domingo, 28 de dezembro de 2008

Cuba trajetória previamente traçada

Etiópia: 24 mil soldados cubanos foram enviados para o país em 1977-1979 durante a guerra contra a vizinha Somália 
O general Dwight D. Eisenhower, ex-comandante dos Aliados ocidentais na Europa durante a Segunda Guerra Mundial, foi eleito presidente dos EUA pelo Partido Republicano. No seu governo, a Guerra Fria se intensificou, sobretudo no Terceiro Mundo, onde os EUA entraram em confronto não apenas com governos ou movimentos marxistas, mas também nacionalistas, vistos como “esquerdizantes” e ameaçadores aos interesses econômicos e estratégicos americanos. A época em que Eisenhower governou os EUA coincidiu com a ascensão de Nikita Khruschev à liderança da URSS após a morte de Stalin (1953).


Pesquisando... Cuba!
Cuba foi juntamente com Porto Rico, o último domínio espanhol no continente americano. Conquistou sua independência em 1898, na Guerra de Independência de Cuba, que foi o segundo conflito com este objetivo – o primeiro foi a Guerra dos Dez Anos ou Guerra Grande (1868-1878), quando a Espanha conseguiu repelir as forças independentistas. Entretanto, na prática não foi uma independência plena. Durante a   guerra de 1898, os Estados Unidos intervieram no conflito para combater a Espanha, a quem acusavam de ser responsável pelo afundamento de um de seus navios, que estava atracado no porto de Havana – fato este nunca comprovado. É importante salientar que as forças independentistas cubanas não solicitaram o auxílio estadunidense.
    Na prática, Cuba virou um protetorado ou “semicolônia” dos EUA, que passaram a dominar grande parte da economia do país, sobretudo o setor açucareiro (base econômica cubana e que tinha nos EUA o seu principal mercado consumidor). Tropas americanas intervieram na ilha em 1906-1909, 1912 e 1917-1922.
    Findada a guerra, os EUA forçaram a Espanha a entregar-lhes os domínios de Porto Rico e Filipinas, enquanto Cuba se tornou um Estado teoricamente independente. Teoricamente, porque em sua constituição havia a Emenda Platt, proposta pelo senador dos Estados Unidos de mesmo nome, que garantia a seu país o direito de intervir na política cubana para preservar seus interesses, além de benefícios para sua indústria agrícola e carbonífera, assim como terrenos para instalação de bases militares – por isso existe a base naval de Guantánamo. Nos anos seguintes, a política cubana foi dominada por corrupção, golpes de Estado e uma forte influência estadunidense. Poucos foram os períodos de democracia. A grande maioria da população vivia na miséria, sem acesso à saúde, educação, moradia e condições de trabalho dignas. Era um lugar de veraneio para as classes abastadas dos EUA, com forte atividade de cassinos e prostituição.Em 1934, de acordo com a Política de Boa Vizinhança de Franklin Roosevelt, a Emenda Platt foi revogada, mas os americanos continuaram dominando a economia cubana e preservaram a base em Guantánamo.
    Logicamente, a população cubana não estava satisfeita com o que se passava. Mas era governada por ditadores e lhe faltava condições para tentar alterar a situação. Coube aos estudantes se organizarem e darem início a luta por mudanças. O principal expoente destes foi Julio Antonio Mella. Mella era um estudante universitário de Direito, Filosofia e Letras, na Universidad de La Habana. Foi fundador da   Federación Estudantil Universitaria, entidade com grande ativismo político e que foi perseguida por diversos governos. Por seu pensamento revolucionário e progressista, Mella foi expulso da universidade e obrigado a se exilar no México. Em 1929 foi assassinado enquanto caminhava pela rua, aos 25 anos. Nada foi comprovado, mas há indícios que os atiradores estavam sob ordens de Gerardo Machado, então presidente de Cuba.Mais golpes de Estado vieram, contribuindo para que não houvesse estabilidade política e para que a economia cubana se tornasse cada vez mais frágil e dependente dos Estados Unidos. O ápice da insatisfação com a conjuntura político-econômica e social veio na década de 1950.
      O ressentimento nacionalista foi reforçado pela insatisfação com a corrupção, o autoritarismo e a repressão. Foi no contexto da ditadura de Batista, contemporânea em sua maior parte do governo de Eisenhower, que eclodiu a Revolução Cubana.



