quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Eu vi!!! O ouro saindo com facilidade da Raposa Serra do Sol, em Roraima

Resultado de imagem para Eu vi!!! O ouro saindo com facilidade da Raposa Serra do Sol, em RoraimaPublicado em 11/09/2019 17:52
Reportagem de João Batista Olivi e Elinaldo dos Santos
João Batista Olivi - Jornalista

infelizmente, no vídeo, o índio faz apelo para os vendilhões da pátria. Roraima deve se unir contra os entreguistas do Brasil.

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Eu vi!!! O ouro saindo com facilidade da Raposa Serra do Sol
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Do avião é fácil perceber que a Amazonia não é uma coisa só... você voa horas e horas e raramente encontra uma árvore, muito menos a floresta... Lá embaixo só o terreno liso, com lagoas formadas no meio do capinzal. 
É o lavrado, uma sucessão coberta por um vegetação rala, que vai desde o sul do estado, até a divisa com a Venezuela e a Guiana. 
Roraima integra a Amazonia Legal e  tem, sim, uma parte tomada por árvores (o lado direito do Rio Branco une-se com a floresta amazonica, moradia do povo ianomami).
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Já o lado esquerdo é essa sequencia de campos savanicos, que termina nos pés do Monte Roraima, ... que se destaca num interminável conjunto de montanhas, ... a  Raposa Serra do Sol.
Se o lado esquerdo pertence aos ianomamis, o lado direito é território macuxi -- (indios descendentes de povos montanheses, como os Incas, por exemplo).
Esses indigenas, de há muito aculturados, sabem sobreviver nessas montanhas íngremes, quase sem vegetação, e de solo estéril, coberto por cascalho pedregulhoso, lembrando o fundo de um imenso leito de mar de tempos imemoriais. 
Há 10 anos a Raposa Serra do Sol ficou famosa pela intervenção "manu militari" do governo petista. A policia Federal de Lula retirou do lavrado os arrozeiros e pecuaristas que produziam ali a pouca sobrevivência econômica de Roraima. 
Lula interditou a área de mais de 1 milhão e 800 mil de hectares, entregando as montanhas para a Funai e para religiosos.
Desde os anos de administração petista somente membros da igreja católica ligada ao CIMI (Conselho Indigenista Missionário) é que tem permissão para entrar no territorio Ianomami/Macuxi. ... Não só entrar, como andar por todos os lados, e sair sem ser incomodados por ninguém, sem alfandega, sem controle.
A falta de controle atraiu os garimpeiros, muitos bandoleiros vindos de todas as partes, que se infiltraram nas partes leste e oeste de Roraima.
A Raposa Serra do Sol se transformou numa verdadeira terra sem lei... 
Ali dentro a Lei é definida por quem se diz tuxaua, o chefe - o seo Pedro é um deles. Casou com uma índia e seus descendentes sobrevivem sobre os mais valiosos minerais existentes no subsolo terreste...
No entanto, os legitimos proprietários dessas montanhas - os indios - vivem em extrema miséria em suas aldeias.  Os Ianomami, por exemplo, tiveram de deixar de esmolar pelas esquinas de Boa Vista,  vencidos pela concorrencia dos refugiados venezuelanos, uma horda de miseráveis que tomam a capital de Roraima.
Ali  não há mais esmolas para tantos deserdados. 
Só que a menos de duas horas de avião está depositado uma imensa concentração do que há de mais rico no mundo mineral.

NÃO AGUENTEI 3 HORAS NO GARIMPO DO IGARAPÉ DO SOL; AFINAL, NÃO SOU ÍNDIO NEM GARIMPEIRO...  

