Politicamente correto: o que é, de onde veio e para onde pode nos levar
Dra. Marli Nogueira, juíza do TRT da 10ª Região, Brasília
Em seu célebre manifesto, Karl Marx e Friedrich Engels faziam aos seus contemporâneos, em tom ameaçador, a seguinte advertência: “Um fantasma ronda a Europa– o fantasma do comunismo”. Passados mais de 150 anos, um novo fantasma, igualmente ideológico e totalitário, volta a assombrar o Ocidente: o fantasma do politicamente correto.
O que é e de onde veio esse novo e poderoso inimigo da liberdade? (*)
Politicamente correto (PC) é o mesmo que marxismo cultural. É marxismo traduzido de termos econômicos para termos culturais.
O marxismo cultural do PC, como a economia marxista, tem uma singular explicação da história. A economia marxista afirma que toda a história é determinada pela propriedade dos meios de produção. O marxismo cultural, ou politicamente correto, afirma que a história é determinada pelo poder, onde grupos são definidos em termos de raça, sexo, etc., e têm poder sobre outros grupos. Nada mais importa.
Daí a natureza ideológica e potencialmente totalitária dessas manifestações. Totalitária porque a essência de todas as ideologias consiste em espremer a realidade para dentro de uma teoria – como ocorre, por exemplo, com a idéia de que toda a história de nossaculturase resume à opressão das mulheres. Como a realidade contradiz essa teoria, ela mesma deve ser proibida, o que é feito pelos Estados que se tornaram reféns das ideologias. É por isso que as ideologias são potenciais geradoras de Estados totalitários.
O caráter totalitário do PC se revela claramente nas universidades. Ali onde se deveria esperar que reinasse a mais completa e irrestrita liberdade de pensamento e de expressão, estudantes e professores que se atrevam a desafiar os códigos verbais estabelecidos em suposto benefício de certos grupos arriscam-se a sofrer punições administrativas e mesmo judiciais. Dentro do sistema legal da universidade, eles enfrentam acusações formais, procedimentos inquisitórios e punição. Essa é uma pequena amostra do que o PC pretende para toda a sociedade.
Outro paralelo: do mesmo modo que certos grupos na economia marxista clássica – p. ex., trabalhadores e camponeses -, são “bons” a priori, e outros gurpos – p. ex., burgueses e capitalistas -, são “maus”, no marxismo cultural politicamente correto certos grupos também são “bons” a priori – mulheres feministas (somente elas, mulheres não-feministas são tidas como inexistentes), negros, indígenas, homossexuais. Esses grupos são escolhidos para ser “vítimas” e, por isso, são automaticamente “bons”, não importa o que façam. Inversamente, machos brancos são escolhidos para ser “maus”, tornando-se, desse modo, o equivalente dos burgueses na ideologia marxista.
Além disso, o marxismo econômico e marxismo cultural baseiam-se na expropriação. Quando os comunistas tomaram o poder na Rússia, eles expropriaram a burguesia tomando suas propriedades. Do mesmo modo, quando marxistas culturais tomam um campus universitário, eles se apropriam de vagas por meio de cotas de admissão. Quando um estudante branco mais qualificado tem a admissão negada em favor de um negro ou de indígena não tão qualificado, o estudante branco é expropriado. Empresas de propriedade de brancos não conseguem um contrato porque este é reservado para uma empresa de, digamos, negros ou mulheres. Logo, a expropriação é a principal ferramenta para ambas as formas de marxismo.
E, finalmente, ambos têm um método de análise que oferece automaticamente a resposta desejada. Para o marxista clássico, o método é a própria economia marxista. Para o marxista cultural, o método é o desconstrucionismo. O desconstrucionismo remove todo o sentido de um texto, substituindo-o por qualquer sentido desejado. Então se descobre, por exemplo, que toda a obra de Shakespeare é sobre a opressão das mulheres, ou a Bíblia é sobre raça e sexo. Todos esses textos tornaram-se úteis para provar que “toda a História é sobre quais grupos têm poder sobre os outros”. Por isso os paralelismos são tão evidentes entre o marxismo clássico – que nós conhecemos da antiga União Soviética – e o marxismo cultural, que nós vemos hoje sob a forma do politicamente correto.