      Em 1952, Fulgêncio Batista coordenou um golpe de Estado contra o presidente eleito Carlos Prío Socarrás. Uma ditadura foi instalada e dois anos depois foram convocadas eleições, que fraudadas, confirmaram Batista no poder. Em seu governo, as liberdades civis e individuais foram limitadas e houve um aumento da violência contra os opositores. Apesar de pregar contra a corrupção, Batista e seus partidários enriqueceram, enquanto o resto do país permanecia em condições deploráveis. A situação do país havia alcançado um nível insustentável. A fraude eleitoral foi a gota d’água. Diversos grupos começaram a se organizar para enfrentar o governo central. Os movimentos operário e estudantil, partidos políticos e outros setores da sociedade passaram a fazer ferrenha oposição à Batista. Um grupo de jovens, que se autodenominou Geração do Centenário – em referência ao centenário de nascimento de José Marti, um dos heróis e líderes da luta por independência – se desligou do Partido Ortodoxo, que fora derrotado nas eleições. Dentre esses jovens, estavam Fidel e Raúl Castro.  Começa a Revolução  -    Fidel Castro assumiu a liderança do grupo e junto com os outros angariou recursos financeiros e materiais para efetuar ataques contra forças do governo, no quartel Moncada, Palácio de Justiça e o Hospital Civil em Santiago e o quartel Carlos Manuel de Céspedes, em Bayamo. Com o auxílio de parentes e simpatizantes, reuniram armas e veículos, além de terem treinado e se escondido durante um tempo em uma propriedade da família Castro. No dia 26 de julho de 1953, o grupo de cerca de 135 pessoas foi dividido em quatro colunas, sendo a principal liderada por Fidel, enquanto Abel Santamaría e Raúl Castro coordenavam as que dariam apoio e Raúl Martínez Ararás chefiava os homens que seguiram para Bayamo. A estratégia consistia em a coluna de Abel Santamaría ocupar o Hospital Civil – que serviria para o tratamento de feridos – e Raúl Castro tomar o Palácio da Justiça para darem suporte ao assalto ao quartel Moncada, conduzido por Fidel. Raúl Martinez atacaria o quartel Carlos Manuel de Céspedes, para evitar que reforços fossem enviados à Santiago. Abel Santamaría e Raúl Castro lograram seus objetivos, porém Fidel encontrou grande resistência, perdeu muitos homens e foi obrigado a se render, juntamente com as duas colunas auxiliares. O mesmo ocorreu com Raúl Martinez, que teve seu grupo de 21 homens dizimado.Em 1958, a violência política cresceu no país aumentando a insegurança para os negócios americanos. Como o movimento revolucionário incluía grupos liberais partidários da manutenção dos laços econômicos com os EUA, Eisenhower não considerou a luta contra Batista uma ameaça muito grande aos interesses americanos, embora não tivesse certeza absoluta quanto a isso. Inicialmente, Eisenhower apoiou Batista, mas com o aumento da instabilidade política e os problemas econômicos, o governo americano passou a considerar que apenas com o fim da ditadura Cuba voltaria à normalidade. Consequentemente, os EUA passaram a pressionar Batista para que renunciasse, mas o ditador cubano resistiu. Em março de 1958, o governo americano suspendeu o fornecimento de armas a Batista (mas não impediu que ele importasse material bélico da Grã-Bretanha e da Iugoslávia).

      Os rebeldes que sobreviveram foram presos e julgados, tendo Fidel Castro sido condenado a 15 anos de prisão. Seu discurso de defesa – Fidel é graduado em Direito – ficou famoso pelo teor político, por sua tenacidade e pela frase “a história me absolverá”. O que pareceu ser o fim para o movimento revolucionário, na verdade foi o seu impulso. Fidel e os outros foram anistiados em 1955, graças à pressão nacional e internacional. Havia um clima em Cuba de grande comoção em favor dos jovens. Pouco depois, Fidel fundou o Movimento 26 de Julho – nomeado assim em homenagem aos caídos nos combates de 1953 – e se exilou com seus companheiros no México. O M-26 tinha um caráter patriótico e antiimperialista, inspirado pelos heróis da independência, como Antônio Maceo, Carlos Manuel de Céspedes,   Máximo Gómez e, principalmente, José Martí. Além de Raúl e Fidel Castro, entre os membros do M-26 estavam Camilo Cienfuegos e Juan Almeida Bosque, dois importantes comandantes das futuras colunas guerrilheiras de Sierra Maestra. No México, vão a conhecer outro futuro comandante, o argentino Ernesto “Che” Guevara, que é apresentado a Fidel por Raúl e logo se integra ao movimento.     Após organizarem todos os preparativos, em 25 de novembro de 1956, 82 homens embarcaram no iate Granma, rumo à costa cubana. Era o núcleo do primeiro foco guerrilheiro. Por contratempos durante a viagem, o Granma atrasou em dois dias a sua chegada, prevista para 30 de novembro. Isto frustrou os planos inciais, que incluíam um levante popular em Santiago, liderado por Frank País, com o objetivo de distrair as forças do governo para permitir o desembarque dos guerrilheiros.
      (1959-1960). Os EUA viram com apreensão a vitória da Revolução Cubana, mas estavam de certa forma conformados com a sua inevitabilidade. A Casa Branca não tinha nenhuma simpatia por Fidel Castro, de quem desconfiava por suas posições esquerdistas, e esperava que um grupo mais moderado assumisse a direção do país, afastando a influência dos comunistas ortodoxos (PSP) e dos não-ortodoxos e independentes (M-26-7). A Casa Branca, entretanto, não sabia ao certo o que fazer. A situação política em Cuba ainda não estava claramente definida e havia esperança de que os liberais conseguissem prevalecer, ou que o próprio Fidel optasse por uma postura mais moderada. A medida mais extrema – uma intervenção militar – era politicamente inviável naquele momento: não havia ainda nenhum pretexto que a justificasse ou o apoio da OEA e, pior, poderia reforçar o crescente antiamericanismo revelado na desastrosa viagem do vice-presidente Nixon à América do Sul em 1958 (episódio que abalou Eisenhower). Em abril, Fidel viajou aos EUA, mas Eisenhower não quis recebê-lo (encontrou-se com Nixon, que não teve boa impressão do novo dirigente cubano).

