terça-feira, 15 de junho de 2010

Holocausto da civilização Asteca Espanha de Carlos V heranças para unir as casas do Norte (Áustria e Borgonha) e as do Sul (Castela e Aragão)

Trechos de cartas enviadas à Espanha por Hernán Cortéz nas quais ele narra como aniquilou a civilização asteca entre 1519 e 1526.

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  • Durante a invasão espanhola, Montezuma nunca deixa de enviar espiões ao campo adversário, e sempre perfeitamente ciente dos fatos: assim, fica sabendo da chegada das primeiras expedições, ao passo que os espanhóis ainda ignoram completamente a existência dele; então envia instruções aos governadores regionais: “Ele ordenou (...): ‘Façam com que toda a costa seja vigiada(...), em todos os lugares onde os estrangeiros poderiam desembarcar’” (Codex Florentino, XII, 3). Quando Cortez chega na Cidade do México, Montezuma é informado da chegada de Narvaez, que Cortez ignora. Os astecas sabiam tudo o que ocorria através das palavras, pinturas, memoriais. Dispunham de homens muito velozes que, indo e vindo treinados desde a infância para correr pelos morros suntuosos até a costa,e ter fôlego sem ficarem cansados. Como se poderia imaginar, a um domínio da comunicação inter-humana. Há algo de emblemático na recusa, constantemente reiterada por Montezuma, em se comunicar com os intrusos espanhóis.  Enquanto os espanhóis ainda estão perto da costa, a mensagem mais importante que Montezuma envia -lhes é que ele não quer nenhum intercâmbio de mensagens! Ele recebe informações, mas não se alegra  muito, pelo contrário; eis a imagem que nos dão dele os relatos dos astecas: “Montezuma baixou a cabeça, e sem dizer uma palavra, a mão sobre a boca, ficou um longo momento, como [se estivesse] morto, ou mudo, pois não pôde falar nem responder” (Durán, III, 69). “Quando o escutou, Montezuma apenas inclinou a cabeça; mantinha a cabeça baixa (...) Não falou, mas ficou muito tempo cheio de aflição, como se estivesse ao lado de si mesmo” 1 (CF, XII, 13). Montezuma faz um  paralelo significativo entre “mudo” e “morto”. “Todos os dias vários mensageiros iam e vinham, relatando ao rei Montezuma tudo o que acontecia, dizendo que os espanhóis faziam muitas perguntas a respeito dele, colhendo informações sobre sua pessoa, seu comportamento e sua casa. Isto deixou-o bastante angustiado, hesitante em relação ao caminho a seguir, fugir, ou se esconder, ou então esperar, pois temia os maiores males e os maiores ultrajes para ele e para todo o seu reino” (Trovar, p.75). Segundo Durán, o coração de Montezuma ficou apertado de tormento e angústia” (CF, XII, 13). 
  • Colonização Espanhola

Segunda carta
Enviada à sua sacra majestade do imperador nosso pelo capitão geral da Nova Espanha, chamado dom Hernan Cortez.
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Antes que os nativos pudessem se juntar, queimei seis povoados e prendi e levei para o acampamento quatrocentas pessoas, entre homens e mulheres, sem que me fizessem qualquer dano. (01-Pag. 33)
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Antes do amanhecer do dia seguinte tornei a sair com cavalos, peões e índios e queimei dez povoados, onde havia mais de três mil casas. Como trazíamos a bandeira da cruz e lutávamos por nossa fé e por serviços de vossa sacra majestade, em sua real ventura nos deu Deus tanta vitória, posto que matamos muita gente sem que nenhum dos nossos sofresse dano. (01- Pag. 33).
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No outro dia vieram cerca de cinquenta índios que traziam comida e começaram a olhar as saídas de nosso acampamento, bem como as cabanas onde dormíamos. Os de Cempoal vieram até mim e alertaram-me para olhar aqueles homens que eram maus e vinham espionar. Dissimuladamente prendi um deles sem que os outros vissem. [ ...] Depois tomei mais outros cinco ou seis e todos confessaram a mesma coisa. Em vista disso, mandei prender todos os cinquenta e cortar-lhes as mãos e os enviei a seu senhor para que dissessem a ele que quando ele viesse saberia quem éramos. (01- pag. 33, 34).
...saí uma noite, depois de rendida a guarda da prima, com os peões, índios e cavalos, e antes que amanhecesse dei com dois povoados onde matei muita gente, (01- pag. 34).

