segunda-feira, 6 de maio de 2019

No Brasil, é praticamente proibido falar de SÍMBOLOS

Nota: O Plano Piloto de Brasília não é um "avião", como se propaga, no link abaixo [1] é uma POMBA consoante a imagem do Gênesis I: "O Espírito de Deus movia-se acima das águas". O desafio do depoimento de Lúcio Costa de que ela "nasceu do gesto primeiro daquele que assinala um local ou dele toma posse" é uma adaptação de um grande pássaro de asas abertas voando em movimento de "descida" ao Lago Paranoá. A nova capital está geometricamente alinhada em 90 graus com Paris num claro apontamento astronômico com a Estrela Polar, indicando o "deslocamento das civilzações" da Europa para a América do Sul.

Bibliografia
AS LÁGRIMAS DO RIO, Laurent Vidal
No Brasil, é praticamente proibido falar de SÍMBOLOS. Eis o motivo pelo qual precisamos falar deles, pois a matriz de toda Cultura tem um Mitologema fundante, como bem explica o filósofo brasileiro Vicente Ferreira da Silva.
Até o presente, os estudos acadêmicos sobre a transferência da capital federal do Rio de Janeiro para Brasília foram escassamente estudados pela historiografia nacional, no sentido de projetar uma "idéia nacional" compactado na questão técnica do projeto do Plano Piloto de Brasília fazendo usos de recursos simbólicos relativos à temática da TRANSLATIO IMPERII presentes na transferência do poder político e das instituições que o acompanham.
Nestes termos extraordinários, Juscelino Kubitschek, Presidente do Brasil, dirige uma mensagem ao Presidente da República Italiana: " Eu inauguro hoje a nova capital do Brasil, na mesma data em que se comemora a fundação de Roma; a mais jovem cidade do mundo se volta, neste momento, para a mais antiga cidade da Terra, centro e berço da latinidade, onde o gênio dos romanos fixou as raízes da civilização ocidental."
Os rituais de fundação de Brasília, sim, isso mesmo, foram vários RITUAIS, convidam a uma reflexão sobre o MITO, a EPOPÉIA e a UTOPIA que embalaram este projeto que, de modo algum pode ser reduzido a um projeto "modernizador desenvolvimentista". Brasília coloca-se como a "Nova Lisboa", como a "Terceira Roma". Estamos diante de um dos temas mais graves de toda a história da cultura ocidental: a queda da Igreja de Roma e o surgimento de uma Nova Era com uma nova sede da cristandade. Temas como o problema da Verdade, a noção de tempo histórico, de "sentido evolutivo" da História, das Eras civilizacionais, do deslocamento das civilizações, da mutação do Conhecimento, etc, encontram-se firmemente presentes no desenrolar de toda essa trama.
O Plano Piloto de Brasília não é um "avião", como se propaga, é uma POMBA consoante a imagem do Gênesis I: "O Espírito de Deus movia-se acima das águas". O desafio do depoimento de Lúcio Costa de que ela "nasceu do gesto primeiro daquele que assinala um local ou dele toma posse" é uma adaptação de um grande pássaro de asas abertas voando em movimento de "descida" ao Lago Paranoá. A nova capital está geometricamente alinhada em 90 graus com Paris num claro apontamento astronômico com a Estrela Polar, indicando o "deslocamento das civilzações" da Europa para a América do Sul.
Duas obras de Laurent Vidal estudaram este momento: "De Nova Lisboa a Brasília, a invenção de uma capital (séculos XIX-XX)" e "Les larmes de Rio. Le dernier jour d'une capitale (20 avril 1960)", traduzida para o português como "As Lágrimas do Rio".
O cerne do livro "Les larmes de Rio" é o dia 20 de Abril de 1960, o dia do fechamento dos portões do Palácio do Catete e do embarque do presidente Juscelino Kubitschek para a nova capital, Brasília.
A resenha de Fernando Lopes Lemes sobre "Les larmes de Rio" afirma: "Les larmes de Rio constitui-se, certamente, na primeira referência, na historiografia das cidades, que não se detém apenas na avaliação da transferência institucional dos poderes políticos de uma cidade para outra. Mais que isso, trata-se de um estudo inédito que elege como objeto o momento da retirada dos aparatos políticos institucionais, lançando luzes sobre as estratégias utilizadas para a transferência das instituições que legitimam e revestem a cidade de sua condição de capital. Por meio de uma análise refinada pelos recursos metodológicos que utiliza, Laurent Vidal traz à superfície de suas reflexões os efeitos e as especificidades que fazem deste fenômeno um acontecimento singular e excepcional.
O interesse e o ponto de vista adotados pelo autor têm implicações mais amplas para a historiografia, pois fazem deste episódio um caminho privilegiado para observar as relações entre cidade e poder, a partir de um viés absolutamente inovador: abandonando a perspectiva positiva que aproxima cidade e poder, comumente associada às narrativas de fundação de cidades e das entradas triunfais (que já mobilizaram vasta literatura), Laurent Vidal lança um outro olhar sobre o tema, privilegiando o aspecto do distanciamento entre a cidade e o poder, consagrando como ponto de inflexão o momento em que o poder deixa a cidade. O maior mérito, contudo, desta perspectiva, que insiste em desvendar os laços e as conexões que se desfazem, pondo em evidência um processo fatal de separação, é apresentar a cidade como espaço de predileção do político, reatando, ao mesmo tempo, o seu vínculo indissolúvel, pois é no espaço real e virtual da cidade que se afirma o poder político.
Mas esta separação entre o político e a cidade implica sobretudo numa passagem: o poder federal deixa o Rio de Janeiro e, ao mesmo tempo, o antigo Distrito Federal deve desaparecer para dar nascimento a uma nova capital. A passagem do poder do Rio a Brasília. Não se trata, no entanto, de um simples traslado das instituições existentes no Distrito Federal. Afinal, a capital não é apenas o lugar de concentração dos órgãos da administração que constituem a natureza visível do poder político, é também um reservatório de forças de ordem espiritual. Neste sentido, a autoridade e a natureza do poder que legitima a cidade enquanto capital informa, antes de tudo, a existência de elementos e dados imateriais. É isto, exatamente, que estimula o esforço de Vidal.
Para além das provas materiais da transferência da capital, é necessário apontar os indícios e os efeitos do deslocamento deste poder imaterial, promovendo uma imersão no mundo dos sentimentos e emoções, perseguindo a ressonância dos acontecimentos no universo afetivo e sensível dos protagonistas. Em meio a uma confusão de sentimentos, as lágrimas são perceptíveis nos olhos da população do Rio. Assim, para emergir à superfície da história, o acontecimento deve se realizar no interior de percepções diversificadas e simultâneas que reenviam ao domínio dos afetos. Na narrativa de Laurent Vidal, a emoção parece constitui-se em um dos componentes da inteligência, onde os afetos assumem papel fundamental".
Loryel Rocha
Fernando Pessoa afirmou lapidarmente:
"A Verdade não pode ser transmitida à humanidade porque a humanidade não a compreenderia. Só por SÍMBOLO, portanto, pode a verdade ser-lhe dada; de sorte que vendo o símbolo SINTA a verdade sem a compreender."
Fernando Pessoa
(Esp. 54/18)

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