sexta-feira, 8 de maio de 2020

Mário Garnero o menino de ouro dos militares, Brasilivent e as holdings fantasmas

ANFAVEA
Mário Bernardo Garnero
Volkswagen
1974-1977 | 1977-1980 | 1980-1981
Mário Garnero foi um líder estudantil eficaz, quando presidente do DCE da PUC-SP organizador de eventos memoráveis sobre temas nacionais. que lhe permitiram os primeiros contatos com o mundo político pré-64.

Depois, casou-se com uma herdeira do poderoso grupo Monteiro Aranha, que possuía 20% do capital da recem-instalada Volks do Brasil. Nos anos 70, assumiu cargo na Volks, como representante do grupo. Lá, como diretor de Recursos Humanos, conheceu e aproximou-se de Lula e dos sindicalistas do ABC.

Mas toda sua carreira foi pavimentada no regime militar.
Antes disso, era o menino de ouro dos militares. Tornou-se num anfitrião de primeiríssima acolhendo em sua casa, ou em um almoço anual nas reuniões do FMI, a fina nata do capitalismo mundial. Tornou-se, de fato, um dos brasileiros mais bem relacionados do planeta. Mas jamais conseguiu transformar o relacionamento em negócios legítimos. Não tinha a visão do verdadeiro empreendedor. Terminou cercado por parceiros de negócio algo nebulosos, principalmente depois que passou a perna dos demais acionistas do Brasilinvest, grandes corporações internacionais.

Lá, na Volks,  tornou-se amigo de Walfgang Sauer e também das novas lideranças sindicais que surgiam no ABC.
No auge do chamado “Brasil Grande” montou um congresso em Salzburg, Alemanha, para onde convergiu a nata do capitalismo mundial da época. Do encontro surgiu a ideia do banco de investimento, com participação de grandes multinacionais, incumbido de preparar projetos para investimentos externos no país.

Sauer apoiou a ideia desde o primeiro momento, Seu prestígio internacional assegurou ao recém criado Brasilinvest a adesão de inúmeras multinacionais de primeira linha, de diversos países. Foi uma constelação como jamais se viu outra no país, com 80 empresas de 16 países. 
Sauer tornou-se membro do Conselho do banco, ao lado de outros empresários influentes, como Mauro Salles, publicitária, e Hélio Smidt, presidente da Varig, na época maior companhia aérea da América Latina.
O fim do mito Garnero
O mito Garnero acabou nos anos 80.
Brasilinvest: o fiasco fraudulento de Mário Garnero – Grandes Fraudes
O Brasilinvest emprestava para um conjunto de holdings de nomes africanos, controladas por ele próprio. Aí, na condição de presidente do banco, ele convocava os acionistas para aumentos de capital. E definia prazos incompatíveis com a lentidão do processo de decisão das grandes multinacionais.
Brasil Soberano e Livre: E Lula nunca desmentiu o empresário Mário ...
A operação garantiu o controle quase total sobre o banco, mas também sua descapitalização, que tornou-se maior quando se meteu em aventuras com usinas de álcool na Bahia e acabou quebrando a cara. 
A descapitalização levou o grupo a entrar em crise.
Poderia ter se amparado no governo Figueiredo, que lhe devia favores.
No período em que Figueiredo esteve internado em Cleveland, para operar do coração, armou-se uma conspiração civilista no país, tentando colocar o vice presidente Aureliano Chaves na presidência.
Essa operação deu-se entre os líderes empresariais reunidos pelo jornal Gazeta Mercantil. Participaram dela desde o empresário Abilio Diniz até economistas, como Luiz Gonzaga Belluzzo e João Manuel Cardoso de Mello. Seria o caminho mais rápido para abreviar a sucessão para um civil.
Garnero foi a Cleveland e alertou Figueiredo, que abortou o movimento.
Mas não conquistou sua gratidão.
Pouco tempo antes, o estouro do grupo Capemi – registrado magistralmente pelo então jovem jornalista José Carlos de Assis, na Folha – ajudara a corroer ainda mais a legitimidade do governo Figueiredo. Agora a corrupção chegava ao próprio Montepio da Família Militar.