Mas as semelhanças não são acidentais. O PC tem uma história bem mais antiga do que geralmente se pensa.
De acordo com a teoria marxista, quando a guerra generalizada na Europa chegasse (como aconteceu em 1914), a classe trabalhadora da Europa se levantaria e derrubaria seus respectivos governos – os governos burgueses -, pois se acreditava que os trabalhadores tinham mais em comum com os seus pares de outros países do que com a burguesia e a classe dominante nos seus próprios países. A guerra chegou e isso não aconteceu. Por toda a Europa os trabalhadores agarraram-se às suas bandeiras nacionais e marcharam satisfeitos para lutar uns contra os outros. Alguma coisa estava errada.
Os marxistas sabiam que, por definição, esse algo não podia ser a teoria. E dois marxistas começaram a pensar nisso: Antonio Gramsci, na Itália, e Georg Lukacs, na Hungria. Gramsci disse que os trabalhadores jamais iriam perceber os seus verdadeiros interesses de classe, assim como definidos pelo marxismo, até serem libertados da cultura ocidental, particularmente do Cristianismo, já que todos eles estavam cegos, pela religião e pela cultura, aos seus reais interesses de classe. Lukacs, que foi considerado o teórico marxista mais brilhante desde o próprio Marx, perguntou-se, em 1919: “Quem irá nos salvar da cultura ocidental?”
Em 1923, na Alemanha, foi fundado um centro de estudos que tomou para si a tarefa de traduzir o marxismo de termos econômicos para culturais, o que criou o discurso politicamente correto que conhecemos hoje.
Os trabalhos iniciais do Instituto eram convencionais, mas em 1930 assumiu um novo diretor, chamado Max Horkheimer, e as visões dele eram bem diferentes.
Horkheimer era muito interessado em Freud e a chave para que ele pudesse traduzir o marxismo de termos econômicos para termos culturais era precisamente sua combinação com o freudismo. Se, no começo de sua história, o Instituto preocupava-se principalmente com a subestrutura econômica da sociedade burguesa, nos anos que se seguiram sua atenção se voltou para a superestrutura cultural. De fato, a fórmula marxista tradicional, no que diz respeito à relação entre as duas, foi posta em questão pela Teoria Crítica.
Todas essas coisas da moda – feminismo radical, os departamentos de estudos das mulheres, dos gays, dos negros – são ramificações da Teoria Crítica, criada pela Escola de Frankfurt nos anos 1930. De acordo com essa teoria, a sociedade capitalista ocidental é repressora e deve ser, não apenas passivamente compreendida, mas desmistificada e transformada como um todo, para permitir a plena emancipação do indivíduo.
Outros membrosimportantes que se juntaram ao time foram Teodoro Adorno e, especialmente, Erich Fromm e Herbert Marcuse, que introduziram um elemento que é central no PC: o sexo. Marcuse, particularmente, clamava em seus escritos por uma sociedade“polimorficamente perversa”, sua definição para a sociedade futura que desejava criar. Na visão de Fromm, masculinidade e feminilidade não refletiam diferenças essenciais como então se acreditava. Na verdade, essas diferenças derivavam de funções da vida, que eram em parte socialmente determinadas. “Sexo é uma convenção; diferenças sexuais são convenções”.
Mas como as coisas chegaram a esse ponto? Como entraram em nossas universidades e em nossas vidas?
Os membros da Escola de Frankfurt são marxistas, mas também judeus. Em 1933, os nazistas tomaram o poder na Alemanha e, naturalmente, fecharam o Instituto de Pesquisa Social. Os membros do Instituto deixaram o país; foram para Nova York, onde o Instituto foi restabelecido com o apoio da Columbia University. E gradualmente os membros do Instituto, durante os anos 1930 – apesar de muitos deles ainda escreverem em alemão – mudaram o foco da Teoria Crítica da sociedade alemã para a sociedade americana.
