É certo que, como diz Disraeli, citado pelo próprio autor, "o mundo é governado por
personagens muito diferentes dos que imaginam os indivíduos cujo olhar não penetra os
bastidores". Mas, quantas vezes esses "personagens diferentes" longe de serem "causa", não passam
de "instrumentos" das forças reais e profundas que governam os acontecimentos políticos. Essa independência dos países sul-americanos, na opinião de um dos homens que melhor estudaram a questão nas suas causas e efeitos, não era propriamente um fim para a maçonaria, porém um meio de enfraquecer Espanha e Portugal que eram os dois maiores inimigos do judaísmo: latinidade e catolicidade , o fim mudo e latente do esfacelamento do império colonial português, o mesmo fim da conquista flamenga, e do esfacelamento do novo império que, de certo, com o tempo, se constituiria na América Latina. A idéia da independência andava, como se diz, no ar.
HISTÓRIA SECRETA DO BRASIL
Gustavo Barroso
CAPÍTULO X - Vol.01
A entrada em cena da maçonaria
VIMOS até agora todos os meios postos em prática pelo judaísmo no Brasil, a fim de se apoderar da riqueza e ter aquela pecúnia - nervo das guerras - a que se referia Rabelais55. A acumulação da fortuna e o assalto às fortunas públicas e particulares foram levados a efeito pelo monopólio do pau-brasil, a especulação sobre os açúcares, o tráfico negreiro, a pirataria, a conquista, as companhias de comércio e navegação, o açambarcamento de gêneros, o estanco de produtos, a desapropriação forçada das minas, o contrato dos diamantes e o contrabando.
Possuindo os meios pecuniários, a força do ouro, o judaísmo atacara o segundo setor da sua luta, o Estado. Aí já não se apresentará tão descoberto e se valerá das sociedades secretas, que organizará em compartimentos es tanques e superpostos, tornando-as fontes de iniciação nas doutrinas cabalistas talmúdicas, as quais temo dom de transformar os cristãos em "traidores da própria Pátria e da própria fé, em proveito do judeu cabalista, cuja ambição é conquistar pela astúcia e pela traição o domínio universal56".
A mais importante de todas as sociedades secretas é, sem dúvida a maçonaria. Seu verdadeiro papel é estudar, investigar e dar curso às ordens recebidas, fazer adeptos, realizar a propaganda, às vezes sutil, das idéias, enfim; procurar e preparar a força de que carecem os judeus na grande massa do povo. Para isso, o envenenam com idéias de aparência liberal e filantrópica, verdadeiras utopias na maior parte dos casos, todas, sem exceção, destruidoras dos lineamentos da ordem social e géradora de ódios.
Com tais ideologias, o Governo Oculto de Israel pretende dominar o mundo. Os que servem a maçonaria, ignoram que, atingido esse desideratum, eles, meros instrumentos e intermediários do judaísmo, desaparecerão na voragem57. Assim aconteceu na Rússia bolchevista, onde a maçonaria foi terminantemente proibida logo após o triunfo judaico, somente sendo permitida a abertura de lojas recentemente, em virtude da pressão de novas necessidades políticas. À sombra desse maravilhoso agente preparatório, a dominação judaica se estabelece e vai passando despercebida do comum dos mortais58.
O segredo maçônico disfarça, esconde e protege o Poder Oculto Internacional, o que, por meio dele, vai provocando em todos os organismos governamentais e sociais as divisões de que devem resultar todas as suas fraquezas. Divide et imperas.
A conspiração judaica contra o mundo inteiro é antiquíssima e permanente. Desde o cativeiro da Babilônia até o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, durante cinco séculos, os judeus viveram numa "conspiração contínua59". Contra os persas, contra os egípcios, contra os sírios, contra os romanos.. No seio da Igreja Católica nascente, infiltraram as divisões e heresias60, multiplicando-as num "labirinto diabólico". Toda a Gnose dos primeiros séculos do cristianismo proveio da cabala judaica; quase todos os grandes heresiarcas foram judeus; as sociedades secretas gnósticas se espalharam pelo oriente e pelo Ocidente61, sobretudo as sociedades secretas maniquéias a que a bula Humanum Genus de S. S. Leão XIII mui acertadamente compara à maçonaria. Catáros, patarinos, brabantinos e albigenses saem em plena IdadeMédia, dessa fonte maniquéia e cobrem a França com "uma rede invisível de sociedades secretas"62 . "Por necessidade ou natureza, os judeus sempre procuraram, utilizaram e amaram o mistério"; e, desde o tempo dos romanos, têm um governe oculto organizado63. Diretamente,para os judeus, esse é o Kahal; para os cristãos judaizantes ou judaizados, é a maçonaria, que usa o sistema dos cabalistas talmúdicos, o qual data do exílio de Babilônia64.
A cabala viveu e vive sempre no mais profundo seio dos mistérios da maçonaria, destinada à propagação dos seus ensinamentos65 . Michelet, o historiador mais anti-católico deste mundo, confessa que a doutrina maçônica nada mais é do que o judaísmo cabalista66 .
A história afirma íntima ligação entre a célebre Ordem dos Templários e o judaísmo. O fim secreto dessa ordem de cavalaria, fundada na Palestina em 1118, era "a reconstituição do templo de Salomão, em Jerusalém, de acordo com o modelo da profecia de Ezequiel"; seu exemplo os maçons guerreiros de Zorobabel; suas tradições, as "judaicas do Talmud"; sua regra, "a cabala dos gnósticos; seu ideal, "adquirir influência pela riqueza, intrigar e apoderar-se do mundo". Tinha duas doutrinas: uma oculta, reservada aos mestres; outra pública, a católica-romana, "enganando, desta sorte, aos adversários que pretendiam suplantar". Obedecia a esta palavra de ordem: "enriquecer para comprar o mundo67". Queria, assim, derrubar a autoridade do Papado e o poder da Realeza. Havia traído São Luiz nas cruzadas e preparava vasta conspiração em toda a Europa68, quando Felipe, o Belo, e Clemente V a dissolveram de surpresa. "Os sectários de toda espécie têm, desde muito tempo, acumulado mentiras sobre mentiras, tentando inocentar a Ordem do Templo, destruída pelo Papa e pelo rei da França. Todavia, quanto mais se aprofunda a questão, mais aparece a culpabilidade dos Templários. que, em toda a cristandade, sofrem condenações infamantes, depois de longos e minucïosos processos, segundo as confissões pormenorizadas idênticas todas elas nos países mais diversos.