Fiquei poucas horas dentro da serra, tempo suficiente para comprovar que é facil encontrar o ouro nos barrancos dos igarapés da Serra do Sol; e que também é  fácil sair com ouro puro para fora do território, contrabandeado de todas as formas.
Já os outros minerais que estão ali é outra história.. Por enquanto vamos nos concentrar no ouro..
O aviãozinho que nos levou pra dentro da Serra é daquele tipo que não cai nunca... Principalmente quando no manche está o comandante Peruca, piloto veterano, personagem de reportagem internacional da National Geografic.
Peruca fala pouco, vê muito. Cachoeiras lindíssimas, por exemplo
Pra pousar precisa ver a direção do vento. No alto das montanhas as pistas são essas picadinhas aí, abertas a mão...
Comigo estão o tuxaua Altevir de Souza, legitimo representante de 150 mil macuxis, e o cinegrafista Eli dos Santos, que, além de ótimo profissional, é excelente companheiro... Graças ao Eli não morri lá embaixo..
Do alto do morro até ao barranco dos garimpeiros, mais uma hora de caminhonete, enviada antes para servir de apoio... Ainda bem...
Quando o caminho embicou para o fundo do vale, o sossego acabou. Dali pra baixo, só a pé e escorregando (às vezes caindo)... tente descer se equilibrando sobre pedregulhos... 
Lá embaixo, o igarapé do Sol e... garimpeiros...
Esse grupo estava em meio à uma despescagem, lavagem de cascalho, a procura de ouro. Dois dias de trabalho se resumiram a esse monte de areia aí, 
Chegou a hora do vamos ver..
Lava daqui, apura dali e as primeiras fagulhas aparecem...
Na ultima bateada, o acumulo de um metal dourado, de brilho forte, ressaltado pela luz do sol..
Hora de ir embora, de subir o morro. Hora do "quase morro"... 
Na Serra do Sol resiste quem tem preparo. Ali não é lugar pra jornalista de 68 anos, sem preparo, barrigudo,,. e acostumado à redação com ar condicionado...
Na terceira parada, achei que não ia conseguir. Chamaram o socorro. O carro veio, mas não subia... Os indios, mais práticos, agiram como se tivessem num  atoleiro.. só que de cascalhos...

Com essa mão na roda, o carro saiu.. e eu saí voando de lá...
(ufa!!!)...

AMANHÃ, COM EXCLUSIVIDADE NO NOTÍCIAS AGRÍCOLAS:

RIQUEZAS MINERAIS ESTÃO DEBAIXO DAS RESERVAS DOS ÍNDIOS

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Ditadura e Volkswagen promoveram "maior incêndio da história" na Amazônia

 Montadora ganhou terras e isenção de impostos para desmatar a floresta nos anos 1970

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Anúncios pagos pelo governo exibiam um robusto touro com a seguinte mensagem: “Volkswagen produzido na Amazônia”
Anúncios pagos pelo governo exibiam um robusto touro com a seguinte mensagem: “Volkswagen produzido na Amazônia” - Reprodução

Foi um mês de dezembro bastante quente no Brasil em 1975. Um satélite, ainda muito rudimentar da Nasa, a Agência Espacial Norte-Americana, havia detectado um incêndio de grandes proporções na área sudeste da Amazônia, uma área especialmente sensível para a ditadura militar brasileira. A mata estava queimando na Fazenda de gado da Volkswagen, a Fazenda do Vale Cristalino, também chamada de Companhia Vale do Rio Cristalino. O assunto era sensível e vinha sendo tratado com cautela pelos militares desde que a empresa alemã havia adquirido, com os empréstimos e benesses da Ditadura, uma área imensa no Araguaia, para montar uma gigantesca fazenda de gado. Seria uma fazenda modelo, segundo as diversas matérias jornalísticas e os anúncios do período. 

Desde 1974, a Amazônia queimava – e os governos alemão e brasileiro sabiam. Rumores a respeito da foto de satélite se espalharam pela comunidade científica mundial. Uma enorme mobilização de cientistas e pesquisadores do Brasil e de fora passou a pressionar o governo para saber as razões do incêndio de tão grandes proporções que estava acontecendo na Amazônia, nas terras da fazenda da Volks.

Em 1974, com o aval da Sudam, a Volkswagen deu início ao projeto para transformar o espaço de 140 mil hectares no sul do Pará numa fazenda-modelo. O primeiro passo foi desmatar a área para a criação do pasto. De acordo com a legislação da época, a empresa poderia botar abaixo as árvores em metade do território. Os planos da Volkswagen eram ambiciosos.

