quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

AS FONTES DA DÍVIDA PÚBLICA


Adriano Benayon * - 05.12.2013

Este artigo desenvolve pontos que abordei no Seminário Internacional “O Sistema da Dívida na Conjuntura Nacional Internacional, realizado em Brasília, de 11 a 13.11.2013. 

2. Esse evento focou questões fundamentais, como as absurdas taxas de juros que a União impõe a Estados e Municípios como credora deles, exações semelhantes às que ela  paga ao sistema financeiro, liderado pela oligarquia financeira angloamericana.

3. Também revelou provas existentes no Brasil e em auditorias levadas a efeito no Equador, na Argentina e na Islândia, reveladoras de que o grosso das dívidas originais não está documentado, e de que elas se multiplicaram através da  capitalização de juros, taxas e comissões injustificados.

4. Não obstante, até hoje, o Congresso Nacional não cumpriu a determinação do  art.  26 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da CF de 1988: efetuar a auditoria da dívida pública.

5.  Apresentei no telão documentos do Arquivo da Constituinte que comprovam ter sido introduzido, por meio de fraude, no art. 166, § 3º, inciso II, da Constituição de 1988, o dispositivo que privilegia as despesas de juros e amortizações da dívida no Orçamento da União.

6. Dito dispositivo não foi jamais discutido nos trabalhos da Constituinte, mas. Entrou, de contrabando, depois de o texto constitucional ter sido aprovado, sem ele, pelo Plenário, no 1º  Turno. Isso permitiu que as despesas com o serviço da dívida somassem – de 1988 ao presente - a colossal quantia de R$ 10 trilhões em preços atualizados.

7. Essa causa da ruína da União, Estados e municípios resulta, por sua vez, de duas  outras fontes de sugação dos recursos do País: 1) a entrega do mercado brasileiro às transnacionais; 2) a dependência financeira e tecnológica nos  investimentos na infra-estrutura e nas indústrias básicas.

8. Essas duas fontes primordiais – começaram a implantar-se com o golpe de Estado de agosto de 1954, regido pelos serviços secretos angloamericanos. Elas causam os déficits nas transações correntes com o exterior e acarretam a desindustrialização e o empobrecimento do País, juntamente com o serviço da dívida pública delas derivado.  

9.  A entrega do  mercado às transnacionais  causou danos irreversíveis ao País, e o teria feito mesmo que tivesse havido contrapartidas. Mas foi ainda pior: o governo, além do mercado, outorgou-lhes subsídios e vantagens de tal monta, que os prejuízos foram ainda mais profundos e avassaladores.

10. As benesses ao capital estrangeiro deram-se a partir da Instrução 113 da SUMOC (janeiro de 1955), que autorizou a CACEX (Carteira de Comércio Exterior) a emitir licenças de importação para equipamentos usados,  sem cobertura cambial, permitindo, também,  que o valor a eles atribuído pelas transnacionais fosse registrado como investimento estrangeiro em moeda.

11. Isso implicou suprimir a promissora indústria brasileira, que progredira desde o início do século XX, porquanto deu às empresas estrangeiras vantagem competitiva insuperável, proporcionando-lhes produzir no Brasil com custo zero de capital e de tecnologia.

12. De fato, as transnacionais puderam trazer máquinas e  equipamentos usados, amortizados com as vendas nos países de origem e em outros mercados de grandes dimensões, enquanto as indústrias nacionais teriam de pagar pela importação de bens de capital e por tecnologia, ou investir por longos anos  para produzir seus próprios bens de capital.
13.  Além de doar o mercado brasileiro às transnacionais, através da licença para trazer seus bens de capital usados, de valor real zero, e contabilizá-lo por centenas de milhões dólares -  base para transferir capital e lucros para o exterior -, o governo militar-udenista (1954-55)  agraciou as transnacionais com a diferença entre a taxa de câmbio livre e a taxa preferencial.
14. A livre era mais que o dobro da preferencial. 1)  as transnacionais declaravam o valor que quisessem, em moeda estrangeira, dos bens de capital importados; 2) convertiam-no à taxa livre; 3) ao transferir capital, “despesas” e lucros para o exterior, a conversão era à taxa preferencial.
15.  Esse triplo favorecimento e mais os ganhos comerciais das transnacionais com suas importações, mediante sobrepreços – também altíssimos após o início da produção local -  permitiu às transnacionais transferir fabulosos ganhos para suas matrizes no exterior.
16. Absurdamente, o Brasil entregou o que não deveria entregar por preço algum, e, além disso, em vez de cobrar, pagou para entregar.
17.  JK foi entreguista tão radical, que não só manteve os indecentes favorecimentos ao capital estrangeiro, mas reforçou-os a ponto de ser aberta linha de crédito oficial para financiar as montadoras estrangeiras. Esse benefício foi negado à empresa brasileira Romi, de Santa Bárbara do Oeste (SP), que produziu 3.000 unidades da Romisetta, automóvel de um só banco, de 1956 a 1959.
18. Além disso, JK criou grupos executivos setoriais, como o GEIA, da indústria automobilística, para facilitar os procedimentos de entrada em funcionamento das montadoras estrangeiras e baixou a lei 3.244, de 14.08.1957, e o Decreto 42.820, de 16.12.1957, proporcionando mais vantagens cambiais aos “investidores” estrangeiros.
19. Não admira que, ao final do quinquênio de JK, o Brasil sofresse  sua primeira crise de contas externas desde o início dos anos 30. Vargas havia, em 1943, reduzido a dívida externa do País a quase nada.
20. As transferências das transnacionais são o principal fator dos  elevados déficits nas transações correntes com o exterior (US$ 80 bilhões nos últimos doze meses), que colocam o Brasil no limiar de mais uma crise.
21. Sobre os escandalosos sobrepreços, escreveu o senador Vasconcelos Torres (1920/1982), p. 94 do  livro “Automóveis de Ouro para um Povo Descalço” (1977):
“No exercício de 1962 foi registrado, no balanço  consolidado das onze empresas produtoras de veículos automóveis e caminhões, lucro de 65% em relação ao capital social,  constituído  por máquinas usadas, e aumentado posteriormente, com incorporações de reservas e reavaliação dos ativos.”

22. Na. p. 95 desse livro, há tabela referente aos balanços de 1963, comparativa de preços de venda da fábrica à distribuidora com os preços de venda do distribuidor ao público, para quatro montadoras, entre elas a Volkswagen:  “o preço nas distribuidoras era mais de três vezes o preço na fábrica”, e os donos desta eram os mesmos daquelas ou tinham participação naquelas.

