domingo, 8 de dezembro de 2019

Daniele Janene filha de José Janene mentor do mensalão e do petrolão, foi absolvida e processo arquivado, Sérgio Moro se calou, que destino levou o dinheiro retido nas delações? CPI na lava jato.

Nota minha: Ex-presidente do PP-PR, José Janene foi peça central na Lava jato. O deputado José Janene (PP-PR) foi réu do mensalão, e montou o esquema do petrolão com o doleiro Alberto Youssef comandada por Paulo R. Costa. Danielle Janene filha, também ré, acusada de lavar milhões, se diz convencida de que o pai Janene era o mentor do petrolão. Danielle chama Youssef de "tio Beto". Em 2004 quando Youssef foi preso pelo escândalo do Banestado ocorrido no final dos anos 90, Danielle ajudou os parentes dele. Sérgio Moro se calou sobre os fatos a ele denunciado por e-mail, e se tornou parcial e político. José Janene resolveu "morrer" em outubro de 2010 com 55 anos, com o caixão lacrado e carregado por Alberto Youssef, a esposa reclamou que não viu o corpo, e a colônia muçulmana não permitiu abrir o caixão  ao público. Estará morto? Em março de 2019, o  juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14.ª Vara Federal de Curitiba, condenou a viúva do ex-deputado federal José Janene (PP) Stael Fernanda Rodrigues de Lima, a 7 anos e 6 meses de prisão em regime semiaberto em processo decorrente do Mensalão no entanto, absolveu Danielle a filha de José Janene. A juíza substituta da Operação Lava Jato no Paraná, Gabriela Hardt, arquivou em julho/2019 a acusação de crimes de associação criminosa, lavagem de dinheiro, apropriação indébita e estelionato, contra a filha do ex-deputado José Janene.  (Se Danielle abrir a boca, cai a República!) 
José Janene PP-PR e Danielle Janene
Alberto Youssef "O tio Beto", o doleiro que Sérgio Moro perdoou duas vezes

A filha do ex-deputado José Janene, Danielle Janene, acusou hoje (20/5/2015) o deputado Hugo Motta (PMDB-PB), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, de estar “mentindo” ao afirmar que foi procurado pela mulher de Janene, Stael Fernanda Janene, que lhe teria dito que o caixão do ex-deputado estava lacrado e ela não teria visto o corpo do marido depois de morto.

Danielle informou que morava em São Paulo quando o ex-deputado Janene foi internado no Incor, sofreu duas paradas cardíacas, foi reanimado e faleceu dias depois de septicemia - infecção generalizada com falência múltipla dos órgãos - e não de infarto. A filha de Janene disse que acompanhou todo o sofrimento do pai no hospital, “até o último suspiro dele”. De acordo com Danielle Janene, o corpo de seu pai foi transladado para Londrina, no Paraná, e velado na Mesquita da cidade, conforme mandam os preceitos da religião muçulmana para ser sepultado”, disse.

Segundo Danielle Janene, a noticia do pedido de exumação do corpo do ex-deputado José Janene “ofendeu toda a minha família, todos os muçulmanos e amigos do meu pai”. Ainda de acordo com Danielle, sua madrasta, Stael Janene, nega todas as declarações atribuídas a ela e afirma que não falou nada do que o deputado Hugo Motta disse hoje na CPI da Petrobras.[1]
https://www.youtube.com/watch?v=5otr_jSXc2A

Nabil Harajli, que como o próprio nome mostra é de origem árabe, assim como era José Janene. Atua profissionalmente em Detroit e região, nos Estados Unidos, como destaca em seu perfil, Harajli era assíduo frequentador da casa de Janene, em Londrina, onde conheceu e passou a conviver com Alberto Youssef.  Um depoimento de Nabil Harajli envolvido em Petróleo e energia nos Estados Unidos, ajudaria sobremaneira a PF nas investigações. Jamais foi intimado a comparecer: por que Moro, não indiciou Nabil Harajli à  prestar declarações?


“Por que um posto de Brasília está pagando as contas de uma empresa em Londrina no Paraná?”.  A pergunta levou às investigações e, consequentemente, à deflagração da Operação Lava Jato, em março de 2014. O doleiro Carlos Habib Chater, dono do Posto da Torre, em Brasília, disse que acabou entrando no esquema por causa de dificuldades financeiras. “Eu na verdade apagava incêndio todos os dias(tadinho né!). O Posto da Torre um dos maiores postos de Brasília, talvez um dos maiores do Brasil. Tinha um lucro de R$ 500 mil por mês, a situação financeira do Posto da Torre não era boa, Chater aportava recursos em uma empresa londrinense controlada pelo ex-deputado (PP-PR) José Janene – a Dunel Indústria e Comércio. 

Por que o Juiz Sergio Moro se calou sobre as informações recebidas por e-mail relatando a quadrilha de José Janene PP-PR desde 2008, e quando Alberto Yousseff foi preso por não cumprir os regulamentos do Banestado?

Partido Progressista Reformador (PPR) 1993-1995

Partido Progressista Brasileiro (PPB) 1995-2003

Partido Progressista (PP) 2005 – 2016

Partido Social Cristão (PSC) 2016 - 2018

Partido Social Libera (PSL) 2018 - 2021

Partido Liberal (PL)   2021 - 2022

Bolsonaro solicitou a desfiliação do PP em 2016 afirmando na época, que tinha "sonhos políticos", mas que não poderia realizá-los no partido PP por que? O que Bolsonaro sabe sobre José Janene (presidente do PP) mentor do mensalão e do petrolão? Seus principais ministros e presidente da Câmara são do Partido PP:

José Janene passou a presidência do PP para Ciro Nogueira PP-PI hoje, Ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro e líder do centrão;  Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara, o Deputado federal Ricardo Barros PP-PR Líder do governo na Câmara dos Deputados,  seguindo  o esquema da intimidação, corrupção, ingerência, junto aos poderes da República. (Adendo/2022)


NOTAS:

sábado, 7 de dezembro de 2019

Belo Monte, a obra que une militares, presidentes civis até Bolsonaro, doando o Sul do Pará a poucos donos.