      Além do atraso, o iate tomou um rumo diferente do estabelecido e acabou por encalhar em Alegria Del Pío, uma praia entre Bayamo e Santiago. Lá, houve o primeiro combate. Os guerrilheiros sofreram uma dura derrota, onde pouco mais de 20 sobreviveram aos bombardeios e ataques do exército de Batista. Há relatos de que houve uma proposta de rendição, e enquanto os rebeldes discutiam, Camilo Cienfuegos pegou sua arma, gritou ao comandante das forças do governo que ninguém iria se render e disparou, recomeçando a luta. Depois da vitória em Alegría Del Pío, o governo divulgou a informação de que todos os rebeldes haviam morrido. Isto permaneceu como verdade para muitos durante um tempo, pois com o grupo enfraquecido e disperso, os sobreviventes se refugiaram na Sierra Maestra e começaram a se reestruturar. O apoio recebido dos partidários que estavam nas cidades, em especial em Santiago, e dos camponeses, foi de grande importância para a sobrevivência da guerrilha.
       Esses grupos moderados, inseguros quanto ao futuro da revolução, também começaram a fugir em massa do país (40 mil pessoas em 1959-1960), engrossando as fileiras dos exilados nos EUA e reforçando a propaganda anticastrista.


      No início de 1957, o M-26 efetuou seu primeiro ataque, contra um destacamento militar na localidade de La Plata. A forma como os guerrilheiros tratavam os soldados do exército de Batista era interessante. Muitos eram convidados a se unir à Revolução. Em fevereiro, pouco mais de um mês após o primeiro ataque, o jornalista estadunidense Herbert Mathews, do New York Times, entrevista Fidel Castro na Sierra Maestra. Tal entrevista causa grande surpresa, tanto em Cuba quanto no exterior, e seu conteúdo agrada boa parte da população local, que começa a simpatizar com o movimento. Enquanto o M-26 combatia na região de Sierra Maestra e contava com células em alguns centros urbanos, outros movimentos também adotaram a luta armada e enfrentaram o governo. Em março do mesmo ano, o Diretório Revolucionário, organização formada essencialmente por estudantes universitários, ataca o Palácio Presidencial e uma rádio, conseguindo manter o controle temporário desses pontos, mas logo foi rechaçado. Nos combates, veio a falecer José Antonio Echevarría, então presidente da FEU. Em El Uvero, cerca de três meses depois da ação do Diretório Revolucionário, o M-26 entrou pela primeira vez desde 1956 em combate aberto contra as forças de Batista. Após um intenso tiroteio, os rebeldes conseguiram a vitória. “Che” Guevara, que atuava como médico da guerrilha atendeu os feridos de ambos os lados. Em julho ele recebeu sua coluna guerrilheira, a segunda do Exército Rebelde. O assassinato de Frank País em 30 de julho causou severos danos à imagem do governo. O pouco de popularidade que lhe restava foi perdido. No fim do ano Batista recebeu um novo golpe. A guarnição da base naval de Cienfuegos se rebelou, com o apoio do M-26. A repressão ao levante foi cruel.
      A tensão entre os governos de Fidel e de Eisenhower cresceu no segundo semestre de 1959 e foi agravada em 1960 pela aproximação Cuba-URSS – um fato que não havia acontecido na Revolução Guatemalteca e que estava transformando Cuba em um caso muito mais perigoso para os EUA. A URSS reconheceu o novo governo de Havana em janeiro de 1959, mas foi somente em junho-julho que os dois governos iniciaram conversações por ocasião de uma viagem de Che Guevara ao exterior. Em fevereiro de 1960, os soviéticos assinaram acordos com os cubanos para a compra de açúcar e o fornecimento de ajuda econômica e de petróleo. Nessa altura, a CIA já havia apresentado a Eisenhower um plano para inviabilizar o regime revolucionário cubano prevendo a sabotagem das refinarias de açúcar da ilha. Eisenhower achou essa primeira covert operation muito ineficiente e, em março, autorizou que a CIA elaborasse um outro plano para derrubar Castro utilizando exilados cubanos, semelhante à operação da Guatemala contra Arbenz. No mesmo mês, Fidel rompeu com o TIAR e nos meses seguintes recebeu armas do bloco socialista, desafiando o embargo mantido pelos EUA desde 1958. Em abril, o petróleo importado da URSS começou a chegar, mas as refinarias americanas em Cuba, orientadas pelo governo Eisenhower, recusaram a refiná-lo. Fidel reagiu estatizando as refinarias em junho. Em julho, os EUA cortaram a importação de açúcar, mas a URSS e a China comunista foram em auxílio e ofereceram-se para comprar a produção não vendida. Na crescente disputa mundial entre as superpotências da Guerra Fria, Khruschev tinha decidido enfrentar os EUA em uma área sagrada para os americanos – o Hemisfério Ocidental, particularmente o Caribe. Da mesma forma que os EUA e seus aliados ocidentais insistiam em manter o controle sobre Berlim Ocidental, simbolizando a resistência anticomunista em uma região de influência soviética, a URSS ajudaria a criar um reduto antiamericano, se possível socialista, próximo dos EUA, desafiando sua hegemonia hemisférica. Os acontecimentos em Cuba ofereciam uma oportunidade única, que Khruschev não quis perder. De forma extraordinária e ousada, o dirigente soviético chegou a declarar que a Doutrina Monroe tinha morrido e que a URSS não reconheceria mais a hegemonia dos EUA nas Américas.