Desde julho de 1975, os cientistas brasileiros estavam alertas. Naquela ocasião, havia acontecido o 27º Congresso da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em que se questionou o governo militar a respeito das práticas de desmatamento realizadas pela Volks na sua fazenda. Paulo Nogueira Neto chefiava a Secretaria de Meio Ambiente (SEMA) do governo do general Ernesto Geisel e teve de responder às perguntas de um grupo aguerrido de cientistas norte-americanos, alemães e brasileiros a respeito dos contínuos incêndios da Fazenda do Vale do Rio de Cristalino. A Volks era acusada de montar o projeto mais “antiecológico do mundo” e isso não era segredo para ninguém. 

A história da fazenda frequentava os jornais e a televisão fazia alguns anos. Em 1971, anúncios publicados na grande imprensa, pagos pelo governo via Sudam, Ministério do Interior e Banco da Amazônia, exibiam um robusto touro com a seguinte mensagem: “Volkswagen produzido na Amazônia”. A alusão, claro, era aos carros produzidos nas fábricas do ABC paulista. 

O texto do anúncio era, no entanto, ainda mais revelador. “Ao seu lado [da Volskwagen], na Amazônia, encontram-se alguns dos mais poderosos grupos deste país: Mappin, Scarpa, Gasparian, Alcântara Machado, Swift, Lunardelli, Camargo Corrêa, Villares, Finasa, Germaine Bouchard, Levy, Junqueira Vilela, Meinberg, Avelar Assumpção, Ometto.” (A Ometto, em caso relatado no livro Cativeiro sem Fim – o sequestro de crianças e adolescentes pelo regime militar, promoveu nos anos 1970 um deslocamento de um grupo indígena inteiro, resultando em epidemias que mataram centenas de pessoas; no processo, cinco crianças foram sequestradas e nunca mais vistas). "Nem todos vão criar gado, embora os maiores pastos do mundo estejam na área da Sudam", prossegue o anúncio, um convite para atrair mais investidores para a região, que traz outros trechos que mostram todo o empenho do governo em beneficiar essas empresas: “Para garantir o lucro, o Banco da Amazônia dá toda cobertura financeira. E o Governo Federal e os Governos Estaduais da região fazem tudo o que podem. Nada de pagar Imposto de Renda durante 10 anos.” As promessas não param aí: “Em algumas regiões você não paga nem Impostos Estaduais, nem Impostos Municipais, e até o terreno você pode receber de graça”; “Se for preciso importar equipamento, você não paga taxas nem Imposto de Importação”; “vá para a Amazônia. Você sabe: os maiores são os que chegam primeiro.”

Alguns anos depois, em 20 de setembro de 1974, foi finalmente aprovado pelo governo brasileiro o plano da Companhia Vale do Rio Cristalino, da Volkswagen. O projeto já existia havia alguns anos e englobava a criação de bovinos numa extensa área situada no Araguaia, que alcançava diversos municípios no sul do estado do Pará, como Conceição do Araguaia e Santana do Araguaia. 

Para os militares, a área seria um “grande vazio” demográfico e econômico (desconsiderando, claro, os grupos indígenas e camponeses da região). Grupos de esquerda, como a ALN (Ação Libertadora Nacional) e o PCdoB (Partido Comunista do Brasil), haviam montado desde o final dos anos 1960 um foco guerrilheiro em terras próximas à região. O foco da ALN não vingou, mas o PCdoB, ainda em 1974, continuava a ser combatido. Era preciso, portanto, ocupar o território e torná-lo, aos olhos da ditadura, econômica e politicamente controlado.

O presidente da Volkswagen na época, Wolfgang Sauer, deu seu aval para o que era considerado um excelente negócio para a empresa alemã. A companhia não apenas “ajudaria” o país a crescer – era a época em que o governo veiculava em propagandas a ideia de “Brasil grande” – como poderia ganhar um bom dinheiro investindo em um novo negócio promissor, criação de gado.

Na época, essas ideias foram traduzidas pelo diretor do empreendimento, Friedrich Brügger: “É a única opção possível. O país dispõe de espaços e de condições naturais únicas. Basta jogar um pedaço de pau para que ele cresça imediatamente.”¹ A frase refletia o que pensava tanto o governo como os empresários. O resultado foi a compra de 140.000 hectares de terra no município de Santana do Araguaia. 

