O silêncio e a condescendência da mídia e dos analistas econômicos para a má gestão da dívida pública no Brasil se explica basicamente pela condição dos próprios interesses rentistas serem direta e indiretamente beneficiados através da captura de parcela significativa dos recursos públicos. Os governantes civil TODOS, protegeram o pagamento dos juros aos detentores privados da dívida pública, impondo simultaneamente o desembarque dos pobres das políticas públicas, o desmonte das áreas sociais (saúde, habitação, educação, assistência e outras), da infraestrutura (estradas, portos, aeroportos e outras) e dos investimentos na economia.
Quando um governo gasta mais do que arrecada e não tem economistas para cobrir os títulos que vão vencendo, ele emite moeda e o mercado, sabendo da situação do país, essa divisa perde valor. Com isso aumenta a inflação, como ocorreu no Brasil na década de 1980, porque o país deu calote na dívida externa. Hoje, apesar de a dívida externa ser baixa, em R$ 227 bilhões, o equivalente a 3,4% do PIB, a interna é gigantesca: chega a R$ 4,7 trilhões, ou 71,6% do PIB, conforme os dados do BC.
A dívida bruta geral do governo brasileiro em abril de 2018 chegou a R$ 4,927 trilhões e corresponde a 76,3% do PIB Produto Interno Bruto.
Também durante os anos de hegemonia do neoliberalismo nos governos de FHC (1995-2002), a Dívida Líquida Consolidada do Setor Público cresceu exorbitantemente, com o silêncio e a condescendência da mídia e dos comentaristas e analistas do mercado financeiro. Entre 1995 e 2002, por exemplo, a dívida pública liquida saltou de 30% para 60% do PIB, com elevação acumulada de 114% (ou 0,9% ao mês).
Com a entrada da equipe econômica de Temer, aquela dos "sonhos do mercado financeiro", com Henrique Meirelles, o receituário neoliberal ganhou força, sem que a "desordem das finanças públicas" fosse contida. Pelo contrário, a Dívida Líquida Consolidada do Setor Público saltou de 39,2%, em maio de 2016, para 52% do PIB em fevereiro de 2018, isto é, a elevação de 32,6% acumulados em 21 meses (ou 1,4% ao mês).
Com política de Temer e Meirelles, dívida pública do Brasil pode chegar a quase 100% do PIB, segundo FMI
Mesmo com a Dívida Líquida Consolidada do Setor Público sob o receituário neoliberal aplicado pelo governo Temer tendo sito multiplicado por 28 vezes mais rapidamente que no mandato de Dilma, o tema praticamente desapareceu do noticiário nacional. Interessante observar ainda o "esquecimento" da mídia e dos comentaristas e analistas neoliberais do fato de o Brasil caminhar rapidamente para a 12ª maior dívida pública do planeta, detendo uma das mais elevadas taxas juros reais do mundo e assumindo a quarta posição internacional de maior gasto com o pagamento de juros da dívida pública em relação ao PIB.
De acordo com estudo do CEPR (Center for Economic and Policy Research) em 183 países, o Brasil somente registra comprometimento com despesas com a dívida pública menor que o Iêmen (8,36%), a Gâmbia (8,81%) e o Líbano (9,15% do PIB). Em síntese, nações que se encontram submetidas a conflitos internos e que apontam risco de não pagamento dos compromissos financeiros, bem diferente da situação brasileira.[1]
[1] *Marcio Pochmann é economista. É Professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, ambos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
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