A barragem, chamada de Belo Monstro pelas famílias expulsas de suas casas, terras e ilhas, hoje se impõe na paisagem cortando o Xingu.
A barragem, chamada de Belo Monstro pelas famílias expulsas de suas casas, terras e ilhas, hoje se impõe na paisagem cortando o Xingu.DIVULGAÇÃO




NOTA MINHA: FAÇO LEMBRAR, DANIEL DANTAS, JADER BARBALHO, LULA DA SILVA, DUDA MENDONÇA, a clã sarney, E BOLSONARO CONTINUANDO... TORNARAM-SE OS DONOS DO SUL DO PARÁ NA GESTÃO PT.  INVESTIGUEM!

05 DEC 2019 - 16:43 BRT
A polarização entre o bolsonarismo e o petismo é uma realidade. Há outras realidades, porém. E é urgente que elas sejam vistas. Perceber o que quebra a polarização é tão importante —ou até mais— quanto perceber o que a mantém, se quisermos respeitar a memória para, com ela, criar uma história que respeite a Amazônia e os seus povos. Hoje não mais uma opção, mas uma emergência, já que sem a floresta em pé não há possibilidade de futuro. Belo Monte é a obra que demanda o enfrentamento das contradições. É isso o que mostra, mais uma vez, a inauguração —pela segunda vez— da usina erguida no rio Xingu, no Pará. Quem inaugurou a primeira turbina, em 5 de maio de 2016, foi Dilma Rousseff (PT), antes da conclusão do processo de impeachment. Quem inaugurou a décima-oitava e última turbina foi Jair Bolsonaro (PSL), em 27 de novembro. Ambos estavam orgulhosos. Sem enfrentarmos os porquês deste orgulho pela realização de Belo Monte, capaz de superar a atual polarização política do Brasil, seguiremos barrados como país.
A cerimônia de inauguração, transmitida ao vivo pela TV Brasil, é bastante esclarecedora. Jair Bolsonaro, que se fez acompanhar da mulher, Michelle, manteve-se calado. Coube a ele o ato simbólico de acionar a última turbina. O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), discursou. É bastante justo que o tenha feito. Não por ser governador do Pará, mas porque pertence ao partido que, junto com o PT, fez de Belo Monte uma obra possível. A arquitetura financeira da usina é alvo de investigação da Operação Lava Jato, já que há suspeitas de negociação de propinas pelo PT e PMDB com empreiteiras que formaram o Consórcio Construtor de Belo Monte. Márcio Lobão, filho de Edison Lobão (MDB), ministro de Minas e Energia durante parte do segundo mandato de Lula e durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff, chegou a ser preso em setembro deste ano por conta das investigações do propinoduto na construção de Belo Monte.
MAIS INFORMAÇÕES
Vale sempre lembrar que, em 2010, ano do leilão da usina, a obra era orçada em 19 bilhões de reais. Hoje, é calculada em mais de 40 bilhões de reais, a maior parte dele financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Belo Monte é apresentada como a quarta maior hidrelétrica do mundo. É importante esclarecer, porém, que capacidade instalada —mais de 11 mil megawatts— é diferente do que efetivamente a usina vai produzir, aquilo que no jargão técnico se chama de “energia firme”. Como o rio Xingu vive metade do ano na seca, a média de produção de energia é menos da metade disso, uma das razões pelas quais cientistas e técnicos apontavam —e apontam— a inviabilidade da hidrelétrica.
É justo que Helder Barbalho, o herdeiro do clã Barbalho, que tanta história construiu e constrói no Pará e no Brasil, algumas ainda por serem devidamente contadas, faça as honras da casa. Não se deve esquecer a participação do PMDB, hoje MDB, no que veio antes e em tudo o que ainda acontecerá devido à construção de Belo Monte. O DNA de José Sarney esteve na retomada do projeto de Belo Monte no início do primeiro mandato de Lula, quando Dilma Rousseff era ministra de Minas e Energia, como esteve por décadas em tudo o que aconteceu no setor elétrico brasileiro. Agora, outra oligarquia da política nacional e do MDB fez questão de deixar suas digitais na obra mais controversa deste século.
O PT não estava sozinho na construção do “Belo Golpe”
O PT não estava sozinho na construção do que a população atingida chama de “Belo Monstro” ou “Belo Golpe”. Ao discursar, Barbalho preferiu definir a usina como “a maior obra de produção energética 100% brasileira”. Esta tecla, a do “100% brasileira”, tem sido muito batida, com o objetivo de exacerbar o nem tão novo tipo de nacionalismo que acomete parte dos brasileiros, o subserviente. Também serve para adicionar superlativos à Belo Monte, já que, sem isso, a maior hidrelétrica é Itaipu, dividida entre o Brasil e o Paraguai.
É interessante perceber como, apesar de seus detratores cíclicos, Freud segue atual. Sempre há algum ato falho, uma verdade que escapa, mesmo nos discursos mais estudados. Foi assim com Barbalho. A certa altura, ele agradeceu “a cada cidadã e cidadão que, ao longo dos últimos oito anos, dispensou a sua vida para esse empreendimento extraordinário que hora temos a oportunidade de entregar”. Extraordinário. É fato que milhares de pessoas tiveram seu modo de vida inteiramente destruído ao serem expulsas de suas casas, ilhas e terras e jogadas nas periferias urbanas de Altamira e de outras cidades da região. Algumas adoeceram e morreram. Outras foram assassinados no curso da violência que tornou Altamira a cidade mais violenta da Amazônia após a construção da usina. E há os que hoje vivem uma crise humanitária na Volta Grande do Xingu porque o rio está secando.
“Dispensou”, o verbo usado pelo governador do Pará, é um verbo justo. Apenas que estes homens e mulheres, adultos e crianças não “dispensaram” nem “dispensam” a sua vida porque assim decidiram, como uma espécie de sacrifício no altar do que alguns chamam de progresso. Ao contrário. Tiveram sua vida dispensada pela Norte Energia S.A., a empresa concessionária da hidrelétrica, pelos governos de Dilma Rousseff (presidente) e de Michel Temer (vice-presidente), e pelo judiciário que barrou o julgamento de parte das 25 ações produzidas contra Belo Monte pelo Ministério Público Federal. Tiveram sua vida dispensada também por todos aqueles que costumavam lutar pelos direitos humanos e, por conveniência política, deixaram de fazê-lo. Nesta dispensa de vidas há os que agiram —e há os que se omitiram. Ainda hoje é assim.
Ministro militar lembra que Belo Monte simboliza a continuidade do projeto da ditadura