É aos Templários, cujos ritos são os mesmos da maçonaria, que esta se liga em primeira mão69. Outra corrente formadora da maçonaria, foi a dos ocultistas Rosa-Cruzes do século XVII, derivados diretamente da cabala judaica70. No século seguinte, eles se infiltraram nas antigas corporações de pedreiros-livres, muito poderosas pelas franquias que gozavam como construtoras dos edifícios públicos e das catedrais góticas. Delas veio o nome de pedreiros-livres ou francomaçons.
Na Inglaterra, destinada a ser, no século XVIII, a mãe da maçonaria, a infiltração dos pedreiros-livres ocorreu em 1703 71 .
A maçonaria surgiu em França no reinado de Luiz XV, em 1737, com grande aceitação por parte dos fidalgos fúteis e cortesãos. Relata um cronista coevo que mantinha "inviolável segredo" quanto às suas "assembléias ocultas e perigosas para o Estado72". Vinha importada da Inglaterra e o cardeal de Fleury, primeiro-ministro, mandou fechá-la manu militari73. Imputavam-lhe, como se vê, o mesmo propósito dos Templários: destruir a Religião e o Trono, destruindo o Estado74. Iniciava a preparação do terremoto social de 1793. Porque nenhuma revolução, confessa o maior dos técnicos revoluçionários modernos, pode triunfar sem haver antes destruído os fundamentos do Estado75 . Três lustros depois, com o Marquês de Pombal, principiava no reino lusitano a era dos maçons, que não passavam de cristãos-novos, "tanto que as duas palavras eram sinônimos e, no campo, pedreiro-livre era sinônimo de judeu76.
No Brasil, as lojas maçônicas datam dos últimos tempos do regime colonial. Precederam de um quarto de século a transladação da corte. Umas foram instaladas sob os auspícios do Grande Oriente português; algumas sob os da França; outras, independentes deles. Todas do rito adonhiramita. Fundaram-se no Rio de Janeiro, na Bahia e em Pernambuco77 . Embora não tendo à mão o documento maçônico de que extraímos estes dados, o consciencioso historiador Joaquim Felicio dos Santos declara não saber, ao certo, como se introduziu a maçonaria no nosso pais; mas, afirma, com razão, que, no meado do século XVIII, "já funcionava na Bahia o Grande Oriente", começando seu "trabalho lento, oculto, persistente, para a nossa independência78.
Essa independência dos países sul-americanos, na opinião de um dos homens que melhor estudaram a questão nas suas causas e efeitos, não era propriamente um fim para a maçonaria, porém um meio de enfraquecer Espanha e Portugal que eram os dois maiores inimigos do judaísmo: latinidade e catolicidade 79 .
Os próprios judeus abertamente confessam, que, "em todas as grandes revoluções do pensamento, se encontra a ação judaica, ora visível e retumbante, ora muda e latente, de modo que a história judaica corre paralela à história universal e a penetra por mil tramas80".
Até aqui, verificamos na nossa história pública os traços inconfundíveis dessa história secreta.
Vamos avivá-los nas conspirações que primeiro tentaram movimentos de independência, em Minas e na Bahia, regionais e, portanto, separatistas, com o fim visível e retumbante da libertação dos brasileiros das garras da metrópole, mas com o fim mudo e latente do esfacelamento do império colonial português, o mesmo fim da conquista flamenga, e do esfacelamento do novo império que, de certo, com o tempo, se constituiria na América Latina. Na capitania de Minas, desde a guerra dos emboabas, haviam ficado a "arder às surdas" as chamas revolucionárias.
Certo nativismo orgulhoso se misturava ao regulismo dos descendentes dos cristãos-novos mascates e forasteiros que se haviam apoderado pela força e pela traição das lavras de ouro, os quais detestavam o fisco minguador de seus proventos.
A cobrança dos impostos reais e as repressões do contrabando determinavam contínuas agitações.
A extração do ouro aumentava sem que aumentassem os quintos de El Rei81.
O estado via-se ali pobre e fraco diante dos particulares fortes e ricos. Por isso, se estabeleceram as casas de fundição às quais deveria ser levado todo o metal precioso, o que prejudicava grandemente os magnatas da mineração.
Daí o levante trágico de 1720, chefiado por Pascoal da Silva Guimarães, Manuel Musqueira da Rosa e Felipe dos Santos82, que o Conde de Assumar reprimiu duramente com o incêndio e o cadafalso83 . O restolho, porém, ficara a "arder às surdas". Oportunamente, a maçonaria se encarregaria de habilmente soprar o borralho, para de novo atiçar as labaredas84.
Os exemplos de outras obras maçônicas, lá fora, contribuíram para êxito da empresa. A repercussão do grito da independência dos Estados Unidos deveria ecoar no sul do continente. Em Portugal, se sentia isso e se temiam mais os inimigos internos do que os externos, das colorias, que eram, como o reconhecia o próprio Conselho Ultramarino, "tesouros mal guardados"85.
Os moços brasileiros que estudavam na Europa, sobretudo nas universidades de Montpellier e Paris, regressavam aos lares cheios de entusiasmo pela grandeza da terra brasileira comparada com a exigüidade européia e cheios de maior entusiasmo ainda pelo exemplo norte-americano e pela figura do grande maçom Benjamin Franklin, que fora ao Velho Mundo levar o angustiado pedido de socorro dos Filhos da Viúva de sua Pátria às lojas adonhiramitas ou do rito francês, escocesas e iluminadas. Cá dentro do Brasil, afirmavam-se já alguns vislumbres de consciência nacional, embora ainda adstrita a localismos, no descontentamento dos brasileiros mais cultos vendo o seu paraíso, tão gabado judaicamente desde os "Diálogos das Grandezas", conforme o notava, de passagem, o francês Parny, preso à coroa de Portugal.
