sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

PEABIRU E OS VIKINGS

 

O CAMINHO DE PEABIRU E OS VIKINGS NO SUL DO BRASIL - 1ª PARTE
Quando li “A Saga de Aleixo Garcia” da escritora e jornalista paranaense Rosana Bond, lembrei-me de diversas referências a Santa Catarina que havia visto em livros e revistas, ao tratarem do “caminho de Peabiru”, e mesmo a possíveis vikings que teriam se fixado no Paraguai e a outros que presumivelmente teriam formaram o império inca do Peru.
Peabiru, que queria dizer “caminho que leva ao céu”, “caminho da montanha do sol” ou simplesmente “caminho”, era uma rede de estradas que cortavam o interior do Brasil e chegavam até o Paraguai. Quando os primeiros colonizadores perguntaram aos indígenas quem construíra esses caminhos eles respondiam: Pay Sumé ou Zumé. Segundo os indígenas, Sumé seria um grande feiticeiro de pele branca, barbudo e que tinha vindo pelo mar. Teria ensinado aos nativos, muitas coisas além de realizar milagres. Ele era lembrado em toda a costa brasileiro, inclusive no Paraguai onde a tradição dizia que ele atingira aquela região vindo de leste. Entre os tupis do Maranhão era conhecido como Mairatá. Os aimorés o chamavam de Maré. Em ambas as tradições era branco e ruivo. Diversas outras tribos indígenas tinham recordações de estrangeiros de cabelos vermelhos que haviam chegado em suas costas. Não se sabe se todos se referiam a mesma pessoa ou a diversos navegantes que por aqui aportaram. Entretanto, Sumé foi o que teve sua influência e seu nome mencionado de norte a sul do Brasil.
O alemão Hans Staden, que após um naufrágio viveu entre os índios de 1549 e 1554 e foi prisioneiro dos tupinambás, conta que: “Eles raspam a cabeça, deixando apenas uma coroa de cabelo, semelhante à de um monge. Perguntei-lhes diversas vezes como é que tinham chegado a esse tipo de cabelo e eles contavam que seus antepassados tinham-no visto em um homem de nome Meire Humane, que realizava muitas maravilhas entre eles. Era considerado um profeta ou apóstolo”.
Para Aloísio de Almeida, o Peabiru tinha várias ligações com o mar: São Vicente-Piratininga, Cananeia-Itapetininga, Paranaguá-Curitiba e São Francisco do Sul-Tibagí. Adolfo Augusto Pinto diz que essa estrada colocava: “em ligação as tribos da nação guarani da bacia do Paraguai com a tribo dos patos do litoral de Santa Catarina, com os carijós de Iguape e Cananeia e com as tribos de Piratininga e do litoral próximo”.
O escritor francês Jacques de Mahieu, radicado na Argentina, em seu livro “L’agonie du Dieu Soleil”, afirma que os vikings “usavam como base marítima o golfo de Santos, no Estado de São Paulo e a ilha de Santa Catarina, onde desembocavam duas ramificações do Peabiru. Entre esses dois portos, estendia-se a costa do Guairá que, no globo terrestre de Vulpius, executado em 1542, tem o nome significativo de “Costa danea”, costa dinamarquesa, no latim da época.
No artigo “Cerro Corá. Os Vikings na América do Sul” publicado na “Revista Geográfica Universal”, por Lena Muggiati, ela afirma que em 1928 um pesquisador alemão chamado Ludwig Schwenagen, “descreveu ainda rotas extensas que levariam os domínios vikings do Paraguai até Santos, à ilha de Santa Catarina e à lagoa dos Patos”. Em artigo na revista “Manchete” a mesma autora reafirma a existência das estradas que ligavam o Paraguai a Santos, a ilha de Santa Catarina e a Lagoa dos Patos no Rio Grande do Sul, dizendo que na região de Serro Corá, no Paraguai, foram encontrados vários sítios arqueológicos repletos de inscrições das quais o runólogo alemão Hermann Muhk, traduziu 61 delas. Entretanto penso que a referência a Patos não se refere a Lagoa dos Patos, mas aos índios carijós que habitavam o litoral próximo da Ilha de Santa Catarina que eram chamados de patos pelo grande número desses animais existentes na região.
Ora, os indígenas brasileiros embora grandes caminhantes pelas florestas e com um sentido apurado na orientação pelas estrelas e pelo sol, não eram construtores de estradas. Surge então uma pergunta: Quem teria construído esses caminhos? Talvez um povo mais avançado do interior do continente que procurasse uma ligação permanente com o Oceano Atlântico. É sabido que os incas eram peritos construtores de estradas que atravessavam seus domínios deste o sul da Colômbia até o norte do Chile e da Argentina com aproximadamente 4.000 quilômetros de extensão.
Segundo a tese defendida por Mahieu, os vikings teriam chegado ao Peru, vindos do México. Teriam passados pela Venezuela e Colômbia tendo fundado Quito e depois, por volta do ano 1200 teriam criado o império de Tiahuanuco. Em vista de alguns revezes militares eles acabaram se dispersando. A maioria teria ido para o norte onde fundaram o império inca, com capital em Cuzco, e outros foram para o sul e chegaram a Imambay, a 700 km. da atual cidade de Assunção, no Paraguai. Dali teriam construído os caminhos que atravessando o continente sul-americano atingiram o Oceano Atlântico, entre a região de São Paulo e o norte de Santa Catarina. Mahieu especula que é bem possível que eles tenham se instalado, ao menos por algum tempo, no litoral brasileiro e mesmo na ilha de Santa Catarina. Isto teria ocorrido por volta de 1200 a 1300. Portanto uns 200 a 300 anos antes da descoberta do Brasil, tempo suficiente para os índios que moravam na costa lembrarem-se, através das reminiscências de seus antepassados, da passagem do herói civilizador, branco e barbudo, que chamaram de Pay Sumé, ou Zumé. Esse Sumé teria deixados marcas de seus pés em pedras na Bahia e em São Paulo, como para marcar a sua passagem e o seu rumo, coisa comum entre os vikings, segundo Mahieu, e também entre os incas.

Ainda seguindo o pensamento de Mahieu, das costas brasileiras os vikings teriam retomado o contato com a Europa, época em que as alfândegas de Dieppe, Caen e Harfleur regulamentaram a importação do pau-brasil que só poderia vir do Brasil. Foi por volta de 1250 que em uma das viagens para a América teria vindo um padre católico chamado Gnupa, que foi denominado pelos índios, de Sumé.

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