiga nas Antilhas Holandesas, chegando à porta de entrada dos Estados Unidos. Durante a guerra, o Amapá foi também o primeiro ponto de abastecimento das aeronaves americanas que se dirigiam até outra base construída no Brasil, na cidade de Parnamirim, próximo a Natal (RN), de onde partiam para o combate na Europa. Registros da Aeronáutica indicam que pelo menos 21 aviões pousaram na cidade do Amapá durante viagens até Natal durante a guerra.

Esses redutos americanos em território nacional atuavam também na vigilância do Atlântico Sul. Além das bases aéreas, os portos de Recife e Salvador foram liberados para a Marinha americana. Formava-se o “Cinturão do Atlântico”, que compreendia a faixa mais estreita entre a América do Sul e a África, onde as operações foram intensificadas. Era uma questão de estratégia. Com o Canal de Suez, ligando o Mediterrâneo ao Mar Vermelho, bloqueado para embarcações alemãs e italianas, a parte sul do Oceano Atlântico passou a ser a via de acesso para os países inimigos obterem na Ásia a matéria-prima necessária à fabricação de armas. Como navios mercantes eram alvos fáceis dos bombardeios, a Alemanha passou a utilizar submarinos para essa tarefa. Entre as 65 embarcações inimigas afundadas no mar territorial brasileiro durante a guerra, nove foram submarinos, alvejados bem próximo à costa do Norte e Nordeste.

Um dos marcos mais importantes desse tempo, ainda hoje de pé na base do Amapá, é a torre de atracação de dirigíveis – pequenos zeppelins, chamados de “blimps”, que faziam a patrulha anti-submarina e a escolta de comboios de navios no Atlântico. No Brasil, os americanos tinham 16 “blimps”, divididos em quatro esquadrões, um deles com atuação no Amapá. Cada um levava até quatro tripulantes e uma bomba. Em fevereiro de 1944, na costa amapaense, esses dirigíveis de guerra resgataram sobreviventes de dois aviões B-25 acidentados na selva. “É uma pena que a memória desse tempo esteja sendo apagada”, lamenta Naíde de Assunção Pereira, 50 anos.

Naíde nasceu na base, quando a 2ª Guerra Mundial chegava ao fim, e hoje mora nos fundos da antiga lavanderia dos soldados. Seu tio, o cearense Paulo Lemos, já falecido, trabalhou como guarda dos aviões. O pai, Francisco Assunção, era dono de uma mercearia que vendia um pouco de tudo, de cereais a tecidos, para os militares e para as famílias que chegavam àquelas paragens em busca de oportunidades.

Na região onde a floresta amazônica se desfaz em cerrado e campos alagadiços cheios de búfalos, margeando o Atlântico um pouco acima da linha do Equador, a construção da base americana foi motivo de esperança de desenvolvimento. Durante a guerra, os alojamentos receberam aproximadamente 2 mil militares em vários períodos. No rastro deles, chegaram prestadores de serviços diversos, o comércio floresceu e surgiram inúmeras fazendas de gado. A população local cresceu com as promessas de emprego numa fronteira do país ainda inexplorada.

“Existia aqui uma cidade de primeira categoria construída pelos Estados Unidos, limpa e imunizada contra insetos, como os carapanãs, que hoje infernizam nossa vida”, recorda-se Raimundo Dário dos Santos, 79 anos. O morador, que atualmente reside no prédio onde funcionava o frigorífico da base, migrou do Pará sete anos após o fim da guerra, na esperança de pegar o bonde do desenvolvimento deixado pelos americanos.

Mas a esperança não durou muito. A base foi desativada após a guerra, em 1946, e passou para as mãos da Força Aérea Brasileira (FAB), que montou ali o Centro Aéreo de Treinamento. Com a saída dos estrangeiros, a região entrou em decadência, passando a ser refúgio de garimpeiros que até hoje exploram ouro nos rios encachoeirados das redondezas. Atualmente, a economia do município é sustentada por criações de búfalos, entrepostos pesqueiros e cultivos agrícolas que sobrevivem a duras penas sem acesso a tecnologias de produção.

Quase dez anos após a retirada americana, o silêncio no qual a base havia mergulhado foi interrompido por um fato histórico. A chegada do presidente argentino deposto, Juan Perón (1895-1974), que fugia de perseguições em seu país e no Paraguai, onde ficou inicialmente exilado. Em 1955, após passar por São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, tendo o pouso negado pelas autoridades, acabou aterrissando na cidade do Amapá.