Essas origens do PC não significariam muito para nós hoje não fossem dois eventos subseqüentes. O primeiro foi a rebelião dos estudantes nos anos 60, a qual se deu em grande parte pela resistência à convocação para as forças armadas e à Guerra do Vietnã. Mas os estudantes rebeldes precisavam de algum tipo de teoria. Eles não podiam simplesmente dizer: “Que se danem, nós não iremos”; precisavam de algum suporte teórico. Poucos deles estavam interessados em se embrenhar na leitura de “O Capital”. O marxismo econômico clássico não é nada leve e os radicais da década de 60, em sua maioria, eram pouco profundos. Felizmente para eles, e infelizmente para a sociedade ocidental – e não só para a universidade -, Herbert Marcuse permaneceu na América depois que a Escola de Frankfurt restabeleceu-se na Alemanha após o fim da Guerra. Herbert Marcuse viu na revolta a oportunidade de transformar os trabalhos da Escola de Frankfurt na teoria da New Left nos EUA.
Um dos livros de Marcuse foi essencial para o processo. Este livro transformou-se na bíblica dos SDS (Students for a Democratic Society) e dos estudantes rebeldes dos anos 1960. Em “Eros e Civilização”, Marcuse argumenta que a essência da ordem capitalista é a repressão, e isso resulta nas patologias descritas por Freud: o indivíduo com todos os complexos e neuroses em função do desejo sexual reprimido. É possível enxergar um futuro, diz ele, desde que se possa destruir a ordem repressiva vigente: sendo Eros liberado, será também liberada a libido, o que conduz ao mundo da “perversidade polimórfica” onde “cada um pode fazer o que quiser”. Diga-se de passagem, nesse mundo não haverá mais trabalho, somente diversão. Que mensagem maravilhosa para os radicais dos anos 60! Eles eram estudantes, eram baby-boomers, e estavam crescendo sem ter de se preocupar com nada, exceto em eventualmente arrumar um emprego. Marcuse foi o homem que inventou a frase “faça amor, não faça a guerra”.
Eis a gêneses do PC, expressão normativa do marxismo cultural. E para onde pode nos levar essa tendência?
Bem, o Ocidente passa hoje pela maior e mais terrível transformação na sua história. As democracias ocidentais estão se transformando em Estados ideológicos, países com uma doutrina oficial apoiada pelo poder estatal. Há pessoas cumprindo pena por “crimes de ódio”, ou seja, crimes políticos. E os legisladores movimentam-se no sentido de expandir essa categoria de crimes ainda mais. A política de cotas é parte disso. O terror contra qualquer um que ouse desafiar a cartilha do PC nas universidades é parte disso. Exatamente o que aconteceu na Rússia, na Alemanha, na Itália, na China, está ocorrendo entre nós.
Enganam-se os que pensam que o PC se resume a iniciativas ridículas, mas inofensivas. As conhecidas “cartilhas” – como aquela recentemente editada pelo governo federal – são o primeiro passo para a criminalização do uso de certas palavras e expressões.
Um vez contaminado pela mentalidade mesquinha do PC, o tecido social se esgarçará ainda mais, graças à multiplicação de conflitos individuais que serão estimulados pela exacerbação de suscetibilidades relacionadas ao seco, origem, raça, religião etc.
Por tudo isso é preciso dizer NÃO à ditadura do PC. Resistir e desafiar esse modismo totalitário; exigir a todo custo que se respeite a garantia constitucional da liberdade de pensamento e de expressão.
É preciso defender a cátedra universitária, a tribuna e o púlpito contra a“novilíngua” denunciada por George Orwel e a “língua de pau” observada por Vladimir Volkoff. É preciso rechaçar as tentativas de criminalizar o uso de palavras e expressões; repudiar a moral de papelão do politicamento correto.
É preciso reagir com urgência contra essa ameaça cada vez menos sutil à liberdade de pensamento e de expressão.
