domingo, 21 de abril de 2019

Hy-Brasil ilha misteriosa. O Brasil de São Brandão

Nota minha: A "Peregrinatio Sancti Brandani" é uma lenda celta em latim do século IX, da qual chegaram aos nossos dias varias versões. O Brasil na Lenda e na Cartografia Antiga Vol. 199 Gustavo Barroso, 1941,  

Hy-Brasil is a mysterious island appearing on maps from 1325 to the 1800s. In Irish myth, it was said to be clouded in mist except for one day every seven years, when it became visible but still could not be reached. Stories about the island have circulated throughout Europe for centuries, with tales that it was the promised land of saints or a paradise where an advanced civilization lived.

Hy-Brasil é uma ilha misteriosa que aparece em mapas de 1325 a 1800. Segundo o mito irlandês, dizia-se que ficava encoberto por uma névoa, exceto por um dia a cada sete anos, quando se tornava visível, mas ainda não podia ser alcançado. Histórias sobre a ilha têm circulado pela Europa há séculos, com contos de que era a terra prometida dos santos ou um paraíso onde viveu uma civilização avançada.

A "Peregrinatio Sancti Brandani" é uma lenda celta em latim do século IX, da qual chegaram aos nossos dias varias versões.

O que gostaríamos de saber é se, para o nosso pais, o nome veio tão somente do páu côr de brasa, de modo simplista e natural, como deixam transparecer, ou se, para isso, concorreu o elemento ideológico, espiritual, condensado na designação de uma famosa ilha lendária BRASIL, a qual, segundo temos visto e ainda veremos, coroava a longa série das ilhas misteriosas semeadas pela imaginação dos antigos à face do vasto Oceano Tenebroso, desafiando a audácia dos aventureiros.

Em 1111 Veneza foi reedificada sobre estacaria de páu,brasil oriental.

Todavia, sempre se preferiu o brasil para a fabricação da tinta vermelha. A côr foi em todos os tempos muito apreciada. Ainda hoje se fala da antiga púrpura, cujo segredo dizem que se perdeu. Essa cor encarnada que se destinava aos reis e se tirava dum molusco, o murex, era mercadejada pelos fenícios. Quem sabe já não vinha da madeira e a outra origem não passava duma invenção para encobrir o segredo comercial do produto, coisa comum na antiguidade.

O Brasil de São Brandão Segundo os Bolandistas, São Brandão nasceu na Irlanda em 565, quando a lenda narra o empreendimento de sua viagem para o Ocidente, a bagatela de 105 anos! E, para isso, concorreu o elemento ideológico, espiritual, condensado na designação de uma famosa ilha lendária Brasil, a longa série das ilhas misteriosas semeadas pela imaginação dos antigos à face do vasto Oceano Tenebroso, desafiando a audácia dos aventureiros - O Brasil na Lenda e na Cartografia Antiga Vol. 199 – Gustavo Barroso,  1941, Pág.14,65,88,97,

O Brasil de São Brandão

O Brasil na Lenda e na Cartografia Antiga Vol. 199 – Gustavo Barroso,  1941,

Pg.65: Desde remotas eras, os bardos gaelicos cantavam as delicias de uma Terra Venturosa no meio do Oceano, para o Oeste, que apelidavam o MACMELD, o PAIS DA ETERNIDADE, o qual havia sido visitado por vários heróis do seu ciclo de gestas : Condlé, Maldwin e Bran, filho de Tebal.

Alguns bardos denominavam essa terra – as ILHAS VERDES DAS CORRENTES, dizendo que o bravo Gafran, filho de Aeddan, fôra em sua busca e nunca mais voltara.

O último dos heróis que havia alcançado essas ilhas lendárias e regressado deslumbrado por suas maravilhas fora o mesmo Bran, filho de Tebal. Não se pode fugir a um confronto, embora rápido, do nome de Bran com o do santo evangelizador cristão,celta Bran-dan, Bran-donius, Bran-danis ou São Brandão. qüe deu nome à ilha ignota, apostilada desta forma no Globo de Martin Behain :

Pg.66: "No ano de 565   depois do nascimento de Cristo, São Brandão chegou a essa ilha, que observou maravilhado ; ali ficou sete anos e, após, tornou ao seu pais". Behain designa a ilha textualmente como SANO BRANDEN. A designação se corromperia mais tarde até este ponto:

ZAMBORONDON 1

Até a época de Cristovam Colombo, a ilha de São BRANDÃO se mantem nas cartas. Depois, começa a desaparecer a pouco e pouco. Todavia, ainda se vê no Mapa de Ortelius, no século XVI. De então pordeante, some-se ou passa a surgir no Mar das lndias, em companhia da antiga Cerné.

