Seja qual for o resultado da eleição, há evidências crescentes e convincentes de que o Brasil está sendo preparado para uma tomada militar. Independentemente disso, se o apoio eleitoral do neopentecostalismo for decisivo, trará consigo um regime autoritário, um conservadorismo cultural regressivo extremo e um renascimento dos novos projetos de desenvolvimento militar da década de 1970 na Amazônia, abrindo-a à exploração sem precedentes. É inegável que os EUA viam a teologia da libertação como uma ameaça e que o desejo de extração de recursos na Amazônia encontrava um parceiro voluntário nos tradutores da Bíblia de Townsend, um projeto de cinquenta anos para distorcer e dominar a vida social, política, econômica e cultural brasileira através de uma religião implantada, com a recompensa do acesso irrestrito às suas riquezas naturais para o capital estrangeiro e não a Deus, mas aos interesses dos Estados Unidos, acima de tudo.
Noam Chomsky descreve a primeira guerra religiosa do século XXI. Foi a guerra dos Estados Unidos
contra a Igreja Católica na América Latina, cujos bispos, ousaram assegurar
como uma “opção preferencial pelos pobres” como posição oficial, o crescimento
do neopentecostalismo no Brasil. A organização missionária chamada Summer
Institute of Linguistics (SIL), também conhecida como a Wycliffe Bible
Translators, que com fundos da Rockefeller e da USAID traduzia a Bíblia para
centenas de línguas indígenas em todo o mundo.
No Brasil, em junho de 1969, um enorme jato prateado com as palavras "The United States of America" desceu na direção do aeroporto de Brasília, a futurística capital do país no Planalto Central. Enquanto a sombra do avião passava sobre os prédios brilhantes de aço e vidro que simbolizavam o compromisso do Brasil de conquistar seu interior selvagem, milhares de soldados cercavam o ultramoderno aeroporto e alinhavam-se nas ruas. O Air Force Two pousou com um guincho e rolou na direção de uma multidão de dignitários que aguardavam perto do terminal. Uma porta se abriu e um homem desceu a rampa com sua conhecida mandíbula quadrada aninhando um amplo sorriso.
Nelson Rockefeller chegara[1].
Oito anos após a visita de Rockefeller, a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) – a pioneira baseada na teologia da prosperidade – foi fundada no Brasil por Edir Macedo, que se converteu a neopentecostal. Além de pregar uma versão particularmente explícita da teologia da prosperidade que ligava as bênçãos financeiras de Deus às doações feitas à igreja, Macedo também elogiou as filosofias do avô de Nelson Rockfeller, John D. Rockefeller.
O primeiro culto da
igreja Universal foi realizado em 9 de julho de 1977, em um subúrbio do Rio de
Janeiro, para uma congregação de 200. Quarenta anos depois, sua participação no
Brasil é de pelo menos 2 milhões (e talvez 7 milhões). A igreja fundou
congregações em todo o mundo, particularmente na África, América Latina e
América do Norte. E a IURD é apenas uma das dezenas, senão centenas, de igrejas
semelhantes que surgiram no Brasil desde a década de 1970, geralmente em
regiões e bairros mais pobres, e pregando, quase sem falhas, uma mensagem
social extremamente conservadora que se concentra no respeito à igreja e
autoridade do Estado, glorifica o indivíduo sobre o coletivo e enfatiza o
acúmulo de riqueza como um sinal do favor de Deus.
Repetidamente durante o último meio século, os interesses do protestantismo evangélico e do imperialismo dos EUA convergiram, enquanto a teologia da libertação e os esforços para garantir a soberania brasileira sobre seus recursos foram empurrados para as margens.
A Cúpula da Terra de
1992 no Rio de Janeiro, a Fundação Rockefeller criou o LEAD/ABDL - (Liderança
no Meio Ambiente e Desenvolvimento), desde então “recrutado indivíduos
talentosos de setores e profissões-chave em todo o mundo para fazer parte de
uma rede crescente que agora está representada em mais de 2400 líderes,
comprometidos com a mudança do mundo”.
A Fundação Rockefeller investe nos EUA US$ 5 milhões, no treinamento de líderes ambientais, com o objetivo de preparar formadores de opinião capazes de ter uma visão ampla dos problemas ambientais e suas implicações econômicas.” Al Binger, diretor internacional da LEAD, disse com surpreendente franqueza: “Esperamos que em dez anos muitos dos bolsistas estejam atuando como ministros de meio ambiente e desenvolvimento, reitores de universidades e CEOs”.
Herdeira do banco Itaú –
que é membro do Conselho das Américas –, e irmã do membro da Comissão
Trilateral do Rockefeller, Roberto Setubal, Neca Setubal, foi responsável por
financiar 84% dos recursos do instituto de Marina Silva em 2013. O
ex-presidente do Citibank, Alvaro de Souza (nota do site: link colocado pelo
organizador do site para organizar a informação), liderou a arrecadação para a
campanha de 2010. Atual diretor do Santander, Souza já havia atuado nos
conselhos de empresas como Gol e AmBev, e foi presidente do WWF Brasil. Em
2008, o WWF e seu Presidente Emérito, o Príncipe Philip, Duque de Edimburgo, concederam
uma medalha a Silva, defendendo seu trabalho na conservação da Amazônia.