23. Desde o final dos anos 60, as transnacionais foram cumuladas por Delfim Neto com colossais subsídios à exportação, como isenções de IPI e ICM, nas importações de seus bens de capital e insumos, e créditos fiscais.  Daí ao final dos anos 70, a dívida externa do País teve o crescimento mais rápido de toda sua história.
24. No livro “Globalização versus Desenvolvimento”, elenco quinze mecanismos através dos quais as transnacionais transferem recursos para suas matrizes, desde  superfaturamento de importações e subfaturamento de exportações aos pagamentos à matriz por “serviços” superfaturados e fictícios, afora a  remessa oficial de lucros.
25. A  entrega do mercado às transnacionais é a principal, mas não a única fonte das transferências de recursos, dos déficits de conta corrente com o exterior e, por conseguinte, da dívida externa, a qual deu origem à hoje enorme dívida interna.
26.  Esses déficits e dívidas derivam também da realização, sob dependência tecnológica dos investimentos públicos  na infra-estrutura e indústrias básicas, como a siderurgia, em pacotes fechados, caixas pretas, usinas clés-en-main ou turnkey.
27. Em lugar de proporcionar espaço a pequenas e médias empresas de capital nacional, com capacidade de evolução tecnológica (engenharia e bens de capital), os governos pós-1954 privilegiaram grandes projetos, reservando assim o mercado para carteis transnacionais. 
28. Ademais, esses governos subordinaram sua política financeira aos bancos privados -  pois  o Tesouro não emite a moeda nem comanda o crédito através de bancos públicos. Assim, o subdesenvolvimento tecnológico  foi agravado, devido à carência financeira, decorrente da própria política, que levou a buscar financiamento externo, liderado pelos bancos internacionais multilaterais (Banco Mundial e BID).
29.  Confiada a essas instituições -  dominadas pelas potências imperiais - a direção das concorrências para as obras públicas, foram favorecidos os carteis transnacionais produtores dos equipamentos e demais bens de capital. Além disso, participavam do financiamento os bancos oficiais de exportação daquelas potências, bem como seus bancos comerciais privados.
30. Assim, ao contrário dos países que progrediram, a política econômica do Brasil não deu chances às empresas nacionais de desenvolverem tecnologia e de ganhar dimensão.
31. Nos países onde houve desenvolvimento real, as compras governamentais foram fundamentais para o surgimento de empresas  de capital nacional dotadas de tecnologias competitivas.
32. Isso ocorreu no Brasil graças à Petrobrás, mas está decaindo com a quebra do monopólio estatal do petróleo. Houve também nas telecomunicações e no setor elétrico, mas acabou com as privatizações. Funcionou também em indústrias ligadas à área militar, a qual foi, depois, enfraquecida por cortes no investimento público e pela desnacionalização.
33. O financiamento dos bancos públicos fortaleceu o capital nacional, naqueles aqueles países, inclusive os de desenvolvimento recente, como  Coreia do Sul, Taiwan e China. Enquanto isso, no Brasil, o BNDES e os demais bancos estatais, há muito, deixaram de priorizar as empresas nacionais e oferecem empréstimos favorecidos a empresas transnacionais.
34.  As instituições brasileiras desmoronaram a partir da crise da dívida  de 1982, e esta decorreu: 1) da entrega do mercado  às transnacionais, que se assenhorearam da produção industrial no País, inclusive bens de capital; 2) de os investimentos públicos terem utilizado equipamento importado e/ou produzido localmente por empresas estrangeiras, em grau muito maior que o devido à incapacidade de oferta adequada por empresas de capital nacional.

35. A dependência tecnológica foi agravada em função da entrega do mercado às transnacionais. Além disso: a) as empresas nacionais foram ter-se asfixiadas pelas políticas restritivas aos investimentos públicos e ao crédito -  tornado proibitivo sob o governo de 1964 a 1966; b) o governo recorreu, em grau crescente, aos empréstimos e financiamentos estrangeiros, em face do crescimento da própria dívida. Esse recurso era, de início, desnecessário, pois o Estado poderia emitir moeda e crédito.

36. Apesar de os choques do petróleo terem contribuído para a explosão da dívida externa nos anos 70 – pois o Brasil era importador líquido -  isso não foi fator decisivo. Não o foi tampouco a brutal elevação dos juros nos EUA em agosto de 1979, quando, de resto, a situação das contas externas brasileiras já se mostrava insustentável.
37. Outros países com ainda maior coeficiente de importação de petróleo - como Alemanha, Itália, França, Japão, Coreia -  não caíram, em 1982, na mesma situação de Brasil, Argentina e México, caracterizados pelo modelo dependente e pela ocupação de setores estratégicos de suas economias pelos investimentos estrangeiros diretos.
38. Desde 1982, o governo pôs-se de joelhos diante dos bancos comerciais e dos governos das potências hegemônicas, a pretexto da crise da dívida externa, oficializando a submissão ao FMI e Banco Mundial e aos planos dos banqueiros (Baker e Brady - 1983-1987).
39. Assim, a desnacionalização e a primitivização tecnológica, consequências  das políticas adotadas desde o final de 1954 tornaram-se ainda mais intensas. A condição colonial ficou evidente na Constituição de 1988, não só através do dispositivo fraudulentamente inserido no art. 166 (Vide § 5 acima) para privilegiar as despesas com o serviço da dívida, mas também de outras normas, como o art. 164.

40. Esse determina que a competência da União para emitir moeda seja exercida exclusivamente pelo Banco Central (BACEN),  e o  proíbe de conceder, direta ou indiretamente, empréstimos ao Tesouro Nacional e a qualquer órgão ou entidade que não seja instituição financeira. Dispõe, ademais, que os saldos de caixa da União serão depositados no BACEN.

41. Ora, o Tesouro, que deveria ser o emissor da moeda e financiar parte dos investimentos públicos desse modo, não pode fazê-lo. Portanto, a Constituição força o Tesouro a endividar-se, emitindo títulos públicos. Com isso assegura lucros absurdos aos bancos privados, os quais recebem recursos do BACEN, a baixo custo, e os aplicam em títulos do Tesouro, que pagam juros elevadíssimos.