Quando Tancredo foi eleito, por via indireta, Figueiredo viu a maneira de dar o troco. Um dos membros do Conselho da Brasilinvest era o próprio genro de Tancredo, Aécio Cunha, pai de Aécio Neves. Outros três eram dos mais influentes empresários brasileiros: Smidt, Sauer e Mauro Salles.
Proibiu, então, o Ministro do Planejamento Delfim Netto de qualquer ajuda e deixou o pepino para o governo Tancredo e para o novo Ministro da Fazenda Francisco Dornelles, com o aviso irônico: esse aqui é a Capemi de vocês.
Percebendo a armadilha, Tancredo ordenou a Dornelles que agisse com o máximo rigor e sem nenhuma condescendência.
Até hoje Garnero acha que Dornelles foi movido por vingança, devido a uma disputa feminina/ O que estava em jogo era a afirmação da Nova República.
Ali acabou o reinado de Garnero, que foi depenado pelos novos vitoriosos. A NEC, empresa da qual era sócio, foi transferida para Roberto Marinho, em uma manobra com nenhuma sutileza: Antonio Carlos Magalhães suspendeu os pagamentos da Telebras para a empresa e avisou os sócios japoneses que só retomaria quando o controle passasse para Roberto Marinho. Passaram o controle e, em contrapartida, ACM conseguiu ser a afiliada da Globo na Bahia.
A quebra da Brasilinvest levou junto os três conselheiros. Sauer teve todos seus bens bloqueados e viu terminar sua carreira de CEO mais prestigiado do país.
Décadas depois, o homem de ferro da VW  Walfgang Sauer era capaz de ir às lágrimas, ao relembrar o episódio. Sauer morre em 29/04/2013 em São Paulo.


Já no governo Sarney, da derrocada de Garnero valeu-se Roberto Marinho para tomar-lhe o controle da NEC Telecomunicações.

Depois disso, continuou a vida tornando-se uma espécie de João Dória Junior internacional. Aos encontros anuais da Brasilinvest comparecia a fina flor do capitalismo – e modelos belíssimas. Aliás, a capacidade de selecionar mulheres para terceiros era uma das especialidades de Garnero, que conseguiu um encontro de Gina Lolobrigida para seu sogro. Ele mesmo tinha visa pessoal discreta.

No início do governo Lula, Garnero valeu-se da familiaridade dos tempos de ABC para se aproximar de José Dirceu, ainda poderoso Ministro da Casa Civil. A aproximação lhe rendeu prestígio e bons negócios.
Graças a ela, conseguiu levar o Instituto do Coração para Brasília, em um episódio controvertido que estourou tempos depois, com boa dose de escândalo. Aliás, até hoje respondo a um processo maluco do Mário Gorla, o sócio de Garnero no empreendimento. Esteve também por trás dos problemas do Instituto do Coração em São  Paulo.

Quando os chineses começaram a desembarcar no Brasil, fui procurado por analistas da embaixada da China interessados em informações sobre o país. E me contaram que estavam conversando com um BNDES privado. Indaguei que história era essa. Era o Brasilinvest – na ocasião um mero banco desativado, localizado em uma das torres do conjunto Brasilinvest na Avenida Faria Lima. Não sabiam que Garnero já se desfizera totalmente do patrimônio representado pelas torres. E tinha um banco de fachada.

Garnero ajudou na aproximação de Dirceu com parte dos empresários norte-americanos. Na véspera do estouro do “mensalão” Dirceu já tinha uma viagem agendada para Nova York organizada por ele.

Sem conseguir se enganchar no governo Lula, Garnero acabou se dedicando ao setor imobiliário. Os filhos não seguiram sua carreira, internacionalmente brilhante, apesar dos tropeços. Ficaram mais conhecidos pelas conquistas e pela vida vazia.

Já o neto consegue seu segundo instante de celebridade. O primeiro foi em um vídeo polêmico, simulando um agarra com o ex-jogador Ronaldo.
Ana Maria Monteiro de Carvalho e Mario Garnero com os filhos, Álvaro, Mario e Fernando
Mario Garnero, o pai, recebeu convidados na cobertura do edifício do Brasilinvest para comemorar o sucesso do Forum das Américas, organizado por ele. Num raro momento a família Garnero/Monteiro de Carvalho esteve reunida. Mario Bernardo, o filho mais velho, mora em Nova York; Álvaro, o do meio, em Sampa; e Fernando vive na fazenda da família em Campinas. A mãe, Ana Maria Monteiro de Carvalho, de namorado novo, mudará em breve para sua casa recém-reformada na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, nos Jardins.
Notas:

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