No período que antecedeu
as eleições de 2014, o lobby corporativo AS/COA
Americas Society/Council of Americas – instituição educacional de Nelson
Rockfeller), especializado em propaganda e preparação de futuros líderes na
região, organizou um evento com o candidato presidencial do PSB, Eduardo Campos
e Silva. Campos morreria em um acidente aéreo logo depois, após o qual Marina Silva
foi promovida a candidata à presidência. Refletiram
a crença de que ela a candidata favorita do governo Obama e de Wall Street.
Para reforçar Marina recebeu da mídia
uma campanha internacional de beatificação, na qual foi anunciada como a
alternativa “genuinamente progressista”. Em 2018, o apoio da Marina evaporou. A
maior parte de sua base evangélica transferiu seu apoio ao neofascista Jair
Bolsonaro, com o endosso manifesto de algumas das maiores e mais influentes
igrejas neopentecostais.
E os mesmos neoliberais
do norte que uma vez apoiaram Marina Silva juntaram-se aos neopentecostais em
seu apoio a Bolsonaro. O candidato tem realizado reuniões off-the-record com a
AS/COA desde 2017 (pelo menos), junto com seu assessor econômico o “Chicago
boy” e o potencial ministro da Fazenda, Paulo Guedes, do BTG Pactual/Millenium
Institute. Essas reuniões coincidiram com a conversão de Bolsonaro à retórica
do livre mercado e do estado mínimo e sua crescente simpatia aos evangélicos
que culminou em 2016 com um batismo midiático no rio Jordão, em Israel.
https://www.youtube.com/watch?v=Yl2nBsPvuyg
Libertação!
O suposto “nacionalista” Bolsonaro prometeu ao governo dos EUA sua “lista de desejos” de demandas por sua Presidência, sacrificando a soberania pelo poder na antiga tradição colonial. Seu nacionalismo “verde e amarelo” mascara o apoio à privatização em massa de ativos brasileiros e à abertura da Amazônia à exploração em cooperação com corporações estrangeiras. Não é por acaso que o Wall Street Journal endossou o candidato neo-fascista, como fez com o ditador chileno Augusto Pinochet. Bolsonaro também apoia publicamente esquadrões da morte que cobram apenas US $15 por um assassinato nas periferias empobrecidas das grandes cidades e quer dar à polícia carta branca para matar suspeitos.
Desde a inclinação evangélica de Bolsonaro, ele construiu uma aliança com Edir Macedo da IURD, agora um bilionário com vinte e três estações de TV, quarenta estações de rádio, dois grandes jornais diários, uma agência imobiliária, uma companhia de seguros de saúde e uma companhia aérea. Em 2008, Edir Macedo publicou um manifesto por transformar sua igreja e império em genuíno poder político. Sua principal rede de TV, a Record e seu portal online R7 foram transformados em plataformas de propaganda para Bolsonaro – efetivamente sua própria “Fox News” durante a eleição e uma lembrança a sua ameaça à concessão pública da rival comercial e cultural Rede Globo, mantendo-os assim também na linha. Mesmo quando Bolsonaro se recusou a participar de debates após seu esfaqueamento em setembro, citando problemas de saúde, durante o último debate presidencial antes do primeiro turno, ele apareceu em uma simpática entrevista ao vivo na TV Record.
Agora ele propõe a escolarização militarizada e o criacionismo no currículo. Muitos acham desconcertante como um entusiasta aberto da tortura pode ser prontamente apoiado por organizações cristãs, e algumas organizações católicas se uniram a evangélicos progressistas em protestos contra Bolsonaro, com seu apoio à tortura como um ponto de encontro.
Não é coincidência que a
fé individualista e orientada para a prosperidade da IURD de Macedo e outras
igrejas neopentecostais brasileiras tenha muito em comum com a rejeição
neoliberal ao Estado e à sociedade em favor do indivíduo, pois ambos são
importados dos EUA. Na Amazônia, o casamento entre os evangélicos e o
imperialismo buscou sufocar a oposição indígena à extração de recursos.
Nas cidades brasileiras
de hoje, o casamento entre o neopentecostalismo e o neoliberalismo produziu
candidatos e um eleitorado que acreditam que a prosperidade é o produto do
esforço individual meritocrático. Os crentes condicionados a aceitar
inquestionavelmente a voz de seu pastor como a voz de Deus raramente hesitam em
aceitar como igualmente autoritária a voz de um pretenso ditador como
Bolsonaro. O mesmo Deus vingativo que na igreja promete condenação ao
desobediente agora promete ferir nesta vida pessoas LGBT, pequenos criminosos e
povos indígenas, e qualquer um que cruze Bolsonaro.
NOTAS:
1. Seja Feita a Vossa Vontade pg.25
2. Seja feita a vossa vontade: a guerra santa do Brasil by
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