domingo, 16 de dezembro de 2012

A “Conexão Portuguesa” e o homem que “desvirginou” o PT


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Vale a pena refrescar a memória dos mais jovens a respeito das ameaças veladas de Marcos Valério no depoimento ao Ministério Público reconfirmado hoje por O Estado de S. Paulo.
Ao mencionar Paulo Okamoto, protagonista da primeira história a sujar o PT de lama, Ronan Maria Pinto, o “Rei do Lixo“, que estava no olho do furacão que desaguou no assassinato de Celso Daniel e a “Conexão Portuguesa” do Mensalão, ele resume a história da “queda” do PT da posição de vestal solitária da ética na política brasileira para a de campeão incontestável das “malfeitorias” do nosso riquíssimo repertório nesse tema, sinalizando que pode vir a desenterrar cadáveres muito incômodos.
Em todos esses episódios, o centro da corrupção estava colado na pessoa de Lula.
A “Conexão Portuguesa” do Mensalão, que punha Lula, Marcos Valério, José Dirceu e banqueiros portugueses na mesma sala em pelo menos duas reuniões oficialmente confirmadas pelas agendas da Casa Civil e da Presidência da República foi o estopim de todo o escândalo e foi revelada por Roberto Jefferson em pessoa.
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Os detalhes, saborosíssimos, foram minuciosamente reconstituídos aqui noVespeiro em junho de 2010 no contexto de um segundo desdobramento das relações perigosas entre José Dirceu, o Banco Espírito Santo e aPortugal Telecom, antiga dona da Vivo, que foi o lançamento do jornalBrasil Econômico, onde trabalha a mulher do ex-ministro, parte de um plano que visava horizontes muito mais amplos que os pretendidos peloMensalão.
A história dessa quarta conspiração começa neste link.
A do homem que “desvirginou” o PT e o que isso tem a ver com Dilma Rousseff e com o atual ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, eu relembro logo a seguir. A da “Conexão Portuguesa” do Mensalão é a que eu reproduzo abaixo com o mesmo título com que foi publicada ha dois anos e meio neste blog. A de Ronan Maria Pinto/Celso Daniel fico devendo para outro dia.
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Velhas amizades

