ANFAVEA
Mário Bernardo Garnero
Volkswagen
1974-1977 | 1977-1980 | 1980-1981
Mário
Garnero foi um líder estudantil eficaz, quando presidente do DCE da PUC-SP
organizador de eventos memoráveis sobre temas nacionais. que lhe permitiram os
primeiros contatos com o mundo político pré-64.
Depois, casou-se com uma herdeira do
poderoso grupo Monteiro Aranha, que possuía 20% do capital da recem-instalada
Volks do Brasil. Nos anos 70, assumiu cargo na Volks, como representante do
grupo. Lá, como diretor de Recursos Humanos, conheceu e aproximou-se de Lula e dos sindicalistas do ABC.
Mas
toda sua carreira foi pavimentada no regime militar.
Antes disso, era o
menino de ouro dos militares. Tornou-se num anfitrião de primeiríssima
acolhendo em sua casa, ou em um almoço anual nas reuniões do FMI, a fina nata
do capitalismo mundial. Tornou-se, de fato, um dos brasileiros mais bem
relacionados do planeta. Mas jamais conseguiu transformar o relacionamento em
negócios legítimos. Não tinha a visão do verdadeiro empreendedor. Terminou
cercado por parceiros de negócio algo nebulosos, principalmente depois que
passou a perna dos demais acionistas do Brasilinvest, grandes corporações
internacionais.
Lá, na Volks, tornou-se amigo de Walfgang Sauer e também das novas lideranças sindicais que surgiam no
ABC.
No auge do chamado
“Brasil Grande” montou um congresso em Salzburg, Alemanha, para onde convergiu
a nata do capitalismo mundial da época. Do encontro surgiu a ideia do banco de
investimento, com participação de grandes multinacionais, incumbido de preparar
projetos para investimentos externos no país.
Sauer apoiou a ideia
desde o primeiro momento, Seu prestígio internacional assegurou ao recém criado
Brasilinvest a adesão de inúmeras multinacionais de primeira linha, de diversos
países. Foi uma constelação como jamais se viu outra no país, com 80 empresas
de 16 países.
Sauer
tornou-se membro do Conselho do banco, ao lado de outros empresários
influentes, como Mauro Salles, publicitária, e Hélio Smidt, presidente da
Varig, na época maior companhia aérea da América Latina.
O fim do mito Garnero
O mito Garnero acabou
nos anos 80.
O
Brasilinvest emprestava para um conjunto de holdings de nomes africanos,
controladas por ele próprio. Aí, na condição de presidente do banco, ele
convocava os acionistas para aumentos de capital. E definia prazos
incompatíveis com a lentidão do processo de decisão das grandes multinacionais.
A operação garantiu o
controle quase total sobre o banco, mas também sua descapitalização, que
tornou-se maior quando se meteu em aventuras com usinas de álcool na Bahia e
acabou quebrando a cara.
A
descapitalização levou o grupo a entrar em crise.
Poderia ter se
amparado no governo Figueiredo, que lhe devia favores.
No período em que
Figueiredo esteve internado em Cleveland, para operar do coração, armou-se uma
conspiração civilista no país, tentando colocar o vice presidente Aureliano
Chaves na presidência.
Essa
operação deu-se entre os líderes empresariais reunidos pelo jornal Gazeta
Mercantil. Participaram dela desde o empresário Abilio Diniz até economistas,
como Luiz Gonzaga Belluzzo e João Manuel Cardoso de Mello. Seria o caminho mais
rápido para abreviar a sucessão para um civil.
Garnero foi a
Cleveland e alertou Figueiredo, que abortou o movimento.
Mas não conquistou sua
gratidão.
Pouco
tempo antes, o estouro do grupo Capemi – registrado magistralmente pelo então
jovem jornalista José Carlos de Assis, na Folha – ajudara a corroer ainda mais
a legitimidade do governo Figueiredo. Agora a corrupção chegava ao próprio
Montepio da Família Militar.
Quando Tancredo foi
eleito, por via indireta, Figueiredo viu a maneira de dar o troco. Um dos
membros do Conselho da Brasilinvest era o próprio genro de Tancredo, Aécio
Cunha, pai de Aécio Neves. Outros três eram dos mais influentes empresários brasileiros:
Smidt, Sauer e Mauro Salles.