A crença em sua existência foi tal que a procuraram mar adentro ou a identificaram com as verdadeiras. Em pleno século XVI, Thomas Nicholls declarava que a ilha de SÃO BRANDÃO era a mesma ilha

da MADEIRA. No derradeiro quartel desse século, Alonso de Espinosa, governador da ilha do Ferro, nas Canarias, ouviu mais de cem testemunhas que tinham avistado a ilha de SÃO BRANDÃO, Nessa mesma época, declarou, não somente tê-la visto, mas nela

haver desembarcado, o piloto português Pero Velho, afirmando ainda ter encontrado no seu solo pegadas de gigante, o que nos traz á lembrança a YMA de SÃO Macuto com seu gigante ressuscitado, batizado pelo santo e, de novo, adormecido na morte. Por causa de afirmações do teor da de Pero Velho, Fernão de Vila Lobos, governador da ilha da Palma, andou a procurá-la em vão.

Pg.67: O desejo de encontrar a ilha de SÃO BRANDÃO só esfriou após a expedição enviada em sua busca no ano de 1604, sob o comando do piloto espanhol Gaspar Perez de Acosta.

Contudo, ainda no século XVIII, em 1721, ou vindo de alguns habitantes da ilha da Palma que se avistava uma terra para oeste, provavelmente a ilha de São BRANDÃO, D. Juan de Mur y Aguirre, capitão general das Canarias, equipou uma expedição sob as

ordens do capitão Gaspar Dominguez, que a procurou sem resultado. Foi a última tentativa de que se tem noticia.

A "Peregrinatio Sancti Brandani" é uma lenda celta em latim do século IX, da qual chegaram aos nossos dias varias versões. Essa lenda teve a maior voga na Europa durante mais de quinhentos anos, sendo traduzida em prosa e verso em quasi todas as linguas.

Segundo os Bolandistas, São Brandão nasceu na Irlanda, no ano de 460 da era cristã. Tinha, pois, em 565, quando a lenda narra o empreendimento de sua viagem para o Ocidente, a bagatela de 105 anos.

Era filho de Finloch e descendente do grande Eugenio, um dos heróis epónimos dos galeses. Fora educado no célebre mosteiro de Cuainschedriul. Aos 98 anos, fundou a cidade de Clonfert. Morreu aos 118, em 578  

Pg.68: Sua viagem aventurosa é absolutamente diversa nos propósitos e finalidades da dos heróis celtas que o precederam. Bran, filho de Tebal - ou Febal, por exemplo, foi convidado por uma linda mulher desconhecida a visitar o país de SIDE, isto é, o pais

das Fadas. Levou consigo trinta companheiros e foi dar a uma ilha povoada de mulheres, onde demorou muito tempo.

São Brandão, não. Seu ilimitado amor ao Cristo é que o impele a ir pregar a Bôa Nova aos povos ignotos.

Pensava já em procura-los através do Oceano

Tenebroso, alem do qual acreditavam os antigos irlandeses jazer a Planicie Agradável da Morte, o Mag Meld, quando seu mestre e amigo dedicado, o abade Barintus, filho do rei Neil, lhe contou a história do

monje Memoc, o qual procurara as lendarias ILHAS VERDES DAS CORRENTES e acabara pemanecendo na ILHA DELICIOSA, a TERRA FELlZ DO OCIDENTE.

Barintus fizera longa e áspera viagem afim de Visita-lo. Depois, navegara ainda mais para o poente e dera com a TERRA DA PROMISSÃO, destinada por Deus aos seus santos - TERRA REPROMISSIONIS SANCTORUM.

Esta narrativa decidiu São Brandão a tentar também a aventura.

Por que não chegaria até aonde Barintus chegara? era a pergunta que, meditando, não podia deixar de fazer a si proprio.

Pg.69: Escolheu quatorze monjes para acompanhá-lo entre os mais virtuosos e intrépidos. Após longos dias em que se prepararam com jejuns e preces, embarcaram, segundo algumas versões, em pequena náu de bôa madeira, segundo outras, num barco de vime, coberto de couros curtidos. Fizeram-se de vela, afrontando a imensidão desconhecida do Atlantico, onde se guiaram pela Estrela Polar. Entre os quatorze monjes selectos, ia São Malô ou São Macuto, então rapazinho.