42.  Esses juros são fixados pelo COPOM (Comitê de Política Monetária), controlado pelo BACEN, um feudo dos bancos privados.  Essa é mais uma fonte de enriquecimento sem causa, como a decorrente do privilégio de criar dinheiro do nada, fazendo empréstimos em múltiplo dos depósitos.

43. Banco é uma concessão que o Estado só deveria dar à mãe dele, a sociedade: é uma concessão que só tem sentido se for estatal e exercer suas funções em prol da sociedade. No Brasil esta não poderia estar sendo mais traída, pois aqui são praticadas taxas de juros altíssimas sem qualquer razão, afora a mistificação.

44. Chegou-se a taxas básicas para títulos públicos acima de 40%, inclusive após o Plano Real, falsamente apresentado como saneador da inflação. E, de resto, para reduzir a inflação faz mais sentido baixar que elevar as taxas de juros.

45. A taxa de 2% aa. capitalizada mensalmente por 30 anos não faz dobrar um saldo devedor. A de 15% faz que o saldo seja multiplicado por 66,3.

46. O Brasil já estava subjugado em 1988, e depois  o opróbrio intensificou-se a cada eleição. Veio a liquidação de estatais estratégicas; a lei da desestatização; os planos “antiinflacionários”, repressores da economia produtiva; dezenas de emendas constitucionais contrárias ao País, como a que acabou com qualquer possibilidade de distinção entre empresa de capital nacional e empresa de capital estrangeiro.

47. Mais: as infinitamente danosas privatizações; abertura das importações, sem contrapartida; isenção de impostos e contribuições à exportação de produtos primários;  adoção do estatuto da OMC e da lei de propriedade industrial, que afunda o País no apartheid tecnológico;  lei 9.478/1997: entrega do petróleo às transnacionais; lei de “responsabilidade” fiscal: prioridade absoluta aos gastos com a dívida pública;   demissão do Estado com a criação das agências e as concessões; parcerias público-privadas: o Estado dá dinheiro, financia e garante lucro sem risco aos concentradores privados;  intensificação dos subsídios e privilégios aos “investimentos” diretos estrangeiros.

48. Em resumo, aumenta-se a dose das políticas de desnacionalização da economia, causadoras originárias da dívida pública. A desnacionalização gera mais dívida, e esta aprofunda o rombo.

49. Fixam-se taxas de juros altíssimas sobre o montante enorme dessa dívida. Desse modo, mesmo sugando  os contribuintes, com tributos, o Estado não consegue receitas suficientes para pagar a conta dos juros.

50. Isso demonstra que essas taxas não têm outro sentido senão acarretar o crescimento sustentado da dívida, por meio da capitalização de juros.  Desnecessário reiterar o quanto tais políticas são destrutivas.

51. Além de escorchada pela carga tributária, a  sociedade o é adicionalmente pelos preços dos produtos fornecidos por oligopólios e carteis transnacionais.

52. Ela sofre, pois, de múltiplos ataques que corroem a renda disponível dos cidadãos: 1) os preços abusivos dos produtos que se usa ou consome; 2) impostos e contribuições fiscais acima da capacidade contributiva; 3) crescente insuficiência dos investimentos públicos, decorrente de quase metade das despesas serem torradas com o improdutivo serviço da dívida, bem como de desonerações fiscais e subsídios em favor do sistema financeiro e dos concentradores em geral.

53. Desgastam ainda mais a renda social e a  qualidade de vida das pessoas: 1) a lastimável condição das infra-estruturas, especialmente a de transportes e a de energia; 2) a baixa e decadente qualidade da educação e da saúde, inclusive saneamento e prevenção; 3) a carência de empregos, inclusive dos de produtividade elevada e bem remunerados.

*Adriano Benayon Consultor em finanças e em biomassa. Doutor em Economia, pela Universidade de Hamburgo, Bacharel em Direito, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Diplomado no Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco, Itamaraty. Diplomata de carreira, postos na Holanda, Paraguai, Bulgária, Alemanha, Estados Unidos e México. Delegado do Brasil em reuniões multilaterais nas áreas econômica e tecnológica. Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados e do Senado Federal na área de economia. Professor da Universidade de Brasília (Empresas Multinacionais; Sistema Financeiro Internacional; Estado e Desenvolvimento no Brasil). Autor de Globalização versus Desenvolvimento, 2ª ed. Editora Escrituras, São Paulo.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Crescimento social do Brasil! reduziram as classes para caber mais pobres

O crescimento social do Brasil é uma falácia.
Ao invés de aumentar a renda real das famílias, eles mudaram a forma de classificação. Reduziram as classes para caber mais pobres.
Baixando o valor para se enquadrar numa classe social, eleva-se automaticamente as famílias.

54 porcento classe media
Embuste igual ao pagamento da dívida externa, que nunca aconteceu

Brasil nao pagou divida externa

"Marcelo Noll Prudente" <marceloprudente@    Data: Qua 04/12/13 23:20

Sucesso dos leilões de aeroportos é um engodo



Os comunistas petistas, lulistas, mentem, mentem.

O PT está destruindo o Brasil.

domingo, 8 de dezembro de 2013

As chapas de ferro-nióbio exportações não declaradas: descaminho Adriano Benayon

Os amigos brasileiros desconhece à luta do Dr. Adriano Benayon contra o descaminho do Nióbio brasileiro:


CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ

Reunião: 1828/13Hora: 14h30
 Data: 30/10/2013

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

Versão para registro histórico

Não passível de alteração

COMISSÃO ESPECIAL - PL 0037/11 - MINERAÇÃOEVENTO: Audiência PúblicaREUNIÃO Nº: 1828/13DATA: 30/10/2013LOCAL: Plenário 14 das ComissõesINÍCIO: 15h00minTÉRMINO: 19h07minPÁGINAS: 79

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
FERNANDO LINS - Presidente do Centro de Tecnologia Mineral - CETEM. TADEU CARNEIRO - Diretor-Geral da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração - CBMM. ADRIANO BENAYON - Consultor em finanças e biomassa. LEONAM DOS SANTOS GUIMARÃES - Assessor da Presidência da ELETROBRAS Eletronuclear; membro do Grupo Permanente de Assessoria da Agência Internacional de Energia Atômica - AIEA. PAULO CÉSAR RIBEIRO LIMA - Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados. DANILO FERNANDEZ MIRANDA - Sócio Coordenador do Núcleo Ambiental, Minerário e de Terceiro Setor - NAMTS.
SUMÁRIO

Debate sobre a importância dos minerais estratégicos, principalmente nióbio e terras-raras, no âmbito da proposta do novo Código de Mineração.