Na realidade, o negócio se tornou realmente atrativo para a Volkswagen por causa dos incentivos fiscais do governo. O sociólogo José de Souza Martins identificou esse período como sendo a época em que grandes grupos econômicos, ou conglomerados financeiros, instauraram o latifúndio como o conhecemos hoje, em forma de agronegócio. Grandes extensões de terras de grupos econômicos concentrados.

Assim, para conseguir esse resultado, o governo federal fez uma série de manobras fiscais, dando 50% de desconto no imposto de renda aos que investissem na região. “A condição era a de que esse dinheiro fosse depositado no Banco da Amazônia, um banco federal, e, após aprovação de um projeto de investimento pelas autoridades governamentais, fosse constituir 75% do capital de uma nova empresa, agropecuária ou industrial, na região amazônica. Tratava-se de uma doação e não de um empréstimo.”² No slogan do anúncio acima: “Metade do Brasil quer metade do seu Imposto de Renda”. O governo, via Banco da Amazônia, financiaria qualquer risco que qualquer grande empresa tivesse ao abrir um grande negócio no Araguaia. Naturalmente, o valor disponibilizado pela Sudam estaria vinculado à quantidade de terra utilizada e deveria ser aprovado somente se a terra estivesse nua, ou seja, totalmente desmatada. O banco e o governo diziam, sem pudor, que o desmatamento estava valorizando as terras.

Recorde de destruição

Foi dessa maneira que começou um dos maiores desflorestamentos feitos por uma só empresa no mundo. O empreendimento era para ser considerado modelo de gestão de negócios no campo, de padrão alemão. Casas arrumadas para os funcionários, escolas, campos de recreação, igreja, médicos, dentistas, supermercados, piscinas e outras facilidades estavam incluídas no plano de construção da Fazenda do Vale Cristalino. 

A ideia da Volks incluía não apenas a criação extensiva de gado, mas também a montagem de um frigorífico para exportar carne para Japão, Estados Unidos e Europa. Contudo, na época, o Araguaia não possuía luz elétrica nem estava nos planos do governo levar a luz para lá. Dessa forma, a ideia do frigorífico foi rapidamente descartada por falta de infraestrutura. O gado seria “cientificamente” monitorado por computadores e analisado por cientistas alemães. O solo verificado constante para se detectar a falta de sal e outros minerais. Seria, no limite, a fazenda-modelo para todas as fazendas; o empreendimento do futuro que poderia, era a promessa, acabar com a fome do país, quiçá do mundo.³ Em 1974, Chico Buarque escreve um livro, chamado Fazenda Modelo, publicado pela Civilização Brasileira, uma distopia que denunciava a violência de um modelo ultracapitalista de exploração pecuária.

Capas do livro Fazenda Modelo, de Chico Buarque, nas edições da Civilização Brasileira e do Círculo do Livro (Reprodução)

As propagandas, veiculadas inclusive na televisão, davam uma noção da grandiosidade do projeto – foram páginas e páginas de matérias e anúncios chamando o povo a admirar a “conquista da selva”, feita conjuntamente pelo governo do general Geisel e pela montadora de carros alemã Volkswagen. O desmatamento era visto como sinônimo de progresso, de inovação, de tecnologia. Assim, em 1974, a Volkswagen veio a público para dizer que “orgulhosamente” havia queimado 4.000 hectares de floresta amazônica em poucos meses, “um recorde nunca igualado até agora por nenhum outro projeto similar implantado na região”.*

Orgulho do desastre

O desastre ambiental tão propagandeado pela empresa em anúncios e entrevistas foi detectado por satélites da Nasa. A imprensa e os cientistas, agrupados em torno do então diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Warwick Kerr, soltaram várias notícias alarmantes, inclusive a de que um incêndio dessas proporções poderia derreter calotas polares, inundar Manaus, causar uma mudança climática mundial.

A Volks se defendeu alegando que a Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia), ao aprovar seu projeto agropecuário, autorizara também a execução do que estava previsto, o que exigia o desmatamento. Logo, estava legal.


O professor da Universidade de Zurique, Antoine Acker, autor do livro Volkswagen in the Amazon: The Tragedy of Global Development in Modern Brazil (Cambridge University Press, 2017), analisou a situação da época: “Esse discurso [das mudanças ambientais] era particularmente significativo na medida em que expressava a sobreposição de escalas que caracterizava o problema do desmatamento tropical. Kerr – ao lado de outros membros da SBPC – acusou especificamente as multinacionais de serem corresponsáveis por um fenômeno regional de degradação ambiental na Amazônia. Ele alertou que essa degradação regional poderia, por sua vez, ter consequências climáticas globais, e desse risco de desregulação global [...].” 