Colonização Espanhola

  • Os astecas o que  mais prezam não é realmente a opinião individual, a iniciativa individual. Temos uma prova suplementar da preminência do social sobre o indicidual, no papel desempenhado pela família: os pais são queridos, os filhos adorados, e a atenção consagrada a uns e outros absorve grande parte da energia social. Reciprocamente, o pai e a mãe são considerados responsáveis pelos erros que o filho cometa; entre os tarascos, a solidariedade na responsabilidade entende-se até os criados. “ Os preceptores e amas-de-leite que tinham educado o filho são igualmente mortos, assim como os criados, pois lhe ensinaram maus hábitos” (Relación de Michoacán, BI,8, cf.III, 12). A solidariedade familiar não é um valor supremo; os laços familiares passam para o último plano, abaixo das obrigações  para com o grupo (Zorita, 9). E para que cada um saiba onde é o seu lugar, os indígenas possuíam leis importantes, decretos e ordenâncias” (I, 11). O futuro do indivíduo é determinado pelo passado coletivo; o indivíduo não constrói seu futuro, este se revela; daí o papel do calendário, dos presságios, dos augúrios.
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Terceira carta
Enviada por Hernan Cortez, capitão e justiça maior de Yucatán, chamada a Nova Espanha do Mar Oceano, ao mui alto e potentíssimo César e invictíssimo senhor dom Carlos, imperador sempre augusto e rei da Espanha, nosso senhor.
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...continuamos a fazer nossos constantes ataques à cidade, sempre provocando muito dano e matando muita gente. Há uns vinte dias que vínhamos fazendo fazendo esse tipo de ação, quando os nossos começaram a insistir comigo, dizendo que era preciso tomar o mercado. Eu me escusava argumentando que só o faria quando tivesse plenas condições. Até o tesoureiro de vossa majestade veio me dizer que todo o real queria que eu tomasse logo o mercado, pois assim os inimigos perderiam o seu posto de abastecimento e morreriam de fome e de sede, pois só lhes sobraria a água salgada da lagoa. (01- Pag. 89)
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...Como sempre que batíamos em retirada ao final do dia os índios atrás dos nossos cavalos em grande alarido, resolvi preparar-lhes uma cilada. [...] Depois que os nossos passaram por ali no retorno do fim da tarde, os de cavalo caíram sobre os inimigos que vinham logo atrás fazendo seu constante alarido. Foi uma cilada muito bem feita e conseguimos matar uns quinhentos dos índios mais bravos e mais corajosos. [...] graças a esta vitória que Deus Nosso Senhor nos concedeu neste dia, se tornou mais próximo o momento de se ganhar toda a cidade, porque os nativos sofreram um grande abalo [...] A única perda lamentável que tivemos naquele dia foi uma égua cujo cavaleiro caiu, e que saiu em corrida sem rumo, indo parar no meio dos nossos inimigos que a flecharam... (01 - Pag. 93)
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Permanecemos no real uns três dias ou quatro dias descansando, enquanto se fundia o ouro recolhido, o que deu mais de cento e trinta mil castelhanos, do que se entregou o quinto ao tesoureiro de vossa majestade, enquanto que o restante foi repartido entre eu os espanhóis, de acordo com a qualificação e o serviço de cada um. Entre os despojos havia tantos discos de ouro, penachos e plumagens, coisas tão maravilhosas que por escrito não se pode fazer compreender sua beleza. Por serem tão maravilhosos, juntei todos os soldados e roguei que não fossem quintadas, mas enviadas todas a vossa majestade. (01- Pag. 98)

Colonização Espanhola
  • A pergunta que caracteriza esse mundo não é, como para os conquistadores espanhóis ou os revolucionários russos, de tipo praxeológico: “que fazer”, mas epistêmico: Como saber? E a interpretação do acontecimento se faz menos em função  de seu conteúdo, concreto, individual e único, do que em função de uma ordem preestabelecida a ser restabelecida, da harmonia universal. Seria forçar o sentido da palavra “comunicação” dizer, a partir disso, que há duas grandes formas de comunicação, uma entre os homens, e outra entre o homem e o mundo, e constatar que os índios cultivam principalmente esta última, ao passo que os espanhóis cultivam principalmente a primeira ou seja entre os homens. É este tipo de comunicação que desempenha um papel predominante na vida do homem asteca, que interpreta o divino, o natural e o social através de indícios e presságios, com o auxílio do profissional que é o sacerdote-advinho. 