... O SR. ADRIANO BENAYON - Boa tarde, Srs. Deputados, senhoras e senhores presentes. Eu vou falar sobre os diferentes produtos, de uma forma mais simplificada, não como técnico em mineração e produção, mas como economista e analista do desenvolvimento brasileiro. 
(Segue-se exibição de imagens.)
Conforme os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio sobre as exportações brasileiras, a gente encontra três tipos de produtos principais. O principal mesmo são as chapas de ferro-nióbio - é o item principal das exportações oficiais brasileiras relativas ao nióbio. Essas exportações totalizaram 4,8 bilhões, somando-se os valores de todos esses anos, de 1996 a 2013. É esse o quadro, exatamente; um pouco pequeno, mas é o jeito. Em 1996, o montante era só 152,7 milhões. Chegou a 1,8 bilhão em 2012, que é o último ano completo da estatística; aumentou muito a quantidade exportada e também o valor unitário. Com isso, o valor total multiplicou-se por 12. 
Possivelmente muitos estudos apontem haver exportações não declaradas; provavelmente não seriam dos elementos mais elaborados, como as chapas de aço, no caso. De qualquer forma, as operações com nióbio são feitas entre poucas empresas. Praticamente, é difícil se averiguar o real valor do nióbio, em termos de mercado, porque ele não é negociado em bolsas. Há várias informações, inclusive de associações internacionais, nas quais se diz não haver negociação do nióbio na Bolsa de Metais de Londres, nem em outras bolsas. São predominantemente operações entre empresas; daí ser difícil a transparência nesse campo.
Nós cremos que seria muito mais alto o preço do nióbio se houvesse maior tipo de concorrência, evidentemente, entre os países importadores. O nióbio é vendido, possivelmente, a um número não muito grande de empresas. As operações são, portanto, entre grupos, e não muitos grupos. 
As pesquisas realizadas para a gente encontrar alguma oferta avulsa de nióbio não oferecem muitos resultados, mas eu encontrei alguns. Uma informação da Bolsa de Metais de Pequim dava conta de que os preços do nióbio metálico - bastante puro, 99,9% de pureza - permaneciam estáveis. Esta é uma informação deste ano: de 115 a 120 dólares por quilo, é um preço muito acima daquele que figura naquela coluna. (Pausa.) A gente vê que os preços aumentaram bastante de 1996 a 2012, 2013, porém são preços muito inferiores a algumas das ofertas avulsas que se pôde encontrar, até na Internet.
Podemos mostrar, por exemplo, os quadros 2 e 3. (Pausa.) O quadro 2, na realidade, é só um documento de uma associação anglo-americana de produtores de nióbio e tântalo, sediada em Bruxelas, que diz, entre outras coisas, que o nióbio não é transacionado em bolsas, como a London Metal Exchange. O quadro 3 já dá uma indicação dessa oferta, que seria um preço no mercado da Comunidade dos Estados Independentes, como a Rússia, a Ucrânia e todo aquele bloco da antiga União Soviética. 
Há outra oferta, a do quadro 4, que mostra a barra de nióbio cotada a 315,79 o quilo. Isso aí seria mais de 10 vezes o preço unitário, que a gente obtém, na estatística de exportação oficial brasileira, dividindo o valor exportado pela quantidade exportada.
Mesmo a esse preço oficial que estamos comparando, eventualmente, com cotações avulsas, que, como eu disse, são difíceis de aferir porque não há transação em bolsa, não é um mercado transparente, ainda assim, realmente, se compararmos com as chapas de ferro-silício e ferro-manganês - seriam os quadros 5 e 6, que também são uma estatística do MDIC, estatística oficial brasileira de exportações e comércio exterior -, comparando com os 25 dólares, por aí, da chapa de ferro-nióbio, nós vamos encontrar 1,77 e 2,25, o que mostra que o nióbio acarreta um valor enorme ao ferro, quer dizer, torna a chapa de aço, feita com o mesmo ferro, de uma qualidade excepcional.
Outro produto que, em termos quantitativos, é bem menos expressivo, na pauta de exportações brasileiras, é o óxido de nióbio, que foi mencionado na palestra do Diretor da CBMM. O total das vendas ao exterior de óxido de nióbio aumentou muito nos últimos anos, mas ainda não é expressivo. Ele foi para 44 milhões de dólares, a um preço médio de 30 dólares, tendo sido exportadas, portanto, 1.500 toneladas. É muito pouco, principalmente em termos quantitativos, porque se compara a 1,8 bilhão. No ano mais recente, no quadro que nós temos para a chapa de nióbio, o valor de exportação foi de 1,8 bilhão, e o óxido de nióbio acarretou um faturamento de exportação de, portanto, 44 milhões, apenas. É muito pouco. 
O mesmo também acontece com o minério bruto. Aparece na exportação brasileira o nióbio, mas o bruto. Portanto, ele vem associado a outros minerais, como o tântalo e o vanádio. Também isso, curiosamente, obtém um valor de exportação oficial de 24 dólares por quilo, ou seja, não muito menos do que produtos já com algum processamento.
Pelo menos, parte dos investimentos em desenvolvimento tecnológico havidos no Brasil, e realizados principalmente na Companhia de Araxá, na CBMM, e, possivelmente, também, na Anglo American, a empresa britânica que explora o nióbio de Catalão... Esta, segundo as estatísticas, só responde por 10% do total das exportações de chapas de ferro-nióbio. 
Um investimento em desenvolvimento tecnológico importante, pela informação que temos, foi realizado graças a programa da Secretaria de Tecnologia Industrial à época, do físico Prof. José Walter Bautista Vidal, na mesma época em que se impulsionou o programa da biomassa para criar fonte de energia renovável no Brasil. Tudo isso está bastante prejudicado ao longo do tempo. Todos os programas iniciais, como, por exemplo, o da biomassa, estão muito deteriorados hoje em relação ao que deveriam ser. Mas outra iniciativa da época de 1975, daí para o final dos anos 70, possivelmente deve ter sido aproveitada pela CBMM. Seria um processo de redução do óxido de nióbio para integrá-lo às ligas metálicas. Isso foi feito através do Departamento de Engenharia de Materiais - DEMAR da Escola de Engenharia de Lorena, São Paulo.
Agora vamos para um ponto crucial em termos de merecer estudo profundo para saber o que realmente há por trás disso. Nós temos muita notícia e muitos trabalhos como o do Almirante Gama e Silva e os de várias outras pessoas que tiveram papel destacado no conhecimento dos minérios no Brasil. O advogado Antônio Ribas, de São Paulo, e o engenheiro Ronaldo Schlichting, do Paraná, várias pessoas, apontam que o preço real do nióbio no exterior pode ser, como essas ofertas que eu mencionei indicam, dez vezes maior do que o preço que está figurando nas estatísticas de exportação. 
