quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Katia e Sabino Rebelo BANQUEIRO RURAL

Foi Sabino Rebelo quem procurou José Dirceu na Casa Civil para tratar do "Projeto Nióbio" com o Banco Rural.
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Em 1944, Sabino Rabello sentou-se diante do seu computador pessoal. Formado em Direito, ele começou a calcular o retorno financeiro que a profissão de advogado lhe traria. Poderia montar um escritório, poderia ser juiz, mas, naquele tempo, já com o diploma na mão, Sabino tinha a sensação de ter feito a escolha errada. Queria mesmo é ser empresário. Mas, espera aí. Computador? Em 1944? ?É, sô, meu computador era uma parede em branco?, conta Sabino, com seu forte sotaque interiorano. ?Eu sentava, olhava, fica pensativo e fazia as minhas contas.? Foi assim que Sabino, filho de Ajax Rabello, um dos amigos mais próximos de Juscelino Kubitschek, decidiu montar uma construtora, sonhando em levantar pontes, estradas e obras pesadas. Vinte anos depois, Sabino sentou-se novamente diante de seu ?micro?. Queria diversificar seus negócios e veio o estalo. Comprou a carta-patente de um banco, o Manoel de Carvalho. ?Naquele tempo, comprar banco era como comprar um cacho de bananas.? O negócio foi fechado num dia 9 de novembro, aniversário da esposa, dona Jandira. Sabino entrou em casa exultante, e deu-lhe a notícia: ?Querida, comprei um banco para você!?. O cálculo de Sabino foi simples. Um médico ou um advogado, para enriquecer, depende do seu tempo disponível, que é escasso. ?Um banqueiro pode ter uma agência como pode ter 100?, diz. ?E eu, como empresário, pagava
os juros e já era vítima dos banqueiros naquele tempo.? Anos mais tarde, o Banco Manoel de Carvalho foi rebatizado como Rural. Não porque tivesse foco no agribusiness. Apenas porque Sabino viu 
uma caminhonete Rural Willys pelas ruas de Belo Horizonte e encantou-se com o modelo.
Foi com lances intuitivos e uma sabedoria tipicamente mineira, simples e desconcertante, que Sabino ergueu um império. E o fez, como manda a tradição das montanhas de Minas Gerais, trabalhando em silêncio. Somente agora, perto de completar 83 anos, ele concedeu sua primeira entrevista ? esta, à DINHEIRO ? e se deixou fotografar. Entre as empresas do grupo, seu banco, o Rural, tem patrimônio líquido de R$ 700 milhões. Nos últimos anos, vem crescendo a uma média de 25% e foi turbinado com a aquisição recente do Banco Sul América. Se fosse vendido, valeria pelo menos R$ 1 bilhão, porque tais negócios são sempre fechados com prêmios em relação ao patrimônio. Suas construtoras, a Tratex e a Servix, já estiveram entre as maiores do País. E, além de tudo isso, como Sabino sofre de insônia, volta e meia ele acorda às 2 da madrugada e senta-se diante do seu ?computador de parede?. De lá, saem invenções e projetos mirabolantes. O dono do Rural já inventou uma churrasqueira vertical, a Vertgrill, que ele define como a ?melhor do mundo?, e um sistema de aquecimento solar. Também bolou um projeto para explorar nióbio na Amazônia. Noutra noite sem dormir, concebeu um plano de agrovilas para o cultivo de milho e feijão nas vazantes dos rios da floresta. ?Cabeça não é só para usar chapéu, né??, indaga Sabino, um leitor voraz de revistas científicas. No seu vasto escritório, no centro de Belo Horizonte, há pilhas de edições das revistas Science e da Scientific American ? ele aprendeu a ler em inglês sozinho, sem precisar de professor. E é justamente por encarnar três personagens distintos, assim como o poeta Fernando Pessoa, criador de três heterônimos, que Sabino tem três mesas no seu escritório. Numa das mesas, ele é banqueiro. Quando senta em outra, Sabino incorpora o empreiteiro de obras pesadas. Na terceira, rascunha suas invenções.