(*) O texto a seguir se baseia em artigo de William S. Lind, publicado por Mídia Sem Máscara, em fevereiro de 2006, além de contribuição oferecida por Miguel Nagib e Félix Maier.
Obs.: O texto acima foi distribuído durante o lançamento do livro do embaixador José Osvaldo de Meira Penna, “Polemos – uma análise crítica do darwinismo”, em Brasília, no dia 19 de julho de 2006. Foi um “anexo” ao “Manifesto contra o politicamente correto” (confira, abaixo), feito para defender a perseguição movida por alunos da Universidade de Brasília contra o Prof. Paulo Kramer (F.M.).
Dra. Marli Nogueira, juíza do TRT da 10ª Região, Brasília
Em seu célebre manifesto, Karl Marx e Friedrich Engels faziam aos seus contemporâneos, em tom ameaçador, a seguinte advertência: “Um fantasma ronda a Europa– o fantasma do comunismo”. Passados mais de 150 anos, um novo fantasma, igualmente ideológico e totalitário, volta a assombrar o Ocidente: o fantasma do politicamente correto.
O que é e de onde veio esse novo e poderoso inimigo da liberdade? (*)
Politicamente correto (PC) é o mesmo que marxismo cultural. É marxismo traduzido de termos econômicos para termos culturais.
O marxismo cultural do PC, como a economia marxista, tem uma singular explicação da história. A economia marxista afirma que toda a história é determinada pela propriedade dos meios de produção. O marxismo cultural, ou politicamente correto, afirma que a história é determinada pelo poder, onde grupos são definidos em termos de raça, sexo, etc., e têm poder sobre outros grupos. Nada mais importa.
Daí a natureza ideológica e potencialmente totalitária dessas manifestações. Totalitária porque a essência de todas as ideologias consiste em espremer a realidade para dentro de uma teoria – como ocorre, por exemplo, com a idéia de que toda a história de nossaculturase resume à opressão das mulheres. Como a realidade contradiz essa teoria, ela mesma deve ser proibida, o que é feito pelos Estados que se tornaram reféns das ideologias. É por isso que as ideologias são potenciais geradoras de Estados totalitários.
O caráter totalitário do PC se revela claramente nas universidades. Ali onde se deveria esperar que reinasse a mais completa e irrestrita liberdade de pensamento e de expressão, estudantes e professores que se atrevam a desafiar os códigos verbais estabelecidos em suposto benefício de certos grupos arriscam-se a sofrer punições administrativas e mesmo judiciais. Dentro do sistema legal da universidade, eles enfrentam acusações formais, procedimentos inquisitórios e punição. Essa é uma pequena amostra do que o PC pretende para toda a sociedade.
Outro paralelo: do mesmo modo que certos grupos na economia marxista clássica – p. ex., trabalhadores e camponeses -, são “bons” a priori, e outros gurpos – p. ex., burgueses e capitalistas -, são “maus”, no marxismo cultural politicamente correto certos grupos também são “bons” a priori – mulheres feministas (somente elas, mulheres não-feministas são tidas como inexistentes), negros, indígenas, homossexuais. Esses grupos são escolhidos para ser “vítimas” e, por isso, são automaticamente “bons”, não importa o que façam. Inversamente, machos brancos são escolhidos para ser “maus”, tornando-se, desse modo, o equivalente dos burgueses na ideologia marxista.
Além disso, o marxismo econômico e marxismo cultural baseiam-se na expropriação. Quando os comunistas tomaram o poder na Rússia, eles expropriaram a burguesia tomando suas propriedades. Do mesmo modo, quando marxistas culturais tomam um campus universitário, eles se apropriam de vagas por meio de cotas de admissão. Quando um estudante branco mais qualificado tem a admissão negada em favor de um negro ou de indígena não tão qualificado, o estudante branco é expropriado. Empresas de propriedade de brancos não conseguem um contrato porque este é reservado para uma empresa de, digamos, negros ou mulheres. Logo, a expropriação é a principal ferramenta para ambas as formas de marxismo.
