quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Eike Eliezer Batista O enigma


Genial. Aventureiro. Megalomaníaco. Exibicionista. Visionário. Quem é, afinal, Eike Batista, um dos empresários mais polêmicos do Brasil?

Pai de Eike, Eliezer Batista, em adendo nada mais que justo:
Que serviço vocês prestaram à coletividade. Desde 1956, quando comecei a fazer coluna e artigo no Diário de Notícias (continuando na Tribuna) Eliezer era meu personagem inestimável e prioritário. Não era perseguição-obsessão, e sim obrigação. Ele era dono e não presidente da Vale, a grande empresa de minérios, depois DOADA por FHC, o Brasil recebendo tostões em títulos desvalorizados.
Não há o que acrescentar, só ratificar e não retificar. Foi dono da Vale, depois dirigiu a Caemi, foi presidente da Minerações Brasileiras Reunidas, resultado da fusão da Caemi com a Bethlehem Steel e, logo em seguida, o de vice-presidente da Itabira International Company (Nova Iorque). Depos, assumiu a diretoria da Itabira Eisenerz GmbH, em Düsseldorf, Alemanha Ocidental, posto no qual permaneceu até 1974, quando passou a dominar a Rio Doce Internacional S.A., subsidiária da Vale em Bruxelas.
Viajou muito, morou várias vezes no exterior. Mais de um ano na União Soviética e quase dois anos na Alemanha, onde casou com Jutta Fuhrken, natural de Hamburgo, e desse casamento nasceram sete filhos, dentre eles Eike Batista. Seus filhos e até um neto (Thor) têm esses nomes por causa da residência.
Inacreditável: presidentes da República e até ditadores não cobravam nada dele. Voltava, não precisava reassumir, retomava a rotina diária, sem o menor constrangimento.
PS - Deixou para o filho, fortuna em espécie e o mapa-da-mina mineral, começo (e parece que o fim) da aventura.
PS2 - Na única vez em que fingiu responder, indiretamente, afirmou: "Paguei 697 milhões de Imposto de Renda".
PS3 - Agora, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, afirmou audaciosamente: "O BNDES emprestou 37 bilhões, APENAS 10 BILHÕES foram para EIKE BATISTA.
PS4 - A desesperança chega ao apogeu, quando o presidente de um banco de fomento, estatal, EMPRESTA 10 BILHÕES a um aventureiro, e como ressalva, coloca a palavra A-P-E-N-A-S.
POR DARCIO OLIVEIRA
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FOTOS ERNANI D’ALMEIDA
O COLECIONADOR O livro nas mãos de Eike revela seu gosto por brinquedos caros, entre os quais o Mercedes de US$1,2 milhão estacionado em uma das seis salas de sua mansão no Jardim Botânico
Veja agora o que andam falando do herdeiro do Eliezer o empresário Eike Batista:
>>Ele vai montar carros em parceria com o indiano Ratan Tata, o inventor do Nano.
>>Planeja despoluir a Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro.
>> Recebeu seu primeiro jato executivo da Embraer, um Legacy 600, avaliado em US$ 26 milhões. Tem ainda uma encomenda de um Phenom 300. O gosto por aviões também fez com que planejasse investir US$ 100 milhões em um centro de treinamento de pilotos na Barra da Tijuca, com simuladores de vôo de modelos da Embraer, Boeing e Airbus.
>> Seu interesse estende-se à aviação comercial. Estaria negociando com David Neeleman, da JetBlue, uma participação na companhia aérea que irá fundar no Brasil.
>> Ele quer ultrapassar a fortuna de Bill Gates.
>> Depois de comprar por R$ 80 milhões um dos cartões-postais do Rio de Janeiro, o tradicional Hotel Glória, vai investir mais R$ 80 milhões para transformá-lo num complexo de hospedagem, com unidades residenciais e comerciais.
O empresário que durante muito tempo celebrizou-se como o marido da modelo Luma de Oliveira, de quem está separado desde 2004, transformou-se em alvo constante de interesse da mídia. É o preço de ter se tornado o terceiro homem mais rico do Brasil em apenas quatro anos. Nem tudo o que falam dele é verdadeiro. Mas verdade seja dita: Eike Batista é o empresário mais polêmico do momento. Época NEGÓCIOS conversou com executivos, especialistas do mercado financeiro, consultores, economistas e um ex-ministro em busca de depoimentos que ajudassem a construir seu perfil. A lista de adjetivos é numerosa e complexa. Eis alguns deles: aventureiro. Agressivo. Brilhante. Ousado. Exibicionista. Megalomaníaco. Visionário. Poucos homens de negócios provocam reações tão distintas entre seus pares como esse mineiro de Governador Valadares, formado na Alemanha e radicado no Rio de Janeiro. Eike inspira e incomoda. Os que o admiram, consideram sua predisposição para o risco e a capacidade de atrair investidores para seus projetos como um exemplo de empreendedorismo moderno. Os críticos ainda vêem com ceticismo o homem que anuncia um novo e mirabolante negócio a cada semana. Goste-se ou não de seu estilo, a verdade é que ele tem protagonizado alguns dos maiores lances empresariais dos últimos meses, como a venda de parte de sua mineradora MMX à Anglo American por US$ 5,5 bilhões - dos quais US$ 3 bilhões foram parar em seu bolso - e a compra de 21 blocos de exploração de petróleo nas bacias de Campos e Santos, por US$ 1,4 bilhão. Dizem que ali ele deve achar mais de 4 bilhões de barris do óleo. Lances como esses o tornaram subitamente bilionário, com direito a um lugar de destaque na lista dos mais ricos do mundo. Segundo a revista americana Forbes, a fortuna de Eike, com seus US$ 6,6 bilhões de patrimônio, só é inferior à do empresário Antônio Ermírio de Moraes e do banqueiro Joseph Safra. Pelas contas do próprio Eike, seu patrimônio já ultrapassou US$ 17 bilhões, o que o colocaria não somente na ponta do ranking nacional, como na galeria dos mais ricos do mundo.
Num país em que todos temem a falta de segurança, optando pela absoluta discrição, Eike fala abertamente de sua fortuna, de seus jatos, barcos, lanchas, de sua casa em Angra, das fazendas e de um Mercedes de US$ 1,2 milhão estacionado na sala de estar de sua mansão no Jardim Botânico. "Ele é uma espécie de Donald Trump sem o topete. Mas com a mesma inclinação para o exibicionismo", diz um rival do setor de mineração. "Ele se assemelha mais a Richard Branson, o britânico que comanda o grupo Virgin. É igualmente marqueteiro e alucinado por riscos", afirma Betania Tanure, pesquisadora da Fundação Dom Cabral. Alencar, o motorista de táxi que me conduziu ao escritório de Eike Batista, também palpita: "O que ele é? É o que eu queria ser. Cheio da grana e rodeado de mulheres". Sinal da popularidade do empresário.
NO MAR E NO AR
O valor dos mimos de Eike
 
O escritório da EBX, a holding de Eike que reúne empresas das áreas de mineração, logística, energia e petróleo, fica no 10º andar de um prédio comercial na Praia do Flamengo. Sua sala, com vista para a Baía de Guanabara, tem cerca de 50 metros quadrados, uma estante com livros técnicos e uma mesa de mogno com laptop, telefone e fotos de duas de suas maiores paixões: os filhos, Olin e Thor, e a lancha de corrida Spirit of Brazil, com a qual ele bateu o recorde de velocidade na travessia Rio-Santos. Eike Fuhrken Batista surge de terno azul-escuro, camisa azul royal, gravata vermelha e um Rolex no pulso. Os cabelos são claros, herança da mãe alemã e dos passeios de lancha sob o sol. Aos 50 anos, comemorados em novembro do ano passado, as têmporas já estão grisalhas. Depois de ouvir tantas declarações polêmicas, a primeira questão é inevitável: como se autodefine o empresário Eike Batista?
"Não sou aventureiro e muito menos vendedor de sonhos como dizem por aí. Estou em mineração há 24 anos, e se aumentei minha fortuna agora é porque estou colhendo tudo o que aprendi lá atrás. Não rasgo dinheiro. Há método e risco calculado no que faço. Não tem loucura. Tem ciência, muita pesquisa e parceiros de peso. Sou um empreendedor", diz, com um timbre de voz grave que faz lembrar locutores de rádio.
QUEM É EIKE BATISTA
>>>IDADE 50 anos
>>>ORIGEM Nasceu em Governador Valadares, Minas Gerais, em 3 de novembro de 1957
>>>FORMAÇÃO Engenharia metalúrgica, pela Universidade de Aachen, na Alemanha
>>>FAMÍLIA Divorciado da modelo Luma de Oliveira, com quem tem dois filhos: Thor (16 anos) e Olin (12)
>>>PATRIMÔNIO US$ 6,6 bilhões, segundo a revista americana Forbes
>>>ONDE MORA Jardim Botânico, no Rio de Janeiro
>>>HOBBY Competições off-shore (corrida de lanchas em alta velocidade) e musculação
>>>O QUE LÊ Jornais, revistas científicas e técnicas
>>>O QUE VÊ Só liga a TV para assistir ao canal Bloomberg ou a jogos do Botafogo