Mais importante do que aquilo que vou mencionar mais adiante é o fato de que, se o Brasil tivesse se industrializado adequadamente, ele estaria produzindo não apenas um bem intermediário importantíssimo, como as chapas de ferro-nióbio, mas os produtos finais que utilizam essas chapas, bem como os bens finais que aproveitam o óxido de nióbio. Então, nós não falaríamos mais de possíveis perdas ou cessação de lucros por parte do Brasil. Não estaríamos falando de dez vezes; estaríamos falando de mais de cem vezes, se o Brasil tivesse construído um padrão de desenvolvimento diversificado. Eu vou mencionar por que isso não ocorre.
Nós estamos diante de outra coisa que nos dá um indício, que nos levaria a aprofundar melhor esses estudos. Eu mesmo não sou um geólogo, nem um engenheiro metalúrgico, mas, com os dados econômicos disponíveis, como esses que estou mencionando das estatísticas de exportação e de produção, e os trabalhos do Departamento Nacional de Produção Mineral, tudo isso nos leva a pensar na necessidade de que essa questão precisa ser melhor investigada.
Vou saltar um tópico; vamos passar agora para o item 9. Foi publicada, no Jornal Valor Econômico, uma notícia proveniente da Agência Bloomberg, dos Estados Unidos, que dá conta de que os herdeiros... Eu vou ler ipsis litteris. Está mais embaixo a parte que está em itálico. Segundo essa notícia recente publicada no Valor Econômico, os herdeiros de Moreira Salles, a família mais rica do Brasil, seus quatro filhos, Fernando, Pedro, João e Walter, controlam uma fortuna combinada de US$ 27 bilhões, segundo o Bloomberg Billionaires Index.
A gente pode supor que o outro braço, vamos dizer assim, do Grupo Moreira Salles, liderado pelo falecido Embaixador Walther Moreira Salles, que, durante decênios, dirigiu o grupo, realmente deve ter tido na exploração e na industrialização do nióbio, na CBMM, a sua principal fonte de formação de patrimônio, porque o outro era o UNIBANCO, um banco que entrou em dificuldades e foi absorvido pelo Banco Itaú. Era também um banco que teve, no seu início, nos seus primórdios, provavelmente como a CBMM, uma participação de interesses norte-americanos. 
O Embaixador era muito ligado ao Grupo Rockefeller. O próprio local, aquilo tudo, era ligado ao grupo. A MOLYCORP, antiga Molybdenum Corporation, era uma das empresas que tinha relações com a Occidental Petroleum, todo aquele grupo da grande indústria petroleira, ou seja, o cerne do poder financeiro internacional.
Esse poder financeiro dos bancos líderes dos Estados Unidos estava presente também no UNIBANCO. De qualquer maneira, na realidade o UNIBANCO acabou tendo dificuldades e foi absorvido pelo Itaú. 
Então, nós estamos diante de um contraste muito grande. Nós podíamos voltar ao primeiro quadro, que mostra as exportações brasileiras do produto que é de longe, como nós mencionamos, e isso ficou claro, o principal produto do nióbio: as chapas de ferro-nióbio, nas quais entra um pouco de nióbio e dá aquele valor bem maior ao ferro e ao aço. 
Nós temos lá em embaixo o número de 4 bilhões, 771 milhões de dólares, que é o total da exportação oficial do Brasil de chapas de nióbio. Dez por cento disso provavelmente vieram da Anglo American, e não da CBMM. 
Por outro lado, temos a informação recente de que a CBMM, à mercê de sua tecnologia e de todas essas coisas que já foram mencionadas, consegue um lucro oficial de 50% do patrimônio. É uma rentabilidade fora de série! Mas, mesmo com essa rentabilidade fora de série de obter 50% do patrimônio em lucro como seu faturamento, nós podemos supor o seguinte: desde que o nióbio seja produzido industrialmente e exportado, ele não terá faturado de exportações, o grosso do mercado, mais do que 6 bilhões de dólares, mesmo porque antes de 1996 os números eram pouco expressivos. Basta comparar os 152 milhões de dólares, de 1996 com os recentes 1,8 bilhão de dólares de 2012, o único ano para o qual temos o ano completo. Ainda não temos para 2013 todo.
Admitindo que o que se faturou com nióbio em exportações tenha sido no máximo 6 bilhões de dólares ao longo de todo o tempo, nós teríamos uma situação um pouco estranha. Como entender que o Grupo Moreira Salles forme patrimônio de 27 bilhões de dólares diante dos seguintes números, que vou também resumir?
Já mencionei o fato de as exportações oficiais não somarem mais do que 6 bilhões de dólares. Admitindo que desde sempre tenha havido lucros de 50% em relação ao faturamento, o que não é muito provável nos primeiros anos de maior investimento, ainda assim, nós teríamos também o fato de o Grupo Moreira Salles só ter 50% das ações até 2006. No caso, foi indicado pelo Diretor da CBMM... A Molybdenun tinha 45%, e também há os 25% dos lucros operacionais destinados à CBMM. Nem precisamos considerar o caso dos asiáticos depois de 2011. Dez por cento, como disse, proviriam da Anglo American, da exportação de nióbio. Portanto, seria muito difícil que a CBMM pudesse acumular 1 bilhão de dólares de lucro durante esse tempo todo, diante destes números que estou expondo.
Isso realmente deve levar a que o Brasil, caso queira otimizar a utilização dos seus recursos, reveja toda esta situação. Por que não faz isso? Porque foi um país que infelizmente a partir dos anos 50, quando estava tomando consciência de seus interesses, sofreu um golpe de Estado, em 1954, após o qual a indústria foi sendo entregue a privilégios extraordinários concedidos às empresas transnacionais. Em continuação a isso, a economia foi se desnacionalizando. As indústrias brasileiras, de forma geral, passaram a ser esmagadas, desapareceram do mercado em função do poder mundial econômico das transnacionais ainda mais turbinado por privilégios incríveis outorgados pela própria legislação brasileira. O Sr. Juscelino Kubitschek, entre outros, acentuou isso, que depois nunca mais mudou.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Rodrigo de Castro) - Dr. Adriano, seu tempo já se esgotou. Eu queria que o senhor concluísse, por gentileza.
O SR. ADRIANO BENAYON - Eu vou concluir com o maior prazer e brevidade.