A primeira cousa que os peregrinos encontraram foi a Grande Serpente do Mar, que, mais tarde, os relatos de Olaus Magnus popularizariam. Suscitada pelo demonio, a Grande Serpente ia tragar a náu com todos os frades, quando os anjos que os protegiam

fizeram surgir das ondas outra serpente maior que matou e devorou a primeira.

Não é de admirar êsse encontro em tão priscas eras, quando lemos de vez em quando nos jornais contemporaneos noticias de monstros marinhos aqui e ali avistados pelos capitães dos barcos a vapor.

O segundo encontro foi o de um castelo roqueiro edificado sobre um rochedo isolado, lembrando, ao mêsmo tempo, o MADJIDAL dos orientais e aquela famosa TORRE DE CONAM da mitologia celta,

Mais adeante, vitam a ILHA DOS CARNEIROS, como que anunciando o anho pascal. Com efeito, a Páscoa colheu-os em pleno mar.

Pg.70: Ficaram bastante pesarosos. Como celebrá-la condignamente no estreito e movediço taboado da náu? Não lhes ofereceria

Deus o abrigo de uma ilha para que o pudessem louvar na data de Sua Paixão e Morte na Cruz?

Então, a Providencia Divina se amerceou deles e fez com que lhes surgisse pela prôa, no verde deserto do mar, o escuro ilhéu JASCONJUS, sobre cujo dorso realizaram as ceremonias do culto. Mas, ó milagre magnifico  o ilhéu nada mais era do que uma baleia gigantesca, como a das viagens de Sindbad o Marítimo, que ficara boiando quietinha para não perturbar · a liturgia dos monjes.

Longos dias e longas noites de navegação levaram o santo à ILHA DOS POMBOS ou DOS PÁSSAROS, os quais não passavam de anjos decaídos e castigados em tão humilde condição. Os pássaros tiveram sempre notavel papel nos ciclos de lendas guerreiras e mitologicas dos celtas dêsde a mais alta antiguidade. Soba a forma de pássaros unidos por uma canga de ouro ou prata, fugiam os amantes perseguidos que os deuses protegiam. Em pássaros se metamorfoseavam as bruxas e bruxos poderosos. Os proprios deuses nêles se encarnavam e eram os núncios dos prodígios.

Depois da ILHA DOS PÁSSAROS, abordaram os peregrinos com espanto à ILHA DOS FRUTOS ou DOS POMOS, povoada de grifos e gigantes. Sente-se. claramente no episodio a reminiscencià da lenda pagã do Jardim das Hespéridas, com seus pomos de ouro,

Pg.71: guardado pelo dragão e violado por Hercules. Os elementos miticos são, positivamente, os mêsmos. A viagem de São Brandão é muito interessante, sobretudo porque recapitula um a um diversos mitos antigos. Na ILHA DA ABADIA DA ETERNA MOCIDADE E do SILENCIO; onde se demorou algum tempo, se vê bem a lenda da Fonte de Juventa que os aventureiros do século XVI ainda haveriam de procurar. Vinha de longe. da ILHA JUNONIA; de Juno e dos Jovens, ao largo da Africa. citada em Statius Sebosus. O silencio era o mêsmo silencio a que se referem todos os cantos, lendas e mabinogion celtas como pairando nos lugares paradisíacos onde repousam os mortos na eterna mocidade da vida imortal.

Noutro dia. em outra ilhota, São Brandão deparou Judas. amarrado a um rochedo, como Prometeu, açoitado cruelmente pelas ondas furiosas e guardado pelo demonio Leviatan.

Noutro, contemplou a ILHA DA FORJA DO DIABO, crepitando em fogo, alanceando o espaço com as suas labaredas. borrando de longe o céu com o rubro de sua ignição. A ILHA DO INFERNO de certas cartas medievais. Alguns julgam vêr nela a ilha de Tenerife com seu vulcão, Noutro ainda, de longe lhe apareceu, boiando calmamente sobre a vastidão do mar, uma igreja de cristal. Era uma grande fórma branca.

Pg.72: coroada de rendilhamentos, que deslisava sobre a liquida planície levemente ondulada, sem o menor rumor. Um iceberg? São Brandão e seus companheiros navegaram muito tempo mar afóra, rumo a oeste, alimentando-se de orações, como em verdadeiro Laus Perennis, até topar a ILHA DELICIOSA, habitada pelo eremita Paulo, talvez o mêsmo monje Memoc, que contava 140 anos  de idade e só se alimentava de peixe e agua pura.

Era a última etapa para se atingir a TERRA DA PROMISSÃO.