Depois do discurso de Helder Barbalho, foi a vez de Bento Albuquerque, ministro de Minas e Energia do Governo Bolsonaro. Ele disse pelo menos uma verdade, importante para estabelecer as conexões históricas: “A conclusão desta obra, concebida na década de 70, no século passado, é marco histórico para nosso país. [...] Com sentimento de satisfação e alegria, vejo que somos testemunhas de mais um capítulo de prosperidade que contou, presidente, com uma visão estratégica: a concepção de uma política energética de Estado, criada há mais de 40 anos, com o uso da cultura da nossa academia, engenharia, indústria e da capacidade de empreendimentos nacionais”.
O militar Bento Albuquerque, almirante de Esquadra da Marinha que iniciou sua carreira em 1973, durante a ditadura militar (1964-1985), fez questão de sublinhar a continuidade —sem rupturas efetivas— da política energética e da política para a Amazônia instituída pelo regime de exceção e mantida durante a retomada da democracia. Belo Monte simboliza essa continuidade e desfaz, pelo menos neste campo, a polarização entre lulismo e bolsonarismo. Obra concebida na ditadura e barrada por décadas pelos povos indígenas e movimentos sociais do Xingu, a usina foi realizada pelos governos do PT, de Lula e de Dilma Rousseff. Como as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira, em Rondônia, Belo Monte é produto de uma visão de desenvolvimento para a Amazônia estruturada durante a ditadura militar que nunca deixou de estar presente nos governos da democracia.
Em nenhum deles, porém, essa visão foi tão vitalizada quanto nos governos do Partido dos Trabalhadores. Na construção da obra, em si, mas também na forma como Belo Monte foi imposta às populações atingidas e ao país. Do leilão à inauguração desta última turbina, a hidrelétrica pode ser contada por uma sequência de violações de direitos humanos, animais e ambientais em conluio com os governos e com a conivência de parte do judiciário.
Belo Monte, como já demonstrei amplamente em artigos publicados desde 2011, foi construída num microcosmo de exceção. Isso está amplamente demonstrado pelos fatos expostos em reportagens, relatórios científicos e ações do MPF. Um dia, se restar algum resquício de democracia no Brasil, essas violações serão julgadas. É importante que as ações sejam desbloqueadas e se recupere o fluxo da justiça. É também neste ritual que se recupera a memória, como as vítimas da ditadura e seus familiares sabem tão bem, já que nunca foram contemplados pela justiça brasileira. A desresponsabilização e o barramento da memória são ativos importantes do atoleiro no qual nos encontramos hoje.
A visão de desenvolvimento para a Amazônia atravessou as décadas e hoje é alegremente levada adiante pelo governo de Jair Bolsonaro, povoado por militares estrelados. É interessante observar como no discurso do almirante Bento Albuquerque o século 20 é resgatado em sua grandiosa decadência. O que é enaltecido é justamente aquilo que carregou as humanidades (no plural) para o colapso climático que hoje apenas começamos a experimentar. A visão do século 20 já demonstrou toda a sua capacidade de destruição da vida no planeta, mas ainda é repetida e glorificada. Também por uma parcela significativa da população brasileira, desinformada e pouco educada – e pouco educada também nas elites, que, vivendo em guetos, são muito deficitárias.
A tragédia atual do Brasil não é que os militares voltaram ao poder com Bolsonaro, mas sim que os militares que voltaram ao poder com Bolsonaro foram justamente os militares que não conseguiram se atualizar. De várias maneiras, só enxergam na sua frente o passado, tanto para impô-lo mais uma vez como o único destino possível, caso deste imaginário sobre desenvolvimento que nunca foi suficientemente criticado no Brasil, como para reescrevê-lo apagando os crimes cometidos pela ditadura contra a população civil. Sabemos que há militares preparados e bem informados, mas não são estes que apoiaram Bolsonaro. Estes seguem na Guerra Fria – ou precisam da Guerra Fria.
Movimentos sociais do Xingu exigem “envolvimento” em vez de “des/envolvimento”

Estamos, mais uma vez, às voltas com o passado que nunca passou. Com o agravante que, no caso de Belo Monte e das grandes hidrelétricas construídas na Amazônia nas últimas duas décadas, uma parte da esquerda ligada ao PT quer também apagar essa memória ou reescrever a história, o que torna tudo muito mais difícil para as vítimas e para o debate de um novo modelo de “envolvimento” com a Amazônia. No manifesto do encontro Amazônia Centro do Mundo, realizado em Altamira em novembro, os movimentos sociais do Médio Xingu propõem o “envolvimento” em detrimento do “des-envolvimento”. Des-envolver como “não se envolver” ou “deixar de se envolver”. Eles conhecem este des-envolvimento – literalmente na pele.
Discursa o almirante, que também é ministro de Minas e Energia do bolsonarismo: “O concreto aplicado em Belo Monte é suficiente para construir 37 Maracanãs!”. É século 20 na veia. Enquanto os efeitos nocivos do concreto são denunciados por todo o planeta, nossos ministros militares acham maravilhoso ter colocado 37 Maracanãs no meio da floresta amazônica. Bento Albuquerque quis fazer como Lula e invocar o futebol, aproveitando a vitória do Flamengo na Libertadores. Como juntou Belo Monte com Maracanã, porém, acabou evocando a corrupção presentes na obra da usina e na reforma do estádio para a Copa do Mundo de 2014.
Tanto o almirante quanto o governador enalteceram todas as grandes obras e os minérios e a indústria e a engenharia etc. Esqueceram-se por completo do que é a maior riqueza da floresta. Ou seja, a própria floresta em pé, que salva o planeta todos os dias pela sua capacidade de regular o clima. Esta que ainda empresta relevância ao Brasil, país que não para de se apequenar diante da comunidade global. Poderíamos criar uma bolsa de apostas para tentar descobrir se as autoridades brasileiras vão chegar ao século 21 antes ou depois do fim do mundo.
“Usina grandiosa”, enalteceu Dilma Rousseff ; “obra magnífica”, afirmou ministro de Bolsonaro