Fotos_Ernani D'Almeida; Ilustrações_Paola Lopes

Eike é o segundo dos sete filhos de Eliezer e Jutta Batista. O pai, ex-ministro do governo João Goulart e ex-presidente da Vale por duas décadas, é considerado até hoje o papa da mineração brasileira. Aos 84 anos, atua como conselheiro das empresas de Eike. A mãe, alemã, morreu em 2003. Em 1969, aos 12 anos, Eike abandonou o ginásio no colégio Corcovado e mudou-se com a família para Frankfurt. Como o pai tinha a missão de desenvolver a divisão internacional da Vale na Europa, nada mais natural que escolhesse a pátria da mulher para fixar residência. Aos 18, Eike entrou na faculdade para cursar engenharia metalúrgica em Aachen, tida como uma das melhores da Europa. "Grandes montadoras e construtoras européias buscam em Aachen boa parte de sua mão-de-obra", afirma Eike. Nessa época, aperfeiçoou o inglês e aprendeu francês, fruto da convivência com colegas de várias nacionalidades. O alemão, ele já falava em casa.
Foi nos tempos de universidade que ele descobriu seu lado empreendedor. "Meus pais, que haviam retornado ao Brasil, me mandavam mesada, mas no final do mês eu sempre estourava o orçamento. De uma hora para outra eu tive de me virar com casa, comida e roupa lavada, e não consegui administrar bem meus gastos." Resolveu ir à luta. Primeiro, como corretor de seguros, vendendo apólices de casa em casa na pequena Aachen. Depois, negociando produtos brasileiros com comerciantes na Europa e na África. "Era uma pequena trading. Eu vendia desde enlatados até granito e mármore", diz. A escalada de Eike Batista pode ser dividida em três fases. A primeira, iniciada nos anos 80, quando retornou da Alemanha. Eike soube de uma corrida do ouro na região de Alta Floresta, em Mato Grosso, e como tantos outros correu para lá, disposto a negociar com os garimpeiros locais. A idéia era se tornar intermediário na venda de pedras preciosas para os grandes centros do país. Ele providenciava os compradores para os garimpeiros e embolsava 5% da transação. A vida no mercado de ouro durou alguns meses, até que veio a chance de dar um salto maior.
Num país em que muitos temem pela falta de segurança, Eike ostenta sua fortuna
Com financiamento de amigos joalheiros de São Paulo e do Rio de Janeiro, ele conseguiu comprar a mina Novo Planeta, pertencente ao chefe dos garimpeiros locais, e deu início ao seu primeiro empreendimento. O chefe do garimpo era um baiano que atendia pela alcunha de Ditão - segundo Eike, "um negro forte e com cara de poucos amigos que controlava quase tudo em Alta Floresta, do garimpo à pista de pouso". Um ano depois do acordo com Ditão, Eike diz que já havia acumulado US$ 6 milhões. Com o dinheiro ganho, decidiu mecanizar a até então artesanal mina Novo Planeta. Sua inspiração veio de um projeto da empresa Paranapanema, que havia feito um processo industrial interessante com estanho, também um metal pesado. O sonho de automatizar a reserva de ouro custou caro ao jovem minerador. Eike torrou quase tudo o que havia amealhado no garimpo. Um dos erros foi ter subestimado a logística. Só se podia chegar à mina de avião, o que dificultava o transporte dos equipamentos. "Tive de comprar um velho avião DC3 para fazer uma espécie de ponte aérea entre a cidade de Alta Floresta e o garimpo. Desmontava as máquinas, os tratores, botava no avião e, chegando lá, montava tudo de novo. Também tinha de providenciar energia, comida, água e acampamento", diz ele. "Todas as burradas que eu podia fazer eu fiz ali, mas botei a mina mecanizada de pé." O negócio começou a gerar lucro, algo em torno de US$ 1 milhão por mês, segundo Eike. 
Para diluir riscos na operação, o empresário propôs sociedade à Paranapanema, que comprou 50% da mina e se comprometeu a quintuplicar a produção. Nessa segunda fase de sua carreira, já com dinheiro no bolso, Eike incorporou sua segunda mina. Dessa vez no Amapá, em sociedade com Olavo Monteiro de Carvalho e Antônio Dias Leite. Nascia assim a CMP - Companhia de Mineração e Participações, da qual Eike detinha 40%. Em seguida, desfez-se da CMP e abriu a terceira mina de ouro, em Paracatu (MG). A parceria, agora, era com uma das maiores mineradoras do mundo, a Rio Tinto. Começava a tomar forma seu modelo de negócios. Eike encontrava bons ativos, valendo-se de dicas de garimpeiros ou bisbilhotando projetos abandonados prematuramente por pequenas mineradoras, estruturava o projeto e atraía sócios.
Quebrou o recorde de velocidade na travessia Rio-Santos com a superlancha Spirit of Brazil
Deu uma grande tacada em 1985. A Treasure Valley, mineradora do Canadá, interessou-se pela história daquele garoto loiro que andava fazendo sucesso com ouro na Amazônia e mandou seus executivos conferirem de perto o trabalho do tal Batista. A visita resultou numa fusão de ativos, que deu a Eike o controle da Treasure, listada nas bolsas de Nova York e Toronto. "Era exatamente a mesma coisa que a cervejaria AmBev faria depois com a Interbrew. Só que eu fiz isso em 1985. Ninguém lembra, não é?". Nas mãos de Eike, a Treasure Valley converteu-se na TVX, dando início à sua mania de acrescentar um "X" nas siglas que batizam suas empresas e que, segundo ele, simboliza multiplicação. Ao deixar a companhia, 15 anos depois, sua participação valia US$ 800 milhões. Era o momento de investir em minério de ferro, de que ouvia falar desde criança nas reuniões em família.
A terceira e mais decisiva fase de sua trajetória, que coincide com o novo milênio, é marcada pela multiplicação de riqueza, turbinada pela alta dos preços das commodities e da evolução do mercado de capitais brasileiro. Foi exatamente essa combinação que forjou o sucesso da operação MMX, de mineração, a espinha dorsal de seus negócios atuais e fonte maior de sua fortuna. Quando criou a MMX, a tonelada do minério de ferro, insumo para a produção de aço, estava cotada a US$ 65. Saltou para US$ 85 em 2007 e para US$ 140 em 2008.
OS ESTRATEGISTAS DE EIKE
Quem são os principais executivos da tropa de elite montada pelo presidente da EBX
 
1>>>FRANCISCO GROS
QUEM
 É Foi presidente da Petrobras, do BNDES e do Banco Central nos governos Sarney e Collor
IDADE 65 anos
FORMAÇÃO Economia, pela Universidade de Princeton
O QUE FAZ NO GRUPO É vice-presidente do conselho executivo da petrolífera OGX. Sua experiência no setor de petróleo, no governo e nas finanças o credencia como um estrategista da holding EBX e de todas as suas divisões
2>>>ELIEZER BATISTA
QUEM É
 O pai de Eike foi ministro de Minas e Energia no governo João Goulart e presidente, por dez anos, da Vale e da Rio Doce International
IDADE 84 anos
FORMAÇÃO Engenharia civil, pela Universidade Federal de Engenharia e Arquitetura do Paraná
O QUE FAZ NO GRUPO É presidente honorário e vice-presidente do conselho de administração das empresas de Eike
3>>>RAPHAEL DE ALMEIDA MAGALHÃES
QUEM É
 Foi secretário de Planejamento do governo Carlos Lacerda, vice-governador do Rio de Janeiro e secretário de Educação e Cultura do estado. Também atuou como executivo da Light. É dono do escritório de advocacia R.H. Almeida Magalhães
IDADE 78 anos
FORMAÇÃO Direito, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
O QUE FAZ NO GRUPO É membro do conselho de administração da LLX Logística
4>>>PAULO MENDONÇA
QUEM É
 Foi gerente de exploração e produção da Petrobras durante 34 anos
IDADE 58 anos
FORMAÇÃO Geologia, pela Universidade de São Paulo
O QUE FAZ NO GRUPO É diretor de exploração e produção da OGX
5>>>LUIZ RODOLFO LANDIM
QUEM É
 Foi engenheiro da Eletrobrás e de Furnas, e trabalhou 26 anos na Petrobras
IDADE 51 anos
FORMAÇÃO Engenharia, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pós-graduado em administração por Harvard e em engenharia de petróleo pela Universidade de Alberta, no Canadá
O QUE FAZ NO GRUPO É presidente da OGX e membro do conselho de administração da MPX e da LLX

