quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

A Expulsão de Don Pedro II do Brasil e as marcas trágicas da República então, maçônica.

Obrigado a embarcar de madrugada, o imperador destronado navega no Alagoas com a família rumo ao exílio na Europa. Barco militar, acompanha o navio até saída dos mares brasileiros.
"Como? Embarcar sem meus filhos que ainda estão em Petrópolis? Não sigo sem meus filhos", perguntava e protestava em desespero, quase, aos prantos, a princesa Isabel, 43 anos. Eram 2 horas da madrugada de domingo passado, dia 17. Reinava uma balbúrdia considerável no salão principal do velho solar do Paço da Cidade, no Rio de Janeiro. Meia hora antes, o tenente-coronel João Nepomuceno de Medeiros Mallet havia batido à porta do palácio e mandado acordar toda a família imperial. Falando em nome do governo provisório; Mallet queria que o soberano destronado, sua mulher, a imperatriz Tereza Cristina, sua filha, a princesa Isabel, seu genro, o conde D' Eu, e seus quatro netos embarcassem para o exílio naquele momento, no meio da madrugada em que caía um chuvisco frio sobre o Rio de Janeiro. O objetivo declarado dos republicanos era evitar que, num embarque durante o dia, simpatizantes mais exaltados do novo regime hostilizassem o monarca e seus familiares. O objetivo real era o oposto exato: tomar mais difícil que viessem à tona manifestações de solidariedade a D. Pedro II. 
Dia de 15 de novembro de 1889, sem qualquer participação popular e sequer o apoio de grande parte da elite da época, proclamava-se a República, um fato político que deixou marcas profundamente trágicas na história brasileira.
quando um oficial republicano, o major Frederico Sólon Sampaio Ribeiro, comandante das tropas que cercavam o Paço Imperial, convenceu Deodoro a proclamar a República, relatando-lhe nada menos que inverdades. Conforme se sabe hoje, esse militar teria dito a Deodoro que o novo Presidente do Conselho de Ministros, supostamente indicado pelo Imperador e que ocuparia o posto no dia 20 de novembro, quando também os deputados eleitos tomariam posse, seria Silveira Martins, inimigo mortal do Marechal.

Deodoro e Silveira se rivalizavam na disputa amorosa pela Baronesa do Triunfo, viúva muito bonita e elegante, de acordo com os registros da época e que sempre preferiu Silveira Martins ao marechal. Na verdade, o novo Presidente do Conselho de Ministros seria o Conselheiro José Antônio Saraiva, diplomata de renome que já chefiara o Gabinete Imperial duas vezes, entre 1880 e 1882 e por um curto período no ano de 1885.

