...a
burguesia para manter seus privilégios econômicos, redescobre sua afinidade com
o fascismo, para manter a propriedade recorrem a medidas de exceção, estados de
sítio e às ditaduras militares que aplicam a tortura e as execuções sumárias em
escala genocida. No Brasil, a Escola Superior de Guerra, a Sociedade de Estudos
Internacionais, a Fundação Aliança para o Progresso e o Instituto Brasileiro de
Ação Democrática organização (think tank)-IBAD colaboraram com órgãos
congêneres dos Estados Unidos como o Councie ou Foreing Relations, Agency for
Internacional Development, Councie for Latim América e a CIA (...). O golpe
militar de 1964 não foi mero reflexo de uma administração desastrosa, mas o
triunfo da ordem internacional e das forças conservadoras. Os EUA apoiaram
essas ações ao desenvolver a política de “fascismo exterior”: liberdade no seu
país e opressão nos outros.
O
Brasil é o país das alianças, do continuísmo, no qual as rupturas não se
completaram. As elites conservadoras têm uma grande capacidade de conciliação
na permanência do poder. Em 1964 tiveram na Escola Superior de Guerra (ESG) uma
das instituições responsáveis pela preparação política e ideológica do golpe,
somada a uma rede de organizações como o Instituto de Pesquisas e Estudos
Sociais (IPES) e o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD). Diante do
receio de que as massas se organizassem em função de um projeto alternativo ao
capitalismo, os militares assumiram os objetivos burgueses de defesa da
sociedade capitalista. René Dreifuss (1981) defendia que a coalizão vitoriosa,
em 1964, articulada em torno do complexo do Instituto de Pesquisas e Estudos
Sociais (IPES) e do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), organizou
os interesses sociopolíticos do capital multinacional e associado – implantado,
fortemente, já durante os anos Juscelino Kubitschek (1956-1960), sendo o golpe “civil-militar”
ou “empresarial-militar”, o resultado da
união dessas classes sociais: empresários e militares; - existiu não apenas a participação de
militares, mas também de “civis” no golpe; fundamentalmente, que existia um
projeto de classe inscrito no golpe e na ditadura. “O complexo IPES/IBAD é
apresentado como o verdadeiro partido da burguesia – no sentido gramsciano –
seu Estado Maior para a ação ideológica, política e militar”, que procurava manipular a opinião pública e
doutrinar as forças sociais e empresariais, modelando esses interesses em uma
classe “para si”. Além disso, ele estava envolvido em uma abrangente campanha
que visava impedir a solidariedade das classes trabalhadoras, conter a
sindicalização e mobilização dos camponeses, apoiar as clivagens ideológicas de
direita na estrutura eclesiástica, desagregar o movimento estudantil e bloquear
as forças nacionais - reformistas no Congresso e, ao mesmo tempo, mobilizar as
classes médias como a “massa de manobra” da própria elite orgânica. Ainda, as
manobras táticas faziam-se necessárias por uma outra razão fundamental:
conduzir a estrutura social a um ponto de crise onde as Forças Armadas, cujo
apoio fora simultaneamente e intensivamente aliciados, seriam levadas a
intervir sob uma liderança coordenada. Em Juazeiro do Norte, quatro grandes
manifestações foram organizadas e o padre Murilo de Sá Barreto (Pároco da
cidade que coordenava as romarias do Pe. Cícero), no limite, utilizou a força
moral da igreja para trazer um exército de marchadeiras às ruas da maior cidade
caririense...se juntou ao prefeito, Humberto Bezerra, para colocar nas ruas um
número incontável de mulheres com terços nas mãos, rezando o rosário para, uma
vez mais, execrar o comunismo e se confraternizar com a quartelada. São Paulo e
Rio de Janeiro, elas se reverberaram em todos os rincões do país. O amplo trabalho
ideológico e político realizado pelo complexo IPES/IBAD objetivava a contenção
da mobilização popular e a desorganização da incipiente consciência e
militância de classe que as massas trabalhadoras, aos poucos, adquiriam. Tais
ações no meio dos trabalhadores enfatizavam a “função social do capital”, com
ideias de favorecimento do sistema econômico, participação nos lucros,
corresponsabilidade administrativa, boa imagem. Com o explícito apoio dos
Estados Unidos, o regime militar instalado em abril de 1964 eliminou a
democracia, perseguiu, torturou e assassinou democratas, nacionalistas e
progressistas, impôs a censura e desmantelou as organizações populares, que
vinham impulsionando as mudanças. da empresa privada. A ação entre os militares
do complexo IPES/IBAD visava envolver o maior número de oficiais na mobilização
contra o governo. René Dreifuss observou pelo menos três movimentos político-
-militares: 1) o grupo IPES/ESG, do qual fizeram parte o gen. Golbery e o
tecnoempresário Roberto Campos; 2) o extremista de direita, que envolveu
elementos civis como Júlio de Mesquita Filho, proprietário do jornal O Estado
de São Paulo, o empresário Paulo Egydio Martins e o brigadeiro Burnier; e 3) o
tradicionalista, que envolvia nomes como os generais Antônio Carlos da Silva
Muricy, Amaury Kruel e Olympio Mourão Filho. O complexo IPES/IBAD estava no
centro dos acontecimentos, com homens de ligação, organizadores do movimento
“civil-militar”. A tomada do poder do Estado foi precedida de uma bem
orquestrada política de desestabilização que envolveu corporações
multinacionais, o capital brasileiro associado dependente, o governo dos
Estados Unidos e militares brasileiros – em especial o grupo de oficiais da
Escola Superior de Guerra (ESG. A ESG
foi fundada no Brasil, em 1949, com o apoio dos governos norte-americano e
francês. O inimigo a ser vencido não era a ameaça externa de invasão do país,
mas sim dos “inimigos internos” influenciados pelas ideias comunistas(criada
por Kissinger em guerra fria). Em nome do anticomunismo, a Doutrina de
Segurança Nacional, com sua ênfase no tema segurança interna, levou
inexoravelmente ao abuso do poder, às prisões arbitrarias, à tortura e à
supressão de toda liberdade de expressão. O Exército, a Marinha e a Aeronáutica
foram mobilizados, segundo técnicas predeterminadas de contraofensiva, para
levar a efeito operações em larga escala de “varredura com pente-fino”. Ruas
inteiras eram bloqueadas e cada casa era submetida à busca para detenção de
pessoas cujos nomes constavam em listas previamente preparadas. O objetivo era
“varrer” todos os que estivessem ligados ao governo anterior, a partidos
políticos considerados comunistas, ou altamente infiltrados por comunistas, e a
movimentos sociais do período anterior a 1964. Eram especialmente visados
líderes sindicais e estudantis, intelectuais, professores, estudantes e
organizadores leigos dos movimentos católicos nas universidades e no campo. Com
o explícito apoio dos Estados Unidos, o regime militar instalado em abril de
1964 eliminou a democracia, perseguiu, torturou e assassinou democratas,
nacionalistas e progressistas, impôs a censura e desmantelou as organizações
populares, que vinham impulsionando as mudanças. 2021, TUDO isso está se
repetindo.
(CASTRO
e SILVA, 1970).
(DREIFUSS,
2000, p. 298)
(DREIFUSS,
2006, p. 315-382-419)
(FARIAS,
2007, p. 48)
(QUEIROZ,
2010, p. 123, 124)
(ALVES,
1984, p. 59)
(Apud
TIMÓTEO, 2013, p. 150)
(QUARTIM
DE MORAES, 1999, p. 18)
(COUTO,
1994, p. 41)
Alfred
Stepan (1975)
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