E, finalmente, ambos têm um método de análise que oferece automaticamente a resposta desejada. Para o marxista clássico, o método é a própria economia marxista. Para o marxista cultural, o método é o desconstrucionismo. O desconstrucionismo remove todo o sentido de um texto, substituindo-o por qualquer sentido desejado. Então se descobre, por exemplo, que toda a obra de Shakespeare é sobre a opressão das mulheres, ou a Bíblia é sobre raça e sexo. Todos esses textos tornaram-se úteis para provar que “toda a História é sobre quais grupos têm poder sobre os outros”. Por isso os paralelismos são tão evidentes entre o marxismo clássico – que nós conhecemos da antiga União Soviética – e o marxismo cultural, que nós vemos hoje sob a forma do politicamente correto.
Mas as semelhanças não são acidentais. O PC tem uma história bem mais antiga do que geralmente se pensa.
De acordo com a teoria marxista, quando a guerra generalizada na Europa chegasse (como aconteceu em 1914), a classe trabalhadora da Europa se levantaria e derrubaria seus respectivos governos – os governos burgueses -, pois se acreditava que os trabalhadores tinham mais em comum com os seus pares de outros países do que com a burguesia e a classe dominante nos seus próprios países. A guerra chegou e isso não aconteceu. Por toda a Europa os trabalhadores agarraram-se às suas bandeiras nacionais e marcharam satisfeitos para lutar uns contra os outros. Alguma coisa estava errada.
Os marxistas sabiam que, por definição, esse algo não podia ser a teoria. E dois marxistas começaram a pensar nisso: Antonio Gramsci, na Itália, e Georg Lukacs, na Hungria. Gramsci disse que os trabalhadores jamais iriam perceber os seus verdadeiros interesses de classe, assim como definidos pelo marxismo, até serem libertados da cultura ocidental, particularmente do Cristianismo, já que todos eles estavam cegos, pela religião e pela cultura, aos seus reais interesses de classe. Lukacs, que foi considerado o teórico marxista mais brilhante desde o próprio Marx, perguntou-se, em 1919: “Quem irá nos salvar da cultura ocidental?”
Em 1923, na Alemanha, foi fundado um centro de estudos que tomou para si a tarefa de traduzir o marxismo de termos econômicos para culturais, o que criou o discurso politicamente correto que conhecemos hoje.
Os trabalhos iniciais do Instituto eram convencionais, mas em 1930 assumiu um novo diretor, chamado Max Horkheimer, e as visões dele eram bem diferentes.
Horkheimer era muito interessado em Freud e a chave para que ele pudesse traduzir o marxismo de termos econômicos para termos culturais era precisamente sua combinação com o freudismo. Se, no começo de sua história, o Instituto preocupava-se principalmente com a subestrutura econômica da sociedade burguesa, nos anos que se seguiram sua atenção se voltou para a superestrutura cultural. De fato, a fórmula marxista tradicional, no que diz respeito à relação entre as duas, foi posta em questão pela Teoria Crítica.
Todas essas coisas da moda – feminismo radical, os departamentos de estudos das mulheres, dos gays, dos negros – são ramificações da Teoria Crítica, criada pela Escola de Frankfurt nos anos 1930. De acordo com essa teoria, a sociedade capitalista ocidental é repressora e deve ser, não apenas passivamente compreendida, mas desmistificada e transformada como um todo, para permitir a plena emancipação do indivíduo.
Outros membrosimportantes que se juntaram ao time foram Teodoro Adorno e, especialmente, Erich Fromm e Herbert Marcuse, que introduziram um elemento que é central no PC: o sexo. Marcuse, particularmente, clamava em seus escritos por uma sociedade“polimorficamente perversa”, sua definição para a sociedade futura que desejava criar. Na visão de Fromm, masculinidade e feminilidade não refletiam diferenças essenciais como então se acreditava. Na verdade, essas diferenças derivavam de funções da vida, que eram em parte socialmente determinadas. “Sexo é uma convenção; diferenças sexuais são convenções”.