O Banco Espírito Santo (BES), de Portugal, foi acusado pelo deputado Roberto Jefferson de ser o pivô de uma fracassada operação para resolver parte das dívidas de campanha do PT e do PTB. Este ultimo partido era, na época, o “dono” do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), dirigido por Lídio Duarte, indicado pelo próprio Jefferson. O plano era transferir para o BES US$ 600 milhões de reservas técnicas do IRB aplicados em outros bancos europeus, contra o pagamento de uma “comissão” de R$ 50 milhões com os quais o PT saldaria dívidas de campanha com o PTB. Segundo Jefferson, a operação tinha sido combinada entre Dirceu e o diretor do BES no Brasil, Ricardo Espírito Santo, em encontros articulados, no Brasil e em Portugal, por Marcos Valério.
Jefferson foi mais longe: disse que até o presidente Lula tinha recebido  Ricardo Espírito Santo e Miguel Horta e Costa, na época presidente da Portugal Telecom, em Palácio, levados a ele por Marcos Valério em pessoa.
Foi, naturalmente, desmentido por todos os acusados.
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Acontece que o “Mensalão” estava no início e o governo Lula ainda não tinha o know-how que tem hoje. Checadas as agendas nos sites oficiais da Presidência e da Casa Civil, tudo se confirmou. Lula tinha recebido Horta e Costa, Espírito Santo,  Valério e Dirceu em duas ocasiões: 21 de janeiro de 2003 e 19 de outubro de 2004.
Instaurou-se o pânico entre os executivos do banco, apavorados com a perspectiva de se verem transformados no elo de ligação que faltava entre Lula em pessoa e o “Mensalão”.
Nos dias que se seguiram, notas oficiais coordenadas foram disparadas pelo Palácio do Planalto, pela Casa Civil e pelo Banco Espírito Santo onde todos admitiam o que era impossível negar, mas alegando que o que tinha sido tratado no encontro foram apenas os investimentos da Portugal Telecom no Brasil.
O banco e a Portugal Telecom continuavam negando, entretanto, os outros encontros mais recentes nos quais, segundo Jefferson,  teria sido articulada a operação envolvendo o IRB. Novamente as agendas oficiais, desta vez a da Casa Civil, provaram que ele estava dizendo a verdade, e todos tiveram que reformular suas histórias.
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Sim, tinha havido uma reunião na Casa Civil com a presença de Ricardo Espírito Santo, Jose Dirceu, Marcos Valério e Emerson Palmieiri, tesoureiro do PTB, em 11 de janeiro de 2005. Treze dias depois, Valério, Palmieri e Dirceu seguiram para Lisboa onde, segundo Jefferson, iriam fechar o negócio envolvendo o IRB.
Desmentido pelas agendas oficiais, Ricardo Espírito Santo viu-se em maus lençóis. Convidado a depor na Comissão Parlamentar de Inquérito não conseguia esconder sua irritação: “Não precisamos de intermediários … investimos mais de 7 bilhões de euros no Brasil … O encontro com o ministro Dirceu foi uma reunião de apresentação … De onde conheço Valério? Sei lá como conheci Valério! Foi em contatos sociais…”
A notícia, obviamente, teve intensa repercussão em Portugal de onde veio nova e contundente menção ao nome do presidente Lula relacionado às relações perigosas entre Valério, Dirceu, o BES e a Portugal Telecom.
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A mesma agenda publicada no site da Casa Civil registrava outra viagem anterior de Dirceu e Valério a Lisboa, a 7 de junho de 2004, em que participaram de um jantar com o presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta e Costa. Apertado, Valério emitiu nota confirmando esse encontro e acrescentando que, na mesma viagem tinha visitado o então ministro de Obras e Comunicações do governo Antonio Guterres, do Partido Socialista, Antonio Mexia, que lhe tinha sido apresentado por Horta e Costa. E, o que é pior, três semanas antes da revelação entrar no foco dos investigadores brasileiros,  o ministro Mexia, numa entrevista ao jornal Expresso, de Lisboa, afirmara, desastradamente, que tinha recebido Valério “na qualidade de consultor do presidente do Brasil”.
Seguiu-se nova bateria de desmentidos e novo realinhamento do discurso de todos os envolvidos. Valério, confirmado pelo ministro português, passou a dizer que suas tratativas em Portugal visavam manter em sua agencia a conta publicitária da Telemig cuja compra estaria sendo negociada pela Portugal Telecom. E disse mais: que Palmieri, o tesoureiro do PTB, seria apenas “um amigo pessoal” que só o acompanhou naquela viagem porque “andava estressado” e precisava espairecer.
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Investigações subseqüentes indicam  que os dois movimentos aconteceram ao mesmo tempo. Valério estava mesmo intermediando a negociação entre a Portugal Telecom e a Telemig, exibindo como credencial o seu acesso privilegiado à Casa Civil. Os contatos que fez em Portugal o colocaram na posição ideal para intermediar, mais adiante, a solução imaginada para as dividas de campanha do PT com o PTB através do “esquema IRB”.
Valério, aliás,  já tinha prestado serviços anteriores à Portugal Telecom, influenciando, com ajuda de Dirceu, a decisão da Anatel de manter a divisão de tarifas nas ligações entre telefones fixos e celulares. Pelas regras de 1998, de cada real gasto nas ligações entre aparelhos celulares e fixos, os primeiros ficavam com a maior parte. Sendo a Vivo a única das grandes teles a só operar com celulares, ela é quem mais ganha com essa decisão.
No julgamento em que José Dirceu teve seu mandato cassado, só duas testemunhas de defesa concordaram em depor a seu favor: o presidente do Banco Espírito Santo no Brasil, Ricardo Espírito Santo, e o escritor Fernando Morais.