Na França, começava a lavrar aquela febril agitação, assoprada pelas forças ocultas, prenunciadora da Grande Revolução, a qual ia incendiando os nossos patrícios em contato com a juventude revolta das escolas francesas. Levados por essas idéias e entusiasmos, houve estudantes brasileiros na França que procuraram entabolar negociações para a nossa independência com potências estrangeiras, como José Joaquim da Maia, Domingos Vidal Barbosa, José Mariano Leal e José Pereira Ribeiro86. Maia, de nome certamente herdado dos forasteiros de 1709, escreveu, em 1786, a respeito de seus propósitos libertadores, a Tomas Jefferson, embaixador dos Estados Unidos, o qual lhe concedeu uma entrevista romântica nas arenas de Arles87. Foi bem um quadro em puro estilo do século XVIII: os conspiradores da liberdade no meio das ruínas clássicas! Jefferson recusou-se polidamente a entrar na combinação, alegando que seu país não estava ainda em condições de arcar com as responsabilidades de complicações com outras nações. Maia morreu mais tarde em Lisboa, sem nada haver conseguido.
A opressão metropolitana fazia-se sentir duramente em Minas, com a venalidade da magistratura, os vexames do fisco, o monopólio do sal e a proibição dos teares para favorecer a indústria do reino. A idéia da independência andava, como se diz, no ar. As idéias que andam no ar nunca nasceram por si. Alguém as sopra de qualquer parte. Não há geração espontânea na natureza e também não há na vida das sociedades.
Corriam boatos desencontrados, como costuma acontecer sempre, quando as atmosferas sociais estão sobrecarregadas pelas toxinas que agem à socapa.
As esperanças de libertação polarizavam-se em torno da figura prestigiosa do tenente-coronel Francisco Freire de Andrade, não pelo seu valor intelectual ou pelas suas convicções políticas, mas porque era o segundo comandante dos famosos Dragões das Minas e os poderia arrastar a um pronunciamento. Em Vila Rica, sede do governo da capitania, havia uma roda de homens cultos, participantes duma Arcádia Literária, a qual facilmente se tornaria o centro diretor de qualquer movimento de idéias a se objetivar em ação. Tornou-se, com efeito, e "envolto em tanto mistério que mal sabiam os conjurados do que nele se tratava nem ao certo, as pessoas de que se compunha88". Filtra-se o segredo maçônico nesta revelação histórica, que vem comprovar de modo incontestável o que afirma o probo Joaquim Felício: "A inconfidência de Minas tinha sido dirigida pela maçonaria 89". Um autor judeu assegura que os judeus "tiveram muita influência no preparo material e espiritual" da conspiração90.
Nessa primeira tentativa republicana no Brasil, "o esforço judaico é inegável91". Vimos, anteriormente, que o Grande Oriente se estabelecera na Bahia. Pois bem, num capitulo das "Memórias do distrito diamantino", escrito, segundo confessa, em grande parte com informações hauridas do Senador Teófilo Ottoni, Joaquim Felício declara, textualmente: "Tiradentes e quase todos os conjurados eram pedreiros-livres. Quando Tiradentes foi removido da Ahia (?), trazia instruções secretas da maçonaria para os patriotas de Minas. Em Tijuco, o primeiro que se iniciou foi o padre Rolim, depois o cadete José Vieira Couto e seus irmãos92". O referido cadete faleceu no Tijuco, hoje Diamantina, em conseqüência de enfermidade contraída na cadeia de Vila Rica. Em 1868, ainda viviam pessoas que tinham assistido ao seu enterro e o viram, no caixão mortuário, fardado e revestido das insígnias maçônicas de mestre93 . Da roda arcadiana de conjurados faziam parte o ouvidor Tomás Antonio Gonzaga, já promovido a desembargador; o velho Cláudio Manoel da Costa, que possuía muitas obras proibidas, que estudara e comentara a "Riqueza das Nações" de Adam Smith94 e que se encarregara de preparar os "códigos fundamentais" da futura república; o poeta Inácio José de Alvarenga Peixoto; Diogo Pereira de Vasconcelos; o intendente Francisco Gregário Pires Monteiro Bandeira; os padres Miguel Eugênio da Silva Mascarenhas e Carlos Correa de Toledo, que liam versos e propagavam a idéia do republicanismo separatista, porque sua atenção não estava voltada para o todo brasileiro e sim para o torrão natal. As influências judaico-maçônicas manobravam seu idealismo patriótico.
O anúncio de uma derrama, finta geral do fisco cobrando tributos atrasados, certamente descontentaria muita gente e aumentaria o número dos prosélitos.
A revolução deveria estalar nesse momento e entre seus planos figurava a queima dos cartórios95, para fazer desaparecer os títulos de propriedade. Disso, todas as rebeldias assopradas da sombra têm cuidado com o maior empeno: circuncélios, albigenses, jaques, campônios de Maria da Fonte, em Portugal, balaios e quebraquilos do Norte, comunistas russos. Outros revolucionários, como os de 1930, se apoderam dos cartórios, onde põem gente sua. José Joaquim da Silva Xavier, alcunhado o Tiradentes por exercer a profissão de dentista, que se tornaria a figura principal da Inconfidência por todos os títulos, nascera em São João Del Rei e principiara a vida como mascate nas Minas Novas, onde estivera preso e ficara "sem crédito". Era filho do boticário Domingos da Silva Santos e de Antônia da Encarnação Xavier. Em lugar do nome paterno, usava o materno. Tinha dois irmãos, ambos sacerdotes, que traziam nomes diferentes: Francisco Ferreira da Cunha e Daniel Armo Ferreira. Entrara, como recurso de vida, para a carreira das armas e, sem proteção, estacionara no posto de alferes da 62ª Companhia dos Dragões das Minas. As preterições lhe amargavam a alma. Tentara a mineração, sem proveito, e fizera a campanha do Sul, contra os invasores castelhanos. No Rio de Janeiro, procurara obter da indiferença do Vice-Rei D. Luiz de Vasconcelos a concessão do abastecimento de água e dos trapiches96. Fazia o que se chama biscates em medições de terras. Era pouco ou nada simpático de aparência "feio e espantado", disse dele Alvarenga Peixoto. Quando no Rio, o populacho o vaiava por causa do físico incomum e por viver perguntando a esmo o que faria Minas feliz, depôs na devassa o sargento-mor José Joaquim da Rocha. Diz Isaque Iseckson que era possivelmente judeu, por que entre seus nomes há o de Silva, "preferido pelos judeus-portugueses, como o de Costa e Pinto97". Indicio vago. Maiores se encontram na versatilidade de sua vida, na leviandade fanfarrona de seu temperamento, na inquietação constante de seu caráter, nas tentativas desatinadas de ganhos e concessões, na onomástica mutável de sua família, na profissão do pai (46) e no seu primeiro meio de existência como mascate. Nada disso, porém, é bastante para se fazer em sã consciência a afirmação de que fosse de raça judaica. O papel que assumiu na derradeira etapa da malfadada conspirata demonstra, pelo contrário, um espírito de sacrifício, um amor da responsabilidade e uma resignação altamente cristã, sem nada de comum com as atitudes dos judeus nessas ocasiões. Se o sangue de Israel porventura lhe corria nas veias, de tal modo o meio o purificara através das gerações que pôde praticar atos que o imortalizaram, tornando-o uma figura simbólica.
