sexta-feira, 4 de maio de 2018

Operação da P.F. “Câmbio, Desligo”, promete revelar esquema AINDA MAIOR que a Lava Jato

O ‘Doleiro dos doleiros’, Darío Messer aparece em investigações desde os anos 80. Principal alvo da Operação “Câmbio, Desligo”, Messer é citado em sucessivos escândalos financeiros, como Banestado, Mensalão, Swissleaks e Propinoduto.
Deputados e senadores estão debruçados sobre a decisão de ontem do Supremo Tribunal Federal (STF), determinando o fim do foro especial para crimes cometidos fora do mandato ou sem relação com ele. Na forma como foi tomada, ela deixa margem mesmo a um sem-número de dúvidas e questionamentos. Mas nossos parlamentares deveriam mesmo era ficar preocupados com Operação Câmbio, Desligo, deflagrada ontem pela Polícia Federal (PF), sob o comando do juiz Marcelo Bretas.


A operação tem como alvo uma rede de 53 doleiros, denunciada pelos delatores Vinicius Claret (codinome “Juca Bala”) e Cláudio Barbosa (“Tony”), cujo centro é ninguém menos que o carioca Dario Messer, uma espécie de “doleiro dos doleiros” que opera desde os anos 1990 como uma espécie de Banco Central da lavagem de dinheiro.

Messer é um personagem capaz de aparecer com destaque como sócio do ex-jogador Ronaldo Nazário, amigo do presidente paraguaio, Horacio Cartes, do genro do russo, Vladimir Putin, e numa miríade de escândalos de corrupção no Brasil e exterior
Seu nome foi citado na delação do doleiro Alberto Youssef no Caso Banestado, de 2003, como o “maior doleiro do país”. Voltou a surgir na Operação Farol da Colina, no escândalo do Propinoduto, no Mensalão (como “operador do PT”), no Swissleaks (que revelou contas secretas de celebridades na filial suíça do HSBC) e, naturalmente, na Lava Jato.
Operando em parceria com a família paulistana Matalon, Messer é sempre mencionado como fornecedor de dólares aos demais doleiros para as operações ilegais. Desta vez, na Câmbio, Desligo, ele é apontado como o centro de um esquema de lavagem de US$ 1,6 bilhão, por meio de 3 mil offshores em 52 países.
De acordo com a delação de Claret e Barbosa, que mantiveram registros das transações internacionais que passaram por eles por meio de um sistema chamado “Bankdrop”, o esquema foi usado pelo ex-governador Sérgio Cabral para tirar US$ 85,4 milhões do país.
A especialidade da dupla era fraudar o uso das contas CC5, autorizadas pelo Banco Central para a modalidade de transferência conhecida como “dólar-cabo”. Por meio delas, o dinheiro viajava ao exterior rumo a paraísos fiscais, ou voltava ao Brasil. O esquema casava oferta e demanda por dólares e reais, de modo a otimizar as transferências.
O método foi imitado por todos os doleiros que operavam com lavagem de dinheiro, entre eles o mais célebre, Alberto Youssef, uma espécie de delator-máster da Lava Jato. Segundo a investigação da PF, a rede de doleiros em torno de Messer movimentou bem mais dinheiro que ele próprio, tendo deixado vestígios identificados nas Operações Satiagraha, Castelo de Areia e no caso Siemens.
Messer não é eficaz apenas na evasão de divisas do país. Ao longo dos anos, demonstrou também um talento notável para evadir-se ele próprio. Assim que o juiz Sérgio Moro começou a obter os depoimentos de Youssef no caso Banestado, naturalizou-se uruguaio e escapuliu para o país vizinho (seu parceiro Marco Matalon seguiu a mesma rota). Vivia recentemente entre Rio e Paraguai e, até ontem, continuava foragido.
Messer é visto como o centro de uma espécie de sistema circulatório, por cujos vasos escoa quase todo dinheiro sujo desviado (roubado) no Brasil. É incomensurável a quantidade de informações que os procuradores cariocas poderão coletar a partir das prisões realizadas ontem. Youssef era apenas uma artéria – bojuda, é verdade – que conectava o fluxo financeiro ao roubo da Petrobras e ao assalto às outras estatais. Messer é o coração.
A partir de agora, será alvo de uma nova caçada internacional. Bretas, como Moro, faz parte de uma geração de juízes obstinados e determinados a por um fim à corrupção endêmica no país. Não desistirá de lançar quantos arpões estiverem a seu alcance para pegar a baleia branca que há pelo menos 15 anos foge da Justiça brasileira.