      No princípio de 1958, o Exército Rebelde se expande. São criadas mais três colunas guerrilheiras baixo o comando de Juan Almeida Bosque, Raúl Castro e Camilo Cienfuegos. O governo ordena uma larga ofensiva contra as forças rebeldes, mas apesar de sua superioridade em números de homens e qualidade de equipamentos, são derrotados e humilhados, por uma estratégia de defesa guerrilheira muito bem   organizada. Com o recuo das forças governamentais na região de Sierra Maestra, apareceu a oportunidade para os guerrilheiros inverterem de vez a situação a seu favor. Fidel Castro ordena que “Che”, Juan e Camilo avancem pela ilha para dividir as tropas inimigas, enquanto permanece no sul com Raúl para consolidar o poder e ocupar Santiago
      No segundo semestre de 1960 as relações EUA-Cuba se deterioraram completamente. Em represália ao corte da compra de açúcar pelos EUA, o governo cubano decretou, entre agosto e dezembro, a nacionalização do patrimônio americano na ilha (terras, engenhos, bancos, empresas de comunicações, energia, ferrovias, hotéis, instalações portuárias), ampliando o processo de estatização da economia.
      Quando já ocupava o sul e boa parte do centro da ilha, o M-26 passou a coordenar suas ações com os outros movimentos revolucionários ali presentes, como o já citado Diretório Revolucionário e o Partido   Socialista Popular, entre outros. As forças de Batista sofreram sucessivas derrotas e a cada dia que passava o moral da tropa era pior. Em dezembro a situação se tornou definitivamente irreversível. As colunas de “Che” e Camilo começaram a avançar de forma impressionante. O golpe final veio na batalha de Santa Clara, em 28 de dezembro. A cidade era no momento o ponto principal da ilha. Tomada, o caminho estaria livre para Havana. “Che” comandou as tropas rebeldes e, com o auxílio da população, conquistou a cidade em três dias. O momento decisivo foi a toma do trem blindado, enviado por Batista para repelir as forças do M-26. Ao ser informado da queda de Santa Clara, Fulgêncio Batista rapidamente foge para a República Dominicana. As tropas do Segundo Frente Nacional Del Escambray – outra organização guerrilheira – foram as primeiras a entrarem em Havana, seguidas horas depois pelas colunas comandadas por Camilo e “Che”. Quando Fidel recebeu a notícia da fuga do já ex-presidente, juntou suas tropas e marchou em direção à capital, onde como os outros guerrilheiros foi recebido pela população. O general   Eulogio Cantillo, que assumiu o poder após a fuga de Batista, tentou convencer Fidel a implantar uma junta militar. Idéia negada por Castro, que convocou uma greve geral em defesa da revolução. O general foi preso junto com outros comandantes das forças do antigo governo por Camilo Cienfuegos, quando sua coluna ocupou o regimento de Campo Columbia. Em 1º de janeiro de 1959, a revolução foi declarada vitoriosa e Fidel Castro nomeou o magistrado Manuel Urrutia como presidente da república.
        Em 2 de setembro de 1960, Fidel fez um discurso conhecido como A Primeira Declaração de Havana, em que denunciou o imperialismo americano, justificou a Revolução Cubana como uma das lutas de libertação latino-americana e sugeriu que o regime revolucionário de Cuba ajudaria os povos da América Latina a se libertaram da dominação dos EUA. Naquele mês, Fidel foi à Nova York discursar na ONU e provocou os conservadores americanos hospedando-se em um hotel no Harlem, tradicional bairro negro, onde foi visitado por Khruschev. Eisenhower reagiu decretando, em 19 de outubro, um embargo comercial parcial: as exportações americanas para Cuba estavam suspensas, excetos medicamentos e alguns alimentos. Essa medida levou o regime cubano a se aproximar mais ainda da URSS em busca de auxílio econômico e militar. Nessa altura, Eisenhower estava no final do seu mandato e resolveu deixar para o sucessor (John Kennedy, eleito em novembro) a resolução do problema cubano. Suas últimas medidas de peso nessa questão, antes de transferir o cargo, foram a suspensão total da importação de açúcar cubano (dezembro de 1960) e a ruptura de relações diplomáticas com Cuba (janeiro de 1961).

        3.3 O governo Kennedy (1961-1963)
        O senador de Massachusetts, John F. Kennedy, foi eleito presidente dos EUA pelo Partido Democrata – o mais jovem político americano a ocupar o cargo (tinha 43 anos na posse). O seu governo foi marcado por duas das maiores crises da Guerra Fria (de Berlim em 1961 e de Cuba em 1962) e pela intensificação do confronto com o comunismo no Sudeste Asiático, que resultou em um maior envolvimento militar americano no conflito do Vietnã. Por outro lado, Kennedy buscou reforçar os laços entre os EUA e a América Latina com um grande programa de ajuda econômica aos países latino-americanos. Na época de Kennedy, a URSS continuou dirigida por Khruschev, que estava no ápice do seu poder.

        (a) O agravamento da Questão Cubana

        A “Questão Cubana” – os problemas e incertezas sobre o futuro das relações entre o regime revolucionário antiamericano de Cuba e os EUA – foi um dos principais legados de Eisenhower para Kennedy que, durante a campanha eleitoral, havia criticado o seu antecessor por não ter agido com dureza contra Fidel Castro. De fato, em 1959-1960, os EUA perderam o domínio sobre Cuba, que caminhava rapidamente na direção do socialismo com crescente auxílio e influência da URSS. Em 1961-1963, na época de Kennedy, esse processo se completou e Cuba passou a ser o único país comunista do Hemisfério Ocidental e um importante aliado dos soviéticos na Guerra Fria.