Este mesmo espírito do século passado inspirou Dilma Rousseff em 2016, na primeira inauguração de Belo Monte. A ex-presidenta foi ainda mais grandiloquente em seu entusiasmo. Lembremos apenas de uma pequena parte: “Essa usina é do tamanho desse povo. É grandiosa. É uma usina grandiosa. A melhor forma de descrever Belo Monte é essa palavra: grandiosa”. E segue: “Acho importante destacar que, com Belo Monte, nós não levamos só energia para o resto do Brasil. Criamos aqui uma riqueza única, que é colocar à disposição das empresas que quiserem vir aqui, colocar o seu negócio aqui, participar desse estado que tem grandes reservas minerais, grande potencial agrícola. Podem vir aqui, porque não vai faltar energia”.
Em 2016, Dilma assim terminou a primeira inauguração de Belo Monte: “Para concluir, eu quero dizer a vocês que eu tenho imenso orgulho das escolhas que eu fiz. Uma delas, que eu quero destacar mais uma vez, é a construção de Belo Monte como um legado para a população brasileira dessa região, para o povo de Altamira e o povo de Xingu. Mesmo que não seja dos municípios diretamente impactados por Belo Monte, toda essa população vai ser beneficiada direta e indiretamente. Tenho orgulho das escolhas que fiz”.
Em 2019, o almirante de Bolsonaro assim terminou a segunda inauguração de Belo Monte: “Destaco e enalteço o esforço, a competência e a bravura de que todos que trabalharam para a realização desta obra magnífica por todo e qualquer aspecto que seja considerada. É mais que orgulho, é mais que satisfação. Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.
Temos, portanto, uma concordância explícita entre os dois polos que têm dominado o debate cotidiano do país. O Brasil não é apenas um construtor de ruínas. O Brasil não apenas constrói ruínas em dimensões continentais. O Brasil também inaugura duas vezes as ruínas que constrói.
Bolsonaro estava feliz como um menino ao fazer o acionamento simbólico das unidades geradoras da hidrelétrica construída pelo PT. Ao fazê-lo, o barulho terrível que se associava ao progresso no passado – o ruído das máquinas, o símbolo da suposta superioridade do homem sobre a natureza – se fez ouvir. Parecia um daqueles filmes futuristas do início do século 20.
No encerramento do evento Amazônia Centro do Mundo, semanas antes, foi exibida a peça teatral “Altamira 2042”. A diretora e atriz Gabriela Carneiro da Cunha captou os ruídos reais da conversão da floresta em hidrelétrica, da vida em morte. O trabalho é impressionante. A diferença é que, ao final desta barulheira infernal que Bolsonaro, Barbalho e outros celebraram, a barragem rompia. Na ficção, este é o futuro que os criadores apontavam.
Belo Monte é “fato consumado” para quem?
Gente demais, à direita e também à esquerda, gosta de repetir: “Chega de falar de Belo Monte, é fato consumado”. Fato consumado para quem?
Ainda que Belo Monte já tenha destruído vidas e modos de vida, os impactos do barramento de um dos maiores e mais vitais rios da Amazônia estão só começando. Neste momento, a Volta Grande do Xingu seca por conta do controle da água feito pela usina, e uma crise humanitária se instala na região. Uma carta do diretor-presidente da Norte Energia S.A, Paulo Roberto Ribeiro Pinto, afirma, conforme reportagem do El País de minha autoria, também publicada pelo The Guardian em 8 de novembro: “Se não mantiver a cota mínima de 95,20 metros no reservatório do Xingu, a onda negativa que poderá se formar devido aos ventos atingirá áreas da barragem não protegidas por rocha, situação que pode resultar danos estruturais à principal barragem do Rio Xingu, que é Pimental. Assim, é absolutamente necessário manter a cota mínima de 95,20 m para garantir a segurança da barragem de Pimental”.
Na tarde de 10 de outubro, também segundo o diretor-presidente da Norte Energia, o nível do reservatório já havia atingido a cota mínima. Por isso a empresa pedia autorização à Agência Nacional de Águas (ANA) para alterar as vazões de água, evitando assim o risco de danos estruturais: “Nesse sentido, por absoluto imperativo de: (i) garantir a segurança das instalações e (ii) manter a vazão mínima para o TVR (Trecho de Vazão Reduzida) em 700 m3/s (conforme Hidrograma), a decisão operacional da NESA é fazer o imprescindível ajuste emergencial e temporário de redução da vazão afluente ao Reservatório Intermediário para 100 m3/s”. O grifo é da empresa.
Procurada pela reportagem dos dois jornais com uma série de perguntas referentes ao documento enviado à ANA, a concessionária de Belo Monte limitou-se a comentar: “A Norte Energia, empresa responsável pela Usina Hidrelétrica Belo Monte, informa que vem cumprindo rigorosamente os compromissos estabelecidos no licenciamento ambiental do empreendimento". A resposta foi publicada na íntegra no corpo da reportagem. Em 21 de novembro, o El País publicou uma longa carta da empresa, repleta de jargões técnicos inacessíveis à maioria dos leitores. Nela, a Norte Energia nega que exista qualquer risco. Resta saber em qual carta – do mesmo autor – devemos acreditar. Ambas foram publicadas pelo El País e estão à disposição dos leitores, das autoridades e da comunidade científica.
Qual é a polarização que queremos?
Respeitar os fatos e produzir memória sobre Belo Monte é fundamental por todas as razões éticas óbvias. E porque é preciso esclarecer como partidos e sociedade civil vão enfrentar os impactos que ainda não foram indenizados, os impactos que jamais poderão ser reparados e, principalmente, os impactos que ainda podem ser evitados, como a morte da Volta Grande do Xingu. É essencial saber também como a esquerda vai enfrentar a retomada da construção de grandes hidrelétricas na Amazônia anunciada por Bolsonaro, parte delas projetadas pelos governos do PT.
O que proponho aqui não é o fim da polarização. Mas uma outra polarização que me parece urgente em tempos de escalada do autoritarismo bolsonarista: a dos direitos humanos contra a violação dos direitos humanos, a dos direitos da natureza contra a violação dos direitos da natureza, a do conhecimento contra a ignorância, a da democracia contra a quebra do Estado de Direito, a da centralidade da Amazônia viva para todos contra a predação da Amazônia para poucos. A da verdade contra todas as mentiras.
O que faremos com Belo Monte nos definirá– e definirá o futuro.

Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção Brasil, Construtor de Ruínas, Coluna Prestes - o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos, e do romance Uma Duas. Site: desacontecimentos.com Email: elianebrum.coluna@gmail.com Twitter: @brumelianebrum/ Facebook: @brumelianebrum/ Instagram: brumelianebrum
créditos: 
Priscila Garcia

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Formação barata e ligeira sem desenvolvimento científico

Eu fico a me perguntar, o que sentimos hoje, os jovens sentiram em 1966 quando os senhores militares atraídos pelos consensos, levaram o estudo, a formação cultural do povo brasileiro à segundo plano. Os jovens foram às ruas protestar? SIM! foram recebidos com a repressão do regime militar. E hoje? o que faremos como brasileiros conscientes vendo o governo implantar as Escolas Cívico Militar para formar “soldados obedientes para vigiar os brasileiros desobedientes”?  — A gravidade da atual situação do Brasil não é nem mais o estudo, a formação cultural que o povo brasileiro não adquiriu, hoje, temos no Brasil a corrupção institucional, o desvio do erário, o desemprego, a fome, a desigualdade social. Hoje, um militar é Presidente do Brasil, à vender o Brasil para a China comunista que escraviza o povo chines como mão de obra barata e descartada, para que no futuro, os brasileiros dentro do Brasil tenham o mesmo tratamento. O que faremos, se o tempo nos fez ver, enxergar, com o bom senso de comentar, porque os militares que aceitaram o neoliberalismo dentro do Brasil desde o regime militar, JAMAIS disseram NÃO! para o crime organizado que se instalou no Brasil.(*)


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breve relato de como os militares planejaram para os brasileiros serem formados de acordo com suas funções nas linhas de montagens, aptos a obedecer ordens, submissos, obedientes:

O fim da escola pública pretendido é a implementação da escola particular definitiva, é o ratium-studiorum “jesuítas”, (agora no neo-liberalismo), travestido de consenso de Washington, sucateamento do ensino público  como "desresponsabilizar o Estado" do financiamento das universidades.
Omitem defender, por detrás desta demagogia, o culminar dos postulados dos Acordos MEC-USAID (ainda de 64), a defesa dos interesses do imperialismo — assim como as demais contra reformas trabalhista, sindical e previdenciária. É a expectativa das subservientes classes dominantes locais: competir com a Índia, México e China, aonde o imperialismo mais investe e extrai maiores massas de lucro máximo na exploração da força de trabalho — o que chamam de crescimento.


EUA DITAM REFORMA DO ENSINO NO BRASIL Acordos MEC-Usaid subordinam educação a interesses econômicos
—  passa a ser considerada supérflua,  A universidade sem lastro na economia nacional e mesmo fora das demandas, locais do imperialismo — exceto em determinados setores de maior interesse e qualificação como o petróleo —
A educação enquanto “emancipação e para a compreensão da história humana e a elevação do intelecto/social” não teria espaço na política destes acordos, pois a escola e a universidade teriam como tarefa a formação de quadros para a indústria. Sendo assim: Brasileiros seriam formados de acordo com suas funções nas linhas de montagens, aptos a obedecer ordens.

Em 23 de junho de 1965 foi firmado um primeiro acordo entre o Ministério da Educação e Cultura (MEC), representado pelo ministro Flávio Suplicy de Lacerda, e a United States Agency for International Development (USAID), representada por seu diretor Stuart Van Dyke. Este primeiro acordo relativo ao ensino superior passou mais de um ano sem ser divulgado (até novembro de 1966), e, ao sê-lo, foi recebido pelo meio universitário com grandes reservas e objeções, durante o regime militar brasileiro Os cursos primário (5 anos) e ginasial (4 anos) foram fundidos, passando a se chamar primeiro grau, com 8 anos de duração, e o curso científico fundido com o clássico passou a ser denominado segundo grau, com 3 anos de duração. O curso universitário passou a ser denominado terceiro grau. Com essa reforma, se eliminou um ano de estudos fazendo com que o Brasil tivesse somente 11 níveis até chegar ao fim do segundo grau enquanto outros países europeus e o Canadá possuem no mínimo 12 níveis. NA VERDADE,  tinha como proposta inicial privatizar as escolas públicas. Matérias como História tiveram sua carga horária reduzida para que estudantes da época não tivessem seus olhos abertos em relação à ditadura.

Também foram retiradas matérias consideradas obsoletas do currículo, como Filosofia, Latim e Educação Política. A Educação Moral e Cívica (EMC) tornou-se obrigatória no currículo escolar brasileiro a partir de 1969, de acordo com o Decreto Lei 869/68, juntamente com a disciplina de Organização Social e Política Brasileira (OSPB). Adotadas no início da fase mais repressiva do regime, em substituição às matérias de Filosofia e Sociologia,
No início do governo Costa e Silva, apesar da grande discussão em torno desse acordo, foi assinado, em 9 de maio de 1967, novo Convênio de Assessoria ao Planejamento do Ensino Superior, pelo ministro Tarso Dutra, representando o MEC, e por William Ellis, da USAID-Brasil. O convênio tinha como finalidade “assessorar o trabalho da Diretoria (do Ensino Superior) nos seus esforços para atingir a expansão e o aperfeiçoamento, a curto e a longo prazos, do sistema de ensino superior brasileiro, através do processo de planejamento que torna possível a preparação e a execução, por parte das autoridades brasileiras, de programas com o objetivo de atender às crescentes necessidades desse setor”. lei 5.540/68
Dentre os defensores do acordo, a opinião era a de que os técnicos brasileiros não seriam capazes de realizar a contento tal tarefa, que se tornara imperiosa, fazendo-se necessária a assessoria de técnicos familiarizados com a organização das universidades norte-americanas, tidas como modelo para as brasileiras.

