quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Egoísmo, vaidade e ganância: três pilares do capitalismo selvagem (atual neoliberalismo)

Adam Smith,em 1776, registrou em seu famoso livro A Riqueza das Nações que “...os indivíduos, buscando seu interesse próprio, acabam servindo ao interesse da sociedade em seu conjunto”. “De um homem de negócios cuja busca de lucro torna a nação mais rica, Smith escreveu: ‘ele procura apenas o seu próprio ganho [egoísmo] e, nisso, como em muitos outros casos, é levado por uma mão invisível a promover um fim que não estava em suas intenções.” “Desde então, os economistas usam o termo mão invisível para referir-se à maneira pela qual uma economia de mercado consegue domar o poder do interesse próprio em favor do bem da sociedade”.


Não se pode negar a inteligência de Adam Smith, nem o seu importante papel para a Economia. Mas, como todos os pensadores, e todos os filósofos – e – mais ainda – como todos os economistas: Smith teve seus erros e seus enganos.

Se Smith estivesse vivo hoje, ele seria chamado a explicar por que “o interesse próprio dos indivíduos”, e a “mão invisível”  -- ao invés de beneficiarem a sociedade em seu conjunto -- promoveram a maior catástrofe econômica e social da história dos EUA, nos anos 1930, causando a Grande Depressão! O conserto da desgraça só foi possível com a chegada de Franklin Delano Roosevelt à presidência dos Estados Unidos, que governou seu país por quatro mandatos seguidos, e aplicou as ideias do britânico John Maynard Keynes – o maior economista do século – com intervenção do Estado na economia e com pesados investimentos estatais em infraestrutura. O fato está muito bem detalhado no livro “The MONEY MAKERS” – How Roosevelt and Keynes Ended the Depression, Defeated Fascism, and Secured a Prosperous Peace”, do historiador Eric Rauchway, livro editado em 2015. (Como ainda não há edição brasileira, tive de comprá-lo em livraria dos EUA, e padeço com meu deplorável inglês).


“Quando o oficial de justiça colocou em leilão o silo de milho de J. F. Shields, começou o barulho forte. Em caminhões e carros, centenas de agricultores chegaram gritando. Eram agricultores vizinhos, inconformados com a execução judicial que acontecia naquele momento em mais uma propriedade de Iowa.
“Armados com paus, os lavradores dos arredores da cidadezinha de Denison saíram batendo em policiais e oficiais de justiça. Botaram todos para correr e acabaram com o leilão.
“Quase ao mesmo tempo, perto dali, em LeMars, outro grupo de agricultores invadia um tribunal e dizia ao juiz C. C. Bradley que ele estava proibido de decretar mais falências de lavradores. O magistrado se recusou a seguir a ordem. Pego pela massa, foi levado para fora da corte.
“Uma cabine telefônica serviu para improvisar uma forca. Com a corda no pescoço, Bradley já começava a sufocar quando alguns resolveram poupá-lo. Coberto de graxa e de sujeira, pode ir para casa.
“As cenas aconteceram nos Estados Unidos em abril de 1933. O preço do milho havia caído para um terço do patamar de anos atrás. Sem poder pagar suas dívidas, dois terços dos agricultores tinham quebrado e estavam vendo suas propriedades serem tomadas pelos bancos credores.
“Os protestos começavam a se espalhar. Os rebeldes eram homens de família de meia idade que até pouco tempo tinham sua fazendinha e respeitavam as leis e as instituições. Agora estavam em combate desesperado para sobreviver.

“Enquanto isso, em Washington, Franklin Delano Roosevelt, recém-empossado, lutava contra banqueiros e grandes empresários para impor uma mudança radical na política econômica dos EUA, ainda combalidos pelos efeitos da crise desencadeada em 1929.

O autor mostra como Roosevelt e seus adversários do mercado financeiro agiram para estruturar as batalhas de mídia. Relata as estratégias do presidente para responder recorrentes questões sobre o equilíbrio orçamentário. Entre contas públicas balanceadas e recuperação, a decisão foi priorizar a segunda.

O livro trata de como o presidente conviveu com auxiliares que divergiam de suas ideias progressistas —até que se livrou de todos eles e avançou no sentido que achava correto. "Tive aulas de economia e tudo que foi ensinado estava errado", disse ele.

“Rauchway, que escreveu também "The Great Depression and the New Deal", expõe a ligação de Roosevelt (1882-1945) com o economista britânico John Maynard Keynes (1883-1946), que também enfrentava resistência feroz dos rentistas às políticas de intervenção estatal para a recuperação econômica...”


Se Smith estivesse vivo hoje, ele certamente seria chamado a explicar por que o “interesse particular dos banqueiros norte-americanos” – ao invés de beneficiar a sociedade – causaram a verdadeira catástrofe econômica e social, que afetou praticamente o mundo inteiro, graças à sua ganância pelo lucro – A Crise do Subprime 2008!

No Brasil, Smith seria chamado a explicar por que os banqueiros brasileiros, com sua ganância desenfreada para “defender seus interesses particulares” – ao invés de beneficiar a sociedade – destruíram a vida de 60 milhões de brasileiros e levaram à falência centenas de milhares de pequenos empresários empreendedores, que não conseguiram pagar os juros criminosos. Enquanto isso, os bancos vêm tendo lucros astronômicos e seus dirigentes ganham verdadeiras fortunas mensais, praticamente sem pagar impostos.

No Brasil, Smith seria chamado a explicar o porquê de um grupo de laboratórios farmacêuticos, mancomunados com redes de drogarias, sonegaram mais de R$ 10.000.000.000,00 em impostos só nos últimos anos! O fato foi trazido a público, dias atrás, pela Polícia Federal.