Fotos_Ernani D'Almeida

Há quatro anos, Eike possuía somente algumas licenças de exploração de minério de ferro no Amapá, em Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Precisou de poucos meses para transformar aqueles pedaços de terra em um sistema integrado de produção, constituído de lavra e minerodutos, além de unidades de produção de ferro-gusa e de aços longos. Estavam criados os sistemas Minas-Rio, Corumbá e Amapá, que formam a MMX. Quando a empresa abriu o capital, em julho de 2006, não produzia nem sequer um grama de minério. Ainda assim, captou R$ 1,1 bilhão, uma arrecadação recordista nas operações de IPO naquele ano e até hoje uma das cinco maiores da história da Bovespa. "O negócio estava bem estruturado e as minas apresentavam um bom potencial produtivo, comprovado por estudos técnicos", diz Raphael Biderman, analista da corretora Bradesco. "Daí o sucesso de Eike na bolsa."
Quase um ano e meio depois da oferta inicial de ações da MMX, a Anglo American, mineradora de capital inglês e sul-africano e única entre as grandes do mundo que não possuía ativos no Brasil, encontrou em Eike a porta de entrada no país. Em janeiro passado, a Anglo pagou US$ 5,5 bilhões pelos sistemas Minas-Rio e Amapá. "Ao atrair sócios desse porte, Eike não só embolsou seus bilhões como projetou as ações da MMX como uma marca diferenciada. E a sociedade com a Anglo aumentou exponencialmente o valor de mercado da mineradora brasileira", diz Biderman. Com ele concorda José Olympio Pereira, diretor do Credit Suisse, o banco que esteve à frente da oferta pública da MMX: "Quem investiu um dólar, ganhou cinco". Dados da consultoria Economática apontam que, entre 21 de julho de 2006, data de abertura de capital e 3 de abril passado, o valor das ações da mineradora cresceu 371%. Seu patrimônio é estimado atualmente em R$ 14,6 bilhões.
A Anglo, que comprou inicialmente 49% das ações dos sistemas Minas-Rio e Amapá, deverá completar em breve o processo de aquisição, o que lhe dará o controle total dos ativos sob uma holding batizada de IronEx. Eike, por sua vez, ficará com a nova MMX, que englobará o sistema Corumbá (MS) e duas mineradoras recém-adquiridas com o dinheiro da própria transação: AVG e MinerMinas, ambas no quadrilátero ferrífero de Minas Gerais. Ao costurar desta maneira a transação com a Anglo, Eike tirou partido da marca a que se referiu Biderman, do Bradesco. Em outras palavras: segurou por quatro meses o acordo com a empresa anglo-africana para estimular a valorização dos papéis da MMX. Quando a reorganização societária estiver concluída, sua nova empresa estará valendo algo em torno dos R$ 4 bilhões. Já existem interessados nos ativos restantes de Eike na mineração, entre os quais a indiana Tata Steel. "Tem muita gente de olho nas minas e, se o negócio for bom, por que não vendê-lo?", afirma Eike. "É a cultura da casa: multiplicar a riqueza."
Fotos de sua mãe, Jutta, já falecida, estão presentes em vários cômodos: "Eu devo a ela tudo o que sei"
Os negócios de Eike obedecem virtualmente à mesma seqüência: a descoberta de um ativo, um processo de private placement (operação de emissão privada de ações) e abertura de capital necessária para o desenvolvimento e a expansão do empreendimento. O crescimento e as novas regras do mercado acionário brasileiro encurtaram o caminho para que Eike colocasse de pé projetos que antes eram vistos apenas como idéias. "O caso MMX provou que um empresário com uma boa idéia já pode se financiar no mercado de ações", afirma Luiz Leonardo Cantidiano, sócio do escritório de advocacia Motta, Fernandes e Rocha e um dos idealizadores do Novo Mercado no Brasil. "A grande diferença de Eike em relação a outros empresários é que ele não vê o mercado apenas como mais um meio de financiamento. Ele assume a postura de um gestor de recursos de terceiros, o que passa extrema confiança aos investidores", diz Raphael de Almeida Magalhães, conselheiro das empresas de Eike.
Um episódio ilustrativo desse seu modo de agir ocorreu em janeiro passado. Um mês após a abertura de capital da MPX, de energia, as ações da companhia sofreram uma brutal queda de preços. Previsões do Banco Mundial de que o PIB do mundo não iria crescer os 5% estimados inicialmente, mas apenas 3,5%, derrubaram a cotação dos papéis de empresas dos setores de infra-estrutura. Os da MPX caíram de pouco mais de mil reais para cerca de R$ 800. Eike reuniu seu conselho e avisou que iria compensar os acionistas. "Disse a ele que não precisava fazer aquilo, porque as oscilações dos papéis são parte do jogo", diz Magalhães. Eike insistiu e devolveu dinheiro aos acionistas. Como? Sob a MPX existiam dois ativos: a termelétrica de Porto de Açu e a MPC Chile. Uma empresa financeira de Eike, a Centennial, tinha 30% desses ativos. Pois ele transferiu esses 30% aos acionistas da MPX, dando a eles 100% da termelétrica de Açu e da MPC Chile. "Na prática, devolvi quase R$ 1 bilhão", afirma Eike. Benevolência? Nada disso. Ele precisa do mercado e sabe que esse respeito pode gerar novas e polpudas parcerias no futuro.
Os investidores que compram suas idéias estão, na verdade, apostando no potencial produtivo e financeiro do negócio a médio e longo prazos. A regra vale tanto para os sócios capitalistas como para os parceiros operacionais. A Anglo, por exemplo, pagou os US$ 5,5 bilhões não pela mina que hoje produz apenas 36 milhões de toneladas de minério e fatura insignificantes R$ 206 milhões. Mas por algo que, segundo estudos feitos pela própria mineradora, pode render pelo menos o triplo disso. A empresa anunciou que investirá US$ 16 bilhões na MMX para transformá-la numa reserva de minério de 100 milhões de toneladas/ano em 2017. Para ter uma idéia, a Vale encerrou 2007 com a produção de 303 milhões de toneladas de minério de ferro, o que lhe garantiu o segundo lugar no ranking mundial do setor (atrás da BHP Billiton e à frente da Rio Tinto) e um faturamento de R$ 66 bilhões. Visto dessa forma, a MMX, atualmente, é ainda uma formiga perto das grandes mineradoras mundiais.
Fotos_Ernani D'Almeida