Já os críticos do acordo atacavam a cópia dos modelos norte-americanos, antevendo a privatização do ensino superior, a subordinação do ensino aos interesses imediatos da produção, a ênfase na técnica em detrimento das humanidades e a eliminação da gratuidade nas universidades oficiais.


A desestruturação

Como arcabouço e justificativa para promover a dita "reestruturação" do ensino superior, a contra-revolução retoma a velha polêmica posta em voga pelo imperialismo, já nos idos 66: a suposta disputa entre dois modelos de universidade entre o que chamam de "universidade de pesquisa" e "universidade de ensino". Tudo de acordo com a terminologia imposta pela gerência militar e com as determinações do Banco Mundial, que afirma em seu O BM e o Ensino Superior: Lições derivadas da Experiência (1994):
As universidades públicas, gratuitas, assentadas na indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão não servem para a América Latina.
O projeto Universidade Nova representa a imposição do modelo ianque de universidades, para negros e explorados de uma maneira geral, no USA — barata e de formação ligeira, sem desenvolvimento científico.


Oportunistas & imperialismo

UNE, UBES, CUT etc, bem acomodadas em seus carguinhos no velho Estado, cacarejam que este é um governo que se reúne com os estudantes e trabalhadores — para eles, os diretores daquelas entidades e sindicalistas pelegos. Mas isso não é novidade. Os milicos de 64 também o faziam. Aliás, forneciam até viajem aos states para os tais "intelectuais".

NOTAS:
https://anovademocracia.com.br/no-37/149-novas-medidas-para-destruir-a-universidade-aprofundam-os-acordos-mec-usaid
https://mudancaedivergencia.blogspot.com/2019/11/33-anos-esperando-as-ffaa-dizer-nao.html

(*)O establishment militar, por sua vez, teria obedecido a ordens do alto-comando por disciplina, e não por convicção. O alto-comando, por sua vez, teria tido divisões internas de largo espectro que inocentariam boa parte de seus participantes.
Nessa pasteurização adocicada do passado ocorreu também um curioso empurra-empurra dos vivos para os mortos. Os vivos que integravam o núcleo do poder, ou em torno dele viviam, recontaram o que se passou mostrando como eles, na verdade, operavam a favor da democracia de dentro, quintas-colunas habilíssimos. Por exclusão, a sustentação da ditadura teria sido obra exclusiva dos mortos, e mesmo assim somente daqueles que não contaram com a simpatia dos vivos para lhes salvar a memória, ou que não foram previdentes o suficiente para deixar algum escrito ou papel que servisse de base, por mais precária que fosse, para sua reabilitação posterior.
A Lei da Anistia operou no plano da memória política nacional como monumentos frequentemente o fazem. Permitem que se deposite a memória na paisagem, servem de referência ocasional em datas históricas e pronto – a vida continua como se nada tivesse acontecido, como se a dolorosa verdade que emerge dos períodos difíceis não precisasse mais ser elaborada pela coletividade que neles viveu. Com uma diferença: amnesiados os crimes, os inúmeros caso sequer monumento há.

O que aconteceu depois da Lei da Anistia, me pergunto: onde se escondeu o terceiro poder daquelas almas? Operado o esquecimento, feita a rasura na memória, a indignação morre pela ausência de objeto, e as vozes isoladas que mantêm viva a memória daqueles anos acabam soando como ressentidas e de mal com a vida. E os militares conseguiram postura nacionalista para redimir seus erros?

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

33 anos esperando as FFAA dizer Não! para o crime organizado dentro do Brasil.



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Guerra espiritual e teoria da prosperidade e para exorcizar os demônios da América Latina milagres partilhados com espetacularização.

(* por Sandra Bitencourt)

Jair Bolsonaro durante a 27ª edição da Marcha para Jesus, em São Paulo.| Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Com números substantivos, uma inédita capacidade de globalização, poder midiático, conversões em massa e influência política pelo discurso conservador, o pentecostalismo mostra poder no continente