Proibiu,
então, o Ministro do Planejamento Delfim Netto de qualquer ajuda e deixou o pepino para o
governo Tancredo e para o novo Ministro da Fazenda Francisco Dornelles, com o
aviso irônico: esse aqui é a Capemi de vocês.
Percebendo a
armadilha, Tancredo ordenou a Dornelles que agisse com o máximo rigor e sem
nenhuma condescendência.
Até
hoje Garnero acha que Dornelles foi movido por vingança, devido a uma disputa
feminina/ O que estava em jogo era a afirmação da Nova República.
Ali acabou o reinado
de Garnero, que foi depenado pelos novos vitoriosos. A NEC, empresa da qual era
sócio, foi transferida para Roberto Marinho, em uma manobra com nenhuma
sutileza: Antonio Carlos Magalhães suspendeu os pagamentos da Telebras para a
empresa e avisou os sócios japoneses que só retomaria quando o controle
passasse para Roberto Marinho. Passaram o controle e, em contrapartida, ACM
conseguiu ser a afiliada da Globo na Bahia.
A quebra da
Brasilinvest levou junto os três conselheiros. Sauer teve todos seus bens
bloqueados e viu terminar sua carreira de CEO mais prestigiado do país.
Décadas depois, o homem de ferro da VW Walfgang Sauer era capaz de ir às lágrimas,
ao relembrar o episódio. Sauer morre em 29/04/2013 em São Paulo.
Já no governo Sarney,
da derrocada de Garnero valeu-se Roberto Marinho para tomar-lhe o controle da
NEC Telecomunicações.
Depois disso,
continuou a vida tornando-se uma espécie de João Dória Junior internacional.
Aos encontros anuais da Brasilinvest comparecia a fina flor do capitalismo – e
modelos belíssimas. Aliás, a capacidade de selecionar mulheres para terceiros
era uma das especialidades de Garnero, que conseguiu um encontro de Gina
Lolobrigida para seu sogro. Ele mesmo tinha visa pessoal discreta.
No início do governo
Lula, Garnero valeu-se da familiaridade dos tempos de ABC para se aproximar de
José Dirceu, ainda poderoso Ministro da Casa Civil. A aproximação lhe rendeu
prestígio e bons negócios.
Graças a ela,
conseguiu levar o Instituto do Coração para Brasília, em um episódio
controvertido que estourou tempos depois, com boa dose de escândalo. Aliás, até
hoje respondo a um processo maluco do Mário Gorla, o sócio de Garnero no
empreendimento. Esteve também por trás dos problemas do Instituto do Coração em
São Paulo.
Quando os chineses
começaram a desembarcar no Brasil, fui procurado por analistas da embaixada da
China interessados em informações sobre o país. E me contaram que estavam
conversando com um BNDES privado. Indaguei que história era essa. Era o
Brasilinvest – na ocasião um mero banco desativado, localizado em uma das
torres do conjunto Brasilinvest na Avenida Faria Lima. Não sabiam que Garnero
já se desfizera totalmente do patrimônio representado pelas torres. E tinha um
banco de fachada.
Garnero ajudou na
aproximação de Dirceu com parte dos empresários norte-americanos. Na véspera do
estouro do “mensalão” Dirceu já tinha uma viagem agendada para Nova York
organizada por ele.
Sem conseguir se
enganchar no governo Lula, Garnero acabou se dedicando ao setor imobiliário. Os
filhos não seguiram sua carreira, internacionalmente brilhante, apesar dos
tropeços. Ficaram mais conhecidos pelas conquistas e pela vida vazia.
Já o neto consegue seu
segundo instante de celebridade. O primeiro foi em um vídeo polêmico, simulando
um agarra com o ex-jogador Ronaldo.
Ana Maria Monteiro de Carvalho e Mario Garnero com os filhos, Álvaro, Mario e Fernando
Mario Garnero, o pai, recebeu convidados na cobertura do edifício do
Brasilinvest para comemorar o sucesso do Forum das Américas, organizado por
ele. Num raro momento a família Garnero/Monteiro de Carvalho esteve reunida. Mario Bernardo, o filho mais
velho, mora em Nova York; Álvaro, o do meio, em Sampa; e Fernando vive na fazenda da família em Campinas. A mãe, Ana Maria Monteiro de Carvalho, de namorado novo,
mudará em breve para sua casa recém-reformada na Alameda Gabriel Monteiro da
Silva, nos Jardins.
Notas:
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