O resultado, diz Acker, foi o estabelecimento de um “senso de conexões globais” entre os cientistas brasileiros e estrangeiros que tem se mantido determinante no debate sobre a Amazônia no mundo desde então. A ideia foi mostrar que todo o globo está conectado e que aquilo que ocorre num lugar afeta todo o planeta. 

Na época, a boa vontade da população com o projeto da Volkswagen mudou rapidamente. A empresa passou a ser acusada de um crime ambiental de proporções enormes, um verdadeiro crime contra a humanidade. O incêndio em larga escala passa a ser um indicador do modo como as empresas estrangeiras exploravam e destruíam as riquezas do país. E, mesmo sob o terror mantido pelo governo Ernesto Geisel, quando a prática de desaparecimento de opositores atinge seu auge, os parlamentares do MDB encabeçaram uma campanha contra as fazendas doadas a empresas estrangeiras e, em especial, contra a Volkswagen.

Na fábrica, a tortura

À boca miúda, entre os defensores de direitos humanos e membros da resistência aos grupos contra a ditadura, sabia-se que a Volkswagen torturava trabalhadores dentro de suas instalações em São Bernardo do Campo, como ocorreu com o metalúrgico Lucio Bellantani, em 1972. A fábrica também havia empregado um ex-comandante dos campos de extermínio de Treblinka e Sobibór na Polônia, Franz Paul Stangl, entre 1959 e 1967. Stangl foi o responsável por montar o sistema de monitoramento e vigilância dos trabalhadores na fábrica de São Bernardo, segundo a Comissão Nacional da Verdade. Qualquer suspeita de alguma atividade política ou sindical duvidosa era imediatamente avisada ao posto do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), que possuía uma delegacia só para isso na época, em Santo André. Com o desmatamento na Amazônia, todos esses elementos ajudaram a destruir a reputação da empresa, que teve que responder inquéritos e questionamentos, tanto na Alemanha como no Brasil.

Em 10 de agosto de 1976, o deputado federal Nino Ribeira, mesmo sendo do partido governista Arena (Aliança Renovadora Nacional), numa sessão do Congresso Nacional, questionou o presidente da Volks, Wolfgang Sauer, sobre os crimes ambientais cometidos no Araguaia. “Afinal de contas, senhor Wolfgang Sauer, com que propósito o senhor veio ao Brasil: produzir automóveis ou colocar fogo na floresta?”** 

Paulo Brossard, do MDB, discursou poucos meses depois, exigindo que as autoridades ficassem de sobreaviso em relação às empresas estrangeiras. “Parece-me ... que um crime contra a nacionalidade está sendo cometido [pela VW], e nós não podemos assistir indiferentes a tais coisas acontecerem, tais atos serem praticados, com incontáveis danos à comunidade nacional.”*** 

Numa audiência no Senado, em junho de 1976, um dos maiores arquitetos-paisagistas do mundo, Roberto Burle Marx, afirmou que a Volkswagen havia destruído uma área de floresta “do tamanho do Líbano” e “produzido, na Amazônia, o maior incêndio da história de todo o planeta”.

Trabalho escravo

Mas não foram apenas crimes ambientais os cometidos pela Volkswagen na sua Fazenda do Vale do Rio Cristalino. A empresa foi acusada de usar trabalho escravo – como faziam, aliás muitas outras fazendas da região. Na época, as graves violações das leis trabalhistas que ocorreram sob a responsabilidade dos grupos estrangeiros não provocaram comoção porque o trabalho forçado era considerado uma prática esperada na Amazônia. 

Ainda assim, foi montada uma comissão de deputados estaduais de São Paulo para visitar a fazenda entre os dias 5, 6 e 7 de julho de 1983. A comitiva era encabeçada pelo deputado do Partido dos Trabalhadores (PT) Expedito Soares Batista, que fez um relatório sobre o que viu lá. Ele conta que, ao chegar à região, num avião particular disponibilizado pela própria Volks, a comitiva pegou um caminhão para a sede da fazenda. No caminho, os deputados, de diferentes tendências políticas, cruzaram com uma caminhonete com alguns trabalhadores amarrados na caçamba. Questionadas sobre a prática, os capatazes afirmaram que, se os trabalhadores não fossem amarrados, não trabalhariam direito. Foi mais um escândalo na história das terras da Volks. 