Então, o quadro que temos é este. Se queremos uma explicação de por que o Brasil não otimiza a utilização de seus recursos minerais e de outros recursos, a razão é que as políticas públicas vêm sendo cada vez mais, crescentemente, desde os anos 50, de JK etc., determinadas por interesses que não são os da economia brasileira, mas de grupos concentradores mundiais. Em razão disso, o Brasil foi se desnacionalizando e se desindustrializando. Política, comunicações, informação, tudo ficou dependente desses interesses externos, de tal modo que a política econômica não é determinada em função da criação, de crescimento, de desenvolvimento, de bem-estar e sobretudo de equilíbrio social no País.
Era o que eu tinha a dizer.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Rodrigo de Castro) - Agradeço ao Dr. Adriano.
Passamos a palavra, agora, ao Dr. Leonam dos Santos Guimarães, Assessor da Presidência da ELETROBRAS Eletronuclear, membro do Grupo Permanente de Assessoria da Agência Internacional de Energia Atômica e autor de artigos sobre terras-raras e minerais estratégicos. O senhor tem 20 minutos.
O SR. LEONAM DOS SANTOS GUIMARÃES - Primeiramente, eu queria agradecer o convite à Comissão e fazer uma pequena correção: já não sou mais Assessor da Presidência da Eletronuclear, sou Diretor Técnico-Comercial da Amazônia Azul Tecnologia de Defesa S.A., empresa pública recentemente criada, estabelecida em 16 de agosto passado.
Pegando um gancho na apresentação do Prof. Fernando, a Amazônia Azul sem dúvida é uma nova fronteira de exploração mineral. Mas isso mereceria outra audiência pública.
Eu vou então falar um pouco sobre terras-raras e minerais estratégicos e por que cheguei a esse tema, por que me interesso por ele. Originalmente a gente se interessa por minério de urânio, que está sempre muito próximo, quando se fala em terras-raras, de alguns outros minérios estratégicos como os citados nióbio e tântalo. Então, por isso nós chegamos lá.
Antes de falar especificamente disso, é sempre bom lembrar que o Brasil é um subconsumidor per capita de minerais em geral. Para se ter ideia, pegando exemplos simples - cimento, aço, cobre e alumínio - o consumo per capita dos brasileiros é igual ao dos americanos na década de 20. Ou seja, existe um enorme subconsumo decorrente do subdesenvolvimento. Esse primeiro ponto a gente tem que ter sempre em mente, é uma realidade dura e poucas vezes falada.
Outro aspecto: o Brasil tem papel mundial bastante importante na produção de bens minerais. Em alguns casos é player global, como nos casos de nióbio, ferro, manganês, bauxita, tântalo, grafite e amianto; em outros é exportador, como nos casos de magnesita e rochas ornamentais; é autossuficiente em calcário, cromo, diamante industrial, titânio, ouro, talco e níquel; mas é importador de rocha fosfática, cobre, zinco, diatomita e tungstênio, como já tinha falado também Fernando; e tem dependência externa fortíssima, o que foi muito bem ressaltado, de potássio, enxofre, carvão metalúrgico e terras-raras.
O que a mineração representa na economia brasileira? A mineração e a transformação mineral respondem por cerca de 4% do PIB brasileiro, mas têm uma tendência um tanto quanto decrescente nos últimos anos. Em termos de comércio exterior, a mineração e a transformação mineral respondem por cerca de 20% dessa pauta de exportações brasileiras.
Neste cenário brasileiro, vamos ver como isso tem sido visto fora do País. Primeiro, os Estados Unidos, em especial, tem uma enorme dependência de importações de minerais. Este gráfico é bastante interessante e mostra uma lista de minerais. Ele é totalmente dependente de importações. Ou seja, o tema importações de minerais é crucial para a sustentabilidade da própria economia americana.
(Segue-se exibição de imagens.)
Outro aspecto muito importante atualmente, e aí a gente está focando em minerais estratégicos associados à energia do futuro... Este documento do Departamento de Energia é bastante recente. Ele identifica 14 materiais estratégicos para a energia do futuro. Cinco deles são terras-raras, mas não são só terras-raras. Elas ficaram muito midiatizadas por causa da crise chinesa, mas se inserem num contexto um pouco mais amplo.
Por que elas são importantes para tecnologias de energia? Porque esses materiais estão intimamente ligados à tecnologia que a gente vê crescendo no momento, que são energia limpa e componentes para sistemas eletrônicos. A gente encontra, por exemplo, nas turbinas eólicas, de que a gente gosta e que expandiu muito no Brasil e que são fortemente dependentes de magnetos especiais feitos de praseodímio, neodímio e samário. Os visores das nossas telas de celular e de computador são fortemente dependentes de lantânio, cério, európio, térbio, ítrio, que, neste caso, são terras-raras. Mas também as células fotoelétricas, cujo uso a gente está buscando expandir no País, são fortemente dependentes de índio, gálio e telúrio. Então, a importância desses minerais para a energia do futuro é crítica.
Um ponto importante que é uma preocupação estratégica do ponto de vista dos americanos e dos europeus em especial é que existe uma grande concentração da produção de matérias-primas e minerais críticos em alguns países. Por exemplo, no caso do alumínio, que foi citado, o Brasil é o terceiro produtor, respondendo por uma percentagem significativa. Quando a gente vai para o ferro, é o segundo maior produtor, e quando vai para o nióbio, que foi bastante falado, é o primeiro. Quando a gente vai para terras-raras, a produção é pífia, mas o mercado é plenamente dominado pela China, que responde por 97% da produção mundial.
Do ponto de vista da União Europeia, há um estudo bastante interessante que vai numa linha parecida com a que foi apresentada por Fernando. Eles buscaram fazer uma análise de criticalidade de 41 matérias-primas, em termos da importância econômica...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Rodrigo de Castro) - Dr. Leonam, uma dúvida: isso quer dizer que o Brasil tem poucas terras-raras ou que elas ainda não foram descobertas?
O SR. LEONAM DOS SANTOS GUIMARÃES - Nós vamos chegar às terras-raras. (Riso.) Elas são muito polêmicas. O caso brasileiro é bastante particular.
Então, a União Europeia, visando importância econômica e risco de suprimento, identifica terras-raras como aquelas que têm maior risco de suprimento. Do ponto de vista de importância econômica, identifica alguns materiais também, dentre eles nióbio, que está aparecendo, mas também tungstênio, cromo, vários outros materiais que já foram identificados com essas ordenadas.
