Pesquisas apontam que atualmente metade dos brasileiros estão conectados à internet. O número se deve menos aos esforços do governo e mais à ação do mercado e de ONGs.
Pouco mais da metade (51%) da população brasileira está conectada à internet, seja por telefone, seja por computador, de acordo com uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com a empresa Telefónica. Vendo a estatística por outro lado, praticamente metade da população ainda está excluída do uso de algum tipo de tecnologia da informação.
O Brasil ocupa a 72ª posição, entre 156 países, no índice eleborado pela Fundação Getulio Vargas. A Suécia desponta no topo da lista, com 95,8%. No fim está a República Centro-Africana, com pouco mais de 5% de pessoas conectadas por celular ou internet. A Alemanha ocupa a 30ª colocação, com 83%.
Num intervalo de onze anos, o número de brasileiros com acesso à internet explodiu, passando de 2,87% da população em 2000 para 45% em 2011, segundo um relatório divulgado pela União Internacional das Telecomunicações (UIT), a agência das Nações Unidas dedicada a temas relacionados às tecnologias da informação e comunicação.
ONGs e mercado
De acordo com o professor Cláudio Bertolli, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), um país da extensão do Brasil teria que apresentar um índice bem maior de pessoas conectadas para que se possa falar em política de inclusão digital eficiente. Além disso, salienta, os dados apresentados estão ligados ao processo de liberalização econômica ocorrido na década de 1990 e não às políticas públicas.
"Ao ingressar no período conhecido como neoliberalismo, o governo brasileiro passou muitas das atividades para a iniciativa privada. Assim, se constantemente ouve-se falar em 'política de inclusão', ela é pouco efetiva. Coube às empresas multi e transnacionais criarem condições para a expansão dos seus serviços e o relativo barateamento deles", avalia Bertolli.
Para Rodrigo Baggio, presidente do Comitê para Democratização da Informática (CDI), uma ONG que se dedica a projetos de inclusão digital, o índice brasileiro é o resultado de ações simultâneas, mas que pouco se relacionam com as políticas governamentais. "Primeiro está a atuação de ONGs, que criaram a demanda por inclusão. Depois vem o mercado, com a diminuição do preço dos computadores e facilidades de financiamento. E, por fim, as lan houses, que tiveram, e ainda têm, um papel importante na disseminação de tecnologia para determinada parte da população", diz.
Em 2011, o Brasil alcançou a marca de 242 milhões de celulares
No Brasil, 70% da população das classes D e E acessa a internet emlan houses. As classes D e E, ou seja, famílias que têm uma renda mensal de até 1.200 reais, correspondem a 63 milhões de pessoas atualmente no Brasil, conforme o IBGE. "As iniciativas do governo ainda precisam gerar mais impacto. A maioria das ações está focada em comprar computador e conectar a internet", completa.
Cenário ideal
Assim como a simples aquisição de caneta e caderno não tira uma pessoa do analfabetismo, comprar um computador e conectá-lo à internet não significa que a pessoa vá saber tirar proveito do conteúdo que o equipamento oferece. Ela corre o risco de se tornar um analfabeto digital.
Conforme Baggio, a inclusão digital é um pilar composto de cinco partes. O primeiro passo é possibilitar o acesso, ou seja, ter os equipamentos e tecnologias necessárias para a conexão. O segundo é a capacitação contínua de profissionais, o que inclui atenção especial aos professores. O terceiro é o acompanhamento para verificar se os projetos estão funcionando, porque apenas a implementação não é suficiente. O quarto é uma avaliação periódica da situação, já que a tecnologia e o mercado estão em constante mudança. A última parte refere-se ao lixo tecnológico – efeito colateral da inclusão digital. A geração de lixo eletrônico é uma preocupação mundial, pois afeta diretamente o meio ambiente e a saúde pública. É preciso viabilizar a reciclagem do material descartado.
O segredo na palma da mão
Os especialistas alertam que o país deve prestar atenção aos celulares. Eles são um dos principais responsáveis pelo índice de inclusão digital no Brasil passar da metade. Se forem deixados de lado, a porcentagem brasileira cai de 51% para 39%.
O pesquisador Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV e coordenador da pesquisa, alerta que o país precisa se dar conta de que o celular é essencial para esse avanço. "Olhamos muito para o computador com internet, e o celular ficou relegado a segundo plano. Mas o telefone móvel é uma plataforma que não requer mais educação e atinge mais pessoas, enquanto o computador em casa com internet se concentra nas classes A, B e um pouco na C. Parte das pessoas que não acessam a internet, por exemplo, de acordo com a pesquisas, alegaram que não o fazem porque não sabem mexer [no computador]."
Inclusão digital de fato é praticar o exercício da cidadania em todas as esferas: política, econômica, cultural e social. Esse processo aquece o mercado de trabalho e diminui as diferenças sociais. "Atualmente uma pessoa sem celular ou sem contato com a internet está excluída não só de informações, mas também de possibilidades de uma maior integração social", comenta o antropólogo Cláudio Bertolli.
O Brasil do futuro
Mesmo que a realidade pareça indicar o contrário, profissionais envolvidos com o tema são otimistas. De acordo com Neri, a presença da internet nos municípios cresce a uma taxa de 9% ao ano, e a tendência é que, em alguns anos, cerca de 70% da população brasileira esteja conectada.
Baggio segue na mesma expectativa. Ele diz que pode haver uma aceleração nesse cenário nos próximos cinco anos. Para ele, o Brasil está na metade do caminho, mas ainda tem uma longa jornada a percorrer. As ONGs continuarão a prestar serviços às comunidades e o mercado vai baratear ainda mais os preços dos equipamentos, principalmente dos smartphones.
E o poder público? Um dos desafios, além de aumentar a quantidade, é melhorar a qualidade da conexão. A disponibilização de banda larga em todo o país tem que ser ampliada nos próximos anos pelo governo brasileiro. "O aumento da eficiência dos programas é urgente e necessário."
Autora: Fernanda Azzolini
Revisão: Francis França
Revisão: Francis França
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