        A invasão da Baía dos Porcos (1961). Ao assumir a presidência, Kennedy foi informado do plano da CIA para derrubar Fidel Castro utilizando-se de uma força de 1400 exilados cubanos e mercenários (a Brigada 2506) financiados, armados e treinados pelos EUA na Guatemala e comandados por ex-oficiais do exército de Batista. O plano original previa que os exilados invadiriam Cuba com apoio aéreo americano. A notícia da invasão, pensava-se, despertaria uma revolta popular contra Fidel. Kennedy aprovou o plano, mas fez algumas modificações. A mais importante foi cancelar a participação militar americana direta (o apoio aéreo) para dar a impressão de que a invasão era integralmente “cubana” e não uma intervenção dos EUA, legitimando toda a operação. Essa decisão contribuiu para o fracasso da invasão que, de uma maneira geral, foi mal preparada. Além disso, Fidel foi previamente informado da operação pelo serviço de inteligência soviético. Em 15 de abril, a aviação rebelde, partindo da Nicarágua, atacou aeroportos em Cuba, precipitando medidas repressoras de Fidel contra os opositores, reais ou não. Nos dias seguintes, 100 mil suspeitos de apoiar os invasores foram detidos, entre eles todos os bispos e muitos jornalistas, o que praticamente eliminou as chances de uma revolta contra o regime. No dia 16 de abril, véspera da invasão, Fidel deixou clara a sua posição declarando em um comício que a revolução cubana era socialista. A invasão propriamente dita começou no dia 17 de abril na Baía dos Porcos, na costa centro-sul da ilha, e desde o início foi um desastre. Os invasores possuíam poucos aviões de combate (que para piorar eram antiquados) e suas forças terrestres eram numericamente inferiores aos efetivos do exército revolucionário, reforçado pelas milícias populares organizadas pelo regime – no total mais de 50 mil combatentes. Fidel Castro realmente era odiado por parte dos cubanos, mas seu governo também tinha o respaldo de outra parte da população, sobretudo dos trabalhadores pobres e dos grupos nacionalistas, o que dificultava uma sublevação. Os exilados foram contidos na praia de desembarque e nenhuma revolta ocorreu. No dia 19 de abril, a operação anticastrista terminou em total fiasco. Mais de 100 invasores morreram e 1200 foram capturados (a maioria seria libertada em dezembro de 1962, trocada por alimentos e remédios dos EUA). As baixas cubanas foram estimadas entre 2000 e 5000, a maior parte vítima dos bombardeios aéreos da aviação dos exilados. Apesar das restrições de Kennedy quanto à participação direta dos EUA, o envolvimento americano foi óbvio em toda a operação. A invasão da Baía dos Porcos só serviu para radicalizar o nacionalismo popular cubano e aumentar o apoio interno ao regime de Fidel Castro. O antiamericanismo cresceu em Cuba, na América Latina e várias partes do mundo. O governo dos guerrilheiros cubanos adquiriu mais fama e apoio internacional junto aos movimentos de esquerda, demonstrando ser possível a um pequeno país enfrentar com sucesso o imperialismo de uma superpotência, como um Davi enfrentando um Golias. Na euforia do momento, passou despercebido que os EUA efetivamente não utilizaram o seu enorme poderio militar contra Cuba, mas apenas apoiaram de maneira incompetente e irresponsável uma pequena força mal preparada de invasores. O episódio da invasão fracassada também serviu de pretexto para Fidel Castro aumentar a repressão em Cuba e fortalecer o seu poder, além de acelerar a aproximação cubano-sovética. Em julho de 1961, o M-26-7 fundiu-se com o PSP para formar as Organizações Revolucionárias Integradas ou ORI; em dezembro de 1961, Fidel anunciou que era um seguidor do marxismo-leninismo e, em março de 1962, a ORI virou o Partido Unido da Revolução Socialista Cubana ou PURSC (em 1965 mudou o nome para Partido Comunista de Cuba), com o monopólio do poder político. O crescimento da repressão e o avanço do comunismo em Cuba, por sua vez, aumentou a fuga de cubanos do país (80 mil pessoas em 1961)

        O embargo comercial e a Operação Mangusto (1961-1962). Apesar do fracasso humilhante da invasão da Baía dos Porcos, o governo Kennedy continuou tentando derrubar Fidel Castro. Em novembro de 1961, ele autorizou um outro plano para desestabilizar o regime cubano – a Operação Mangusto ou “Projeto Cubano”. Iniciada em março de 1962, a Operação Mangusto empregou diversos meios (sabotagens, infiltração de agentes e tentativas de assassinatos de autoridades) para gerar o caos em Cuba e, esperava-se, causar uma revolta popular contra Fidel por volta de outubro. Antes da Operação Mangusto entrar em ação, os EUA buscaram isolar Cuba no front diplomático e econômico. Em janeiro de 1962, sob pressão do governo americano, a OEA expulsou Cuba da organização (o Brasil se absteve na votação da resolução) e, em fevereiro, Kennedy decretou o embargo econômico total dos EUA contra Cuba (a OEA aderiu ao embargo em 1964, mas suspendeu-o em 1975). No mesmo mês, Fidel lançou a Segunda Declaração de Havana, apelando aos revolucionários da América Latina para que agissem contra os regimes da região e o imperialismo americano.