Ao longo de sua trajetória, o banqueiro inventor teve de superar uma dura disputa familiar. Nos fim dos anos 50, no governo JK, Sabino rompeu com o primo Marco Paulo Rabello, que se valia da amizade com o presidente para conseguir bons contratos em Brasília ? o dono do Rural, ao contrário, pisou na nova Capital apenas dois anos depois da inauguração. ?Não queríamos usar nossa relação pessoal com o presidente?, lembra Sabino. Ajax, seu pai, havia sido colega de JK numa agência dos Correios, em Diamantina. ?O Juscelino era um tipo que ia na nossa casa e abria a geladeira para ver se tinha jabuticaba.? E JK acabou pagando um preço caro por conta das relações com Marco Paulo. Deixou o governo sob denúncias de favorecimento ao empresário. Naqueles anos, excluído das obras públicas, Sabino tentou se associar à Vale do Rio Doce numa empresa para produzir ferro-gusa, mas o negócio não prosperou. ?Era uma sociedade de cabrito com onça ? e nós éramos o cabrito?, conta Sabino, lembrando a fábula em que a onça e o cabrito decidem construir juntos uma casa. Depois de pronta, a onça janta o cabrito.
O maior drama vivido por Sabino, porém, aconteceu em 1999, depois de uma tragédia pessoal. No dia 26 de fevereiro, sua filha mais velha, Júnia, que presidia o banco havia vinte anos, morreu num desastre de helicóptero. Era uma sexta-feira. Sabino chorou a morte da filha, isolou-se no seu quarto, passou duas noites sem dormir e voltou ao seu computador. Decidiu marcar uma reunião com os diretores já na segunda-feira. Naquele dia, reassumiu, aos 79 anos, a presidência do Rural. ?Tínhamos que proteger nosso patrimônio, evitar as disputas internas de poder e impedir o assédio dos grandes bancos, que iriam querer nos comprar?, diz. A filha Júnia, nos anos 80 e 90, foi responsável pela rápida expansão do Rural. Implantou novos siste-
mas tecnológicos e um modelo de remuneração em que cada gerente ? são 450 ao todo ? passou a ser acompanhado como se fosse um banqueiro independente. Medidos por resultados, eles chegam a ganhar até 35 salários por ano. ?Ela tinha um dom extraordinário para finanças?, lembra o pai, advogado, que exigiu que a filha estudasse engenharia. ?Aquelas coisas para as quais a gente já tem talento,
não precisa nem estudar?, filosofa.
Sabino ficou na presidência do Rural até o fim de 2000 e conduziu uma segunda sucessão na empresa. Retornou ao conselho e passou o comando executivo a outra filha, Kátia Rabello, uma bailarina profissional que jamais havia trabalhado no banco. Na dança dos números, os resultados não decepcionaram. De 1999 para cá, o patrimônio do Rural saltou de R$ 250 milhões para R$ 700 milhões. ?Temos um foco muito claro em crédito para o setor privado e somos mais ágeis do que os grandes bancos?, diz Kátia. ?Aqui as pessoas ralam muito e têm de produzir resultado.? A gestão agressiva do Rural fez com que o banco alcançasse ativos de R$ 5,2 bilhões. É hoje a sétima maior instituição financeira privada de capital brasileiro e a maior fora de São Paulo. ?Eles são padrão de excelência no segmento de crédito para médias empresas e trabalham com uma inadimplência muito baixa?, assegura o consultor Erivelto Rodrigues, da Austin Asis. Um estudo da consultoria revela que o Rural vem sendo, historicamente, um dos cinco bancos mais lucrativos do País. Agências de classificação de crédito, como a Fitch e a Moody?s, atribuem um risco muito baixo ao banco. ?O lucro é muito bom porque trabalhamos com empresas pequenas e médias, que geram um spread maior, sem que corramos riscos, porque estamos sempre amparados em recebíveis?, diz o superintendente José Roberto Salgado.
Com números tão vistosos e tendo enfrentado duas trocas de comando em cinco anos, o Rural vem sendo um alvo constante do assédio dos grandes bancos, como o Bradesco, o Itaú e o Unibanco. ?Minha resposta é sempre a mesma?, diz Sabino, elevando o tom da voz ao pronunciar a palavra ?não?. Por uma razão muito simples. ?Eu, se fosse moço, iria querer continuar no mesmo ramo?, explica. ?Até porque o Brasil está numa estrada ruim de desenvolvimento e hoje não tem negócio melhor que banco, não é mesmo??. Hoje, quando lança os olhos no seu ?computador pessoal?, Sabino vislumbra poucas oportunidades fora do mundo financeiro. Uma delas é a indústria farmacêutica. ?Ainda vão descobrir muitas vacinas contra os vírus que estão por aí.? E o que Sabino enxerga, na sua parede em branco, mais cedo ou mais tarde torna-se realidade. ?Ele tem um verdadeiro toque de Midas?, elogia o amigo Murillo Mendes, dono da construtora Mendes Júnior e antigo cliente do Rural
http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/financas/20031203/banqueiro-rural/21542

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