A partir dessa análise, a União Europeia fez uma lista de matérias-primas críticas para a sustentabilidade do seu desenvolvimento, na qual vão aparecer alguns dos minerais de que a gente está falando aqui, inclusive, de novo, terras-raras. Nióbio também aparece na lista, mas não são só eles. Tântalo e tungstênio aparecem como importantes. Alguns que são pouco falados são os metais do grupo platina, que são bastante escassos.
Essa concentração de matérias-primas minerais críticas leva à proposição de uma política da União Europeia para estabelecer relação preferencial com a África. Para quê? Para melhorar o acesso a essas matérias-primas. Aliás, essa política já vem sendo perseguida pela China também.
Este mapa foi tirado do estudo e identifica a concentração da produção mundial de nióbio e tântalo no Brasil. A de nióbio já foi bastante falada. Tântalo também aparece com o Brasil sendo um grande responsável por grande parcela da produção mundial.
A Coréia do Sul estabelece uma política de gestão estratégica desses minerais através de um estudo bastante interessante, no qual buscaram correlacionar raridade, instabilidade de suprimento e volatilidade de preço. Então, a gente identifica aqueles que são mais raros e vê, como Tadeu disse, que as terras-raras não são terras, nem são raras. As terras-raras não estão na lista da raridade, mas aparecem no suprimento instável. Por que eles consideram nióbio suprimento instável? Devido a sua concentração no fornecimento ao Brasil. A raridade e a estabilidade do suprimento, obviamente, impactam na instabilidade de preços também. A China domina mais da metade da produção desses elementos críticos estratégicos do ponto de vista da Coreia do Sul, que não difere muito dos outros.
Essa concentração significa que o suprimento não é confiável. E raridade e suprimento instável vão contribuir para a volatilidade de preços. A Coreia estabeleceu uma política específica sobre 11 elementos críticos estratégicos. Lembro que a União Europeia falava em 14. A análise coreana leva a 11. Mas eles não mudam muito entre si e terras-raras, tântalo e nióbio vão aparecer nessa lista.
Quando se fala em política, a estratégia de gestão desses recursos busca evitar a perda de suprimento, as mudanças econômicas e o acompanhamento da regulação ambiental também. Ou seja, recursos naturais geram materiais que geram produtos, e buscam-se recursos alternativos para fazer esses mesmos produtos e reciclagem.
Então, na Coreia tem estratégias bem estabelecidas para terras-raras, que passam a garantir fornecimento estrangeiro, garantir estoques nacionais desses produtos, focar pesquisa e desenvolvimento na materialização. Entende-se materialização como redução do uso desses materiais, substituição e também reciclagem e reuso.
É interessante notar o que este gráfico mostra: os elementos que estão acima da linha pontilhada têm o preço baixo, comparado com sua abundância; os que estão abaixo têm o preço alto, comparado com sua abundância; e os que estão no meio têm razoável equilíbrio. A gente observa que a China está entre os três maiores produtores dos elementos em amarelo - vejam que o quadro está bem pintado de amarelo - e é o maior produtor daqueles que estão sublinhados.
Fazendo algumas considerações sobre isso, a gente pode dizer que as previsões indicam que a procura por uma série de matérias-primas críticas poderá mais do que triplicar até 2030. Esse aumento vai se explicar pelo próprio crescimento das economias e o desenvolvimento e a disseminação dessas novas tecnologias. Lembram energia eólica? Lembram célula fotovoltaica para gerar eletricidade? O risco que corre o abastecimento dessas matérias-primas se deve à grande concentração de produção de algumas, que faz acompanhar muitos casos com poucas possibilidades de substitutos e baixa taxa de reciclagem dos materiais.
As economias emergentes, como a China, estão desenvolvendo estratégias de desenvolvimento industrial através de instrumentos comerciais, fiscais e de investimento destinados a reservar sua base de recurso para utilização no futuro. A China vem investindo pesadamente na aquisição de terras e reservas minerais em outros países, sobretudo na África, mas também no Brasil. O apetite fundiário chinês no Brasil já suscitou até modificação na legislação há algum tempo.
Esse é um passo importante, mas é bastante interessante pensar que ainda é insuficiente pelas próprias fragilidades que a gente tem, que vão muito além da estrutura fundiária, notadamente em regiões despovoadas e pouco conhecidas da Amazônia, onde são frequentes notícias de descaminhos e contrabando ilegal de minérios, como a columbita-tantalita. A produção da columbita-tantalita é feita na Mina de Pitinga, da Mineração Taboca, mas não é só lá que existe. Em outros lugares também existe. Também há alguns minérios radioativos, como torianita. Abrindo parêntese pessoal, eu me envolvi mais nesse tema porque, por razões de trabalho, tive que estudar os descaminhos da torianita do Amapá, e me chamaram a atenção vários outros aspectos.
Para concluir, respeitando o tempo, chegamos às terras-raras. Como Tadeu disse, nem são terras, nem são raras, são metais abundantes. A característica que as fazem ser chamadas de raras é que são minérios de muito baixo teor. Ou seja, esses elementos se encontram em pequenos teores e em variados minérios. O resultado disso é que, para processá-los - neodímio, praseodímio -, é preciso processar grandes volumes de minério. Isso, em alguns casos, implica um significativo impacto ambiental. Esse tipo de problema já vem ocorrendo na China. Mesmo lá, com regime fechado e uma série de aspectos, se critica a exploração de terras-raras, dado o impacto ambiental que tem causado em algumas regiões.
Um fato curioso: todo mundo que vê uma turbina eólica diz: Que limpo! Energia limpa! Só que aquelas centenas de gramas - que podem chegar a quilos talvez - de neodímio ou praseodímio usado nos magnetos das turbinas são sempre esquecido, nunca considerado. Então, temos que tomar cuidado quando falamos em fontes limpas. Tem que se analisar o ciclo de vida completo do processo. Eu não estou dizendo que não sejam limpas, só estou dizendo que talvez não sejam tão limpas quanto se imagina.
A demanda por terras-raras no mundo é fortemente influenciada justamente pelo crescimento do mercado dos magnetos, dos superímãs de alta permeabilidade magnética. Mas também existe uma demanda significativa para catalisadores de motor de combustão de veículos, para produção de ligas metálicas e também para produção de instrumentos, ferramentas de polimento.