        A crise dos mísseis (1962). Para Fidel Castro e Khrushchev, a derrota dos exilados cubanos na Baía dos Porcos não havia eliminado a ameaça de uma intervenção militar americana em Cuba. Ao contrário, a vitória do regime revolucionário e a transformação de Cuba em um país socialista aliado da URSS reforçavam a possibilidade de que os EUA agiriam militarmente para recuperar o controle sobre a ilha e o prestígio internacional americano. A guerra econômica intensificada por Kennedy, as ações da Operação Mangusto e o isolamento de Cuba no Hemisfério Ocidental pareciam indicar que os EUA estavam preparando uma invasão. Na verdade, Kennedy tinha desistido de invadir Cuba em 1962, embora não descartasse fazer isso no futuro. Khrushchev, por sua vez, considerava prioridade defender Cuba e ampliar a influência soviética sobre a ilha por razões ideológicas e estratégicas. A adesão de Cuba ao comunismo como aliada de Moscou tinha um forte simbolismo e causava um grande impacto psicológico, demonstrando a impotência americana em controlar os acontecimentos na sua tradicional esfera de domínio e a capacidade da URSS de projetar internacionalmente a sua influência no mundo. Para Khrushchev, isso compensava a humilhação de ter que aceitar o controle americano, britânico e francês de Berlim Ocidental, além de reforçar a liderança soviética no bloco socialista no momento em que ocorria a ruptura entre a URSS e a China comunista (outubro 1961). Além disso, por sua posição geográfica (150 km da costa da Flórida), Cuba dava aos soviéticos uma oportunidade única para reduzir ou mesmo eliminar a superioridade dos EUA em armamentos nucleares. Essa superioridade fora ampliada quando, em 1961, depois de uma longa negociação, os EUA convenceram a Turquia, país fronteiriço com a URSS, a aceitar a instalação de mísseis nucleares Júpiter em seu território. Os mísseis ficaram operacionais no início de 1962 e, embora sua tecnologia tenha ficado obsoleta, deixaram a URSS mais vulnerável no caso de uma guerra contra os EUA. Khrushchev protestou inutilmente contra os “mísseis turcos”. Contudo, o estabelecimento de bases de mísseis nucleares americanos em um país vizinho da URSS abriu um precedente para os soviéticos fazerem o mesmo em relação aos EUA.
        Em maio de 1962, Fidel Castro e Khrushchev decidiram pela instalação em Cuba, de 36 MRBM (medim-range ballistic missiles ou mísseis balísticos de médio alcance de modelo R-12 ou SS-4 Sandal, com alcance de 1600 km) e 24 IRBM (intermediate-range ballistic missiles ou mísseis balísticos de alcance intermediário do tipo R-14 ou SS-5 Skean, com alcance de 4000 km). Sob o nome de Operação Anadyr, o plano envolvia também o envio de bombardeiros IL-28, caças MiG-21, baterias de mísseis antiaéreos e 60 mil tropas para a ilha caribenha, na maior mobilização militar ultramarina da história soviética. A Operação Anadyr seria complementada pela Operação Kama – a construção de uma base para o estacionamento de 11 submarinos lançadores de mísseis nucleares. Por insistência de Khrushchev, todas as operações seriam feitas em segredo. Os armamentos e soldados começaram a chegar em junho e, no início de outubro, a base naval começou a ser construída. Paralelamente, o regime cubano ampliou e modernizou as suas forças armadas de 40 mil homens, reforçadas por 300 mil milicianos.
        Desde o início, os EUA perceberam que uma grande operação militar estava sendo montada em Cuba. Em julho, o serviço de inteligência da França chegou a alertar a CIA de que a URSS estava instalando mísseis em território cubano, mas o governo americano não acreditou. No final de agosto, aviões americanos fotografaram lançadores de mísseis de defesa antiaérea. No dia 4 de setembro, Kennedy afirmou para o Congresso americano que não havia indícios da existência de mísseis nucleares em Cuba. No mesmo dia, o embaixador soviético em Washington confirmou que os mísseis em Cuba eram defensivos e que não havia motivo de alarme. No entanto, no dia 8 de setembro os primeiros mísseis nucleares chegaram a Cuba. No dia 11, o governo soviético comunicou que a URSS não possuía armas nucleares fora do seu território e Khrushchev assegurou pessoalmente ao presidente americano que não pretendia instalar armamentos ofensivos na ilha caribenha. A verdade foi revelada no dia 14 de outubro, quando um avião americano U-2 de reconhecimento descobriu e fotografou os lançadores de mísseis SS-4. No dia 16, Kennedy viu as fotos e organizou um Comitê de Segurança Nacional para analisar o fato e propor medidas imediatas. Era o início da Crise dos Mísseis Cubanos, chamada também de Crise de Outubro ou Crise Caribenha – 13 dias de confronto entre os EUA e a URSS (junto com Cuba), no episódio mais tenso da Guerra Fria, quando as duas superpotências estiveram próximas de um conflito militar de conseqüências imprevisíveis.
        No dia 18 de outubro, Kennedy encontrou-se com o ministro das relações exteriores da URSS, Andrei Gromyko, que, desconhecendo que o presidente americano já sabia da existência dos mísseis, reafirmou que não havia armas ofensivas soviéticas em Cuba. No dia seguinte, os americanos descobriram que pelo menos quatro lançadores de mísseis eram operacionais. A insistência soviética em mentir sobre o assunto e caráter secreto da instalação dos mísseis (ao contrário dos similares americanos na Turquia, que foram instalados abertamente) pareciam indicar que a URSS planejava algum ataque surpresa contra os EUA. Mesmo que os soviéticos pensassem em revelar a existência do arsenal nuclear no Caribe depois que ele estivesse totalmente instalado, era uma situação não só militar como politicamente inaceitável para os EUA: tolerar os mísseis seria um sinal de fraqueza americana, com implicações gravíssimas para a liderança do país nas Américas e no bloco capitalista de uma maneira geral.
        Os militares americanos pressionaram Kennedy para que ordenasse um ataque aéreo a Cuba, preferencialmente seguido de invasão. Embora não descartasse totalmente essa possibilidade, ele optou primeiro por um bloqueio naval da ilha, oficialmente chamado de “quarentena”: a marinha americana cercaria Cuba e impediria a chegada de navios carregando equipamentos militares. Os navios só seriam autorizados a passar pelo bloqueio depois de inspecionados e a quarentena só seria suspensa se a URSS assegurasse que iria retirar os mísseis imediatamente.
        No dia 22 de outubro, Kennedy fez um pronunciamento na televisão anunciando a descoberta dos mísseis e a imposição do bloqueio naval. No dia 23, a OEA apoiou a medida. No mesmo dia, Khrushchev afirmou que o bloqueio era ilegal e que não iria respeitá-lo. No dia 24, o bloqueio começou a ser aplicado. Nessa altura, já tinham chegado a Cuba 42 mísseis, acompanhados por 47 mil soldados soviéticos, embora apenas 9 foguetes estivessem plenamente operacionais. Os navios que rumavam para Cuba acabaram se desviando (um navio-tanque conseguiu furar o bloqueio no dia 25). A quarentena deixou Cuba isolada, mas a URSS não parecia disposta a retirar os mísseis. A situação piorou no dia 26 quando, diante do impasse, Kennedy deu sinais de que considerava ser necessário invadir a ilha para destruir os mísseis. No mesmo dia, Fidel Castro tentou convencer Khrushchev a atacar os EUA. No dia seguinte, um avião americano foi derrubado sobre Cuba e outro atingido pelo fogo antiaéreo.
        No entanto, paralelamente a escalada da crise, Kennedy e Khrushchev, continuaram mantendo contatos formais (telegramas, embaixadores) e informais (pronunciamentos em rádio, intermediação de outros países e da ONU) buscando uma solução negociada. O agravamento do confronto nos dias 26-27 e o temor de uma guerra que não interessava aos dois dirigentes forçaram o estabelecimento do Acordo Kennedy-Khrushchev, no dia 28 de outubro, encerrando a crise: os EUA suspenderiam o bloqueio naval e a URSS retiraria seus mísseis, bombardeiros e a maior parte das tropas soviéticas de Cuba. Essas decisões foram públicas, porém o acordo envolvia secretamente outras duas contrapartidas dos EUA: eles retirariam os seus mísseis da Turquia alguns meses depois e se comprometeriam em não invadir Cuba, desde que o regime de Fidel Castro não ameaçasse diretamente a segurança nacional americana. Como o compromisso soviético foi público e o americano secreto, aparentemente somente a URSS é que havia cedido, parecendo que Kennedy tinha triunfado completamente sobre Khrushchev e Fidel.

        Conseqüências do Acordo Kennedy-Khrushchev. O acordo evitou uma guerra nuclear, mas gerou descontentamento nos dois lados. Pelo menos uma parte dos militares americanos ficou insatisfeita, por considerar que os EUA cederam demais e perderam a oportunidade de destruir o regime comunista cubano. O recuo de Khrushchev também foi criticado por membros do Partido Comunista da URSS, que o consideraram humilhante, além de não ter resolvido a questão de Berlim Ocidental. Fidel Castro também condenou o acordo, sobretudo por não ter sido consultado, e pelo fato da negociação não envolver a retirada americana de Guantánamo. No entanto, a solução da crise foi muito favorável ao seu governo, que conseguiu escapar de uma invasão americana e sobreviver como o único regime comunista da América.

        A sobrevivência do socialismo cubano e suas conseqüências. Como os demais países socialistas, Cuba adotou um modelo político e econômico caracterizado pela ditadura monopartidária (do partido comunista) em nome dos trabalhadores e pela estatização dos meios de produção e dos serviços. Foram feitos grandes investimentos na educação e saúde públicas que, além de terem a sua qualidade melhorada, beneficiaram um número maior de cidadãos, transformando-se nas principais “vitrines” do regime de Fidel Castro. Contudo, o país continuou possuindo uma economia agrária dependente da exportação de açúcar e do auxílio financeiro estrangeiro, particularmente da URSS. Apesar do desenvolvimento econômico limitado, da forte repressão política e da censura, uma parte expressiva da população apoiou o regime por causa dos ganhos sociais, do carisma de Fidel Castro e do sentimento nacionalista que se confundia com ideais socialistas e antiamericanos. Esse nacionalismo era reforçado pela crença de que os cubanos haviam derrotado o imperialismo americano em 1959-1962 e o derrotariam novamente no futuro, desde que mantivessem uma forte união em torno do regime revolucionário e do seu líder supremo. Muitos cubanos, no entanto, sobretudo das antigas elites econômicas e da classe média, não tinham essa avaliação. Eles odiavam o comunismo por ele combinar a repressão política, a intolerância ideológica, a eliminação da propriedade privada e a supressão da liberdade econômica individual, em um quadro de redução drástica do padrão de vida (dos ricos e da classe média) pelo nivelamento “por baixo”, resultado de medidas igualitárias e coletivistas que visavam beneficiar os segmentos mais pobres da sociedade cubana. Nesse contexto, 70 mil cubanos fugiram para os EUA em 1962. No total, entre 1959 e 1962, 190 mil pessoas fugiram de Cuba, que tinha 6 milhões de habitantes. Em 1965-1971, outros 250 mil cubanos fugiram do país. No final da década de 1980, o número de refugiados cubanos nos EUA aproximou-se de um milhão, cerca de 10% da população de Cuba.