A aventura amazônica da Volkswagen é vista como exemplar da atuação das empresas e da ditadura militar brasileira. Aliar negócios privados com financiamentos públicos, destruição do meio ambiente com tortura dentro das fábricas, trabalho escravo com uma suposta modernização. Tudo embalado dentro de uma maciça campanha publicitária que exaltava o Brasil grande, o “Ame-o ou deixe-o”. 

Tanto o governo do general Geisel como a Volkswagen saíram seriamente arranhados do episódio. Mas isso não significou menos repressão: a partir desses acontecimentos, os serviços de segurança da ditadura começaram a fichar os “ecologistas” e “ambientalistas”, que passaram a ser considerados “inimigos” potencialmente tão perigosos como os comunistas.

Em poucos anos, o grande edifício da ditadura começaria a ruir. Mas o projeto de destruição, como podemos perceber, permanece. 

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Joana Monteleone é historiadora; Haroldo Ceravolo Sereza é jornalista. São autores, junto com Vitor Sion, Felipe Amorim e Rodolfo Machado, de À espera da verdade: Empresários, Juristas e Elite Transnacional, Histórias de Civis que Fizeram a Ditadura Militar (Alameda Casa Editorial, 2015).

[1] Um dos melhores artigos sobre o tema foi escrito por Benjamin Buclet em seu artigo “Entre tecnologia e escravidão: a aventura da Volkswagen na Amazônia”, publicado pela Revista do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da PUC – Rio: “O Social em Questão” nº 13, no primeiro semestre de 2005. A fala de Friedrich Brügger se encontra neste artigo. 

[2] Martins, José de Souza. “A reprodução do capital na frente pioneira e o renascimento da escravidão no Brasil”, Tempo Social. São Paulo: USP, 6 (1-2): 1-25, 1994.

[3] Outro artigo fundamental sobre o assunto é “O maior incêndio do planeta”, de Antoine Acker. Publicado na Revista Brasileira de História, v. 34, n. 68, p. 13 -33, 2014. 

[*] “O maior incêndio do planeta”, de Antoine Acker. Publicado na Revista Brasileira de História, v. 34, n. 68, p. 13 -33, 2014. 

[**] Antoine Acker. Publicado na Revista Brasileira de História, v. 34, n. 68, p. 13-33, 2014.  

[***] Diário do Congresso Nacional, 19 set. 1978. Brasília: Câmara dos Deputados, 1978, p.8146-8147.

Edição: Opera Mundi

https://www.brasildefato.com.br/2019/08/21/ditadura-e-volkswagen-promoveram-o-maior-incendio-da-historia-nos-anos-1970

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Lizzie Burns diretora da Havard, admite: 'Nossa ideia é aterrorizante ... Mas a mudança climática também.' Um painel consultivo de especialistas "nobel" independentes, deve avaliar "o plano macabro" 'que a humanidade jamais saberá'.

O plano parece ficção científica - mas pode se tornar realidade em uma década;  todos os dias, mais de 800 aeronaves gigantes levantariam milhões de toneladas de pó de giz a uma altura de 12 milhas acima da superfície da Terra e, em seguida, espalhariam o lote alto ao redor da estratosfera.
Este teste inicial de US $ 3 milhões, conhecido como Experimento de Perturbação Controlada Estratosférica (SCoPEx) usaria um balão científico de alta altitude (foto) para levantar cerca de 2 kg de pó de carbonato de cálcio - do tamanho de um saco de farinha - para a atmosfera 12 milhas acima do deserto do Novo México

Isso semearia uma área de céu em forma de tubo com oitocentos metros de comprimento e 100 metros de diâmetro. Durante as 24 horas seguintes, o balão seria dirigido por hélices de volta através desta nuvem artificial, seus sensores a bordo monitorando as habilidades de reflexão do sol da poeira e seus efeitos no ar rarefeito ao redor.