Disse-lhe também o major Sólon que uma suposta ordem de prisão contra seu chefe havia sido expedida pelo governo imperial, versão que convenceu finalmente o velho marechal a proclamar a República no dia 16 e a exilar a Família Imperial sob as sombras da noite. Assim se evitaria que a expulsão de D.Pedro II, da Imperatriz Teresa Cristina, da Princesa Isabel e de seu marido, o Conde d´Eu fosse impedida pela população mais empobrecida, em cujo meio a família imperial era muito estimada por seus atos de caridade.
Nada houve de heróico nesse trágico acontecimento, considerando-se que a República só veio por pressão de alguns fazendeiros escravocratas, insatisfeitos com a Lei Áurea e com as propostas não aceitas pelo governo imperial para que eles fossem indenizados pela alforria de seus escravos, entre outros acontecimentos relevantes. 
Depois de 1830, entra em atividade no Brasil  a Burschenchaft e, daí por diante, mais esse elemento passa a influir na vida política, social, econômica e financeira do país. Fomos por isso obrigados a estudar as origens, desenvolvimento e atuação da Bucha nos quatro capítulos de início deste segundo tomo, a fim de que se possa compreender o desenrolar dos sucessos históricos na Regência, no Segundo Reinado e, finalmente, na República. Jesuítas, maçonaria e Bucha trabalham dia e noite nos bastidores da história do Brasil, como diz Euclides da Cunha (6) ou, melhor, entre as correntes monárquicas e republicanas, influenciadas pelos poderes ocultos das buchas e maçonarias, não podia, dum momento para o outro, impor a paz a essas opiniões divergentes e envenenadas. O país achava-se profunda e violentamente dividido. Essa divisão provocaria incessantes lutas estéreis, destinadas a enfraquecê-lo e levá-lo a um processo de esfacelamento, do qual milagrosamente foi salvo.
Apeado do trono o Imperador D. Pedro I, exaltados, reacionários e moderados se encontraram da noite para o dia donos do país que iam convulsionar. Agruparam-se logo em sociedades e clubes, como Os girondinos e jacobinos de 1793, grêmios que não passavam de Manifestações aparentes dos conciliábulos secretos que tomaram o Poder e somente sob esse disfarce podiam mostrar-se, atuando diretamente nos acontecimentos políticos.  Os exaltados fundaram a Sociedade Federal. Os resíduos absolutistas acoutaram-se na Sociedade Militar. 
Os moderados organizaram a Sociedade Defensora da Liberdade e Independência, que se tornou o maior poder político da época, nominalmente presidida por um iniciado nas grutas de Coimbra, Odorico Mendes, onde pontificava Evaristo da Veiga (10), à frente de seu bando: Vergueiro, Limpo de Abreu, Carneiro Leão, Paula Souza. Os exaltados tinham à sua frente Epifânio José Pedroso, Pais de Andrade, o maçon mirandista fujão de 1824, Bernardo de Vasconcelos, os irmãos França, Miguel de Frias, republicano mutino, Cipriano Barata, artesão da intentona baiana de 1798 que levara os pobres alfaiates à forca. Dirigiam os reacionários José Bonifácio, tutor dos príncipes, Paranaguá, Cairu, Martim Francisco. Depois, veio ainda a formar-se a Sociedade Conservadora, composta de senadores, deputados, negociantes, generais e capitalistas, os que tinham o que perder e punham as barbas de molho, fazendo a propaganda da restauração. Todos esses clubes de declamadores vazios tinham sucursais nas províncias e somente serviram para entreter na capital do Império e propagar pelo interior lutas, conflitos, crimes e agitações [11] O Imperador acaba de sair do porto desta capital, retirando-se para a Europa. Uma embarcação de guerra nacional o acompanha até largar as águas do Brasil. 
Os nossos inimigos são tão poucos e tão fracos que nem merecem consideração;  contudo o governo vela sobre eles como se fossem muitos e fortes. Mas, se nada temos a temer dos nossos inimigos, devemos temer de nós mesmos, do entusiasmo sagrado do nosso patriotismo, do amor da liberdade (13), e pela honra nacional que nos pôs as armas nas mãos. Recolheram-se aos quartéis as tropas que se tinham indisciplinado e que, breve, deles sairiam para outras indisciplinas. Obediente às lições dos mestres, a soldadesca se desmandaria dali por diante em sucessivas quarteladas e pronunciamentos. Promulgou-se a eterna anistia aos implicados nos vários sucessos políticos, excetuados os estrangeiros. Reinava uma calma aparente. 
A 9 de abril, os pequeninos príncipes, cujo pai rumava para o exílio e para a sua maior glória, à reconquista do reino lusitano, os pequeninos príncipes, órfãos de carinho familiar, entregues a uma tutoria política-maçônica, D. Pedro, Donas Januária, Francisca e Paula, compareciam em trajes de gala ao Paço da Cidade e José Bonifácio apresentava duma das sacadas D. Pedro ao povo, conforme se vê numa estampa de Debret. Debuxava-se o terror nos seus pálidos rostos infantis. Pareciam reféns, na opinião dum dos próprios ministros do novo governo (15). E, na verdade, não eram outra coisa. Aquela calma durou pouco. Dias depois, a atmosfera toldava-se. Tumultos e desordens rebentavam por toda a parte, regidos por uma batuta invisível. As noites eram cheias de ameaças e violências. 
Atacavam-se os que se suspeitavam serem partidários do Imperador. Enfocavam qualquer resistência pelo terror, favorável aos manejos das trevas, o qual alastrava diante da incapacidade da política e da impotência das autoridades. O princípio da autoridade fôra mortalmente ferido por aqueles mesmos que dela se haviam apoderado. Tudo era visivelmente conduzido de modo a enfraquecer o poder central, já de si dividido por três homens, um dos quais, Vergueiro, profundamente ligado à bucha e à maçonaria, poder, portanto indeciso e impotente. 
Surgiam de todos os lados jornais panfletários, semeando alarma e confusão, desfazendo reputações, provocando motins, acirrando ódios, baralhando idéias e princípios. Alguns com títulos nitidamente maçônicos: "A Nova Luz Brasileira", "O Exaltado de Jurujuba", êmulo daquela "Sentinela da Praia Grande" de antes da abdicação. "A Aurora", "O Independente", "A Astréa" envenenavam os cariocas; "A Bússola", os pernambucanos; "O Observador", os paulistas; "A Sentinela" e "O Eco da Liberdade", os baianos. O comércio definhava a olhos vistos. A indústria e a agricultura anquilosavam-se. Reinava a falta de dinheiro, misteriosamente retirado da circulação. As rendas públicas diminuíam, assoberbando de dificuldades os governantes. O câmbio baixava. As apólices cotavam-se a menos 30% do seu valor.
Túmulos de D. Pedro II e D. Teresa Cristina (ao centro), Princesa Isabel (esquerda) e do Conde d'Eu (direita), na Catedral São Pedro de Alcântara.
De lá pra cá, a Catedral São Pedro de Alcântara e a cripta imperial têm sido um importante ponto de turismo para todos aqueles que desejam prestar homenagens a Pedro II e à sua família. Segundo José Murilo de Carvalho (2007, p. 222-223),

Pg.58,59,60, História Secreta do Brasil.

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