Gonzalo Guimaraens - Destaque Internacional (*)
O anunciado encontro em Havana entre o Papa Francisco e o Patriarca ortodoxo de Moscou Kirill, que será realizado na próxima sexta-feira (12 de fevereiro), possui importantes dimensões religiosas, que os especialistas estão se encarregando de comentar; ao mesmo tempo, o tal encontro contém dimensões políticas também importantes. Esquematicamente, seguem enumerados alguns exemplos preocupantes sob o ponto de vista político.
2. O fato de terem escolhido Cuba comunista como o lugar do encontro Francisco–Kirill, contribui para prestigiar os tiranos de Havana como anfitriões e mediadores supostamente confiáveis. Segundo notícia da AFP do Vaticano, reproduzida por vários meios de comunicação, o porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi, havia destacado em contexto elogioso esse papel de mediador e de anfitrião do ditador Castro. Não foi em vão que o ditador declarou sentir-se “honrado” com a perspectiva do próximo encontro entre os dois líderes religiosos em Havana. Por outro lado, do ponto de vista político e publicitário, o referido encontro possui um efeito maquiador da cara e das garras do regime comuno-castrista. É o que, de modo semelhante, ocorre com a utilização publicitária que o regime cubano faz a respeito dos diálogos do governo colombiano com os narco-guerrilheiros das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), também em Havana — na própria bocarra do lobo: eles contribuem para limar suas presas, como se o regime castrista fosse um anfitrião confiável.
4. Kirill, juntamente com seu passado pró-comunista, tem um presente não menos lamentável de apoio ao ditador Putin [na foto abaixo Kirill cumprimenta Putin]. Por exemplo, o patriarca ortodoxo é um dos principais responsáveis pelo fato de que os católicos russos são considerados como cidadãos de segunda classe, e vivam em virtual catacumba política e psicológica.
5. O patriarca Kirill, em conjunto com os líderes ortodoxos russos, detesta especialmente os católicos ucranianos, que nos assuntos políticos continuam maioritariamente tomando posições anticomunistas. Quando em 2014 o parlamento ucraniano destituiu o presidente pró-Rússia Viktor Yanukovych, Putin invadiu a Crimeia e ameaçou invadir a Ucrânia. Kirill não chegou a justificar diretamente uma invasão, mas, sim, fê-lo indiretamente responsabilizando os católicos ucranianos — conhecidos “católicos uniatas” — pela perda de poder político que os dirigentes ucranianos pró-russos estavam tendo.
6. Em resumo, pode-se afirmar que o próximo diálogo de Francisco com Kirill, do ponto de vista da causa da liberdade, poderá afetar especialmente a situação interna na Cuba comunista, favorecendo uma vez mais a ditadura; e, na Ucrânia, poderá debilitar a posição dos ucranianos que tiveram a coragem de romper com o regime soviético, enfrentando politicamente o autoritário regime putinista e não se deixando enganar pelo braço religioso do Kremlin, atualmente constituído por seguidores de Kirill [na foto abaixo com Raul Castro].
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(*) Notas de “Destaque Internacional” — uma visão “politicamente incorreta” feita a partir da América do Sul. Documento de trabalho (Domingo, 7 de fevereiro de 2016). Este texto, traduzido do original espanhol por Paulo Roberto Campos, pode ser divulgado livremente.http://www.abim.inf.br/
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