Comentário: Sem dúvida um artigo pertinente e oportuno.
Pouca gente percebe que a corrupção no Brasil se tornou sistêmica, há muito tempo.
Assim, a maioria das pessoas, desinformada pela grande mídia, preocupa-se somente com os casos divulgados por esta, a qual aponta naturalmente preferencialmente para os não pertencentes ao inner circle dos laranjas e demais associados dos concentradores imperiais, da oligarquia financeira principalmente anglo-americana.
Isso não quer dizer que os atualmente indigitados, em geral petistas, não sejam servidores dessa oligarquia. Mas não são os mais intimamente ligados a ela. Tampouco não quer dizer que essa oligarquia não vá permitir no futuro alijar também alguns dos outros, em caso de necessidade.
Fomenta-se a ilusão de que o sistema político implantado no País, mediante o expurgo e punição de alguns políticos, teria a possibilidade de se manter de pé sem continuar arrastando o Brasil para o fundo do poço em todos campos: econômico, social, político, cultural etc.´
De há muito, eu recomendava que se examinassem as causas estruturais e históricas da corrupção sistêmica, que começa com os concentradores econômicos e financeiros mundiais, fomentando golpes, cooptando não só políticos, mas quadros públicos e privados em todas áreas-chave, organizando sua rede de laranjas e agentes, e por aí vai.
A transparência em relação à corrupção não abrange nem a corrupção sistêmica nem a percepção das raízes dela. Fica restrita à corrupção de varejo, nos casos em que os reais donos do poder, sediados no exterior e seus principais agentes locais, não figuram nem no pólo ativo nem no pólo passivo da corrupção.
Em suma, a transparência (ainda assim imperfeita) só fica na rama. Ela não atinge nem os galhos, menos ainda o tronco e menos ainda a raiz. E das folhas não pega todas: não toca as que se ligam aos galhos mais vinculados à desnacionalização e à privataria. É da raiz e do tronco que as bactérias da corrupção se alastram por toda a árvore.
Adriano Benayon Enviado: Qua 08/08/12 21:49
Desde o início, o mensalão foi apresentado em partes pela grande maioria dos veículos da imprensa nacional dessa maneira. Vários se deleitaram em mostrá-lo como um caso de corrupção que deixaria evidente a maneira com que o PT, até então paladino da ética, havia assegurado maioria parlamentar na base da compra de votos e da corrupção. No entanto o mensalão era muito mais do que isso.
Na verdade, ele mostrava como a democracia brasileira só funcionava com uma grande parte de seus processos ocultados pelas sombras. O jogo ilícito de financiamento de campanha e de uso das benesses do Estado deixava evidente como nossa democracia caminhava para ser uma plutocracia, independentemente dos partidos no poder.Como a Folha mostrou em uma entrevista antológica, o então presidente do maior partido da oposição, o senador Eduardo Azeredo, havia sido um dos idealizadores desse esquema, que, como ele mesmo afirmou, não foi usado apenas para sua campanha estadual, mas para arrecadar fundos para a campanha presidencial de seu partido.
Não por acaso, o operador chave do esquema, o publicitário Marcos Valério, já tinha várias contas de publicidade no governo FHC. Ninguém acredita que foi graças à sua competência profissional.
Ou seja, a partir do mensalão, ficou claro como o Brasil era um país no qual a característica fundamental dos escândalos de corrupção é envolver todos os grandes partidos.
Mas, em vez de essa situação nos mobilizar para exigir mudanças estruturais na política brasileira (como financiamento público de campanha, reformas que permitissem ao partido vencedor constituir mais facilmente maiorias no Congresso, proibição de contratos do Estado com agências de publicidade etc.), ela serve atualmente apenas para simpatizantes de um partido jogar nas costas do outro a conta do “maior caso de corrupção do pais”.
No entanto essa conta deve ser paga por mais gente do que os réus arrolados no caso do mensalão. O STF teria feito um serviço ao Brasil se colocasse os acusados do PT e do PSDB na mesma barra do tribunal. Que fossem todos juntos!
Saiu na página 2 da Folha (*), artigo espetacular do Vladimir Safatle sobre o mensalão
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