ALÉM DA MINERAÇÃO 
Eike também escolhe seus alvos visualizando lacunas como, por exemplo, o setor de logística, um dos maiores gargalos brasileiros. Afirma que construirá, ao custo de US$ 4 bilhões, três portos, com destaque para o de Peruíbe, em São Paulo, e o de Açu, no litoral norte fluminense, com capacidade para receber navios de grande porte. Planeja erguer ali usinas termoelétricas, um complexo siderúrgico e um pólo metal-mecânico. De acordo com Eike, já existem 30 memorandos de intenção assinados com empresas do porte de Votorantim, Bunge e Iveco. São as primeiras candidatas a montar fábricas em Açu. Estão sendo conduzidas negociações com a argentina Techint e com a sul-coreana Posco para definir quem vai instalar a siderúrgica. Um contrato de US$ 1,5 bilhão foi assinado com a Camargo Corrêa, que será responsável por parte das obras do porto. Como um negócio leva a outro, Eike diz que já está com tudo engatilhado para construir também um estaleiro, orçado em US$ 100 milhões.
Investimentos em energia estão em seus planos. Se tudo correr bem, dentro de oito anos sua MPX deverá ter oito usinas em operação, entre hidrelétricas e térmicas. Há ainda um recém-fechado acordo na área de energia solar com a chinesa Yingli New Energy, com operação prevista para 2009. Até lá, segundo Eike, o preço do megawatt solar instalado, hoje a grande barreira para esta fonte energética, será de US$ 2 mil, igual ao das térmicas. A vantagem reside no custo inferior de operação. "A matéria-prima, que é o sol, está aí. Mais uma vez estou enxergando o que ninguém vê. Estou lendo o jornal de 2015", afirma Eike.
As declarações soam muitas vezes arrogantes embora Eike, pessoalmente, não transmita essa impressão. Trata com gentileza todos que estão à sua volta, dos empregados da casa aos funcionários da EBX. Seu assunto preferido são as próprias conquistas empresariais, que ele descreve gesticulando muito, pontuando as frases com expressões em inglês, de maneira orgulhosa. Seu discurso é muito personalista - sempre na primeira pessoa do singular - para quem afirma conferir grande valor ao trabalho de equipe. "É o jeito de quem vibra com o que faz, de quem não tem vergonha do sucesso", diz Olympio, do Credit. Neste ponto, Eike lembra muito uma figura antológica da história empresarial brasileira: a do comandante Rolim Amaro, fundador da TAM, morto em julho de 2001, que tinha como principal ídolo ele mesmo. As semelhanças não param por aí. Rolim era maior do que sua empresa. Eike também é. O dono da EBX personifica seus negócios, a exemplo da maneira como Rolim promovia a TAM. Mas, diferentemente de Rolim, Eike demonstra total desapego emocional aos negócios que cria. Se amanhã houvesse uma proposta de compra da holding EBX, ele provavelmente a venderia sem o menor remorso. E iniciaria uma nova empresa no dia seguinte. "Faz lembrar o empresário Benjamin Steinbruch, da CSN", diz a consultora Betania. Procedente do pacato setor têxtil, Steinbruch irrompeu na cena das privatizações comprando de uma tacada a CSN e a Vale. Na época, foi chamado de aventureiro. Anos depois, vendeu sua participação na Vale por cerca de US$ 1 bilhão e, de tempos em tempos, surgem boatos de que sua CSN é a bola da vez no processo mundial de consolidação do setor siderúrgico. Está bilionário. "Assim como Eike, Benjamin é um business man. Ambos vêm da mesma escola do risco e da agressividade nos negócios", afirma Betania.
Faz telefonemas de madrugada se uma notícia o preocupa na mansão, decorada com objetos náuticos
Eike não se orienta só pela racionalidade. Ele também tem um lado místico. Quando comprou os blocos de petróleo no leilão da ANP encerrou todos os lances com o número 63 - o mesmo usado em suas lanchas de corrida. "Ganhei muitas provas com a minha lancha. O número dá sorte", diz. O mesmo ocorreu na venda da MMX para a Anglo. Só fechou acordo depois que os compradores concordaram com uma cifra que terminasse em 63. "Foram cinco bilhões e lá vai fumaça e sessenta e três centavos", diz Eike, divertindo-se com a própria superstição. Quer saber qual a placa de seu Mercedes SL-R? EIK-0063. E não fica só na numerologia. O sol, marca presente em todas as suas empresas, foi escolhido por ser, na mitologia inca, um símbolo de força e otimismo. Em sua casa, no Jardim Botânico, é possível ver logo no hall de entrada um arranjo feito com ramos de trigo, folhas de louro, paus de canela e cristais. É para espantar o mau-olhado. Na lista de valores corporativos de sua empresa, publicada no site da companhia ou espalhada pelos escritórios, há um item curioso: pitada de sorte. Vem logo após outros mandamentos, como liderança, transparência e foco. "É preciso ter sorte mesmo. Não fui eu que coloquei a riqueza no subsolo brasileiro", diz Eike. "A natureza sempre foi generosa comigo." Para completar sua lista mística há, é claro, o X, de que ele não abre mão e que, segundo afirma, vem multiplicando sua fortuna.
"Quero fazer você rico e ficar mais rico ainda." A frase é bem conhecida nos corredores da EBX. Eike costuma repeti-la a todo executivo que contrata para as empresas do grupo. Seu método para formar uma equipe é umbilicalmente ligado ao seu plano de negócios: ele busca formar um time de profissionais renomados, capaz de conferir credibilidade a cada um dos projetos que oferece ao mercado. Para a MMX, trouxe 30 executivos da Vale. Gente como Joaquim Martino, que cuidava da operação da mina de Carajás (PA), Ricardo Antunes, responsável pelos negócios internacionais e Dalton Nosé, da divisão de metálicos da mineradora. "Quero os melhores em cada área", afirma Eike. Para obtê-los, turbina a proposta com salários irrecusáveis, bônus por desempenho ou generosos pacotes de participação no capital - na faixa de 5% a 10%. Esse modelo de participação societária, conhecido como partnership, e a remuneração meritocrática por desempenho são práticas correntes entre empresas norte-americanas. No Brasil, quem se encarregou de difundir o sistema foi Jorge Paulo Lemann, o fundador do banco de investimentos Garantia e hoje um dos controladores da cervejaria InBev. Até hoje, fala-se em "cultura Garantia" quando se quer identificar empresas que utilizam esse método para buscar alta performance operacional. "É a cenoura que você dá aos executivos para que eles vistam a camisa da empresa", afirma Eike, que chama o grupo de executivos estratégicos de "minha tropa de elite". "Só que aqui ninguém pede para sair", afirma, brincando com o bordão do filme de José Padilha.
Um dos primeiros a formar na tropa de elite foi o engenheiro carioca Luiz Rodolfo Landim, de 51 anos, que por mais de duas décadas trabalhou na Petrobras. Sua decisão de deixar a estatal ocorreu no início de abril de 2006. Duas semanas depois o engenheiro já havia praticamente acertado sua transferência para o Grupo Pão de Açúcar, convidado pelo empresário Abilio Diniz. Atuaria ali como diretor-executivo e braço direito de Abilio. "Landim era o homem ideal para tocar meus novos projetos em mineração", diz Eike. "Como eu também estava prospectando o setor de petróleo, ele seria fundamental no meu grupo." Na primeira conversa com Landim, Eike obteve uma resposta desanimadora. Ele disse que já havia assumido compromisso com Abilio. Mas a oportunidade de empreender um novo negócio e deter uma generosa participação acionária na nova empresa a ser criada estimulou Landim a expor seu dilema a Abilio, que o liberou. Foi assim que Landim assumiu o cargo de diretor de relações com o mercado, estruturou o projeto da MMX e ficou milionário praticamente da noite para o dia. Quando Eike vendeu parte da mineradora à Anglo, duas dezenas de profissionais detentores de ações da companhia dividiram US$ 440 milhões. Luiz Rodolfo Landim teria embolsado, sozinho, 10% do total, ou US$ 44 milhões. "Eike lança o desafio e distribui riquezas. Mas sua cobrança por resultados vem na mesma medida de sua generosa política de remuneração", diz o conselheiro Almeida Magalhães.
Fotos_Ernani D'Almeida; Ilustrações_Paola Lopes
DO FERRO AO PETRÓLEO
Com o barril de petróleo negociado na faixa de US$ 100, Eike decidiu que havia chegado a hora de mergulhar no setor. Comprou 21 blocos nas bacias de Campos e Santos em dezembro de 2007. Sua empresa foi a responsável por 70% da arrecadação obtida pelo governo no último leilão promovido pela Agência Nacional do Petróleo, quebrando pela primeira vez a hegemonia da Petrobras numa licitação federal. O passo seguinte era compor a equipe da OGX, a nova empresa para operar no setor de petróleo. Landim, veterano da Petrobras, sabia exatamente quem buscar. Vieram da estatal 30 executivos, entre os quais o geólogo Paulo Mendonça, tido como um dos grandes responsáveis pelas últimas descobertas de reservas de petróleo no Brasil. Mendonça teve seu passe comprado por um salário de R$ 200 mil mensais, fora os bônus por performance. Para fechar a constelação da OGX, Eike nomeou Francisco Gros, ex-presidente do Banco Central, da Petrobras e do BNDES, como vice-presidente do conselho executivo da empresa. Ganhava naquele momento a adesão de um dos maiores especialistas em petróleo, um craque no mercado financeiro e um profundo conhecedor dos meandros do governo. Era tudo de que a OGX necessitava.
Formada a equipe, Eike partiu com seus comandados para um roadshow que incluiu, principalmente, países europeus e os Estados Unidos. Foram 88 reuniões em dois meses. Da peregrinação financeira resultou a adesão de parte dos grupos de investidores interessados em apostar na OGX. A empresa nasceu lastreada por investimentos de fundos de private equity do porte do Ontario Teacher, um dos maiores do Canadá, do americano Ziff Brothers e do brasileiro Gávea, pertencente ao ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga. Em junho, a OGX abrirá o capital na bolsa de São Paulo. Os executivos da OGX, Eike à frente, silenciam sobre o assunto. Estão em quiet period, o período de silêncio imposto pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a empresas em processo de abertura de capital, a fim de evitar que declarações feitas às vésperas da abertura influenciem o preço das ações.
O time encarregado de convencer investidores a aplicar na nova companhia era constituído por Francisco Gros, Paulo Mendonça, Landim e o próprio Eike. Será o mesmo em excursão pelo mundo numa segunda rodada de atração de investidores para o IPO. "Gosto de ser o maestro da orquestra", diz Eike. "Ele estuda a fundo qualquer novo negócio e passa dias conferindo todos os detalhes de seu plano de negócios, para que, nas reuniões, não surja nenhuma brecha capaz de desestimular os potenciais sócios", afirma Mendonça. Não se sabe ao certo o que a OGX poderá oferecer aos futuros investidores institucionais. Mas alguns especialistas de mercado dizem que a empresa se prepara para surpreender os mais céticos. Cálculos preliminares apontavam para uma reserva de cerca de 2 bilhões de barris de petróleo nas águas rasas de Campos e Santos. Estudos técnicos indicam, no entanto, que existe mais que o dobro de óleo nos campos de Eike - algo entre 4,5 bilhões e 4,8 bilhões de barris. "Eike montou um plano de negócios que, salvo alguma inesperada notícia, tende a causar um novo estrondo no mercado acionário", diz um analista que acompanha diariamente os movimentos da OGX. É a possibilidade de que a empresa chegue ao mercado com um valor entre US$ 12 bilhões e US$ 15 bilhões, segundo estimativas de alguns especialistas. "O grande problema de Eike é que ele opera no limite do risco, e qualquer hora a engrenagem pode não funcionar", diz o diretor de um grande banco de investimento estrangeiro. "Ele não pode mais falhar. Se isso acontecer, correrá o risco de ter fechadas as portas de seu grande canal de financiamento, o mercado."
DA ALEMANHA À LISTA DOS BILIONÁRIOS
A trajetória profissional e pessoal do dono da EBX
1969>>> Aos 12 anos, vai morar com a família em Frankfurt, na Alemanha, onde seu pai, Eliezer, foi desenvolver a Rio Doce International