Os pentecostais ou neopentecostais são um movimento social que representa um dos maiores fenômenos políticos e sociais na América Latina neste século. Emergentes de diferentes origens missionárias, uma característica comum é o reavivamento espiritual, ou seja, o Espírito Santo deixa de ser uma metáfora. O que isso significa? Trata-se da reivindicação desde o surgimento dessas correntes na Igreja Episcopal Metodista Africana da Califórnia, em 1906, do renascimento espiritual com eventos semelhantes aos de Pentecostes narrados no Novo Testamento. Nessas circunstâncias, os cristãos evangélicos tinham sinais e manifestações vivas do Espírito Santo, manifestado no corpo, com aquisição de dons como falar idiomas desconhecidos, formular profecias, curar doenças, melhorar as relações intrafamiliares e ter sucesso pessoal na vida cotidiana. Enfim, milagres partilhados com espetacularização. Essas características serão a base da teologia do pentecostalismo, da sua autonomia e influência como ramo evangélico.
Daí deriva a relevância dos rituais de exorcismo e da explicação das mazelas, doenças, problemas econômicos ou impasses morais pela possessão do demônio. Ter um inimigo claro para justificar os problemas e uma estratégia de intolerância para combatê-lo, traz um conforto diante da incerteza e da crise. Daí compreendemos a junção com discursos radicais reacionários. Por algum tempo essas correntes se mantiveram isoladas da esfera pública, mas na segunda metade do século passado, passam a interagir na política institucional, a conformar redes midiáticas para garantir o investimento em televangelização e a fortalecer bases doutrinárias e representações políticas para globalizar sua ação.
Os números e os últimos eventos eleitorais mostram que a estratégia foi bem sucedida: são de religião evangélica cerca de 20% da população do continente, em comparação com 69% dos católicos. Em 1900, os protestantes eram cerca de 50.000: apenas 1% da América Latina, enquanto 94% eram católicos. Em 1930, eles tinham se tornado um milhão, 50 milhões nos anos 1980. E, no ano 2000, subiram para cerca de 100 milhões. A projeção é que em 2030 os evangélicos dividam de igual para igual com os católicos o número de fiéis. No Brasil, em apenas 40 anos, o percentual passou de 5% para 22% dos fiéis. Na Venezuela, passaram de 7% a 17% da população na última década.
Esses contingentes disputam a consolidação de seu poder de influência construindo uma rede diversa e potente: administram rádios e canais e TV, atuam nas periferias com inúmeros programas sociais e respostas de pertencimento, ou seja, influenciando comportamento e provendo identidade para o modo de vida que defendem, e, claro, se envolvem na disputa política de vários modos. Vigiam e monitoram campanhas eleitorais e escolhas políticas dos candidatos, unificando as diferentes filiações em torno a temas morais e seus cavalos de batalha como casamento igualitário e proibição do aborto. Se constituem assim em uma poderosa força sociopolítica, capaz de prover resposta às diferentes agonias da pós-modernidade. Mesmo no campo econômico, conseguem indicar um caminho pelo empreendedorismo vinculado à teoria da prosperidade. Tal ação coordenada somada a um sistema político fragmentado e a um sistema financeiro que acentua a exclusão, permite que essas igrejas cresçam e se associem a uma sensibilidade mobilizadora que alimenta formações políticas de direita.
É importante, no entanto, compreender que o que habitualmente se chama de evangélico é um rótulo genérico que não dá conta das complexidades e das distinções nesse movimento em que atuam distintos grupos religiosos: luteranos, metodistas, calvinistas, batistas, presbiterianos e pentecostais, entre as denominações mais conhecidas. Conforme Paul Freston, para além do agravamento da miséria, o que pode explicar o sucesso empresarial dos pentecostais e neopentecostais é um conjunto de aspectos culturais, sociais e religiosos. Diz esse autor que a religião é ambivalente e oferece diferentes coisas a diferentes indivíduos. “O pentecostalismo é flexível e é improvável haver uma única razão para o seu crescimento (…) é necessário levar-se em conta não apenas os fatores econômicos e políticos, mas sociais, culturais, étnicos e religiosos; não apenas o nível macro (quais são as configurações favoráveis à conversão) mas também o nível micro (porque as pessoas com estas características se convertem)”, destaca. Uma das explicações é a possibilidade de vivenciar a experiência com o Espírito Santo, por todos os membros, mesmo os iletrados.
Outro aspecto é a flexibilidade, a possibilidade de adaptação a diferentes organizações, localidades e realidades, já que não depende de um clero formal e permite a ascensão de quaisquer lideranças, uma vez que não depende de formação teológica, mas emerge da própria comunidade, o que viabiliza alto nível de adaptação às culturas locais, “diferentemente do protestantismo histórico, que manteve, em maior ou menor grau, fidelidade às suas tradições europeias. Um dos exemplos mais ilustrativos desta tendência é o da Igreja Luterana, tanto no Chile, como na Argentina, Uruguai e Brasil, onde a cultura germânica foi reforçada pela confissão religiosa, dificultando ou mesmo impedindo a filiação de outros grupos sociais, bem como a integração daqueles imigrantes” .
A conexão bem definida entre superação da carência econômica e religião mostra que na fé está a resposta. A prosperidade econômica pode ser alcançada por uma ética do trabalho, mas principalmente pelo empreendedorismo. É comum nas práticas dessas igrejas o auxílio para que desempregados montem o próprio negócio, mesmo na economia informal, e a dinâmica da ajuda mútua (irmão ajuda irmão) criando redes de proteção e pertencimento. Dentre as estratégias de sobrevivência e controle estão a sublimação sexual, o interdito ao fumo, às drogas e ao alcoolismo) e a adoção das noções puritanas de prosperidade, mas não subordinadas, como há dois séculos, à salvação, como regra de conduta e identidade coletiva.
Esses discursos simples, eficazes vão arrebatar frações significativas e estabelecer posições muito claras em face da política.
A Teologia da Prosperidade é um desdobramento da crise de 29 nos Estados Unidos, cujo fundamentalismo reorienta sua ética em favor de uma maior participação na esfera pública a recristianização da América, empreendida através da evangelização em massa, com uso intenso dos meios de comunicação.
Na América Latina isso será um investimento crescente e incremental. Jornais, rádios, TVs e mais recentemente Portais Gospel na internet farão as vezes de instâncias centralizadoras, alinhadoras dos discursos. Os porta vozes serão lideranças que se sobressaem nesses meios e cumprem também uma função corporativa e representativa das distintas variedades dos grupos evangélicos. Não raro, essas lideranças disputam notoriedade entre si.
Pelo menos três grandes tendências evangélicas podem ser reconhecidas na América Latina. Primeiro, os protestantismos históricos, que chegaram à região no século 19 e incluem principalmente luteranos, metodistas e calvinistas. Apesar de sua fraca expansão demográfica, eles tinham privilégios culturais e contribuíram para o liberalismo político. Segundo, há as tendências evangélicas originadas nos Estados Unidos, que chegaram à América Latina desde o início do século XX, com um forte senso missionário e proselitista sustentado no literalismo bíblico.