Mas como as coisas chegaram a esse ponto? Como entraram em nossas universidades e em nossas vidas?
Os membros da Escola de Frankfurt são marxistas, mas também judeus. Em 1933, os nazistas tomaram o poder na Alemanha e, naturalmente, fecharam o Instituto de Pesquisa Social. Os membros do Instituto deixaram o país; foram para Nova York, onde o Instituto foi restabelecido com o apoio da Columbia University. E gradualmente os membros do Instituto, durante os anos 1930 – apesar de muitos deles ainda escreverem em alemão – mudaram o foco da Teoria Crítica da sociedade alemã para a sociedade americana.
Essas origens do PC não significariam muito para nós hoje não fossem dois eventos subseqüentes. O primeiro foi a rebelião dos estudantes nos anos 60, a qual se deu em grande parte pela resistência à convocação para as forças armadas e à Guerra do Vietnã. Mas os estudantes rebeldes precisavam de algum tipo de teoria. Eles não podiam simplesmente dizer: “Que se danem, nós não iremos”; precisavam de algum suporte teórico. Poucos deles estavam interessados em se embrenhar na leitura de “O Capital”. O marxismo econômico clássico não é nada leve e os radicais da década de 60, em sua maioria, eram pouco profundos. Felizmente para eles, e infelizmente para a sociedade ocidental – e não só para a universidade -, Herbert Marcuse permaneceu na América depois que a Escola de Frankfurt restabeleceu-se na Alemanha após o fim da Guerra. Herbert Marcuse viu na revolta a oportunidade de transformar os trabalhos da Escola de Frankfurt na teoria da New Left nos EUA.
Um dos livros de Marcuse foi essencial para o processo. Este livro transformou-se na bíblica dos SDS (Students for a Democratic Society) e dos estudantes rebeldes dos anos 1960. Em “Eros e Civilização”, Marcuse argumenta que a essência da ordem capitalista é a repressão, e isso resulta nas patologias descritas por Freud: o indivíduo com todos os complexos e neuroses em função do desejo sexual reprimido. É possível enxergar um futuro, diz ele, desde que se possa destruir a ordem repressiva vigente: sendo Eros liberado, será também liberada a libido, o que conduz ao mundo da “perversidade polimórfica” onde “cada um pode fazer o que quiser”. Diga-se de passagem, nesse mundo não haverá mais trabalho, somente diversão. Que mensagem maravilhosa para os radicais dos anos 60! Eles eram estudantes, eram baby-boomers, e estavam crescendo sem ter de se preocupar com nada, exceto em eventualmente arrumar um emprego. Marcuse foi o homem que inventou a frase “faça amor, não faça a guerra”.
Eis a gêneses do PC, expressão normativa do marxismo cultural. E para onde pode nos levar essa tendência?
Bem, o Ocidente passa hoje pela maior e mais terrível transformação na sua história. As democracias ocidentais estão se transformando em Estados ideológicos, países com uma doutrina oficial apoiada pelo poder estatal. Há pessoas cumprindo pena por “crimes de ódio”, ou seja, crimes políticos. E os legisladores movimentam-se no sentido de expandir essa categoria de crimes ainda mais. A política de cotas é parte disso. O terror contra qualquer um que ouse desafiar a cartilha do PC nas universidades é parte disso. Exatamente o que aconteceu na Rússia, na Alemanha, na Itália, na China, está ocorrendo entre nós.
Enganam-se os que pensam que o PC se resume a iniciativas ridículas, mas inofensivas. As conhecidas “cartilhas” – como aquela recentemente editada pelo governo federal – são o primeiro passo para a criminalização do uso de certas palavras e expressões.
Um vez contaminado pela mentalidade mesquinha do PC, o tecido social se esgarçará ainda mais, graças à multiplicação de conflitos individuais que serão estimulados pela exacerbação de suscetibilidades relacionadas ao seco, origem, raça, religião etc.