1975>>> Entra na Faculdade de Aachen, na Alemanha, e começa a vender apólices de seguros de porta em porta para reforçar o orçamento de estudante

1980>>> De volta ao Brasil, entra no comércio de ouro, atuando como intermediário de garimpeiros na venda para os grandes centros do país

1981>>> Aos 24 anos, com US$ 500 mil obtidos com joalheiros de São Paulo e do Rio, compra uma mina em Alta Floresta, Mato Grosso

1982>>> Transforma a mina de Alta Floresta na primeira lavra de ouro mecanizada do país e monta parceria com a Paranapanema. Seu patrimônio já estava em US$ 60 milhões

  1985>>> Faz parceria com a mineradora canadense Treasury Valley. Numa operação de troca de ativos, torna-se acionista majoritário da companhia e a batiza de TVX

 1991>>> Casa-se com a modelo Luma de Oliveira

1992>>> Nasce Thor, seu primeiro filho

1996>>> Nasce Olin, seu segundo filho

1998>>> Com o nome EBX, sua holding, que já atuava em mineração, diversifica atividades com projetos no setor de energia

2001>>> A EBX, segundo Eike, atinge o valor de US$ 1 bilhão

2004>>> Separa-se de Luma

 2006>>> Bate o recorde de velocidade da travessia Santos-Rio com sua lancha off-shore Spirit of Brazil. O tempo foi de 3h01m47s

>>> Faz uma das mais bem-sucedidas operações de IPO na bolsa brasileira. Sua empresa MMX, de mineração, capta R$ 1,1 bilhão


>>> Começa a namorar a modelo Flávia Sampaio


2007>>> Vende parte da MMX à mineradora Anglo American por US$ 5,5 bilhões. Sua holding estréia no setor de petróleo, com a criação da empresa OGX

2008>>> Entra na lista da Forbes como o terceiro brasileiro mais rico, com patrimônio de US$ 6,6 bilhões

Fotos_Arquivo pessoal; Marco de Bari/ Revista Náutica

NOS TEMPOS DA AVENTURA
No passado, Eike quebrou a cara com alguns de seus projetos. Nos anos 80, viu evaporar US$ 100 milhões investidos em uma mina no Canadá, baseado em estudos geológicos equivocados. Também se deu mal ao representar a cerveja canadense Labatt Blue no Brasil: "As cervejarias começaram uma guerra de preços impossível de acompanhar. Tomei um prejuízo de US$ 10 milhões". A JPX, sua fábrica de Jipes Auverland (usado pelos militares franceses) em Minas Gerais também não foi para a frente porque Eike brigou com o sócio francês. Gastou US$ 15 milhões na empreitada e perdeu o dobro. Uma empresa de courier, a EBX Express, também naufragou. Em julho de 2006, ele foi condenado pela 4ª Câmara Cível do Rio de Janeiro a pagar R$ 4 milhões em indenização a dez empresas que investiram na franquia Clarity, criada por Luma de Oliveira, sua ex-mulher. Ela escapou ilesa do processo: quando se separou de Eike, desvinculou-se da franquia.
O maior confronto foi com o governo da Bolívia. Eike montou no país de Evo Morales uma siderúrgica que usaria minério produzido por seu grupo em Corumbá (MS), próximo da fronteira. Foi chamado de contrabandista pelo presidente, não conseguiu se reunir com ele para tentar uma negociação e saiu de lá mesmo depois de já ter instalado altos fornos e uma termelétrica. "Foi uma decisão política. Um de meus parceiros locais era adversário de Morales", afirma Eike. Prejuízo: US$ 60 milhões. A solução foi levar a planta para Corumbá. Mas a justiça determinou a paralisação da obra por questões ambientais e Eike levou alguns meses para resolver o assunto. No porto de Peruíbe, outro dilema: a área fica no mesmo local onde a Funai pretende instalar uma reserva indígena e a queda-de-braço continua. "Tudo isso faz parte do processo de instalação de obras de infra-estrutura. E acho até bom que haja fiscalização, para que possamos resolver todas as questões", afirma Eike. "Se há auditoria para fazer balanços contábeis, é também preciso que haja uma auditoria ambiental." Consultado por Época NEGÓCIOS, o Ibama, órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, afirmou, por meio de seu departamento de comunicação, que não existe nenhuma obra embargada de Eike Batista.
"Estou enxergando negócios que hoje ninguém vê. Estou lendo o jornal de 2015", afirma Eike
As empreitadas nebulosas no passado de Eike ainda suscitam em muitos desconfiança em relação à solidez de seus projetos e até mesmo da seriedade de algumas de suas iniciativas. O mesmo empresário que produz bilhões de dólares com minas de ferro e semeia megaprojetos nas áreas de petróleo e energia mantém negócios prosaicos, como uma solitária embarcação turística, o barco Pink Fleet, que faz passeios pela Baía de Guanabara. Mas sonha com uma frota de iates de US$ 100 milhões. Em terra firme, investiu US$ 14 milhões no projeto de um hospital particular na Barra da Tijuca. E entre rolinhos primavera e camarões agridoces de seu restaurante chinês Mr. Lam, na Lagoa Rodrigo de Freitas, aproveita para anunciar que vai despoluir este que é outro cartão-postal dos cariocas. Também afirma que vai montar uma Riollywood, atraindo produtoras norte-americanas para o Brasil. "Ainda sonho em montar um pequeno carro elétrico", afirma Eike. Eis como reage, diante disso, um empresário carioca: "Diversificação? São negócios sem nenhum sentido, que garantem apenas boas manchetes nas páginas dos jornais". Um ex-ministro chega a fazer uma análise psicológica do fenômeno: "Desde que ele se separou de Luma, parece disputar com a modelo a atenção da imprensa, inventando um novo negócio a cada mês". Preconceito? Pode ser. "Acontece que Eike é apaixonado pelo Rio de Janeiro. Ele tem uma preocupação legítima com as coisas da cidade e investe em negócios que de alguma forma possam contribuir para a recuperação da auto-estima do carioca", afirma Magalhães. Landim também sai em defesa do chefe. "Esses investimentos devem ser creditados mais à pessoa física, embora alguns deles estejam sob o guarda-chuva da EBX. Nossa real vocação está em setores de infra-estrutura e recursos naturais." Também existem terrenos comprados no Chile e na Argentina e que podem se converter, no futuro, em condomínios de luxo ou complexos residenciais.
Eike afirma que sua fortuna é superior aos US$ 6,6 bilhões estimados na mais recente lista da Forbes. Segundo ele, a revista não costuma investigar a fundo o patrimônio de um neófito na lista dos bilionários. Limita-se a conferir a participação acionária do candidato em empresas abertas. Portanto, conclui Eike, a OGX está fora da investigação da revista. "Mas espere a lista de 2009", afirma. "Não haverá ninguém para competir comigo aqui no Brasil." Com apoio de analistas financeiros e especialistas no mercado imobiliário, Época NEGÓCIOS tentou calcular o que seria a fortuna real de Eike. De saída, já se pode computar os US$ 3,3 bilhões que ficaram em seu poder após a negociação com a Anglo American. O próximo passo foi rastrear seu patrimônio imobiliário, formado pela sua residência no Jardim Botânico, uma mansão em Angra dos Reis, a fazenda de 30 hectares em Ituiutaba, o Hotel Glória e os ativos da divisão imobiliária da EBX no Brasil, na Argentina e no Chile. Tudo isso soma algo em torno de US$ 400 milhões, de acordo com a estimativa do consultor imobiliário Marcelo Gurgel do Amaral, responsável pela avaliação e negociação de imóveis de clãs poderosos como as famílias Steinbruch, Safra, Cochrane e Horn. Detalhe: nessa conta não estão calculados bens como carros, lanchas e aviões. Deve-se acrescentar, em seguida, as participações acionárias no império "X" que, convertidas em dólar, dariam algo em torno de US$ 13,8 bilhões. No cômputo final, o patrimônio de Eike atingiria US$ 17,5 bilhões, praticamente o triplo do estimado no ranking da Forbes. É com base nesse valor que Eike se autoproclama o homem mais rico do Brasil.
O MUNDO DE EIKE
Do minério de ferro a um barco turístico, passando por petróleo e restaurante chinês. Conheça os setores nos quais o empresário cravou seu indefectível X
EBX 
É a holding do grupo, que reúne atividades de mineração, logística, petróleo e gás, setor imobiliário, energia, fontes renováveis e entretenimento
MMX Mineração
Valor de mercado 
R$ 4 bilhões
Participação de Eike 60%
>>> Sistema Corumbá Mina com capacidade de produção de 4,9 milhões de toneladas/ano de minério de ferro, produção de ferro-gusa e aços longos
>>> AVX Mineração Localizada no quadrilátero ferrífero de Minas Gerais, vai produzir, neste ano, 6 milhões de toneladas de minério .
MPX Energia
Valor de mercado
 R$ 6 bilhões
Participação de Eike 65%
Dona de usinas termoelétricas e hidrelétricas, além de minas de carvão. Também tem projetos no setor de energia solar. Abriu o capital em dezembro de 2007
AMX Fontes renováveis
Participação de Eike
 100%
Projetos de construção de centrais de tratamento de efluentes para terceiros, como Petrobras, Vale e Vicunha
LLX Logística
Valor de mercado*
 R$ 4,1 bilhões
Participação de Eike 51%
É a divisão responsável pelas operações portuárias do grupo. Tem projetos de portos no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Chile. Estava sob o guarda-chuva da MMX, mas foi convertida em divisão independente após a reorganização societária do grupo.
XHOW *** Entretenimento
Participação de Eike 100%
>>> Mr. Lam Restaurante de culinária chinesa localizado na Lagoa, Rio de Janeiro
>>> Pink Fleet Navio turístico que faz passeios pela Baía de Guanabara
OGX Petróleo
Valor de mercado
 estimado** entre R$ 20 bilhões e R$ 24 bilhões
Participação de Eike 62%
Criada em julho de 2007, a empresa controla as atividades de petróleo e gás do grupo. A OGX nasceu no último leilão promovido pela ANP, quando Eike desembolsou US$ 1,4 bilhão e levou 21 dos 23 blocos de exploração de petróleo situados nas bacias de Campos, Santos e Espírito Santo. Investimento inicial na empresa: US$ 1,4 bilhão
SETOR IMOBILIÁRIO
>>> MDX Day Hospital
 Empreendimento que reúne consultórios médicos, centros cirúrgicos, laboratórios de análises, exames diagnósticos por imagem, auditório para convenções e área de conveniência. Em obras.
>>> Santa Teresa Residence Loteamento de 52 mil metros quadrados destinado ao desenvolvimento de um condomínio residencial de apartamentos. São oito prédios e 30 casas no total. Em obras.
>>> La Cañada de Pilar Condomínio residencial, localizado na Argentina. Em obras.
>>> Hacienda Castilla 240 mil hectares de terras no Chile. O grupo tem planos para fazer um empreendimento imobiliário com diversas opções de lazer e entretenimento, como resort, cassino e complexo hoteleiro. Em projeto.
>>> Hotel Glória Comprado em março deste ano por R$ 80 milhões. Eike pretende transformá-lo num empreendimento misto, com apartamentos residenciais e área comercial.
*A empresa se tornará pública quando suas ações forem oferecidas aos acionistas da MMX como parte do processo de cisão para liberar as minas de ferro compradas pela Anglo American
** Abrirá o capital em junho
***Como a Xhow tem capital fechado, o grupo não revela os resultados financeiros das empresas

Fotos_Ernani D'Almeida; Ilustrações_Paola Lopes
"A sociedade brasileira não considera elegante esse tipo de exibicionismo num país ainda em desenvolvimento", afirma Betania. "Ao quebrar o protocolo, Eike se coloca na linha de frente, para o bem ou para o mal." É possível, como afirmam alguns, que até mesmo a maneira desassombrada com que ostenta sua fortuna seja puro marketing, cuidadosamente estudado pelo empresário. A Forbes interessou-se por sua história depois que a imprensa brasileira passou a publicar seus arroubos de Tio Patinhas. Como a maioria de seus parceiros está no exterior, nada melhor do que aparecer, nas páginas de uma revista internacional, como uma das maiores fortunas do país que hoje desperta grande interesse de investidores, o Brasil. "Não é nada disso. Eu falo sobre minha fortuna abertamente porque ela é fruto de um trabalho árduo", diz Eike. "O brasileiro gosta de histórias de quem partiu do zero e enriqueceu honestamente."
Na tentativa de lançar luzes sobre essa controvérsia, Época NEGÓCIOS ouviu psicólogos especializados no mundo corporativo. Com base em algumas características - como ostentação, paixão pela velocidade e trajetória familiar - eles analisaram a personalidade de Eike, sem que seu nome fosse inicialmente revelado. Para Edilson Fernandes, psicólogo que segue a corrente comportamental, ser filho de um homem extremamente bem-sucedido, considerado uma autoridade em sua área de atuação, pode ter levado Eike a perseguir o sucesso como uma forma de se aproximar e receber reconhecimento do próprio pai: "Ao longo da infância, o mundo nos dá pistas de quais são as nossas forças. Após os 14 anos, você passa a acreditar nessas pistas e se guia por elas".
"Sou alucinado por velocidade", diz. É amigo de Schumacher, a quem emprestava seu avião, no Brasil
A ostentação é tida como forma de compensação de sentimentos de inferioridade e problemas de auto-imagem. Fernandes afirma que a posse de objetos caros e cobiçados suscita importância e faz com que o seu dono se torne, aos olhos dos outros, maior do que ele efetivamente se sente. "Para abrandar a própria insegurança, o indivíduo se projeta como alguém que gostaria de ser, na expectativa de que o mundo passe a enxergá-lo dessa maneira", diz.
"É um sujeito com apetite para riscos, que se sente provocado por eles e, aparentemente, gosta de se projetar como um personagem excêntrico e destemido", diz Leonel Vieira Filho, analista junguiano. "Sua atitude beira a onipotência: ele parece dizer, indiretamente, que pode tudo e faz tudo." Essa postura remete ao termo grego hubris, utilizado para descrever o sujeito que se orgulha de si mesmo em demasia e promove a própria superioridade. A hubris é associada, muitas vezes, a uma tentativa de equiparação aos deuses, a uma identificação com o estereótipo do herói. Isso se reflete nos nomes com que batizou os filhos: Thor e Olin, dois deuses nórdicos que representam o trovão e a aranha, respectivamente.
O MÍSTICO
Conheça alguns truques do empresário para manter a sorte e os "bons fluidos" sempre a seu lado:
 

Fotos_Ernani D'Almeida; Ilustrações_Paola Lopes


Para Oscar Motomura, mestre em psicologia social e sócio da Amana-Key, a maneira exacerbada como Eike ostenta sua fortuna em busca de reconhecimento é estimulada em largos setores da sociedade brasileira, por ser algo objetiva e facilmente mensurável, em contraste com os que buscam direcionar sua vida para contribuir na evolução da sociedade como um todo, e nem esperam reconhecimento externo por suas realizações. "Para estes, o reconhecimento interno assume a forma de uma excepcional auto-estima", afirma.
Eike mora no bairro do Jardim Botânico, aos pés do Corcovado e a poucos metros da casa de Luma de Oliveira e dos filhos. "É bom, porque eles podem me visitar a hora que quiserem", afirma. Vista de fora, a casa parece um forte, de onde só se tem acesso pelo portão principal, de ferro, guardado pela equipe de seguranças do empresário. Sobe-se de carro do portão até a entrada da residência - a menos que se queira encarar a pé uma ladeira íngreme, de paralelepípedos, com uns 200 metros de extensão. Lá em cima, antes mesmo da porta de entrada, é possível avistar os primeiros brinquedinhos de Eike: dois Porsche Cayenne e um Cadillac Escalade. Ao toque da campainha, surge, uniformizada, Zeni, simpática governanta e cozinheira que acompanha Eike há um ano e meio. "Ele já vem. Fique à vontade", diz ela. A casa, de 3,5 mil metros quadrados de área construída, tem seis suítes e seis salas. No hall de entrada, sobre o piso de mármore, uma inusitada peça de decoração materializada em um motor de 1,6 mil cavalos da lancha de corrida de Eike, a Spirit of Brazil. O motor custa US$ 700 mil e Eike tem cinco deles. Mas a maior excentricidade está na sala principal da mansão. É um Mercedes SL-R, prateado, avaliado em US$ 1,2 milhão e estacionado bem ao lado de um aparador feito de cerejeira. O SL-R, parceria entre a Mercedes e a McLaren, motor V8, 620 cavalos, chega à velocidade de 334 km/h. É o automóvel que mais se aproxima de um bólido de Fórmula 1. "Você acha que, se eu fosse casado, a minha mulher deixaria eu decorar a casa com um motor de lancha e uma Mercedes?", diz Eike. Mas, à exceção deste "pequeno" detalhe no meio da sala, a decoração é até sóbria. Móveis de madeira clássica, almofadas brancas e cor de vinho nos sofás e telas de Lelli de Orleans Bragança que retratam a exuberância natural do Rio. Sobre os móveis, livros que dizem um pouco da personalidade do dono da casa. Toys for Boys, em cima do aparador ao lado do Mercedes e, numa mesa de vidro, Ayrton: a História Revelada, de Ernesto Rodrigues. No closet de sua suíte, um dos troféus que Eike guarda com especial carinho. O capacete, devidamente autografado, que o piloto Michael Schumacher usou quando ganhou o grande prêmio do Brasil de Fórmula 1, em 1995. "Michael é amigo. Costumava pedir meu avião emprestado quando vinha ao Brasil e me presenteou com esta raridade", afirma Eike. "Eu adorei. Sou alucinado por velocidade."
É refletindo no escritório particular que, segundo Eike, brotam as idéias para novos negócios
Um piano de cauda, branco, decora uma das salas, onde está também um pequeno bar. Eike não toca piano e também não bebe, de modo que esse aposento costuma ser mais freqüentado pelos hóspedes. À frente das salas, uma imensa porta de vidro se abre e dá acesso ao jardim. É lá que Eike toma o café-da-manhã, saboreando frutas e uma privilegiada vista da Lagoa e do Morro da Urca. Do café, ele desce para a academia. Quando tem tempo, exercita-se também na piscina semi-olímpica. "Cuido da saúde, mas não sou xiita, nem com exercício nem com alimentação", diz Eike. Não almoça em casa. O jantar, faz quase sempre na cozinha, conversando com os empregados. São 17 ao todo, comandados pela governanta Zeni. "Ele gosta de saber como estamos e se alguém precisa de alguma coisa. Também quer ouvir o que a gente tem a dizer sobre determinada notícia que saiu no jornal ou na TV." Após o jantar, a televisão estará sintonizada quase sempre no canal de notícias Bloomberg, especializado em economia e negócios. "Fico até as 2 da manhã vendo notícias e as cotações do mercado", diz ele. Certa vez, Eike ligou de madrugada para Landim: "Você viu o que aconteceu com a Bolsa de Tóquio?". Do outro lado, sonolento, o executivo respondeu: "Amanhã eu cuido do Japão, Eike". Essa agitação que acompanha Eike 24 horas por dia já virou até motivo de uma anedota na OGX. Paulo Mendonça conta que um dia Eike estava muito resfriado e não pode ir ao trabalho. Ficou de cama. No dia seguinte, já entrou no escritório dizendo: "Vocês estão f... Eu não dormi direito e anotei 27 novos negócios que a gente pode começar a detonar a partir de agora". Eike ri da história. "Mas sou assim mesmo, penso em business o tempo todo. Me dá prazer." Esse ritmo frenético, por vezes, não é bem aceito. Um advogado contratado por Eike para estruturar seus negócios deixou a EBX depois de algumas semanas de trabalho, pois não agüentava ouvir um novo projeto a cada dia.
Eike não lê romances ou literatura clássica. Gosta das revistas científicas e tecnológicas, como Scientific American ou Popular Science. "Sempre estou antenado em tecnologia. Descobri meus parceiros chineses da energia solar numa revista dessas." Só tem uma hora em que Eike pára e esquece completamente de mineração, petróleo ou energia. É quando está com Thor e Olin. "O momento com meus filhos é sagrado", diz. E o relacionamento com Luma, a ex? "Nos damos bem. Os pais têm que fazer isso pelos filhos, que não são culpados de p... nenhuma." Sua mais recente namorada, Flávia Sampaio, 23 anos mais jovem que ele - e também modelo, como Luma - conquista os filhos do empresário. "Thor e Olin gostam muito dela", diz Zeni, a governanta da casa. Thor, o primogênito de 16 anos, é o que mais acompanha o pai, seja nos passeios de lancha ou até mesmo no escritório. Está tomando gosto pelo mundo dos negócios e já procura saber o que Eike está fazendo, por que e como. Para incentivá-lo, o pai abriu uma carteira de R$ 20 mil em seu nome na Bolsa de Valores de São Paulo. "É bom para ele treinar, estudar o mercado e saber o que acontece com o dinheiro quando você não está antenado com o que ocorre no mundo", diz Eike. Olin, de 12 anos, gosta mesmo é de acompanhar o pai ao estádio do Maracanã, em dias de jogo do Botafogo. Luma costuma dizer que Eike é um paizão, "uma espécie de herói, assim como Eliezer foi para ele".
Foto_Ernani D'Almeida; Ilustrações_Paola Lopes

Um herói, mas na esfera do mundo profissional. "Meu pai foi ausente na criação dos filhos. Ele era totalmente voltado à mineração, às coisas da Vale e aos seus projetos com o governo", afirma Eike. "Continua sendo meu referencial nos negócios. Vi meu pai fazendo coisas doidas para a época dele. Ele sempre pensou grande, assim como eu faço agora." Ainda hoje circulam rumores que, graças aos laços paternos, Eike teria obtido um mapeamento do subsolo brasileiro feito pela então estatal Vale do Rio Doce. "Fosse assim e eu estaria agora em Carajás", afirma, ao se referir à maior mina do Brasil, desenvolvida por Eliezer e que desde a sua fundação, em 1984, já produziu 1 bilhão de toneladas de minério de ferro. E, a propósito de outros boatos que o rondam, eis o que afirma Eike. "Nunca declarei que ultrapassaria a fortuna de Bill Gates", diz. Diz que tem conversado com Ratan Tata, mas sobre minério e ferro - nada sobre uma montadora de carros. Comprou novos aviões e planeja, sim, erguer um centro de treinamento de pilotos, mas não em associação com David Neeleman, da JetBlue. Seu projeto de despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas está em andamento.
Flávia Sampaio, a namorada pós-Luma, tem 23 anos a menos que ele. Assim como ela, também foi modelo
Eike diz que está fazendo melhor do que seu pai, pois tem melhores recursos, equipes e mais estrutura. Eliezer relembra aqueles tempos: "Eu tinha muitos compromissos profissionais e não podia estar em casa com freqüência. Não sei o que faria sem a ajuda de Jutta". Sobre Eike? "Ele é, sim, melhor que eu. Me orgulho disso", diz Eliezer. A foto de sua mulher está emoldurada sobre a mesa do escritório particular de Eike. O Instituto Jutta Batista da Silva, o IJBS, que conta com a parceria financeira da Vale, homenageia aquela que, desde os anos 60, engajou-se em obras sociais. "Jutta passou pelos horrores da Guerra. E quando se vive isso, você muda sua maneira de enxergar o mundo. Passa a realmente se importar com as pessoas, um valor que ela transmitiu repetidamente aos filhos", diz Eliezer. Ela não viveu bastante para ver a ascensão de Eike, mas transmitiu valores como disciplina, retidão e generosidade. "Tudo o que sei e tenho, devo a ela", afirma Eike.
Há, finalmente, algo mais a ser dito a respeito de Eike. Ele é produto de uma tendência: cada vez mais as empresas de setores associados à velha economia, como mineração, petróleo ou energia, serão controlados por empresas de países emergentes. Pense nas indianas Tata e Mittal Steel ou na fabricante de cimentos mexicana Cemex. São gigantes, mas como fornecedores de insumo, não de produtos de ponta. Nos Estados Unidos, berço das inovações, as elites universitárias almejam trabalhar em empresas tecnologicamente mais avançadas. Resta aos seus pares dos países emergentes oportunidades na indústria convencional.
Colaborou_Camila Hessel; Foto_Ernani D'Almeida
http://epocanegocios.globo.com/Revista/Epocanegocios/0,,EDR83434-8374,00.html

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Helio Fernandes relembra o AI-5, que passou à História apenas como sigla. Foi tão selvagem, cruel e ditatorial, que não precisava mais nada.