No Rio de Janeiro, Tiradentes pusera-se em contato com um moço mineiro que regressava formado da Europa, o Dr. José Alves Maciel, o qual, segundo o depoimento de Domingos Vidal, estivera na Inglaterra, buscando apoio para o levante de Minas Gerais. Durante a ausência do alferes, a 11 de junho de 1788, tomara posse, em Vila Rica, do governo da capitania, o Visconde de Barbacena, munido de autorização real para a cobrança da derrama, que os conspiradores esperavam ansiosamente para se manifestarem. De torna viagem, Tiradentes passou na fazenda do opulento José Aires Gomes, coronel da cavalaria auxiliar na Borda do Campo, em companhia do ouvidor que ia substituir Tomás Antonio Gonzaga, Pedro José de Araújo Saldanha Em conversa, expandiu-se sobre as novas idéias. Fez o mesmo na fazenda do Registro Velho, com o padre Manoel Rodrigues da Costa. O Dr. Maciel, que fora antes dele para Vila Rica, iniciara-o no mistério da conjura, afirma Joaquim Norberto98, o que vai ao encontro da referência de Joaquim Felício sobre as instruções secretas ou a prancha trazida da Bahia.
E impossível deslindar o segredo maçônico das origens da conspiração sem consultar os arquivos secretos da maçonaria. Por onde andarão os papéis desse tempo, se é que houve alguma coisa escrita? O primeiro pensamento de Aires Gomes, medroso de complicações, porque as leis ordenavam a delação, foi levar o que ouvira ao conhecimento das autoridades. Tentou, sem resultado, por intermédio do desembargador Luis Beltrão. Por causa de seu involuntário silêncio, posteriormente se viu envolvido nas teias do processo. Tiradentes continuou a falar no assunto. Falou ao próprio tenente coronel Freire de Andrade, seu comandante, que não gostou disso, e ao capitão Maximiano de Oliveira Leite, seu superior hierárquico, que o repeliu.
HISTÓRIA SECRETA DO BRASIL
Gustavo Barroso
CAPÍTULO X - Vol.01
A entrada em cena da maçonaria
VIMOS até agora todos os meios postos em prática pelo judaísmo no Brasil, a fim de se apoderar da riqueza e ter aquela pecúnia - nervo das guerras - a que se referia Rabelais55. A acumulação da fortuna e o assalto às fortunas públicas e particulares foram levados a efeito pelo monopólio do pau-brasil, a especulação sobre os açúcares, o tráfico negreiro, a pirataria, a conquista, as companhias de comércio e navegação, o açambarcamento de gêneros, o estanco de produtos, a desapropriação forçada das minas, o contrato dos diamantes e o contrabando.
Possuindo os meios pecuniários, a força do ouro, o judaísmo atacara o segundo setor da sua luta, o Estado. Aí já não se apresentará tão descoberto e se valerá das sociedades secretas, que organizará em compartimentos es tanques e superpostos, tornando-as fontes de iniciação nas doutrinas cabalistas talmúdicas, as quais temo dom de transformar os cristãos em "traidores da própria Pátria e da própria fé, em proveito do judeu cabalista, cuja ambição é conquistar pela astúcia e pela traição o domínio universal56".
A mais importante de todas as sociedades secretas é, sem dúvida a maçonaria. Seu verdadeiro papel é estudar, investigar e dar curso às ordens recebidas, fazer adeptos, realizar a propaganda, às vezes sutil, das idéias, enfim; procurar e preparar a força de que carecem os judeus na grande massa do povo. Para isso, o envenenam com idéias de aparência liberal e filantrópica, verdadeiras utopias na maior parte dos casos, todas, sem exceção, destruidoras dos lineamentos da ordem social e géradora de ódios.
Com tais ideologias, o Governo Oculto de Israel pretende dominar o mundo. Os que servem a maçonaria, ignoram que, atingido esse desideratum, eles, meros instrumentos e intermediários do judaísmo, desaparecerão na voragem57. Assim aconteceu na Rússia bolchevista, onde a maçonaria foi terminantemente proibida logo após o triunfo judaico, somente sendo permitida a abertura de lojas recentemente, em virtude da pressão de novas necessidades políticas. À sombra desse maravilhoso agente preparatório, a dominação judaica se estabelece e vai passando despercebida do comum dos mortais58.
O segredo maçônico disfarça, esconde e protege o Poder Oculto Internacional, o que, por meio dele, vai provocando em todos os organismos governamentais e sociais as divisões de que devem resultar todas as suas fraquezas. Divide et imperas.
A conspiração judaica contra o mundo inteiro é antiquíssima e permanente. Desde o cativeiro da Babilônia até o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, durante cinco séculos, os judeus viveram numa "conspiração contínua59". Contra os persas, contra os egípcios, contra os sírios, contra os romanos.. No seio da Igreja Católica nascente, infiltraram as divisões e heresias60, multiplicando-as num "labirinto diabólico". Toda a Gnose dos primeiros séculos do cristianismo proveio da cabala judaica; quase todos os grandes heresiarcas foram judeus; as sociedades secretas gnósticas se espalharam pelo oriente e pelo Ocidente61, sobretudo as sociedades secretas maniquéias a que a bula Humanum Genus de S. S. Leão XIII mui acertadamente compara à maçonaria. Catáros, patarinos, brabantinos e albigenses saem em plena IdadeMédia, dessa fonte maniquéia e cobrem a França com "uma rede invisível de sociedades secretas"62 . "Por necessidade ou natureza, os judeus sempre procuraram, utilizaram e amaram o mistério"; e, desde o tempo dos romanos, têm um governe oculto organizado63. Diretamente,para os judeus, esse é o Kahal; para os cristãos judaizantes ou judaizados, é a maçonaria, que usa o sistema dos cabalistas talmúdicos, o qual data do exílio de Babilônia64.
