sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Mais de 20 militares, ‘capitã cloroquina’ e médico olavista ocupam cargos estratégicos no Ministério da Saúde

 "Existe uma discussão de para quê eles são formados, e as próprias Forças Armadas confundem [esses papéis]. Os militares costumam dizer: 'Eu resolvo do alfinete ao foguete' — quando a gente vive cada vez mais em uma sociedade de especialização do trabalho", destaca.

"Eles deveriam estar concentrados em serem bons militares", no entanto, opina:

QUE MINISTÉRIO DA SAÚDE SERÁ ESSE?
(A partir de abril de 2020 que vemos o Presidente entregar a caneta para um General paraquedista sem esperiência em saúde para ser o Ministro da Saúde, entendemos que existirá uma administração extra ao Ministério da Saúde, para gerenciar a saúde e as atividades do SUS. Assim, deu-se o início de um processo de substituição de funcionários civis, alguns com carreira na pasta, por quadros da ativa e da reserva das Forças Armadas, muitos sem experiência prévia na área de saúde como verão abaixo).

Gráfico detalha funções de órgãos da secretaria-executiva do Ministério da Saúde chefiados por militares






CRÉDITO,CECILIA TOMBESI/BBC

Secretaria-executiva verde oliva

Os militares ocupam cargos de direção ou coordenação em pelo menos 6 subsecretarias e departamentos ligados à secretaria-executiva, que têm como missão desde a compra de insumos estratégicos à saúde aos repasses do SUS a Estados e municípios.

Parte das atribuições pode ser conferida na portaria nº 2.646, que traz a relação dos titulares de cargos comissionados na pasta.

O Departamento de Logística em Saúde é o que tem o maior número de oficiais. São pelo menos quatro: o tenente-coronel Alex Lial Marinho, coordenador-geral de Logística de Insumos Estratégicos para Saúde; o tenente-coronel Marcelo Batista Costa, substituto na coordenação-geral de Aquisições de Insumos Estratégicos para Saúde; o coronel da reserva Marcelo Blanco da Costa, assessor especial, e o general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes, recém-nomeado assessor.

Na subsecretaria de Planejamento e Orçamento, por sua vez, estão lotados o coronel da reserva Paulo Guilherme Ribeiro Fernandes (coordenador-geral de planejamento) e o capitão Mario Luiz Ricette Costa (assessor técnico).

O Departamento de Gestão Interfederativa e Participativa, responsável por articular a gestão de saúde com Estados e municípios e também ligado à secretaria-executiva, é dirigido pelo tenente-coronel Reginaldo Ramos Machado, enquanto a diretoria-executiva do Fundo Nacional de Saúde (FNS) tem o subtenente Giovani Cruz Camarão como coordenador de finanças e o primeiro-tenente Vagner Luiz da Silva Rangel como coordenador-geral de execução orçamentária.

O Departamento de Monitoramento e Avaliação do SUS, por sua vez, é dirigido pelo major da reserva Angelo Martins Denicoli, e o Departamento de Assuntos Administrativos era chefiado até recentemente pelo coronel Alexandre Martinelli Cerqueira.

Ele foi exonerado no dia 19 de janeiro, no mesmo dia da nomeação de Marcos Eraldo Arnaud Marques, marqueteiro conhecido como "Marquinhos Show", como assessor especial do ministro da Saúde. O DOU de 21 de janeiro registra que o militar foi transferido para a reserva.

Com suas subsecretarias e departamentos, a secretaria-executiva tem a função de supervisionar e coordenar as atividades das demais secretarias do Ministério da Saúde, além das autarquias, fundações e empresas públicas.

Era chefiada na gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta por João Gabbardo dos Reis, que foi substituído por Pazuello na gestão Teich.

Hoje é capitaneada pelo general da reserva Antônio Élcio Franco Filho. Seu número 2, o secretário-adjunto, é o tenente-coronel da reserva Jorge Luiz Kormann — que chegou a ser indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para a diretoria da Anvisa, mas foi internado em janeiro com covid-19.

Entre os quadros formados por profissionais de saúde, há ainda o secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde, o médico Hélio Angotti Netto, admirador do escritor Olavo de Carvalho.

Em um post de 2015 em seu blog, ele dizia que estudava a obra de Olavo fazia 12 anos e que fizera seu curso online "desde o início".

Gráfico mostra organograma do Ministério da Saúde com alguns militares em cargos estratégicos

CRÉDITO,CECILIA TOMBESI/BB

Vigilância e 'lei da mordaça'

A suspensão de exames de HIV e hepatite no SUS, também em dezembro, por falta de testes de genotipagem — porque o contrato com a empresa que fornecia os insumos venceu sem que uma nova licitação tivesse sido feita.

"Transformaram o Ministério da Saúde numa caserna. De DAS-4 pra cima [referência a cargos comissionados de Direção e Assessoramento Superiores] é basicamente militar — e quem não sabe fazer não sabe mandar", diz um gestor que passou mais de uma década na pasta.

"Eles não entendem de sistema de saúde", afirma outro gestor experiente, emendando que mesmo secretarias chefiadas por profissionais de saúde hoje estão muitas vezes sendo geridas por quadros despreparados.

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-55923963

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