domingo, 22 de abril de 2018

General Sylvio Frota demitido pelos Generais Geisel e Golbery no dia seguinte houve a "abertura"

Escrito entre 1978 e 1980, "Ideais Traídos" narra os confrontos do ministro do Exército General Sylvio Frota com o presidente Geisel.
Resultado de imagem para MINISTRO DO EXÉRCITO SYLVIO FROTA.

O general Sylvio Frota observa que 1964 não foi uma verdadeira Revolução, mas um golpe de Estado. Assinala que a Arena tinha muito pouco de renovadora, pois representava a restauração dos "comportamentos oligárquicos", e afirma que a cassação dos antigos líderes de esquerda favoreceu a oposição, pois abriu caminho para sua renovação de seus quadros, o que que não ocorreu com o partido governista.

Como vivem hoje os "comunistas" da lista do general Sylvio Frota

Em 1977, uma briga na cúpula da ditadura resultou na divulgação de uma lista com os "comunistas infiltrados" no serviço público, entre eles Dilma Rousseff

Livro de Frota traz a versão da "linha-dura"
MAURICIO PULS
DA REDAÇÃO

Nove anos após a morte do general Sylvio Frota (1910-1996), a editora Jorge Zahar publica sua versão sobre os acontecimentos que culminaram na demissão do então ministro do Exército pelo presidente Ernesto Geisel, em 12 de outubro de 1977. Escrito entre 1978 e 1980, "Ideais Traídos" expõe o ponto de vista dos militares da chamada "linha-dura", que se opunha frontalmente ao restabelecimento da democracia no país.
A esse respeito, Frota é bastante claro: "As revoluções não marcam limites no tempo. Elas, dentro da doutrina que esposaram e vêm difundir, elaboram e impõem as leis que vigorarão na nova ordem. Semeiam seus princípios, especialmente na juventude, visando a dar-lhes raízes para sustentá-la até longínquo futuro. Por conseguinte, não têm prazos e somente se exaurem com a integral concretização de seus objetivos".
Dessa perspectiva, o presidente Geisel era um traidor, que chefiava um "governo de centro-esquerda". Ora, a centro-esquerda é a posição daqueles que, "tendo pendores marxistas, vêem nas reações conjunturais obstáculos difíceis de transpor para uma realização completa de seus objetivos; é apenas uma posição de espera. Defino-os como criptossocialistas". O ministro não tinha dúvidas de que seu governo conduziria o Brasil ao socialismo e, a longo prazo, ao comunismo.
Muitos eram os sinais dessa orientação: as pressões de Geisel para "destruir o sistema de segurança interna", o reconhecimento da República Popular da China, em 1974, que abriu caminho para "a penetração amarela no Brasil", e o reconhecimento da República de Angola. O próprio Frota enviou ao SNI, em 1977, uma lista com 96 comunistas infiltrados na administração pública, mas o governo não lhe deu importância.
O leitor contemporâneo provavelmente ficará espantado com a facilidade com que Frota divisava comunistas em toda parte -da Democracia-Cristã até a Anistia Internacional. A linha-dura possuía um critério muito claro para distinguir os bons dos maus: quem não está conosco está contra nós. Desse ponto de vista, todos os adversários pareciam infectados pelo esquerdismo. Nem os articuladores do golpe de 1964 estavam a salvo: o grupo de Castello Branco tinha inclinações "liberais centro-esquerdistas", e o do general Afonso de Albuquerque Lima, "fortes tinturas socialistas". Como observa Sartre em "Questão de Método", o pensamento totalitário consiste numa empresa de eliminação que se identifica com "o Terror pela sua recusa inflexível de diferenciar: seu objetivo é a assimilação total ao preço do menor esforço. Não se trata de realizar a integração do diverso guardando sua autonomia relativa, mas de suprimi-lo".

Problema da obediência
Em contraposição ao presidente, Frota julgava ser o verdadeiro defensor dos ideais de 1964. Nesse sentido, ele não devia obediência a Geisel: "Um ministro militar é, do meu ponto de vista, primordialmente, o representante e defensor de sua Força junto ao presidente e, secundariamente, um delegado deste na instituição. Em última análise, quando no confronto de opiniões os obstáculos tornam-se intransponíveis e a conciliação impossível, impõe-se ao titular da pasta solidarizar-se com o pensamento de sua Força".
É fácil perceber que o modelo de Frota é o general Costa e Silva que, tendo tomado o Ministério da Guerra após a queda de João Goulart, impôs sua candidatura à Presidência. Frota não esconde sua admiração por ele: "O general Costa e Silva definia-se em todos os seus atos como chefe "dominante", destinado a imperar nos períodos de desintegração e violência, em que a acomodação é ridícula ingenuidade e durante os quais só a força é argumento entendido e obedecido". A tentativa de reeditar a história fracassou: o o ministro foi exonerado, e o presidente impôs o nome de seu candidato à sucessão. Aqui reside o núcleo do livro: o problema da insubordinação militar. Frota sustenta que foi traído pelos demais generais, pois estes deviam obediência a ele, e não ao presidente.
Os demais generais, não pensavam do mesmo modo. Antes de sua demissão houve muitos sinais de que Frota não tinha suficiente apoio no Exército para enfrentar Geisel. O primeiro deles surgiu em outubro de 1975, quando "suicidou-se o jornalista Wladimir Herzog, como provado ficou em inquérito policial militar". No Congresso, o senador Leite Chaves, ao fazer um aparte, comparou os torturadores à SS de Adolf Hitler. Frota exigiu a cassação do senador. Geisel se recusou, afirmando que o senador faria uma retratação. Frota esperava que o Alto Comando do Exército enquadrasse o presidente, mas isso não ocorreu, pois os generais avaliaram que "o ministro não tinha razão; o presidente era o comandante supremo das Forças Armadas, podia tomar aquela decisão".

Derrota
Frota julga que, naquele episódio, Geisel já tinha conseguido "subjugar o Exército": "Os generais curvaram-se, com excessivas flexibilidade e rapidez, diante da decisão presidencial. Não deveriam tê-lo feito". O mesmo fato se repetiu em janeiro de 1976, quando Geisel determinou a exoneração do comandante do 2º Exército, general Ednardo D'Ávila Mello, após outro "suicídio" em São Paulo, o de Manoel Fiel Filho.
Apesar disso, o ministro inicia, ainda em 1976, sua aproximação com os congressistas da Arena que logo lançariam sua candidatura à Presidência. Frota nega que tenha incentivado esse movimento ("esses fatos e entendimentos, está claro, ocorreram à minha revelia"), mas deixa claro que nunca desestimulou seus aliados.
Ele narra com detalhes todos os acontecimentos que resultaram em sua demissão, em 12 de outubro de 1977, e sua tentativa de reunir o Alto Comando do Exército naquele mesmo dia: "O que eu procurava, naqueles momentos difíceis, era expor aos meus colegas do Alto Comando uma série de fatos e manipulações astuciosas que os homens do quarto governo da Revolução punham em prática para sua preservação no poder. Dir-lhes-ia que a Revolução estertorava, no abandono de seus princípios, acalentando idéias que condenávamos em 1964... Minha missão revolucionária terminaria aí; meus colegas que agissem como bem entendessem". Com isso, Frota esperava forçar o presidente a recuar.
O Palácio do Planalto, porém, entrou em contato com os generais que desembarcavam em Brasília, que foram conduzidos até Geisel. Abandonado até por velhos amigos, Frota passou o cargo ao sucessor nesse mesmo dia.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2603200619.htm

Nenhum comentário: