Por que ler um clássico sobre a Inconfidência
Kenneth Maxwell traça a trajetória dos personagens do movimento e discute a crise do sistema colonial português. Maxwell, diretor do programa de Estudos Brasileiros do Centro David Rockefeller [.] para Estudos Latino-Americanos da Universidade Harvard
10 de outubro de 2009 | 0h 00
Lilia Moritz Schwarcz - O Estadao de S.Paulo
O escritor Italo Calvino abre sua obra Por Que Ler os Clássicos - uma coletânea de ensaios, críticas, prefácios e resenhas -, relacionando 14 definições sobre o que faria de um livro comum, um clássico. Lá vão algumas delas. "Seriam aqueles livros que constituem uma riqueza para quem os tenha lido e amado; mas constituem uma riqueza não menor para quem se reserva a sorte de lê-los pela primeira vez, nas melhores condições para apreciá-los." E ainda: "Os clássicos são aqueles que chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram."
A nos fiarmos nas máximas de Calvino, a sétima edição comemorativa dos 30 anos de A Devassa da Devassa, de autoria de Kenneth Maxwell, que apresenta texto inalterado - mas um oportuno caderno de imagens feito por Fernanda Carvalho, além da bela introdução de Jeremy Adelman - mereceria receber tal tipo de caracterização. O leitor tem nas mãos um clássico, consagrado pelo tempo.
Como dizem as definições, clássicos carregam consigo as marcas das suas várias leituras, e não seria o caso de resumir uma delas. A obra (tradução de João Maia) mereceu uma alentada fortuna crítica, começando pela euforia diante da descoberta de novos documentos - que atrapalhavam a até então consagrada sequência de fatos que definiam a Inconfidência Mineira - e chegando até análises mais recentes que destacam a oportunidade metodológica do livro. Afinal, o texto alia, com maestria, uma história de personagens (como Tiradentes ou Claudio Manuel da Costa) com a explicitação de fenômenos de mais longa duração, como são os movimentos de emancipação de finais do século 18.
Talvez o segredo da atualidade da obra seja a maneira como Maxwell, diretor do programa de Estudos Brasileiros do Centro David Rockefeller para Estudos Latino-Americanos da Universidade Harvard, apreende a trama de vários eventos, sempre entrelaçados. Evento aqui ganha uma acepção especial, uma vez que representa um episódio culturalmente significado. Ou seja, trata-se de pensar como um mero acontecimento, que se perderia na pátina do tempo, ganha uma percepção abrangente. Nesse sentido, o fracasso da rebelião foi também seu sucesso, uma vez que, se o movimento de 1789 foi prontamente debelado, já sua repercussão aumentou em espiral. Eis o estranho paradoxo que o historiador desvenda como quem abre porta enferrujada.
Na verdade, a resposta encontra-se na fronteira tensa entre a análise mais contingente (centrada nos protagonistas) e uma interpretação estrutural e comparativa. Maxwell analisa com cuidado a agenda dos fatos, mas escrutina, igualmente, mecanismos de mais longo espectro, como a crise do sistema colonial português e a crescente dependência para com a Inglaterra. Portugal constituía, pois, o mais retrógrado mas também o mais elástico dos impérios, e quem sabe tal particular explique sua durabilidade. Nada há no livro que lembre a nostalgia do passado mítico luso e muito menos o escárnio diante do que poderia ser chamado de modelo de religiosidade estatal. Não por coincidência, esse tipo de percepção estaria presente na análise fina que o autor elabora em seu outro livro sobre o Marquês de Pombal (1996), em que discute os limites do Iluminismo em Portugal, e mesmo no retrato duro que traz do salazarismo em A Construção da Democracia em Portugal (1999).
Conforme escreve Maxwell, "a pequena estatura das nações ibéricas no século 18 forçou estadistas espanhóis e portugueses a encararem o grande problema da modernização". A eficiência imperial foi sempre um tema a incomodar nossa metrópole e a Inconfidência Mineira talvez tenha corporificado o episódio mais comentado nesse sentido. A cronologia e a ideologia do movimento projetaram o evento em um contexto mais amplo, mostrando como - ao lado da Revolução Americana, dos primeiros rumores sobre a Revolução Francesa e das ideias de Raynal - os poucos membros da elite de Minas haviam articulado não só uma oposição ao domínio português, como desafiavam o próprio sistema colonial. É certo que a Revolta não se materializaria, mas tal fracasso não escondia o fato de que um importante segmento social, a elite mineira, em que o governo metropolitano deveria confiar para exercer o poder local, tinha agora o atrevimento de pensar que podia viver sem Portugal, e se tornar uma república independente.
O que fez Maxwell foi articular o que parecia contingente (como a ação de um grupo minoritário) a uma situação mais ampla e por isso estrutural. A Inconfidência foi mesmo um desastre, mas, como mostra o analista, a política de Portugal para com suas colônias não era muito diferente.
O movimento do livro leva a prever conturbações, mudanças e novos acomodamentos. Mas tudo estava mesmo para mudar. Essa é, porém, outra história, que implica entender as decorrências da crise portuguesa, a guerra na Europa e a mudança da corte para o Brasil.
Por essas e por outras, Devassa da Devassa é obra obrigatória não só para historiadores do Antigo Regime, do período colonial brasileiro ou da sociedade mineira. Ela cumpre papel fundamental para todo aquele que pretenda entender o que o historiador inglês Eric Hobsbawm chamou de "a era das revoluções"; aquele período em que agitações de toda ordem sacudiram o mundo, anunciando os primeiros sinais de um novo e barulhento contexto. Tudo parecia movediço: o mercantilismo até então bem assentado, o império português, a monarquia e o destino das nações.
Como diz Calvino, em mais uma de suas definições, "os clássicos são livros que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos de fato mais se revelam novos, inesperados, inéditos". Eis aí o mais "novo velho" livro de Kenneth Maxwell.
Lilia Moritz Schwarcz, professora do Departamento de Antropologia da USP, é autora, entre outros, de O Sol do Brasil (Companhia das Letras)
Um comentário:
Pois é querida amiga, Marilda
Não era mesmo à toa que o premiadíssimo e reconhecidíssimo grande historiador, Gustavo Barroso escreveu em seus livros quase todas as tramas detalhadamente, da elite cabalística judaico-sionista e suas garras afiadas sobre as riquezas do nosso Brasil varoníl. Gustavo Barroso, em seu livro "Brasil colônia de Banqueiros", não só dá nome aos bois como coloca os números das nossas primeiras dívidas públicas para as casas bancárias judaicas inglesas, francesas e Russas, como também expõe o grande Khaal internacional e suas conspirações. Só para dar uma lambisca, pra os que nunca leram Gustavo Barroso, aí vai uma lasquinha:
"A Independência" do Brasil, foi financiada pela casa bancária judaica Rothschild:
"Quanto custou ao Tesouro Imperial em nossa moeda o empréstimo da independência:
Rendeu 12.397:777$777
Pagamos a juros 46.263:878$445
Custou à Nação 60.348:179$393
Daí para frente nós vemos com números, letras e imagens, o quanto ainda somos uma colônia do grande capital internacional do Khaal global(Estado paralelo plutocrata e invisível que existe há séculos=governo oculto global).
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