Eles eram, portanto, profundamente conservadores em sua rejeição à ciência e em qualquer reivindicação ao pluralismo religioso. Uma parte das igrejas Batista e Presbiteriana fazem parte dessa segunda onda de evangélicos. E terceiro, os Pentecostalismos, variante específica de um movimento que mostrou nos últimos 100 anos uma capacidade sem precedentes de globalização. O pentecostalismo produz conversões em massa de fiéis na China, Coréia do Sul, Cingapura, Filipinas e vários países do continente africano. Em todos esses casos, como na América Latina, verifica-se uma constante: o movimento tem uma grande capacidade de vincular sua mensagem às espiritualidades locais, além de incentivar formas flexíveis, variadas e facilmente apropriadas de organização, teologia e liturgia, disseminadas entre os mais diversos segmentos populacionais de diferentes contextos nacionais.
A teologia da prosperidade, que argumentou e antagonizou a teologia da libertação em um nível prático, sustentou que, se Deus pode curar o corpo e a alma, não há razão para pensar que ele não pode conceder prosperidade. A bênção se fez completa por meio da contrapartida do fiel, o dízimo. Assim podemos observar um poder econômico cada vez maior e livre de impostos, convertido em poder político. Na Colômbia, por exemplo, segundo dados de 2017, são 750 colégios públicos contra 3.500 igrejas neopentecostais. Além da capacidade de adaptação, do discurso forte , da presença viva e miraculosa do Espírito Santo e das mensagens persuasivas, joga a favor dos neopentecostais o declínio da Igreja Católica. No Chile, um dos países tradicionalmente católicos, a confiança na Igreja Católica, segundo o instituto de pesquisas Latinobarómetro, caiu de 80% em 1996 para 37% no ano passado.
O número dos que se declaravam católicos era de 74% e caiu para 45%, no mesmo período. É a queda mais brusca entre países da América do Sul. A tendência declinante já se verificava desde os anos 90, mas se acentuou depois de escândalos de pedofilia.
Os evangélicos permanecem com uma certa autoridade moral para o discurso conservador e a prerrogativa de guerra espiritual. A doutrina da guerra espiritual sustenta que o divino está no mundo, mas também está a presença do mal. Dessa maneira, o diabo deixa de ser uma metáfora para se tornar uma força espiritual encarnada que ameaça a saúde, a prosperidade e o bem-estar, e isso resulta em uma concepção de experiência religiosa e liturgia na qual a expulsão de diferentes demônios é central. Essa é também a chave da expansão pentecostal, pois essa formulação permite falar diretamente para os destinatários do discurso.
Em suma, o crescimento pentecostal se alimenta das vantagens organizacionais e discursivas dos evangélicos e dos déficits católicos, e ocorre principalmente nos espaços em que o catolicismo, com sua lenta logística, falha em explicar o processo de metropolitização que caracteriza a América Latina: em cada novo bairro onde a igreja católica planeja chegar, já existem uma ou várias igrejas evangélicas. Esse processo também ocorre do campo para a cidade e da periferia para o centro.
Todas as igrejas evangélicas e, especialmente, os pentecostais também forjaram diferentes tipos de instituições educacionais, esportivas e, principalmente, instituições de produção cultural de massa, como editoras, gravadoras, plataformas midiáticas que, ao mesmo tempo que facilitam a atividade de proselitismo, dão densidade ao mundo evangélico criando denominadores transversais comuns.
Ainda não sabemos a extensão dos efeitos dessas transformações do campo religioso na vida política e na esfera pública. Os últimos acontecimentos em curso permitem supor que a politização dos pentecostais e boa parte dos evangélicos na América Latina se deu pela capacidade de desenvolver diversas e contingentes formas de mobilização política, que nos últimos anos foram orientadas para a intervenção política, nas mãos de tendências conservadoras.
No entanto, é preciso cautela antes de aderir sem problematizações à afirmação impressionista de que uma onda de fascismo evangélico tomou conta do continente. É imperativo prestar atenção aos momentos e modos dessa politização e sua interação com os contexto social mais geral, discernir quais devem ser as tarefas das forças progressistas diante das várias direções adotadas pelos evangélicos. Compreender as mudanças comportamentais, as demandas, os problemas reais, os modos de socialização, o papel das mídias digitais e dos modos de interação presencial. Na realidade atual, associar-se a grupos evangélicos é altamente atraente para boa parte dos políticos.
De outra parte, para os líderes desses grupos é importante converter pregação religiosa em poder político e assim converter, capturar a sociedade como um todo para os valores cristãos. E esses valores não são aleatórios. São os temas sensíveis, controversos e concretos como o casamento homoafetivo e a legalização do aborto, além do não reconhecimento à pluralidade religiosa, classificando outras vertentes como seitas, como é o caso da perseguição no Brasil às religiões de matriz africana.
Com os fundamentos da democracia em crise, especialmente decorrentes das denúncias de corrupção e incapacidade de responder a problemas concretos, com a erosão das alternativas da política tradicional, apelar para a identidade evangélica parece um bom negócio. Como a esquerda vai enfrentar isso?
Paradoxalmente, o avanço concreto das agendas dos direitos de gênero e diversidade na última década na América Latina contribuiu de modo direto para o fortalecimento dos projetos políticos evangélicos, como uma reação que não estava prevista. Tal agenda foi incorporada como bandeira de boa parte da esquerda. Já a direita assumiu os valores vinculados à família. Essa equação é difícil desmontar e conter. A ofensiva conservadora pareceu estar incubada enquanto o progresso de direitos tomava conta de políticas de Estado em diferentes países, patrocinadas pelo centro e pela esquerda. A contrariedade que vicejava nos subterrâneos contra a agenda emancipadora foi capitalizada em grande medida pelas forças evangélicas, dando potência às ambições políticas .
A influência política evangélica é muito mais forte e sólida por meio da transformação cultural e midiática e, não obstante, eficiente nos cálculos de captura das preferências eleitorais.
Como enfrentar essa nova realidade, reconhecendo as capacidades mobilizadoras e de inclusão social que essas igrejas mantém, respeitando a fé a identidade religiosa, mas ao mesmo tempo assegurando a preservação de direitos e emancipação é um desafio que a esquerda precisa compreender e encarar com urgência, talvez no mesmo grau de importância que as mudanças na ordem do mundo do trabalho, das tecnologias e das finanças.
Referências
FRESTON, Paul. “Pentecostalism in Latin America”. In Social Compass. Louvain: Groupe de Sciences Sociales des Religions, vol.45, nº 3, 1998, p. 337.
PADILLA, René. “Los evangélicos: Nuevos actores en el escenario politico latinoamericano”. In De la marginacion al compromiso. Quito: FTL, 1991, p. 5
MARIANO, Ricardo. “Os pentecostais e a teologia da prosperidade”. In Novos Estudos. São Paulo: CEBRAP, 1996, nº 44, p. 24 e ss.
SEMÁN, Pablo- Pentecostalismo y política en América Latina- Ladiaria- 2019
(*) Sandra Bitencourt é jornalista, doutora em Comunicação e Informação pela UFRGS, membro do Conselho do Observatório da Comunicação Pública e Diretora de Comunicação do INP. Publicado originalmente no site do INP.

créditos: Lucas Secundum