"A
esquizofrenia de Fidel Castro e os das esquerdas que acompanham o socialismo
dele, mas adoram também três coisas que só o capitalismo sabe dar - bons cachês
em moeda forte; ausência de censura e consumismo burguês. Trata-se nos filhos
de Marx numa transa adúltera com a Coca-Cola..."
Os donos dos principais jornais brasileiros devem lamentar o dia em que contrataram Verissimo como colunista. Esperavam que o sujeito falasse de comédia da vida privada, mas ele insiste em falar de política, área na qual é, em minha opinião, realmente engraçado, ainda que seja um humor involuntário. Não é que o homem insiste em pregar o socialismo em pleno século 21?
Na coluna de hoje, falou de Fukuyama, do “fim da história”, e fez malabarismos para concluir que o capitalismo também fracassou, não só a utopia socialista. Adotou um discurso digno de uma Luciana Genro, aquela que deve achar que até dor de dente e de barriga é culpa do “capital financeiro”. Acordou com dor de cabeça, levou um pé na bunda do namorado ou bateu de carro? Culpa do “capital especulativo”.
Sim, eu sei que é tudo ridículo. Mas eis o ponto: figuras patéticas que adotam a retórica socialista em pleno século 21 ainda têm espaço na mídia e na política, o que é um verdadeiro espanto, prova de nosso atraso permanente. Somos o eterno país do futuro que adora flertar com o passado, com o que há de mais atrasado. Diz o filho de Érico, com o que pode ser tanto um erro de digitação como um ato falho freudiano, conhecido como “denegação”:
O capital financeiro predatório mantém seu poder de ditar a moral e os costumes da época, masnão não tem mais a certeza de um futuro só dele nem a bênção da filosofia sintética e incontestável do Confúcio da direita.
Para quem conhece um pouco de psicanálise, o “não” seguido de outro “não” é uma denegação, quer justamente anular a negativa. É como na matemática: negativo com negativo dá positivo na multiplicação. Será que, no fundo, Verissimo sabe que não há alternativa fora do capitalismo? Deveria, pois quando ficou doente, foi correndo procurar um hospital particular que visa ao lucro.
Mas sigamos com o espetáculo de horror. Vejam só o que o “especialista” em finanças e economia disse:
A crise provocada pelo capital financeiro fora de controle levou protestantes para as ruas na Europa e nos Estados Unidos e transformou “austeridade”, a solução receitada para as vitimas da crise, em palavrão. Ninguém quer pagar, com o sacrifício de gastos sociais, por uma porcaria que não fez. E cresce a busca por alternativas para os dogmas neoliberais e pelo fim do monólogo dos donos do dinheiro.
Ai minha úlcera! Ok, lugar comum dos ignorantes, que ele repete como verdade absoluta. Mas será que não sabe mesmo que as intervenções estatais estavam no epicentro da crise financeira, que os bancos centrais fomentaram uma bolha, que os gastos públicos colocaram a Europa de joelhos?
Austeridade pode ter virado palavrão nos meios mais incautos, mas o fato é que os países que seguiram as receitas de mais austeridade estão em situação bem melhor hoje do que os demais, como a França que o socialista tanto gosta, que mantiveram as comportas do estado abertas. Verissimo deve “pensar” que movimentos como o Occupy Wall Street são realmente representativos do povo em geral. Mas ele continua com suas baboseiras:
E o papel da esquerda na História pós-Fukuyama? O socialismo está numa crise de identidade. Como é difícil, hoje, recuperar o sentido antigo, sem qualificativos, de uma opção pelo socialismo, as pessoas se entregam à autorrotulagem para se definirem exatamente, (sou dois quartos de esquerda-esquerda, um quarto de centro-esquerda e o outro quarto deve ser gases), o que só atrasa as discussões que interessam. Quais são os limites da coerência ideológica e do pragmatismo? O que ainda pode ser resgatado das ilusões perdidas? Por que não se declarar logo um neo-neoliberal e ser feliz?
Entenderam? Essas adaptações modernas da esquerda só atrasam as discussões que interessam. É preciso resgatar a utopia socialista mesmo, sem muito pragmatismo. É isso que vai tornar o mundo um lugar melhor e mais justo. Esqueçam as cem milhões de mortes dos experimentos anteriores, toda a miséria e escravidão que o socialismo real pariu. Foi um equívoco daquelas pessoas. Se ao menos tentássemos novamente…
Num livro recém-publicado, a ex-mulher de François Hollande revela que ele tem horror a pobre. Se pode sobreviver a Francis Fukuyama, a François Hollande e a partidos políticos brasileiros que se chamam de “socialistas” com uma certa imprecisão semântica, o socialismo ainda tem um futuro, mesmo que seja apenas um apelido conveniente para o que se quer. A escolha continua sendo entre socialismo e barbárie. Pode-se não saber mais o que é socialismo, mas para saber o que é barbárie basta abrir os olhos.
Socialismo ou morte! Verissimo parece endossar a declaração do populista Hugo Chávez, outro que tentou colocar em prática as “brilhantes” ideias do colunista. O socialismo ainda tem um futuro, e o futuro ainda será socialista. Eis o sonho do recalcado, e o pesadelo de todas as pessoas decentes.
A escolha é entre socialismo e barbárie! Ou seja, países como Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Suíça, Cingapura, Coreia do Sul, são todos exemplos da mais pura barbárie. Basta abrir os olhos. Ainda bem que temos alternativas como Cuba, Venezuela, Coreia do Norte, locais onde Verissimo certamente adoraria viver.
Sim, basta abrir os olhos para ver a barbárie. Nem é preciso viajar. É só pegar o seu jornal dominical e ir direto para o caderno de Opinião, e procurar por Verissimo. Os bárbaros estão dentro dos portões, adotam muitas vezes postura civilizada e até engraçadinha. Mas nem por isso deixam de ser bárbaros…
Rodrigo Constantino
http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/historia/verissimo-socialismo-e-barbarie/
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