]O comentarista Jose Guilherme Schossland oportunamente nos envia essa pérola, um artigo de Helio Fernandes publicado no ano passado 2010 sobre o aniversário do AI-5, que completa hoje 43 anos.
***
Helio Fernandes
Esse 13 de dezembro é inesquecível. Não apenas para os atingidos, cassados, presos e desaparecidos, mas também para todo o país. Não começou nesse dia 13, vinha de antes, muito antes, na vontade de alguns, e na execução de alguns outros. E a palavra execução define e desarvora tudo.
Acho, não tenho certeza, que é a primeira vez que escrevo sobre esse “documento único” na História do Brasil, Monarquia ou República. Vou me prender, que palavra, apenas a fatos, nenhuma divagação, análise anterior, suposição ou seja o que for. Aqui, o que aconteceu a partir da divulgação desse Ato Institucional número 5, que como todos sabemos, se transformou histórica e ditatorialmente apenas numa sigla.
Retrocesso no tempo, apenas de uma semana, com duas participações de Djalma Marinho, extraordinária figura. No dia 5 de dezembro de 1968, eleição para presidente da Câmara, Djalma contra Nelson Marchesan, do Rio Grande do Sul, apoiado pela ditadura.
Eu era tão amigo de Djalma que não pude deixar de ir a Brasília. Assisti pessoalmente o massacre do deputado do Rio Grande do Norte. Ele era presidente da Comissão de Constituição e Justiça, que uma semana depois julgaria a licença para processar o jornalista-deputado do MDB, Marcio Moreira Alves.
Trocaram todos os oposicionistas da Comissão, ofereceram a Djalma Marinho não só a vitória para presidente da Câmara, mas o que ele quisesse. Os homens como Djalma jamais querem alguma coisa, resistência é o único objetivo, a recompensa. A obrigação do dever cumprido, sem lamento, ressentimento, aborrecimento, mas também sem dar a impressão de heroísmo.
No dia seguinte vim para o Rio. Tudo o que atingiria a muitos (cassação, prisão, censura, mais perseguição) já acontecera ao repórter há muito tempo. Também não podia fazer nada, a censura era brutal e de corpo presente, existiam quase tantos censores (policiais) quanto repórteres, um clima apavorante.
No dia 12 foi votada a licença para processar o jornalista, apenas um pretexto para ENDURECER o mais possível. Posso dizer com total segurança, não se esperava a derrota do governo ditatorial, a mobilização foi espantosa. Até o senador Daniel Krieger, um homem de sensibilidade, teve que trabalhar pela CASSAÇÃO do deputado. Embora senador e a votação fosse na Câmara, foi requisitadíssimo, principalmente pelo carrasco-mor, o Ministro da Justiça, Gama e Silva.
Queriam terminar tudo no dia 12 mesmo, Costa e Silva estava no Rio, no Laranjeiras, deu ordens ao Chefe da Casa Militar, Jayme Portela, D-U-R-Í-S-S-I-M-O: “Não quero ver ninguém, nem atender telefone”. (Ainda não havia celular, claro).
Costa e Silva ficou no segundo andar, com dois amigos civis, sem cargos no governo. Viu filmes (bangue-bangue, que adorava) até por volta de 3 da manhã. Não dormiu, lógico, quem dormiria com quase todos os oficiais das três Armas contra ele?
Só atendia o general Portela, que lhe dizia invariavelmente: “Gama e Silva precisa falar com o senhor, com urgência”. O presidente desligava, ou dizia: “Amanhã, amanhã resolveremos”. O Ministério da Justiça, ponta de lança dos militares mais ansiosos ou exaltados, não parava de agir, se considerava o mentor de tudo.
No dia seguinte, 13 de dezembro, Costa e Silva determinou ao Chefe da Casa Militar, que convocasse reunião ministerial no próprio Laranjeiras, às 13 horas. Discutiram pouco, não houve debate, todos estavam A FAVOR, mesmo alguns que no passado combateram ditaduras ostensivas ou não.
Costa e Silva, surpreendentemente ou para se vingar, já que sabia que estava praticamente deposto pelo Alto Comando, dizia o nome do Ministro e perguntava: “Como vota o senhor Ministro?”. Só o coronel Passarinho, narcisista e exibicionista, fingiu que pensava, demorou um pouco, e explodiu: “Presidente, VOTO A FAVOR do Ato Institucional, ÀS FAVAS COMO OS ESCRÚPULOS”.
O documento já estava redigido, Costa e Silva assinou tudo, o que fazer? Às 20,30, em cadeia da Agência Nacional, o AI-5 foi lido pelo locutor Alberto Cury, irmão de Jorge Cury e do cantor Ivon Cury. Era o fim de um período, a imposição de um regime que sacrificou a todos, incluindo o próprio presidente. Que não sobreviveu, morreria menos de um ano depois, já fora considerado INCAPACITADO.
Eu estava em casa, naquela época existiam jornais MATUTINOS e VESPERTINOS. Os matutinos saíam entre meia-noite e 1 da madrugada, os vespertinos (Tribuna, Globo, Correio da Noite) começavam a circular ao meio-dia. Trabalhávamos até as 6 da tarde, voltávamos às 6 da manhã, fechávamos, rodávamos e circulávamos, por volta de meio dia.
Ouvi a leitura do documento, comecei a me vestir. Rosinha me perguntou: “Você acabou de chegar, vai sair?”. Abraçando-a carinhosamente (o que até hoje é redundância ou pleonasmo), respondi: “Serei preso imediatamente, prefiro ser preso no jornal. Além do mais, tenho que tomar várias providências.
Já ia saindo, o telefone tocou, Rosinha atendeu, disse: “Helio, é o Carlos Lacerda”. Peguei o telefone, disse: “Você talvez seja a única pessoa que eu atenderia, estou indo para o jornal, no Rio devo ser o primeiro a ser preso, a Tribuna fica a 100 metros da Polícia Central”. O ex-governador, simplesmente: “E eu?”.
Respondi sem qualquer dúvida: “Carlos, você será preso e cassado”. Aí, do outro lado, um rugido e a resposta: “Não vou ser preso nem cassado, você está acostumado a adivinhar e acertar, mas essa você vai errar completamente”. Desliguei, o que fazer?
Cheguei ao jornal por volta das 10 horas da noite. Às 11 horas e quase 45 minutos, fui preso. Levado para a Polícia Central, quando entrava naquele edifício tétrico e assustador, o relógio macabro marcava exatamente meia noite, os dois ponteiros se divertiam. O repórter não demonstrava, mas como em outras oportunidades, assustadíssimo e com medo, mas não deixando ninguém perceber.
Me levaram para o Regimento Caetano de Farias, fiquei satisfeitíssimo: eu não fora o primeiro a ser preso, entrei num matagal sujíssimo (mas enorme, o que era ótimo), de lá do fundo surgiu a figura de Osvaldo Peralva. Grande jornalista, Redator-Chefe (como se chamava na época) do “Correio da Manhã”, intimíssimo amigo, ficamos conversando, não havia onde dormir. Até a manhã do dia seguinte, já 14, não apareceu mais ninguém.
Às 8 horas da manhã, quem chegava, evidentemente preso? Carlos Lacerda. Me abraçou como se não tivéssemos falado na véspera, garantiu: “Está bem, Helio, você acertou pela metade, estou preso mas NÃO SEREI CASSADO.
Respondi sem hostilidade, mas sem mascarar a realidade: “Está certo, trouxeram você para cá, apenas por diversão”.
Fomos todos levados para uma estrebaria (o quartel era um centro hípico), dormíamos no chão, não era o mais importante. Chegaram dois advogados que não conhecíamos. Às duas da tarde, uma festa: a entrada de Mario Lago, que foi preso no Teatro Princesa Isabel. Estava de saiote (fazia um personagem da Escócia), foi logo dizendo: “Aqui só quem me conhece é o Helio e o Carlos Lacerda, estou vestido assim, mas não sou viado”. (Na época era dito assim mesmo).
Eu e Lacerda tivemos momentos ótimos, de recordações, e péssimos, de crítica minha a ele. Lacerda só ficou do dia 14 até 22, eu, Peralva e Mário Lago ficamos até o dia 6 de janeiro, “Dia de Reis”. Os ditadores, geralmente, entre uma tortura e outra, são muito católicos.
Carlos Lacerda mandou um filho falar com o Cardeal (amigo dele), outro conversar com o general Sizeno Sarmento (que fora Secretário de Segurança dele governador), e o terceiro foi a São Paulo ver o que Abreu Sodré, grande amigo dele (e “governador”) podia fazer.
***
PS – Um dia disse a ele, que não gostou: “Carlos, preso não pede nem concede nada. Resiste e pronto”. Passamos Natal e Ano Novo lá, Lacerda não.
PS2 – No dia 30, soubemos, Lacerda foi cassado, nenhuma surpresa, só para ele. No dia 2 de janeiro de 1969, viajou para a Europa, ficaria lá mais ou menos 3 ou 4 anos. Teve a generosidade de ir se despedir de mim e de Mario Lago.
PS3 – Nunca mais participou de nada, voltou em 1973, se enclausurou na Nova Fronteira, editora que adorava. Nunca mais nos vimos. Morreu em 1977, de forma estranhíssima, da mesma morte sem explicação válida que atingiu Juscelino e Jango.
PS4 – Tinha 63 anos. Na prisão, num momento de calma, confessou: “Vou viajar, só volto à política para ser presidente”. Morreu dois anos antes da ANISTIA AMPLA, GERAL E IRRESTRITA.
PS5 – O país paga até hoje, nunca se reabilitou. Apesar de muitos acreditarem que tudo vai bem, “e que Dona Dilma será a salvação da lavoura”, como se dizia antigamente.”  
terça-feira, 13 de dezembro de 2011 | 11:04  -  http://www.tribunadaimprensa.com.br/?p=27777