A cabala viveu e vive sempre no mais profundo seio dos mistérios da maçonaria, destinada à propagação dos seus ensinamentos65 . Michelet, o historiador mais anti-católico deste mundo, confessa que a doutrina maçônica nada mais é do que o judaísmo cabalista66 .
A história afirma íntima ligação entre a célebre Ordem dos Templários e o judaísmo. O fim secreto dessa ordem de cavalaria, fundada na Palestina em 1118, era "a reconstituição do templo de Salomão, em Jerusalém, de acordo com o modelo da profecia de Ezequiel"; seu exemplo os maçons guerreiros de Zorobabel; suas tradições, as "judaicas do Talmud"; sua regra, "a cabala dos gnósticos; seu ideal, "adquirir influência pela riqueza, intrigar e apoderar-se do mundo". Tinha duas doutrinas: uma oculta, reservada aos mestres; outra pública, a católica-romana, "enganando, desta sorte, aos adversários que pretendiam suplantar". Obedecia a esta palavra de ordem: "enriquecer para comprar o mundo67". Queria, assim, derrubar a autoridade do Papado e o poder da Realeza. Havia traído São Luiz nas cruzadas e preparava vasta conspiração em toda a Europa68, quando Felipe, o Belo, e Clemente V a dissolveram de surpresa. "Os sectários de toda espécie têm, desde muito tempo, acumulado mentiras sobre mentiras, tentando inocentar a Ordem do Templo, destruída pelo Papa e pelo rei da França. Todavia, quanto mais se aprofunda a questão, mais aparece a culpabilidade dos Templários. que, em toda a cristandade, sofrem condenações infamantes, depois de longos e minucïosos processos, segundo as confissões pormenorizadas idênticas todas elas nos países mais diversos.
É aos Templários, cujos ritos são os mesmos da maçonaria, que esta se liga em primeira mão69. Outra corrente formadora da maçonaria, foi a dos ocultistas Rosa-Cruzes do século XVII, derivados diretamente da cabala judaica70. No século seguinte, eles se infiltraram nas antigas corporações de pedreiros-livres, muito poderosas pelas franquias que gozavam como construtoras dos edifícios públicos e das catedrais góticas. Delas veio o nome de pedreiros-livres ou francomaçons.
Na Inglaterra, destinada a ser, no século XVIII, a mãe da maçonaria, a infiltração dos pedreiros-livres ocorreu em 1703 71 .
A maçonaria surgiu em França no reinado de Luiz XV, em 1737, com grande aceitação por parte dos fidalgos fúteis e cortesãos. Relata um cronista coevo que mantinha "inviolável segredo" quanto às suas "assembléias ocultas e perigosas para o Estado72". Vinha importada da Inglaterra e o cardeal de Fleury, primeiro-ministro, mandou fechá-la manu militari73. Imputavam-lhe, como se vê, o mesmo propósito dos Templários: destruir a Religião e o Trono, destruindo o Estado74. Iniciava a preparação do terremoto social de 1793. Porque nenhuma revolução, confessa o maior dos técnicos revoluçionários modernos, pode triunfar sem haver antes destruído os fundamentos do Estado75 . Três lustros depois, com o Marquês de Pombal, principiava no reino lusitano a era dos maçons, que não passavam de cristãos-novos, "tanto que as duas palavras eram sinônimos e, no campo, pedreiro-livre era sinônimo de judeu76.
No Brasil, as lojas maçônicas datam dos últimos tempos do regime colonial. Precederam de um quarto de século a transladação da corte. Umas foram instaladas sob os auspícios do Grande Oriente português; algumas sob os da França; outras, independentes deles. Todas do rito adonhiramita. Fundaram-se no Rio de Janeiro, na Bahia e em Pernambuco77 . Embora não tendo à mão o documento maçônico de que extraímos estes dados, o consciencioso historiador Joaquim Felicio dos Santos declara não saber, ao certo, como se introduziu a maçonaria no nosso pais; mas, afirma, com razão, que, no meado do século XVIII, "já funcionava na Bahia o Grande Oriente", começando seu "trabalho lento, oculto, persistente, para a nossa independência78.
Essa independência dos países sul-americanos, na opinião de um dos homens que melhor estudaram a questão nas suas causas e efeitos, não era propriamente um fim para a maçonaria, porém um meio de enfraquecer Espanha e Portugal que eram os dois maiores inimigos do judaísmo: latinidade e catolicidade 79 .
Os próprios judeus abertamente confessam, que, "em todas as grandes revoluções do pensamento, se encontra a ação judaica, ora visível e retumbante, ora muda e latente, de modo que a história judaica corre paralela à história universal e a penetra por mil tramas80".
Até aqui, verificamos na nossa história pública os traços inconfundíveis dessa história secreta.
Vamos avivá-los nas conspirações que primeiro tentaram movimentos de independência, em Minas e na Bahia, regionais e, portanto, separatistas, com o fim visível e retumbante da libertação dos brasileiros das garras da metrópole, mas com o fim mudo e latente do esfacelamento do império colonial português, o mesmo fim da conquista flamenga, e do esfacelamento do novo império que, de certo, com o tempo, se constituiria na América Latina. Na capitania de Minas, desde a guerra dos emboabas, haviam ficado a "arder às surdas" as chamas revolucionárias.
Certo nativismo orgulhoso se misturava ao regulismo dos descendentes dos cristãos-novos mascates e forasteiros que se haviam apoderado pela força e pela traição das lavras de ouro, os quais detestavam o fisco minguador de seus proventos.
A cobrança dos impostos reais e as repressões do contrabando determinavam contínuas agitações.
A extração do ouro aumentava sem que aumentassem os quintos de El Rei81.