Uma “Gigantesca rede de lavagem de dinheiro” é a dimensão dada pelo Ministério Público Federal no Rio de Janeiro a esquema atribuído a Darío Messer, o “doleiro dos doleiros”. Com prisão decretada pela Justiça Federal, Messer foi o principal alvo de operação do MPF realizada nesta quinta-feira (3) para desmembrar uma organização criminosa que teria movimentado, desde 2011, R$ 6 bilhões.
Há mandado de prisão contra ele no Paraguai, e seu nome já foi incluído na Difusão Vermelha da Interpol, o que em tese dificultaria deslocamento por aeroportos.
Engenheiro por formação, Darío Messerestá no radar da Polícia Federal há cerca de 30 anos, com citações em inquéritos policiais desde o fim dos anos 1980. Já naquela época, o doleiro aparecia como operador de personalidades do Rio. Por exemplo, Waldomiro Paes Garcia, o Miro, então patrono da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro.
Há 15 anos, a Comissão Parlamentar de Inquérito do Banestado também “esbarrou” em Messer. Foi descoberta uma movimentação de R$ 8 bilhões de forma irregular entre 1996 e 2002 ligada ao doleiro. Na ocasião, houve pedido de indiciamento de Messer, que não foi sequer preso. Em mais um caso milionário de corrupção, Messer acabou citado em depoimentos no esquema de envio irregular de US$ 33 milhões para o exterior por fiscais da Fazenda do RJ e auditores fiscais. O escândalo ficou conhecido como “Propinoduto”.
Já no escândalo do “Mensalão”, a PF apontou o doleiro como responsável por enviar US$ 1 bilhão de forma irregular para o exterior e entregar o dinheiro, em reais, no Banco Rural para integrantes do PT. O doleiro foi citado, ainda, em investigação acusado de ser dono de uma offshore no Panamá no caso do Swissleaks. Messer também era “figurinha carimbada” no Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o Coaf. Pelo órgão, foram expedidos, pelo menos, cinco relatórios sobre o doleiro que atestavam irregularidades em transações financeiras entre 2010 e 2015. 
Dois desses documentos foram enviados para a Polícia Federal, em 2012 e 2015, outro para a Polícia Civil do RJ em 2014 e mais um para a Receita Federal, em 2015. Uma unidade financeira no exterior também recebeu informações sobre Messer. O nome desta última é mantido sob sigilo pelo Coaf. Investigadores indicam, ainda, que Messer atua como uma espécie de “banco” de outros doleiros. Quando eles não têm dinheiro para atender os seus clientes, Messer empresta o valor necessário para que o doleiro possa cumprir com o acordo.
Na decisão desta quinta-feira que determina a prisão do doleiro, o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, escreve: “Tendo agido como financiador por algumas vezes do dinheiro necessário para a formação de capital de giro indispensável às transações”. O doleiro é conhecido por frequentar festas na alta (e PODRE) sociedade carioca. Tem entre amigos jogadores de futebol e políticos. Em uma busca e apreensão a seu apartamento em 2004, policiais federais encontraram um quadro do pintor Portinari, na cobertura que tem no Leblon, na Zona Sul.
Influente, ao se estabelecer no Paraguai, Messer virou amigo do presidente do país. Uma investigação local aponta o doleiro como um dos interessados em financiar um cassino. Em nota, os advogados de Darío Messer informaram que ele “se pronunciará exclusivamente nos autos do processo”.
Operação ”Câmbio, Desligo”
Na atual investigação que conseguiu que a Justiça decretasse a prisão do doleiro, foi revelado que Messer tinha codinome “Cagarras”, apelido que guarda referência com o Arquipélago das Cagarras, ou simplesmente Ilhas Cagarras. O conjunto de ilhas é tão conhecido pelos cariocas quanto o endereço em que Messer vivia, a Avenida Delfim Moreira, no Leblon, onde ele tem uma cobertura. Nesta quinta, Messer foi procurado por policiais federais, mas não estava em casa e é considerado foragido.
Durante as investigações, os procuradores da Lava Jato só conseguiram chegar a Messer depois que velhos conhecidos dele, também doleiros, foram presos e firmaram acordo de colaboração premiada com o órgão. Claudio Barbosa, conhecido como “Tony” ou “Peter”, e Vinicius Claret, o “Juca Bala”, descreveram com detalhes aos representantes do MPF a “complexa rede de câmbio paralelo” baseada no Uruguai.
Para o MPF, Messer era o dono de um sistema online que conectava doleiros em 52 países. Os investigadores dizem que para fazer as movimentações, eles utilizavam contas de 3 mil empresas “offshore”, em paraísos fiscais. Assim, o dinheiro movido pelos doleiros não chamava atenção das autoridades e também estava livre de impostos.
Na prática, o sistema atribuído a Messer funcionava como um banco clandestino de compensação, que conciliava interesses de clientes. Políticos (CORRUPTOS) e empresários (CORRUPTORES) podiam entregar reais aos doleiros, no Brasil, e receber em moeda estrangeira, lá fora. O contrário também podia ser feito: depositar dólares fora do país, e pegar reais aqui no Brasil.

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