A
crítica situação do Egito está longe de ser definida. A mobilização popular
permanece. A repressão governamental está acirrada. Há acenos para que haja uma
acomodação do novo governo com alguns integrantes da Irmandade Muçulmana, mas
as relações obscuras entre o atual vice-presidente ElBaradei com ex-integrantes
do governo de Mubarak são um péssimo sinal para uma radical mudança de regime.
Não há qualquer perspectiva no presente momento de que se estabeleça de fato um
governo soberano no Egito e, a persistir a violenta repressão, confrontada com
uma oposição cada vez mais mobilizada e enfurecida, há uma real possibilidade
de que ecloda uma guerra civil no Egito. Se os EUA entenderem que não há
chances de manter a total submissão do Egito à sua geoestratégia de poder
global, a opção de fazer eclodir uma guerra civil (a via indireta) pode se
tornar concreta. Uma opção que já havia sido vislumbrada por estrategistas
israelenses, em 1982, às vésperas da invasão do Líbano.
Desde a derrubada Mubarak, em 2011, o Egito se converteu em mais
um campo de batalha da guerra travada pelos EUA contra o resto da humanidade
(segundo a Teoria do Choque de Civilizações do falecido politólogo Samuel P.
Huntington) em busca da hegemonia global absoluta por meio do cerco e da
contenção da China e da Rússia. Uma guerra mundial que foi iniciada na década
de 1990, sendo travada no Panamá, no Iraque, na antiga Iugoslávia, na Somália,
na República Democrática do Congo, na Líbia, no Afeganistão, no Iêmen, no
Paquistão, na Coréia, no Mali, na Palestina, na Síria, na América do Sul (na
Colômbia, na Venezuela e, mais recentemente, no Paraguai). Várias batalhas de uma
só guerra. Uma derrota imperialista no Egito, com a vitória de uma revolução
popular, seria um duro golpe para os EUA, com consequências imprevisíveis em
todo espaço afro-asiático. Aguardemos os novos acontecimentos no País do Nilo.
Ramez Philippe Maalouf é Historiador e doutorando em Geografia
Humana pela USP.
http://www.diarioliberdade.org/mundo/reportagens/40764-golpe-militar-o-egito-eclodido.html
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