O SCoPEx está, no entanto, em espera, em meio a temores de que possa desencadear uma série desastrosa de reações em cadeia, criando um caos climático na forma de secas e furacões graves e levando a morte a milhões de pessoas em todo o mundo.

Um temor é que espalhar poeira (na foto) na estratosfera pode danificar a camada de ozônio que nos protege da radiação ultravioleta perigosa que pode danificar o DNA humano e causar câncer

Em teoria, a poeira suspensa no ar criaria um guarda-sol gigantesco, refletindo alguns dos raios solares e do calor de volta para o espaço, escurecendo aqueles que passam e protegendo a Terra da piora do aquecimento climático.

Este não é o plano maluco de um inventor de galpão de jardim. O projeto está sendo financiado pelo bilionário e fundador da Microsoft, Bill Gates, e foi pioneiro por cientistas da Universidade de Harvard.

Uma das diretoras da equipe de Harvard, Lizzie Burns, admite: 'Nossa ideia é aterrorizante ... Mas a mudança climática também.' Um painel consultivo de especialistas independentes deve avaliar todos os possíveis riscos associados a ele.

Então, de onde veio a ideia para um esquema tão alucinante?

A inspiração foi em parte gerada por um desastre natural. Quando o vulcão Monte Pinatubo nas Filipinas explodiu em 1991, matou mais de 700 pessoas e deixou mais de 200.000 desabrigados.

Mas também deu aos cientistas a chance de monitorar as consequências de uma vasta nuvem química na estratosfera.

O vulcão despejou 20 milhões de toneladas de dióxido de enxofre bem acima do planeta, onde formou gotas de ácido sulfúrico que flutuaram ao redor do globo por mais de um ano. Essas gotículas agiam como pequenos espelhos para refletir a luz do sol.

A inspiração foi em parte gerada por um desastre natural. Quando o vulcão Monte Pinatubo nas Filipinas explodiu em 1991 (foto), ele matou mais de 700 pessoas e deixou mais de 200.000 desabrigados

Como resultado, as temperaturas globais foram reduzidas em 0,5 ° C por cerca de um ano e meio.

Isso deu ímpeto à ideia de uma "solução" dos sonhos para o aquecimento global - e foi o assunto de pelo menos 100 artigos acadêmicos.

Mas criar o que equivale a um guarda-sol gigante para a Terra pode ter um preço alto, apresentando riscos ainda maiores do que a própria mudança climática.

Um temor é que espalhar poeira na estratosfera possa danificar a camada de ozônio que nos protege da perigosa radiação ultravioleta, que pode danificar o DNA humano e causar câncer.

Em teoria, a poeira suspensa no ar criaria um guarda-sol gigantesco (de forma semelhante a um eclipse solar, na foto), refletindo alguns dos raios do Sol e o calor de volta para o espaço, escurecendo aqueles que passam e protegendo assim a Terra do agravamento da devastação de aquecimento do clima

Os climatologistas também estão preocupados que tais remendos possam interromper involuntariamente a circulação das correntes oceânicas que regulam nosso clima.

Isso por si só poderia desencadear um surto global de eventos climáticos extremos que podem devastar terras agrícolas, exterminar espécies inteiras e promover epidemias de doenças.

O potencial de desastre não termina aí. Tentar diminuir os raios do Sol provavelmente criaria vencedores e perdedores no clima.

Os cientistas podem ser capazes de estabelecer as condições climáticas perfeitas para os agricultores no vasto meio-oeste dos Estados Unidos, mas, ao mesmo tempo, esse cenário pode causar o caos da seca em toda a África.

Pois não é possível mudar a temperatura em uma parte do mundo e não perturbar o resto. Tudo no clima do mundo está interligado.

Além disso, qualquer mudança na temperatura média global, por sua vez, mudaria a maneira como o calor é distribuído ao redor do globo, com alguns lugares aquecendo mais do que outros.

Isso, por sua vez, afetaria os níveis de chuva. O calor impulsiona o ciclo da água - no qual a água evapora, forma nuvens e cai como chuva. Qualquer alteração de calor causaria uma mudança nos padrões de chuva. Mas como e onde exatamente?

Não há como prever como o clima mundial a longo prazo pode responder ao fato de um gigantesco guarda-sol químico ser colocado em cima dele.