        A internacionalização da Revolução Cubana. A consolidação do regime de Fidel Castro em Cuba, com suas características socialistas, nacionalistas e antiamericanas – um conjunto de elementos que seus partidários classificaram de “antiimperialistas” – naturalmente teve um grande impacto na América Latina durante a Guerra Fria, exercendo uma forte influência sobre as esquerdas da região e de outras partes do Terceiro Mundo, como a África. Com efeito, Cuba estimulou, muitas vezes de forma direta, os movimentos revolucionários latino-americanos e africanos de um jeito que nem mesmo a URSS havia feito. Um dos principais defensores da “exportação” ou internacionalização da Revolução Cubana na década de 1960 foi Che Guevara. Suas idéias inspiraram o desenvolvimento de um modelo revolucionário baseado na “teoria dofoco” ou “foquismo”: a guerrilha de base rural, estabelecida a partir de um pequeno grupo ou “foco” de guerrilheiros profissionais e dedicados que, gradualmente, ganhariam o apoio dos camponeses, ampliando o número de combatentes até gerar um movimento popular que levaria a derrubada de um regime. Embora o modelo original destacasse a revolução no meio rural com apoio camponês, essa teoria foi adaptada para a luta revolucionária nas grandes cidades – a guerrilha urbana. Essas idéias de luta armada são herdeiras de uma tradição revolucionária mais antiga na América Latina, anterior a penetração do marxismo na região. O que a Revolução Cubana fez foi combinar essa tradição com as idéias marxistas, dando uma outra dimensão aos movimentos revolucionários e aos seus objetivos. Ao contrário do que se costuma supor, essas idéias não tiveram apoio unânime dos partidos comunistas latino-americanos, que ficaram, na verdade, rachados quanto a melhor tática a ser empregada em prol da revolução socialista a curto, médio ou longo prazo (guerrilha rural ou urbana, aliança com grupos nacionalistas, infiltração do movimento operário, influência cultural no sistema educacional e na mídia etc). Essas divergências sobre os métodos revolucionários, no entanto, não impediram que as diversas correntes da esquerda latino-americana apoiassem o comunismo cubano e buscassem inspiração ou algum tipo de ajuda junto ao regime de Fidel Castro. De qualquer forma, é possível que 2 mil latino-americanos tenham sido treinados nas técnicas de guerrilha em Cuba na década de 60.
        Na verdade, na maior parte dos casos, a luta armada influenciada ou apoiada por Cuba fracassou. Em 1962-1963, o governo cubano ajudou na organização de um grupo guerrilheiro na Argentina que foi rapidamente destruído. Em 1963-1967, outro grupo maior foi organizado na Venezuela, mas também foi mal-sucedido. Em 1965, Che Guevara e uma centena de guerrilheiros negros cubanos foram enviados ao Zaire (Congo belga), na África Central, para ajudar rebeldes marxistas na guerra civil congolesa, sem sucesso. Em 1966, o governo cubano patrocinou a criação da OLAS (Organização Latino-Americana de Solidariedade) com o objetivo de cooperar com os grupos revolucionários da América Latina. Em 1966-1967, Che Guevara e um pequeno grupo de cubanos tentou organizar uma guerrilha na Bolívia. A expedição revolucionária fracassou e Che foi capturado e morto pelas forças bolivianas (outubro, 1967). O maior envolvimento cubano no exterior foi em Angola, antiga colônia portuguesa na África, que ficou independente em 1975. O país ficou mergulhado na guerra civil entre o governo marxista do MPLA (Movimento Pela Libertação de Angola), encabeçado por Agostinho Neto, e grupos rivais (FNLA ou Frente Nacional Pela Libertação de Angola e UNITA ou União Nacional Pela Independência Total de Angola) apoiados pela África do Sul e os EUA. A URSS e Cuba, por sua vez, apoiaram o governo angolano. A ajuda militar de Havana foi decisiva para a sobrevivência do MPLA: mais de 60 mil soldados cubanos foram enviados a Angola em 1975-1991, participando de vários combates contra as tropas sul-africanas. A segunda maior participação de Cuba em um conflito internacional foi também em outro país africano, a Etiópia: 24 mil soldados cubanos foram enviados para o país em 1977-1979 durante a guerra contra a vizinha Somália

        ainda pesquisando...
        http://diplomaciasecreta.wordpress.com/
        LEIAM FIDEL CASTRO O BOM VIVANT:
        http://mudancaedivergencia.blogspot.com.br/2012/05/fidel-castro-o-bom-vivant.html

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