Quer dizer, relativamente à demanda estimada de terras-raras no horizonte futuro, vemos um crescimento enorme da China como demandante de terras-raras. É o maior produtor e é o maior consumidor também. Na linha do que disse o Dr. Benayon, ela valoriza aquilo dentro do próprio país e vende o produto, não o concentrado de terras-raras somente, tentando explorar o melhor possível aquele produto. É o caminho que a CBMM mostrou que vem fazendo ao longo dos anos.
É interessante saber o crescimento da demanda por terras-raras nos diferentes setores. A gente vai observar que o setor de magnetos, de ímãs - e isso tem muito a ver com a energia eólica, em especial, mas também com os carros elétricos e com todas as aplicações mais modernas da eletricidade -, é o que tem tido o maior crescimento nos últimos anos, seguido da produção de ferramentas de polimento de matérias, da produção de ligas metálicas e depois das telas de computadores e celulares, eletrônica de amplo uso.
O índice de preços das terras-raras subiu muito naquele momento em que a China usou terras-raras como instrumento político não só de política externa, mas também de política interna, para reduzir sua produção e preservar para o futuro. A gente vê saltos bastante significativos nos índices de preços das terras-raras.
Agora, como eu disse, elas não são tão raras assim. Elas são bastante distribuídas em todo o mundo. Aqui, em particular, existem dois tipos de minérios de terras-raras: monazita, do qual o Brasil tem grandes reservas, e xenotima, da qual o Brasil também tem grandes reservas. A xenotima é explorada na Mineração Taboca, sobre o que se comentou, no Estado do Amazonas.
A primeira fonte mundial de terras-raras encontrada foi no Brasil, que já foi o maior produtor do mundo, curiosamente, no final do século XIX, quando se começaram a produzir mantas incandescentes para lampião a gás. O País era quase monopolista. Aliás, é uma posição parecida com a do nióbio hoje. Depois acabou perdendo essa produção para a Índia, que também tem grandes reservas de monazita, e abandonou a produção de concentrado de terras-raras em 1995. A última produção foi de 110 toneladas. Hoje a única usina de produção é a Usina de Buena, pertencente às Indústrias Nucleares do Brasil, e está fechada.
O País tem recentemente exportado aquilo que na mídia - quem acompanha o tema deve ter visto - foi chamado de rejeitos radioativos. O Brasil estaria exportando rejeitos radioativos. Não é nada disso. Está exportando terras-raras no meio do caminho do processamento, porque durante a operação da fábrica ela produziu muita torta 2, que é uma etapa do processamento, e, como se parou de produzir terras-raras, isso virou rejeito radioativo, porque é material radioativo. Agora, esse material tem sido exportado para a China. Não foi a primeira vez. A notícia saiu há alguns meses, mas já há alguns anos isso vem sendo feito como maneira, entre aspas, de se livrar dos chamados rejeitos radioativos.
Obviamente, isso não significa que o tema esteja abandonado. Foi citada aqui a produção da Anglo American em Catalão, bem próximo de Brasília, onde tem uma jazida que tem o nome do córrego do garimpo, com reservas muito significativas de monazita com teor médio bastante elevado de óxido de terras-raras - uma jazida a ser explorada. Tem também, foi dito, a Mina de Pitinga, em Presidente Figueiredo, a cerca de 400 quilômetros de Manaus, o grande produtor de estanho. Eles têm xenotima, produzem columbita-tantalita, e lá tem também uma grande quantidade de urânio. É uma grande província mineral. Pode se tirar muita coisa de lá.
Concluindo o tema, para respeitar o tempo (riso), é bom a gente pensar um aspecto que às vezes é negligenciado. Antes de vir para cá eu estava ouvindo Míriam Leitão fazer um comentário sobre os problemas do Eike Batista. Ela disse o seguinte: Não, o Eike Batista era um homem da velha economia, porque só trabalhava com portos, mineração, petróleo. Nós estamos na nova economia. Quer dizer, é um homem ultrapassado.
Vejam bem a armadilha de raciocínio que está por trás disso. Quando se fala em nova economia, fala-se em tecnologia da informação, comunicações, energias alternativas, energia fotovoltaica, energia eólica. Parece que essa nova economia não precisa de minérios. Mas é o contrário, é uma grande consumidora dos minérios tradicionais e ainda aumenta o consumo de outros de que a gente nem ouvia falar.
Então, a mineração parece velha economia, segundo Míriam Leitão, e vai acabar daqui a alguns anos porque é velha economia; tudo vai ser nova economia. Isso é uma falácia, e a gente tem que tomar cuidado para não cair nela. Pelo contrário, quanto mais a economia se desenvolve, quanto mais novas tecnologias se desenvolvem, mais são acessíveis à população mundial e mais vão demandar produtos, como nióbio, da CBMM, e terras-raras, que os chineses vendem e que nós temos. Ou seja, mineração é a base de sustentação do desenvolvimento econômico, junto com agricultura, sem dúvida. Mas elas perderam um pouco o charme. E parece que a nova economia é essa aí, e essas outras são todas coisas do passado, estão obsoletas. Certamente não é assim. Cuidado para não caírem na armadilha de Míriam Leitão! Aliás, não é só dela, não, é de muitas outras redes.
Isso mostra a importância do tema, a relevância do assunto que está sendo tratado no Congresso Nacional. Na realidade, a gente constata que o esforço nacional nesse setor tem estado no mínimo em descompasso com as preocupações que existem no cenário mundial. A gente mostrou a preocupação dos Estados Unidos, da Coreia do Sul, da União Europeia. No mínimo, as nossas preocupações estão descompassadas. Isso torna necessário um reposicionamento em curto prazo. E a gente vê, com muita esperança, que essas discussões acerca do projeto de lei do novo marco regulatório mineral vão trazer esse reposicionamento, no sentido de garantir nosso próprio futuro, lembrando que sem minério não há futuro.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Rodrigo de Castro) - A Presidência agradece ao Sr. Leonam e concede a palavra ao Dr. Paulo César Ribeiro Lima, Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados
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O AÇO E O NIÓBIO

https://vigilemusoculum.wordpress.com/2012/12/30/o-aco-e-o-niobio/

O golpe permanente; Dívidas públicas