A acolhida foi autorizada apenas para o reabastecimento da aeronave, um C-47 do transporte militar paraguaio. Naquela época, a cidade era capital do antigo Território Federal do Amapá. Perón hospedou-se na casa do então governador, Amílcar Pereira, e ganhou dele a gasolina para continuar o vôo até Manágua, na Nicarágua, país que lhe oferecera asilo.

“O que restou da base americana poderia ser transformado em pólo cultural e receber visitantes de várias partes do país e até do exterior”, ressalta Clécio Lopes Moreno, 67 anos, chefe do Grupamento de Navegação Aérea da Infraero na localidade. A sugestão faz sentido, tendo em vista que a rodovia que corta o município – e que hoje está sendo asfaltada – é rota para a Guiana Francesa, território que ainda hoje é colônia da França. A idéia de dar nova vida ao lugar teve início em 1998, quando o então governo do Amapá tentou criar ali um museu a céu aberto, hoje abandonado.

foto: Marcelo Maragni/HG
Tiago, como as outras crianças
 da vila, brinca no tanque-pipa
 deixado
no Amapá pelos americanos

O prédio onde se localizava o antigo posto médico dos americanos, reformado para guardar peças e documentos da época, está vazio e tomado pela poeira. As placas de sinalização das ruínas estão cobertas pela ferrugem. E muitas instalações, como os depósitos de alimentos, foram ocupadas por pessoas que não tinham onde morar, além dos parentes dos antigos funcionários da base. No total, 70 famílias vivem hoje nos antigos prédios erguidos pelos americanos.

Até quando esse patrimônio histórico resistirá ao tempo? Em maio de 2005, a Aeronáutica desativou o aeroporto local, que recebia vôos particulares e tinha um terminal de passageiros. Motivo: falta de manutenção na pista – problema que se arrasta há dois anos, contribuindo para isolar o município e atrapalhar o seu crescimento. O abandono atinge também a torre de atracação dos famosos zeppelins, tomada por colméias e casas de marimbondos, e a pista onde esses balões pousavam, quase soterrada pela vegetação.

Se os monumentos em ruínas da cidade correm risco de desaparecer com a memória dos moradores, novos vestígios daqueles tempos afloram nas matas dos arredores. Na medida em que mais trilhas são abertas na densa floresta amazônica, sinais dos antigos tempos de guerra espantam os caboclos. Foi o que aconteceu com o garimpeiro, conhecido como “Comprido Velho”, que há 10 anos encontrou no meio da mata um avião B-24 americano, quando caçava nos arredores do Rio Cassiporé. Após a divulgação da notícia, uma equipe de 22 soldados do Batalhão de Infantaria de Selva resgatou a aeronave, que estava coberta pelo limo e ainda preservava as metralhadoras anticaça. Foram também encontrados os restos mortais dos militares acidentados.

Novos achados podem vir à tona. As atenções agora se voltam para o mar, embora a tarefa seja muito difícil: encontrar dois submarinos alemães, o U-7662 e o U-590, que naufragaram nas águas turvas do litoral amapaense, perto da foz do Rio Amazonas, alvejados pelo bombardeio aéreo das aeronaves que decolavam da velha base americana da cidade do Amapá. Descobrir as embarcações significa montar mais um pedaço desse quebra-cabeça para resgatar os fatos desse importante período da história mundial.

Conflito no litoral

Embarcações alemãs foram afundadas na costa brasileira

A posição geográfica estratégica em relação à Europa, África e Ásia levou o Brasil a entrar na 2a Guerra Mundial. Após várias negociações com os Estados Unidos, o presidente Getúlio Vargas rompeu relações com Alemanha e Itália e autorizou a instalação de bases americanas no Brasil. A base militar de Parnamirim (RN) era a mais importante. De lá decolaram entre 400 e 600 aviões para o combate na Europa e para a vigilância do Atlântico Sul, formando um cinturão de 1.700 milhas entre Natal e Dacar, na África. Em troca, os Estados Unidos financiaram a criação da Companhia Siderúrgica Nacional e o programa de incentivo à produção de borracha na Amazônia, produto que se tornara escasso devido ao avanço japonês na Ásia. O Brasil passou a fornecer aos americanos materiais estratégicos como bauxita, berilo e manganês e recebeu armas modernas.


foto: Sirio Cançado