Dizer que o egoísmo humano é inevitável e jamais controlável é o mesmo que dizer que Jesus Cristo veio à Terra para perder seu tempo! É o mesmo que negar que a espécie humana jamais caminhará para uma evolução de comportamento; jamais valorizará a fraternidade; jamais controlará e domará seus instintos primitivos mais negativos.

É o mesmo que negar a existência de figuras como Mahatma Ghandi, Nélson Mandella, Madre Tereza de Calcutá, Irmã Dulce, Martin Luther King, Dom Óscar Romero (bispo salvadorenho assassinado), e incontáveis outros – todos eles defensores da prevalência dos interesses coletivos sobre os egoístas interesses individuais consagrados pelo neoliberalismo.


Sugiro àqueles que defendem a “competição” permanente dos seres humanos entre si que leiam a magnífica obra de Konrad Lorenz (*) – “CIVILIZAÇÃO E PECADO”, editada há mais de 50 anos. (O volume que li é de 1973).

(*)- Konrad Lorenz – Austríaco, nascido em 1903, doutorou-se em Filosofia e Medicina em Nova Iork. Em 1973, foi um dos laureados com o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina. Um dos maiores naturalistas da nossa época.


Alguns trechos do livro:

“Nós todos, que vivemos em países civilizados de grande densidade demográfica ou mesmo em grandes cidades, não temos ideia de quanto nos falta o amor ao próximo, sincero e caloroso...

“...Não devemos nos surpreender, portanto, se a penetração da civilização torna mais feias as cidades e os campos. Vamos comparar, com olho crítico, o centro antigo de qualquer cidade da Alemanha com seus subúrbios modernos que proliferam vergonhosamente... Em seguida façamos a comparação entre o corte histológico de um tecido orgânico são e o de um tumor maligno. Encontraremos analogias espantosas...

“...Uma homeostase especial, de feedback positivo, ocorre quando indivíduos da mesma espécie entram em concorrência, concorrência esta que exerce uma influência em seu desenvolvimento através da seleção. Ao contrário da seleção causada por fatores externos, tais como o meio ambiente, a seleção intraespecífica provoca modificações do patrimônio hereditário da espécie, que tende a reduzir suas possibilidades de sobrevivência, ao invés de aumentá-las.

“...O produto mais estúpido da seleção intraespecífica é, depois das asas do Argus macho, o ritmo de trabalho do homem moderno...

“...A competição do homem se opõe diretamente, como nenhum fator biológico havia feito anteriormente, à ‘força benévola e eternamente criadora’, para destruir com brutalidade diabólica a maioria dos valores que ela criou, em nome de considerações puramente comerciais e em detrimento de todos os valores reais... A esmagadora maioria de nossos contemporâneos só dá importância ao sucesso, àquilo que permite vencer os outros, na dolorosa obrigação de exceder... Time is money... A angústia de ser utrapassado na corrida, a angústia de ficar sem dinheiro, a angústia de errar numa decisão e não ter forças para suportar o erro. A angústia, em todas as suas formas, contribuiu essencialmente para minar a saúde do homem moderno, e provocar a hipertensão, a atrofia dos rins, o enfarte precoce e outros fenômenos do mesmo tipo... (Sublinhado não original)


Albert Einstein:

O indivíduo é capaz de pensar, sentir, lutar e trabalhar por si mesmo; mas depende a tal ponto da sociedade – em sua existência física, intelectual e emocional – que é impossível pensar nele, ou compreendê-lo, fora da estrutura da sociedade. É a ‘sociedade’ que provê o homem de alimento, roupas, moradia, instrumentos de trabalho, língua, formas de pensamento e da maior parte dos conteúdos de pensamento....

“...É evidente, portanto, que a dependência do indivíduo para com a sociedade é um fato da natureza que não pode ser suprimido – exatamente como no caso das formigas e das abelhas...

“...Prisioneiros de seu egoísmo, sem o saber, sentem-se inseguros, solitários e privados da pura alegria de viver, simples e sem sofisticação. O homem só pode encontrar sentido na vida, breve e perigosa como é, devotando-se à sociedade.

A anarquia econômica da sociedade capitalista tal como ela existe hoje, é, na minha opinião, a verdadeira fonte do mal.

“...Estou convencido de que há apenas um meio de eliminar esses graves males: o estabelecimento de uma economia socialista, acompanhado de um sistema educacional orientado para fins sociais...” (Albert Einstein, MEUS ÚLTIMOS ANOS)


O Papa Francisco:

“56. Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. Por isso, negam o direito de controle dos Estados, encarregados de velar pela tutela do bem comum...” (Sublinhado não original).

“59. Hoje, em muitas partes, reclama-se maior segurança. Mas, enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos, será impossível desarraigar a violência...

“202. A necessidade de resolver as causas estruturais da pobreza não pode esperar...Os planos de assistência, que acorrem a determinadas emergências, deveriam considerar-se apenas como respostas provisórias. Enquanto não forem radicalmente solucionados os problemas dos pobres, renunciando à autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira e atacando as causas estruturais da desigualdade social, não se resolverão os problemas do mundo e, em definitivo, problema algum. A desigualdade é a raiz dos males sociais.” (Papa Francisco, EVANGELII GAUDIUM)

A bíblia:

“Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a vocês mesmos”.
Filipenses 2:3


“Ninguém busque o proveito próprio; antes, cada um, o que é de outrem”
1 Coríntios 10:24

“...E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.”
Marcos 12:31

De minha parte, não vejo saída para a Humanidade a não ser voltar-se para os ensinamentos bíblicos, e para o que disseram grandes pensadores humanistas, aqui incluídos os grandes pensadores gregos.

ARIALDO PACELLO
CRÉDITOS: Mtnos calil.

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