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Quarta carta
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Mas, a 5 de fevereiro o dito capitão partiu novamente para lá e espero que desta feita ele possa realizar o seu trabalho, pois além de ser aquela uma terra rica em minas os seus nativos não param de importunar os seus vizinhos que se tornaram nossos amigos. [...] pedi ao capitão que os derrotasse, os matasse e tomasse por escravos os que sobrassem vivos, ferrando-os com a marca de vossa majestade. Tenha por certo, mui excelentíssimo príncipe, que a menor destas entradas me custa mais de cinco mil pesos de ouro e que as Pedro de Alvarado e de Cristóbal de Olid custam mais de cinquenta, sem contar outros gastos de minha fazenda. Porém, como é para o serviço de vossa majestade, se a minha pessoa fosse junto, isto seria uma grande honra e recompensa. (01- Pag. 113)
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  • Os habitantes de Xochimilco tiveram a visão... Quando todos estavam sentados em seus lugares para comer, as iguarias se transformaram, à vista deles, em pés e mãos de homem, em braços, cabeças, corações humanos, em fígados e intestinos. Diante de coisa tão horrível, nunca antes vista ou ouvida, os habitantes de Xochimilco chamaram os áugures e perguntaram-lhes o que aquilo podia significar. Estes anunciaram que era péssimo presságio, pois significava a destruição da cidade e a morte de muita gente” (Durán III, 12). E acontecia que os grandes chefes astecas visitarem regularmente o advinho antes de começar uma operação importante. E mais: sem terem sido solicitadas, diversas personagens afirmam ter tido comunicação com os deuses e profetizam o futuro. Lê-se numa página do livro maia de Chilam Balam: “Conheciam a ordem de seus dias. Completo era o mês; completo, o ano; completo, o dia; completa, a noite; o sopro de vida também, quando passava; completo o sangue, quando chegavam a seus tronos. Em boa ordem recitavam a boas orações; em boa ordem procuravam os dias propícios, até verem as estrelas propícias entrarem em seu reino; então observavam quando começaria o reino das boas estrelas. Então tudo era bom” (5). Durán, um dos melhores observadores da sociedade asteca, conta, por sua vez, a seguinte anedota: “Um dia perguntei a um velho por que semeava feijões tão tarde no ano, já que naquela época geralmente geava. Respondeu que tudo tinha sua razão de ser e seu dia particular” (II,2). Na sociedade indígena de antigamente, diz Durán, o indivíduo não representa em si uma totalidade social, é unicamente o elemento constituído de outra totalidade, a coletividade.  O indígena é elemento da comunidade. Os índios dedicam grande parte de seu tempo e forças à interpretação das mensagens e que essa interpretação tem formas extremamente elaboradas, relacionadas às diversas espécies de advinhação. A primeira delas é a advinhação cíclica (nossa astrologia é um exemplo deste tipo).

Carlos V da Espanha(2)
Resultado de imagem para Carlos V da EspanhaCarlos V e aquela espantosa sucessão de heranças recebidas de supetão, fazendo com que na sua pessoa se unissem as casas do Norte (Áustria e Borgonha) e as do Sul (Castela e Aragão), Do lado do avô materno, Carlos herdou a Espanha e suas colônias americanas, a Sicília, a Sardenha e Nápoles. Pelo lado do avô paterno, a Áustria, o Tirol, algumas províncias do Sul da Alemanha, os Países Baixos e o Franco-Condado (O historiador Earl J.Hamilton (in American Treasure and the price revolution in Spain, 150).  Não só isso; ainda que não tivesse impacto imediato na economia européia, na mesma data, lá do outro lado do Atlântico, no Novo Mundo, o conquistador Hernán Cortés desembarcava em 1519 no litoral do México, em Vera Cruz, para ir tomar de assalto o Império Asteca de Montezuma.contribuíram para com que Carlos V de alguma forma se sentisse um missionado por Deus. Nos anos seguintes, galões abarrotados de prata, carregados em seguida também com o ouro dos incas do Peru, dominados por Pizarro em 1532, iriam afluir para Sevilha, para dali irrigar com metal precioso o restante do império de Carlos V.  da ascensão do trono de Carlos V, em 1520, até sua abdicação em 1555, a Espanha saltou de 1.246.124 para 11.838.637 maravedis em metal precioso  “expropriados com o sangue” do Novo Mundo, isto é, aumentou nove vezes e meia. Carlos V veio a falecer em 1558. Não chegara a completar 60 anos, mas estava exausto. Poucos governantes tiveram tanto poder e tantos súditos, tantos mares e oceanos navegados em seu nome e tantos povos sujeitos a sua lei, e no entanto ele voltou sua costas a isso tudo, isolando-se do mundo para abraçar a vida de  monge. 

01 - CORTÉZ, Hernán. A conquista do México, Porto Alegre, LP& M Editores, 1986.
02 - Ele foi o monarca mais poderoso do século 16 e o primeiro da Europa a desvincular sua política dos bancos. Ele deu início à Era Moderna e aos princípios do capitalismo. Durante seu governo a globalização nasceu e os atritos entre as religiões cristãs eclodiram. Nenhum governante antecipou os atuais conflitos da política mundial como Carlos V, soberano de um império "no qual o Sol jamais se punha"

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