O monstro jAscoNms, talvez a mêsma baleia que guardara o profeta Jonas em seu seio, reapareceu á face do mar e guiou-os até a maravilhosa TERRA DA PROMISSÃO DOS SANTOS. Maravilhosa de fáto  "Grandes bosques, rios, prados floridos para todos os lados. Bosques cheios de pássaros. Rios cheios de peixes. Prados cheios de animais isentos do pecado. Gamos brincando com lobos. Leôas amamentando cordeiros. Ar suave e perfumado. Nem uma nuvem velando a dôce claridade do sol. Macieiras sempre cobertas de flôres, como se fôsse abril ; sempre cobertas de frutos, como se fôsse setembro".

Demoraram oito anos felicíssimos na TERRA DA PROMISSÃO e voltaram, não mais guiados pelo monstro JASCONIUs, mas por um pássaro lindo e amavel.

Contaram aos povos da Irlanda as maravilhas que os tinham deixado extasiados. A grande aventura de São Brandão, do IRRAM BRENAM, seduziu todas as imaginações.

Pg.73: Houve quem tentasse imitá-Io sem proveito e mêsmo quem pretendesse ir viver na dadivosa região de que falava. Mas, como se após o regresso do glorioso santo e de seus companheiros o mar a houvesse tragado, nunca mais foi possivel encontrá-Ia.

Assim, nasceu em meados da Idade Média a lenda atlantica da ILHA NÃO-ENCONTRADA, NUNCAENCONTRADA OU PERDIDA.

Nessa velha lenda celta, enfartada de paganismo no seu cristianismo nascente, sente-se de modo admiravel, ao par das reminiscencias de mitos antiquissimos como os de Prometeu e do Jardim das Hespéridas, todos os elementos das arriscadas navegações

boreais dos antigos vikings e galeses : no fundo do horizonte até aonde se estende a transluddez do mar, o espectro alvissimo do banco de gelos eternos, murando o caminho do Polo e desafiando no misterio de seu eterno silencio a curiosidade humana ; as linhas denteadas e rendilhadas de gelo dos altos e brancos icebergs que deslisam sobre o espelho do oceano, como catedrais que se vão silenciosamente derretendo ; os cetáceos monstruosos que acompanham as embarcações na sua derrota dias inteiros e cujo lombo lustroso e escuro surge por vezes à flôr das aguas como uma ilha miraculosa que emerge : as cortinas impenetraveis dos nevoeiros que impedem a visão e estorvarn a marcha, porque não se sabe mais para onde secaminha ; e, sempre, no fundo de tudo, no ámago,

Pg.74: a eterna visão de "cette Atlantide qui s'étend, coupée par un large fleuve, quelque part au delà des mers du couchant' '. êste rio cortava tambem a ANTILIA nos antigos planisferios e portulanos. Em alguns, mais recentes, aparece cortando a nossa terra sob o nome de RIO DE BRASIL, nos 17° de latitude, defrontando Porto Seguro, como, por exemplo, no planisferio de Cantino.

A lenda de São Brandão chegou a Portugal no século XVI, quando se refere o curioso achado duma terra chamada ILHA DO BRASIL DE BRANDAM. A expressão BRASIL DE BRANDAM traduz origem direta celtica. Não pode haver dúvida a êsse respeito.

Na lingua celta, a TERRA REPROMISSIONIS SANCTORUM das versões latinas da "Peregrinatio Sancti Brandani", se chama textualmente Ho BRASILE, o que significa tão somente : TERRA FELIZ, TERRA DA FELICIDADE, TERRA DA PROMISSÃO. Essa terra ou ilha de nome HO BRASILE foi achada por BRENNAM ou BRANDÃO. Naturalmente, pois, HO BRASlLE DE BRENNAM teria de ficar sendo para todos os efeitos – o BRASIL DE BRANDÃO.

Não sabemos do que possa ser mais claro e mais logico do que isso.

Daí talvez aquele trecho que muitos autores e de peso consideram lendario ou fantasioso, porem ou, tros citam como verdadeiro, da pretensa carta de Pedro Alvares Cabral a El Rei D. Manuel o

Pg.75: Venturoso, que se afirma ter sido encontrada entre os papeis de Lord Stuart e em que o capitão-mor da Armada se refere à Terra Nova onde chantara a Cruz como aquela "que os antigos chamavam S. Brandam ou Brasil".

Verdade ou não, não deixa a aproximação da palavra BrasiÍ com a idéa de Terra da Promissão e de Terra da Felicidade de ser bastante curiosa, sobretudo através da lingua celta. Veremos bem por que, no desenrolar dêstes estudos sobre o batismo do nosso país.

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