Como um dos maiores especialistas em clima do mundo, Janos Pasztor - que assessorou o acordo climático de Paris da ONU e agora trabalha para a altamente respeitada Carnegie Climate Governance Initiative de Nova York - avisa: 'Se você fizer uso dessa tecnologia e a fizer mal ou sem governo, então você pode ter diferentes tipos de riscos globais criados que podem ter desafios iguais, se não até maiores, para a sociedade global do que a mudança climática. '

A tecnologia pode até desencadear guerras terríveis. Pois mexer em nosso clima poderia elevar ao alto o potencial de suspeita internacional e conflito armado.

Digamos, por exemplo, que o governo chinês - que já tem feito experiências com tecnologias que alteram o clima - usou seu crescente conhecimento científico da era espacial para tentar espanar a estratosfera para proteger seus próprios rendimentos agrícolas.

O experimento veria uma área do céu em forma de tubo com oitocentos metros de comprimento e 100 metros de diâmetro. Nas 24 horas seguintes, o balão (semelhante ao exemplo ilustrado) seria dirigido por hélices de volta através desta nuvem artificial, seus sensores a bordo monitorando as habilidades de reflexão do sol da poeira e seus efeitos no ar rarefeito ao redor

Dois anos depois, as monções acabam na vizinha Índia gigante, causando fome e doenças generalizadas. Mesmo se o movimento chinês não tivesse realmente causado o fim das monções, bilhões os culpariam.

Existe um perigo adicional. A tecnologia envolvida é sedutoramente barata, talvez menos de US $ 10 bilhões por ano. Isso significa que uma nação individual pode usá-lo para seus próprios fins - talvez como arma de guerra ou chantagem.

O que impede uma nação como a Rússia de interferir em nosso clima da mesma forma que interferiu nas eleições e nas opiniões da mídia social?

No entanto, os cientistas de Harvard afirmam que podem gerenciar sua criação com segurança.

Por exemplo, um dos líderes da equipe do SCoPEx, David Keith, professor de física aplicada, relatou recentemente que semeando uniformemente toda a atmosfera global com baixos níveis de poeira reflexiva, deve haver um risco muito menor de problemas inesperados do que se teme.

A tecnologia pode até desencadear guerras terríveis. Pois mexer em nosso clima poderia elevar ao alto o potencial de suspeita internacional e conflito armado. Na foto: um gráfico que mostra as principais teorias da geoengenharia para ajudar a reduzir as temperaturas globais

O professor Keith também sugeriu que as nações mais ricas do mundo deveriam se unir para criar um fundo de seguro global agrupado para compensar os países mais pobres por qualquer dano causado não intencionalmente por suas experiências com o escudo solar.

Os críticos apontam que a promessa de um guarda-sol estratosférico poderia encorajar políticos e industriais a decidir que não há necessidade de fazer o trabalho difícil, impopular e caro de reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

Mike Hulme, professor de geografia humana da Universidade de Cambridge e ex-cientista do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, diz que podemos acabar dependendo maciçamente da tecnologia para compensar os problemas climáticos que nossas indústrias estão causando.

Ele chama esse problema crescente de "dívida de temperatura", porque é como acumular dívidas de cartão de crédito que nunca poderão ser saldadas. “É uma aposta gigantesca”, adverte o professor Hulme. 'Muito melhor não acumular essa dívida em primeiro lugar.'

Questões ainda maiores surgem. Como você desliga esse sistema de refrigeração global? E que consequências imprevistas surgiriam se você o fizesse de repente.

Este sonho 'consertar' parece ter muito potencial para se tornar um pesadelo global.

O projeto está sendo financiado pelo bilionário e fundador da Microsoft, Bill Gates (foto)

Bill Gates quer espalhar milhões de toneladas de poeira na estratosfera para impedir o aquecimento global.

NOTA:

https://www.dailymail.co.uk/sciencetech/article-7350713/Bill-Gates-wants-spray-millions-tonnes-dust-stratosphere-stop-global-warming.html

Cientistas de Harvard iniciam experiência para bloquear o sol financiado por Bill Gates

https://mudancaedivergencia.blogspot.com/2018/12/cientistas-de-harvard-iniciam.html