O estado via-se ali pobre e fraco diante dos particulares fortes e ricos. Por isso, se estabeleceram as casas de fundição às quais deveria ser levado todo o metal precioso, o que prejudicava grandemente os magnatas da mineração.
Daí o levante trágico de 1720, chefiado por Pascoal da Silva Guimarães, Manuel Musqueira da Rosa e Felipe dos Santos82, que o Conde de Assumar reprimiu duramente com o incêndio e o cadafalso83 . O restolho, porém, ficara a "arder às surdas". Oportunamente, a maçonaria se encarregaria de habilmente soprar o borralho, para de novo atiçar as labaredas84.
Os exemplos de outras obras maçônicas, lá fora, contribuíram para êxito da empresa. A repercussão do grito da independência dos Estados Unidos deveria ecoar no sul do continente. Em Portugal, se sentia isso e se temiam mais os inimigos internos do que os externos, das colorias, que eram, como o reconhecia o próprio Conselho Ultramarino, "tesouros mal guardados"85.
Os moços brasileiros que estudavam na Europa, sobretudo nas universidades de Montpellier e Paris, regressavam aos lares cheios de entusiasmo pela grandeza da terra brasileira comparada com a exigüidade européia e cheios de maior entusiasmo ainda pelo exemplo norte-americano e pela figura do grande maçom Benjamin Franklin, que fora ao Velho Mundo levar o angustiado pedido de socorro dos Filhos da Viúva de sua Pátria às lojas adonhiramitas ou do rito francês, escocesas e iluminadas. Cá dentro do Brasil, afirmavam-se já alguns vislumbres de consciência nacional, embora ainda adstrita a localismos, no descontentamento dos brasileiros mais cultos vendo o seu paraíso, tão gabado judaicamente desde os "Diálogos das Grandezas", conforme o notava, de passagem, o francês Parny, preso à coroa de Portugal.
Na França, começava a lavrar aquela febril agitação, assoprada pelas forças ocultas, prenunciadora da Grande Revolução, a qual ia incendiando os nossos patrícios em contato com a juventude revolta das escolas francesas. Levados por essas idéias e entusiasmos, houve estudantes brasileiros na França que procuraram entabolar negociações para a nossa independência com potências estrangeiras, como José Joaquim da Maia, Domingos Vidal Barbosa, José Mariano Leal e José Pereira Ribeiro86. Maia, de nome certamente herdado dos forasteiros de 1709, escreveu, em 1786, a respeito de seus propósitos libertadores, a Tomas Jefferson, embaixador dos Estados Unidos, o qual lhe concedeu uma entrevista romântica nas arenas de Arles87. Foi bem um quadro em puro estilo do século XVIII: os conspiradores da liberdade no meio das ruínas clássicas! Jefferson recusou-se polidamente a entrar na combinação, alegando que seu país não estava ainda em condições de arcar com as responsabilidades de complicações com outras nações. Maia morreu mais tarde em Lisboa, sem nada haver conseguido.
A opressão metropolitana fazia-se sentir duramente em Minas, com a venalidade da magistratura, os vexames do fisco, o monopólio do sal e a proibição dos teares para favorecer a indústria do reino. A idéia da independência andava, como se diz, no ar. As idéias que andam no ar nunca nasceram por si. Alguém as sopra de qualquer parte. Não há geração espontânea na natureza e também não há na vida das sociedades.
Corriam boatos desencontrados, como costuma acontecer sempre, quando as atmosferas sociais estão sobrecarregadas pelas toxinas que agem à socapa.
As esperanças de libertação polarizavam-se em torno da figura prestigiosa do tenente-coronel Francisco Freire de Andrade, não pelo seu valor intelectual ou pelas suas convicções políticas, mas porque era o segundo comandante dos famosos Dragões das Minas e os poderia arrastar a um pronunciamento. Em Vila Rica, sede do governo da capitania, havia uma roda de homens cultos, participantes duma Arcádia Literária, a qual facilmente se tornaria o centro diretor de qualquer movimento de idéias a se objetivar em ação. Tornou-se, com efeito, e "envolto em tanto mistério que mal sabiam os conjurados do que nele se tratava nem ao certo, as pessoas de que se compunha88". Filtra-se o segredo maçônico nesta revelação histórica, que vem comprovar de modo incontestável o que afirma o probo Joaquim Felício: "A inconfidência de Minas tinha sido dirigida pela maçonaria 89". Um autor judeu assegura que os judeus "tiveram muita influência no preparo material e espiritual" da conspiração90.
Nessa primeira tentativa republicana no Brasil, "o esforço judaico é inegável91". Vimos, anteriormente, que o Grande Oriente se estabelecera na Bahia. Pois bem, num capitulo das "Memórias do distrito diamantino", escrito, segundo confessa, em grande parte com informações hauridas do Senador Teófilo Ottoni, Joaquim Felício declara, textualmente: "Tiradentes e quase todos os conjurados eram pedreiros-livres. Quando Tiradentes foi removido da Ahia (?), trazia instruções secretas da maçonaria para os patriotas de Minas. Em Tijuco, o primeiro que se iniciou foi o padre Rolim, depois o cadete José Vieira Couto e seus irmãos92". O referido cadete faleceu no Tijuco, hoje Diamantina, em conseqüência de enfermidade contraída na cadeia de Vila Rica. Em 1868, ainda viviam pessoas que tinham assistido ao seu enterro e o viram, no caixão mortuário, fardado e revestido das insígnias maçônicas de mestre93 . Da roda arcadiana de conjurados faziam parte o ouvidor Tomás Antonio Gonzaga, já promovido a desembargador; o velho Cláudio Manoel da Costa, que possuía muitas obras proibidas, que estudara e comentara a "Riqueza das Nações" de Adam Smith94 e que se encarregara de preparar os "códigos fundamentais" da futura república; o poeta Inácio José de Alvarenga Peixoto; Diogo Pereira de Vasconcelos; o intendente Francisco Gregário Pires Monteiro Bandeira; os padres Miguel Eugênio da Silva Mascarenhas e Carlos Correa de Toledo, que liam versos e propagavam a idéia do republicanismo separatista, porque sua atenção não estava voltada para o todo brasileiro e sim para o torrão natal. As influências judaico-maçônicas manobravam seu idealismo patriótico.