Por tudo isso é preciso dizer NÃO à ditadura do PC. Resistir e desafiar esse modismo totalitário; exigir a todo custo que se respeite a garantia constitucional da liberdade de pensamento e de expressão.
É preciso defender a cátedra universitária, a tribuna e o púlpito contra a“novilíngua” denunciada por George Orwel e a “língua de pau” observada por Vladimir Volkoff. É preciso rechaçar as tentativas de criminalizar o uso de palavras e expressões; repudiar a moral de papelão do politicamento correto.
É preciso reagir com urgência contra essa ameaça cada vez menos sutil à liberdade de pensamento e de expressão.
(*) O texto a seguir se baseia em artigo de William S. Lind, publicado por Mídia Sem Máscara, em fevereiro de 2006, além de contribuição oferecida por Miguel Nagib e Félix Maier.
Obs.: O texto acima foi distribuído durante o lançamento do livro do embaixador José Osvaldo de Meira Penna, “Polemos – uma análise crítica do darwinismo”, em Brasília, no dia 19 de julho de 2006. Foi um “anexo” ao “Manifesto contra o politicamente correto” (confira, abaixo), feito para defender a perseguição movida por alunos da Universidade de Brasília contra o Prof. Paulo Kramer (F.M.).
"Você sabia que o "politicamente correto" é uma estratégia criada pela esquerda internacional para fazer com que os próprios cidadãos se policiem uns aos outros, numa espécie de polícia política, enquanto o Estado, tirando proveito político dela, vai nos transformando em criminosos, sujeitos a penas de prisão, pelo simples fato de emitirmos nossa opinião e de dizermos o que sentimos sobre os mais variados assuntos?
Você já parou para pensar que quando o integrante de uma "minoria" é beneficiado por políticas assistencialistas, todos os demais cidadãos que não fazem parte dessa "minoria" são expropriados em seu direito de concorrer livremente com ele?
Você gostaria de perder o sagrado direito à liberdade de expressão, mesmo que a sua expressão possa ser considerada deselegante ou mal educada?
Você acha que cabe à classe política ditar regras de educação para o povo, quando ela própria só dá péssimos exemplos por meio de mentiras, corrupção, apadrinhamentos, assassinatos e cumplicidade com o crime organizado?
Você gosta de ser enganado com estratégias desse tipo, enquanto o Estado vai surrupiando quase metade do seu salário em impostos, sem empregá-los em seus devidos fins, e depois joga a responsabilidade por todas as nossas mazelas na "sociedade", da qual você faz parte, criando-lhe um sentimento de culpa que você não poderia e não deveria carregar?
Se você é uma pessoa que tem família e que foi educado de acordo com os valores tradicionais da civilização ocidental (liberdade e responsabilidade individual, direito de propriedade – seja ela um simples lápis ou uma grande fazenda –, respeito aos mais velhos, à verdadeira autoridade e às leis, além de amor ao próximo e outros tantos valores que por milênios imperaram entre os homens), está na hora de abrir os olhos antes que lhe cassem todos esses valores.
Não permita, jamais, que lhe retirem o direito à liberdade de expressão, um dos fatores mais marcantes da personalidade de cada um de nós.
Não se esqueça de que você tem, sim, todo o direito de dizer as palavras que quiser, de expressar a sua opinião sobre o que bem entender, porque você tem capacidade e discernimento suficientes para saber o que está dizendo.
DIGA NÃO AO "POLITICAMENTE CORRETO". PORQUE CORRETO É VOCÊ SER VOCÊ MESMO, EM SUA INTEIREZA, E NÃO O BONECO QUE O ESTADO QUER QUE VOCÊ SEJA! DEFENDA O SAGRADO DIREITO À LIBERDADE DE EXPRESSÃO, ANTES QUE VOCÊ SEJA O PRÓXIMO A TER DE CONTRATAR UM ADVOGADO OU A PARAR ATRÁS DAS GRADES!
REPASSEM...