***


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O homem que “desvirginou” o PT

Esta eu faço questão de lembrar não apenas para a geração que confia naWikipédia que, no verbete “Paulo de Tarso Venceslau” não faz a mais leve menção ao episódio que o tornou um homem tristemente célebre, como também para fazer justiça à presidente Dilma.
Foi ele quem, nos idos de 1993, “desvirginou” o PT ao denunciar ao jornal da tarde, de São Pauloo esquema de desvio de dinheiro das prefeituras ocupadas pelo partido que, até então, era tido como um solitário “paladino da ética”  no cenário desolado da política brasileira.
Paulo de Tarso Venceslau, ex-guerilheiro e fundador do PT, era secretário de Finanças da prefeitura de São José dos Campos e descobriu a falcatrua, que envolvia todas as ocupadas pelo PT e era centralizada nas mãos de Roberto Teixeira, o “compadre” de Lula e proprietário do apartamento em que o ex-presidente mora ate hoje, e do seu fiel escudeiro Paulo Okamoto, então Tesoureiro do PT, o mesmo que Valério diz tê-lo ameaçado mais recentemente de morte.
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Durante quase dois anos Paulo de Tarso Venceslau correu atras de Lula para contar-lhe o que tinha descoberto mas ele dava sempre um jeito de evita-lo. Finalmente, convencido da conivência dele com os “malfeitores“, foi ao jornal da tarde e denunciou o que estava acontecendo.
Foi uma bomba! Era a primeira vez que o partido que vivia com o dedo na cara de todo mundo foi pego em flagrante e vasta “malfeitoria“.
Cabe lembrar, a propósito, que o atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, integrou a comissão especial criada pela Executiva Nacional do PT para investigar o caso. Àquela altura um bom numero dos militantes e dos fãs do partido realmente acreditava que ele não era o que desde então provou ser.
Ao lado do então deputado, jurista e ex-jornalista Hélio Bicudo, que deixou o PT após o escândalo do Mensalão, em 2005, Cardozo concluiu em seu relatório que tanto o compadre de Lula como o irmão deste atuaram dolosamente para desviar o dinheiro das prefeituras controladas pelo partido através da empresa CPEM com a qual “prestavam assessoria” às prefeituras petistas, e que este “Atuou com evidente abuso da confiança de que desfrutava no partido em face da notória relação de amizade que mantém com o presidente de honra do PT”.
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Essa menção ao fato de que Lula em pessoa tinha credenciado seu compadre a insinuar-se às administrações do partido para montar um esquema de corrupção que, desde então, tornou-se recorrente em todos os escândalos em que o partido se envolveu, foi, àquela altura, de uma ousadia quase impensável.
Lula, como sempre, negou que soubesse de qualquer coisa e acabou sendo inocentado na sindicância, acuada sob intensa pressão da tropa de choque do segmento mais profissional da militância petista.
Paulo de Tarso Venceslau foi expulso do partido sob a acusação de que “ao se dirigir à imprensa, empregou adjetivos que desqualificaram Lula e outros dirigentes petistas” e esse resultado definiu para sempre o modo de agir em face de flagrantes e denuncias que o partido mantém até hoje.
Mas Lula nunca mais perdoaria Cardozo por ter tomado seu santo nome em vão.
Quando Tarso Genro deixou a pasta da Justiça para concorrer ao governo do Rio Grande do Sul, com Lula ainda na presidência, indicou Cardozo como seu sucessor. Dilma Rousseff, então na casa Civil, apoiou a indicação mas Lula manteve-se inflexível. Nelson Jobim ocupou a pasta.
Ao se tornar presidente, Dilma convocou Cardozo e o impôs a Lula, razão pela qual ele é considerado o primeiro e único dos ministros de sua livre escolha no ministério com o qual iniciou seu governo.
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