O anúncio de uma derrama, finta geral do fisco cobrando tributos atrasados, certamente descontentaria muita gente e aumentaria o número dos prosélitos.
A revolução deveria estalar nesse momento e entre seus planos figurava a queima dos cartórios95, para fazer desaparecer os títulos de propriedade. Disso, todas as rebeldias assopradas da sombra têm cuidado com o maior empeno: circuncélios, albigenses, jaques, campônios de Maria da Fonte, em Portugal, balaios e quebraquilos do Norte, comunistas russos. Outros revolucionários, como os de 1930, se apoderam dos cartórios, onde põem gente sua. José Joaquim da Silva Xavier, alcunhado o Tiradentes por exercer a profissão de dentista, que se tornaria a figura principal da Inconfidência por todos os títulos, nascera em São João Del Rei e principiara a vida como mascate nas Minas Novas, onde estivera preso e ficara "sem crédito". Era filho do boticário Domingos da Silva Santos e de Antônia da Encarnação Xavier. Em lugar do nome paterno, usava o materno. Tinha dois irmãos, ambos sacerdotes, que traziam nomes diferentes: Francisco Ferreira da Cunha e Daniel Armo Ferreira. Entrara, como recurso de vida, para a carreira das armas e, sem proteção, estacionara no posto de alferes da 62ª Companhia dos Dragões das Minas. As preterições lhe amargavam a alma. Tentara a mineração, sem proveito, e fizera a campanha do Sul, contra os invasores castelhanos. No Rio de Janeiro, procurara obter da indiferença do Vice-Rei D. Luiz de Vasconcelos a concessão do abastecimento de água e dos trapiches96. Fazia o que se chama biscates em medições de terras. Era pouco ou nada simpático de aparência "feio e espantado", disse dele Alvarenga Peixoto. Quando no Rio, o populacho o vaiava por causa do físico incomum e por viver perguntando a esmo o que faria Minas feliz, depôs na devassa o sargento-mor José Joaquim da Rocha. Diz Isaque Iseckson que era possivelmente judeu, por que entre seus nomes há o de Silva, "preferido pelos judeus-portugueses, como o de Costa e Pinto97". Indicio vago. Maiores se encontram na versatilidade de sua vida, na leviandade fanfarrona de seu temperamento, na inquietação constante de seu caráter, nas tentativas desatinadas de ganhos e concessões, na onomástica mutável de sua família, na profissão do pai (46) e no seu primeiro meio de existência como mascate. Nada disso, porém, é bastante para se fazer em sã consciência a afirmação de que fosse de raça judaica. O papel que assumiu na derradeira etapa da malfadada conspirata demonstra, pelo contrário, um espírito de sacrifício, um amor da responsabilidade e uma resignação altamente cristã, sem nada de comum com as atitudes dos judeus nessas ocasiões. Se o sangue de Israel porventura lhe corria nas veias, de tal modo o meio o purificara através das gerações que pôde praticar atos que o imortalizaram, tornando-o uma figura simbólica.
No Rio de Janeiro, Tiradentes pusera-se em contato com um moço mineiro que regressava formado da Europa, o Dr. José Alves Maciel, o qual, segundo o depoimento de Domingos Vidal, estivera na Inglaterra, buscando apoio para o levante de Minas Gerais. Durante a ausência do alferes, a 11 de junho de 1788, tomara posse, em Vila Rica, do governo da capitania, o Visconde de Barbacena, munido de autorização real para a cobrança da derrama, que os conspiradores esperavam ansiosamente para se manifestarem. De torna viagem, Tiradentes passou na fazenda do opulento José Aires Gomes, coronel da cavalaria auxiliar na Borda do Campo, em companhia do ouvidor que ia substituir Tomás Antonio Gonzaga, Pedro José de Araújo Saldanha Em conversa, expandiu-se sobre as novas idéias. Fez o mesmo na fazenda do Registro Velho, com o padre Manoel Rodrigues da Costa. O Dr. Maciel, que fora antes dele para Vila Rica, iniciara-o no mistério da conjura, afirma Joaquim Norberto98, o que vai ao encontro da referência de Joaquim Felício sobre as instruções secretas ou a prancha trazida da Bahia.
E impossível deslindar o segredo maçônico das origens da conspiração sem consultar os arquivos secretos da maçonaria. Por onde andarão os papéis desse tempo, se é que houve alguma coisa escrita? O primeiro pensamento de Aires Gomes, medroso de complicações, porque as leis ordenavam a delação, foi levar o que ouvira ao conhecimento das autoridades. Tentou, sem resultado, por intermédio do desembargador Luis Beltrão. Por causa de seu involuntário silêncio, posteriormente se viu envolvido nas teias do processo. Tiradentes continuou a falar no assunto. Falou ao próprio tenente coronel Freire de Andrade, seu comandante, que não gostou disso, e ao capitão Maximiano de Oliveira Leite, seu superior hierárquico, que o repeliu.
Bandeira da Inconfidência proposta por Tiradentes, com o Triângulo, do qual a
Linguagem Maçônica, no "Livro Maçônico do Centenário", pág. 161, diz unicamente o seguinte:
"Emblema da Divindade. Em sentido literal - chapéu". Em certas reproduções da Bandeira dos
Inconfidentes, o Triângulo aparece encarnado. Clóvis Ribeiro, na sua obra sobre bandeiras e
brasões do Brasil pinta-o verde.
O triângulo na posição em que aí está, pode ser visto na pág 112 da obra "Compass der
Weisen° de Ketmia Vere, o Barão Proeck, Berlim e Leipzig, 1779.
Notas:
55 "Les nerfs des batailles sont les pécunes",
Fran çois Rabelais. "Oeuvres", Garnier, Paris pág. 89. 56 L. Dasté.
