https://www.youtube.com/watch?v=2hyfnt84dO0
Bolsonaro
passou vinte anos no Congresso defendendo projetos absurdos, entre os quais a
ditadura militar, a utilização da tortura como método de interrogatório, a
anistia irrestrita de policiais condenados por homicídio e, lógico, realizando
uma série de campanhas de caráter homofóbico. Foi ele quem inventou a história
do 'Kit Gay', uma das fake news de maior repercussão no país, chegando ao ponto
de levar o livro de uma sexóloga na bancada do Jornal Nacional para alardear
que a obra seria distribuída para crianças (uma farsa!) e com objetivo de mudar
suas orientações sexuais precocemente (uma impossibilidade).
Portanto, na campanha de 2018, quando Bolsonaro estava candidato, já não havia nenhuma dúvida que se tratava de um sujeito hostil à comunidade LGBTIA+ e aos negros e pobres. Eu, mesmo, na ocasião do segundo turno fui hostilizado por um eleitor de Bolsonaro enquanto fazia panfletagem na Lapa, a partir de insultos homofóbicos. E no escritório onde eu trabalhava (para o deputado Jean Wyllys) um inquilino de outra sala no mesmo prédio se viu no direito de colar em nossa porta "é melhor Jair se acostumando".
Eduardo Leite transforma sua declaração “sou gay” em ato político com Bolsonaro “macheza ostentação” no poder. Bolsonaro diz que o brasileiro deve enfrentar o vírus como homem e não como maricas.
Foi neste ambiente, precisamente, e com sede do poder, que o
então candidato Eduardo Leite optou por omitir sua identidade gay e concorrer
com o apoio de Bolsonaro para governador, comprometendo-se ainda com a grande
maioria das suas pautas, em especial no que tange a economia e o trabalho, e
recebendo para isto gordas verbas de fundo público (partidário) e privado, tem
uma militância que trabalha para abrir frentes para homossexuais, transsexuais,
e eu sempre apoiei essa causa.
O fato de que o
agora o governador do RS acaba de se
declarar, ele próprio, uma pessoa da comunidade LGBTIA+ não pode apagar sua
estratégia assassina de corroborar uma onda de violência política contra
pessoas em situação de vulnerabilidade para chegar até aonde chegou.
Eduardo Leitte tem, sim, responsabilidade pelas mortes desproporcionais decorrentes da Covid-19, pelo repasse das maiores empresas públicas para agentes da corrupção no setor privado e pelo desmonte do sistema de proteção a mulheres, negros e LGBTIA+ no rol das políticas públicas do governo federal. Isto sem falar da sua própria gestão, que é da mesma orientação ideológica e que serve aos mesmos propósitos e agentes.
Se saiu do
armário só agora, com o desemprego recorde, com a informalidade no patamar de
décadas atrás, em plena destruição do meio ambiente e enfraquecimento das
instituições da República, foi porque a conjuntura para seu projeto pessoal de
poder se alterou. Trata-se, logo, de um oportunista.
E não há o que
celebrar sobre o uso por oportunistas da agenda LEGÍTIMA dos movimentos sociais
LGBTIA para projetos como o de Eduardo Leite. Sinto muito pelos emocionados que
creem que bandeiras arco-íris, declarações vazias nas mídias e peças de
publicidade serão suficientes para alterar a realidade de opressão social que
vivenciamos. A realidade é que, no ano passado, mais de 80% das vítimas de
assassinatos motivados por homofobia no Brasil eram negras e que uma proporção
ainda maior era de pessoas pobres. Estas vidas não podem ser salvas oferecendo
a dignidade dos trabalhadores em troca de verbas de campanha.
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