"Les sociétes'sécréts et les juifs", ed. da Renassance Française,
Paris, 1912, pág. 63. O fim social da maçonaria é a reconstrução do Templo de
Salomão; o Templo de Salomão é a Terra Gloriosa, e os homens reunidos em uma
única e só família, pela ciência, pela fraternização consciente. Extingue,
pois, os preconceitos de raças, de classes", diz o grande maçon Dario
Veloso, em "O Templo Maçônico", Curitiba, 1924, pág, 223. Todo esse
ideal utópico esconde simplesmente a construção do Templo Salomônico do
Talmudismo do judaísmo de hoje, a construção do domínio judaico. É o mesmo
grande maçon Dario Veloso quem o confessa na op.cit. pag. 44. "Delaunay
provou que os Mistérios Maçônicos eram originários do Egito e foram trazidos
para Europa pelos judeus". A tolerância religiosa da maçonaria não passa
de disfarce do seu materialismo positivo. O próprio Dario Veloso nos assegura
que o Templo maçônico é meramente a terra (pág. 24), no qual se professa tão só
o "dogma da humanidade" (pág. 39). 57 Duque de la Victoria,
"Israel Manda", Madrid, 1935, Prólogo, pag. 10. Cf. "Os
Protocólos dos Sábios de Sião", caps. IV, X, XI e sobretudo XV. 58 Duque
de la victoria. Op. cit. pág. 57. 59 L. Daste, op. cit. pág 7. 1 46 60 Op. cit.
págs. 9-10. 61 Adolf Frank (judeu) Ma Kabballe°, Hachette Paris, 1843, págs.
341-353; Dasté, op. cit. págs. 11-12; Amelineau, "Essais sur le
Gnosticisme", pag. 323. 62 L. Dasté, op. cit. pág. 42. 63 Matter
(protestante), "Histoire critique du Gnosticisme", Paris, 1843, tomo
I, pág. 154. 64 Ad. Frank, op. cit. pág. 1. 65 "Histoire de France",
tomo II, pág. 393. 66 Eliphas Lévi (autor insuspeitíssimo: ocultista apóstata e
maçom). "Dogme et rituel de la Haute magie". Bailliére, Paris, 1861,
tomo II págs. 222 e segs. Lembre-se o que disse Dario Veloso sobre a construção
ao Templo de Salomão. 67 Henri Robert Petit, "Le drame maçonnique",
Nouvelles Editions Latines, Paris, 1936, págs. 35-55. 68 L. Dasté,op. cit. pág.
54. n 69 Pe. Barbier. "Infiltrations maçonniques dans 1'Eglise"; L.
Desté; op. cit. pags. 61-63; C. Jannet, op. cit. pags. 22-23. 70 C. Jannet, op.
cit. pág. 47; L. Dasté, op. cit págs. 58. 71 Pretton, "Illustration of
Masonry", Londres, 1712. 72 Barbier, "Chronique de la Régence et du
régne de Louis XV, 1718-1763", Paris, 1885, tomo III, pág. 65. 73 Albert
Lantoine, "Histoire de la Franc-Maçonn_e rie.française", Nourry, Paris,
1935, Tomo II, pag. 4. 74 Larudan, "Les francs-maçons ecrasés",
Amsterdam, 1746, pag. 63. 75 Albert Sorel, "L'Europe et la
Révolution", tomo II, pag. 3. 76 Mario Sáa, "A invasão dos
judeus", pag. 12. Cf Mario Sáa "Portugal-cristão-nevo". 77
Manoel Joaquim de Menezes Drummond, "Exposição História da Maçonaria no
Brasil" in "Arquivo Maçônico", ano 29, nº 13 e segs, Recife,
setembro, 1907. 78 "Memória do distrito diamantino", pág. 253. 79
Marius André, Na fin 1'empire espagnol d'Amerique". Nouvelle Libraire
Nationale, Paris, 1822, pág. 81. 80 "Univers Israelite", 26 de julho
de 1907, pág. 585. 81 Pedro Calmon, "História da Civilização
Brasileira", pág. 142. 82 Há sabor de cristão-novo no nome de Musqueira da
Rosa... 83 Rio Branco, "Efemérdes Brasileiras", Imp. Nacional, Rio de
Janeiro. 198, págs. 346-347. 84 Joaquim Felício dos Santos, op. cit. pag. 253. 85
Antonio Rodrigues, da Costa, "Consulta do Conselho Ultramarino à Sua
Majestade no ano de 1732" in "Re vista do Instituto Histórico e
geográfico do Brasil", tomo VII, pág. 489. 86 J. Norberto de Souza e
Silva, "História da Cor) juração Mineira", Garnier, Rio de Janeiro,
págs. 39-4G. 87 "Extratos da correspondência de Tomás Jefferson" in
"Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil", tomo pág.
289. 88 J. Norberto, op. cit. pág. 60. 89 "Memórias do distrito
diamantino", pag. 253. 90 Isaque Izeckson, "os judeus na
Independência" In "Almanaque Israelita, 1935, pág. 20 Cf. Bartolomeu
de Almeida, artigos no jornal católico °A Ordem". 91 Izaque Izeckson, loc.
cit. 92 Op. cit. loc. cit. A revelação é
notável, devi do ao alto conceito de quem a faz. 93 Januario da Cunha Barbosa.
"Parnaso Brasileiro", tomo II. 94 J. Norberto, op. cit. pág. 70. 95
Op- cit. pág. 71. 96 Loc. cit. 97 É sabida a predileção dos judeus pela arte de
curar e sua derivada, a farmácia. Mendes dos Remédios, Castro Boticário e
muitos outros são cognómes que denunciam ainda hoje, pela profissão ancestral a
origem judaica de seus portadores" - Rodolfo Garcia, "Os judeus no
Brasil colonial in -Os judeus na história do Brasil", pág. 12. 98 Op. cit.
pag. 12. É preciso respigar nos historiadores, todos eles desavisados da
questão judaico-maçônica, os vestígios das atuações das forças ocultas. Sobre o
Dr. José Álvares Maciel, lê-se o seguinte em Antônio Augusto de Aguiar,
"Vida do Marquês de Baroacena", Imprensa Nacional, Rio de Janeiro,
1896, pag. 7:"... Organizou sociedades em Minas, Rio de Janeiro e S. Paulo
com o intuito de, por meio delas,fazer a propaganda das idéias e preparar
elementos, que na hora oportuna fizessem a revolução°. Esse informe foi dado ao
Marquês de Barbacena na sua mocidade, quando serviu em Angola, por um dos
inconfidentes ali desterrados, que ele conheceu. https://ebrael.files.wordpress.com/2013/08/histc3b3ria-secreta-do-brasil-vol-1-gustavo-barroso.pdf
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