terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Hipácia de Alexandria

Impressionante, esse relato biográfico!
​Hoje estou mais pro budismo, uma filosofia de pessoas que não se consideram-religiosas.
Respeitando a todas as religiões, mesmo aos ateus (do Bem).


 

Hipácia de Alexandria (355 - 415) foi uma cientista matemática, astrônoma e filósofa neoplatônica.
Gênio entre gênios, liderando as mentes mais brilhantes da época, ela foi professora de grandes pensadores e diretora da maior Academia de Ciências do mundo antigo. Desenvolveu sistemas de pensamento e método científico que deram impulso ao que seria um novo Salto Evolutivo para a Humanidade. Helênica de origem grega, ela viveu em Alexandria, no Egito. Provavelmente a mulher mais inteligente que já existiu.
Todo o Conhecimento Humano produzido pelas diversas culturas e civilizações em 3000 anos de História na Idade Antiga estava organizado na Biblioteca de Alexandria. 


Sócrates, o Escolástico : "Havia em Alexandria uma mulher chamada Hipácia, que fez tantas realizações em Literatura e Ciência queultrapassou todos os filósofos da época. Tendo progredido na escola de Platão e Plotino, ela explicava os princípios da Filosofia a quem a ouvisse, e muitos vinham de longe receber os ensinamentos. Hipácia distinguiu-se na Matemática, na Filosofia, na Astronomia, na Física e foi ainda responsável pela Escola de Filosofia Neoplatônica."


 

Hipácia era filha de Téon, um renomado filósofo, astrônomo, matemático, autor de diversas obras e professor em Alexandria.
Criada em um ambiente de idéias e conhecimento, tinha uma forte ligação com o pai, que lhe transmitiu, além de conhecimentos, a forte paixão pela busca de respostas para o desconhecido.
Hipácia estudou na Academia de Alexandria, onde devorava conhecimento: Matemática, Astronomia, Filosofia, Religião, Poesia e Artes. A oratória e a retórica também foram desenvolvidas. 

 


Quando adolescente, viajou para a Grécia e estudou na Academia de Atenas, para completar a educação na Escola Neoplatônica, onde não demorou a se destacar pelos esforços para unificar a matemática de Diofanto com o neoplatonismo de Amónio Sacas e Plotino, isto é, aplicando o raciocínio matemático ao conceito neoplatônico do Uno (mônada das mônadas). Ao retornar, já havia um emprego esperando por ela em Alexandria: seria professora na Academia onde fizera a maior parte dos estudos, ocupando a cadeira que fora de Plotino. Aos 30 anos já era diretora da Academia de Alexandria, sendo muitas as obras que escreveu nesse período. 




Hipácia movendo as engrenagens de um modelo gravitacional do sistema solar.
Milênios atrás, os astrônomos gregos e egípcios já sabiam que a Terra é uma esfera girando em torno do Sol e de si mesma,
que a Lua move-se em torno de nós e já tinham identificado 6 planetas.

Um dos seus alunos foi o notável filósofo Sinésio de Cirene, que lhe escrevia freqüentemente, pedindo-lhe conselhos.
Através destas cartas, sabemos que Hipácia desenvolveu alguns instrumentos usados na Física e na Astronomia, entre os quais o hidrômetro.
Uma das obras de Hipácia é o Tratado Científico "Sobre o Cânon Astronômico de Diofanto", além de comentários sobre os matemáticos clássicos, incluindo Ptolomeu. Ela também desenvolveu estudos sobre a Álgebra de Diofanto. 
Em parceria com o pai, escreveu um tratado sobre a Geometria de Euclides.



Ficou famosa por ser uma grande solucionadora de problemas. Matemáticos confusos, com algum problema em especial, escreviam-lhe pedindo uma solução. E ela sempre os salvava. Obcecada pelo processo de demonstração lógica, quando lhe perguntavam porque jamais se casara, respondia que já era casada com a Verdade.





Hipácia despertou paixões em dois homens: um deles seu escravo, Davus, um homem dividido entre a própria condição e amor e a hipótese de liberdade pela adesão à causa crescente do Cristianismo. E outro, Orestes, seu aluno, que se tornou um dos políticos mais poderosos e influentes de Alexandria e que entrou em choque de interesses com as autoridades cristãs. 


Contudo, as almas grandes e pacíficas frequentemente atraem a ira daqueles que as querem dominar. O bispo Cirilo, patriarca de Alexandria, na ascensão do Cristianismo pelo Terror e implantação do obscurantismo da Igreja,  promoveu uma campanha de ódio contra Hipácia, lancando rumores de que era uma feiticeira, que praticava a magia negra e lançava maldições sobre a cidade. Ou seja: ela foi a primeira de todas as 1 milhão de mulheres inteligentes, educadas, cultas, instruídas e letradas que praticavam alguma ciência que os ignorantes cristãos não entendiam e que eles caluniavam de ser uma bruxa, para torturá-las e matá-las com requintes de crueldade diabólicos.Apesar de não se opôr ao cristianismo e de contar com vários alunos cristãos, Hipácia foi vítima de uma multidão liderada por um pregador cristão. 


No ano de 391, a Biblioteca de Alexandria foi completamente destruída, incendiada pelos fanáticos cristãos por ordem do bispo Teófilo que também virou santo da Igreja Católica. Segundo São Teófilo, "Só não consegui arrancar as fundações porque eram demasiado pesadas."

 
Numa tarde do ano de 415, quando regressava do Museu, Hipácia foi atacada em plena rua por uma turba de cristãos enfurecidos. Ela foi golpeada, desnudada e arrastada pelas ruas da cidade até uma igreja. No interior da igreja, foi cruelmente torturada até a morte, tendo o corpo dilacerado por conchas de ostras e cacos de cerâmica. Depois de morta, seu corpo foi lançado a uma fogueira. 
A morte de Hipácia não aplacou a ira do bispo Cirilo, que foi responsável, ainda, por levar a multidão cristã a saquear um bairro judeu com setecentos anos de história, que muito contribuíra para a cultura e enriquecimento da cidade. As sinagogas foram demolidas e os 40 000 judeus saqueados e expulsos da cidade, embora eles fossem protegidos pelas leis. Hitler não faria pior. Depois de todos esses Crimes contra a Humanidade, o bispo Cirilo foi canonizado santo da Igreja Católica. São Cirilo é doutor da Igreja. Cada religião tem os santos que merece.


O que mais impressiona na história da vida e morte de Hipácia é como ela encarnou em si mesma todo o contexto histórico de uma revolução. Não foi mero simbolismo. Foi o próprio evento, como protagonista, pivô e vítima da tragédia de um episódio crucial na História Humana. Ela esteve no epicentro dos fatos que marcaram o Fim de uma Era. Foi o apogeu e crepúsculo de uma época em que uma mulher poderia dominar a elite pensante da sociedade politeísta  e a ascensão definitiva de uma religião monoteísta que logo ia superar os seus ex-perseguidores, ao ser como imposta pelo Terror como a "Religião Oficial do Império Romano". 


Hipácia foi a personificação do ápice da Cultura e da Civilização da Antiguidade Clássica. Seu fim trágico foi também o fim da Idade Antiga — e coincidiu com a destruição de todo o saber, todo o conhecimento, todo o progresso. Foi o apagar das luzes da Humanidade. Pois logo após os acontecimentos em Alexandria, teve início a Era das Trevas da Idade Média. E o mundo mergulhou em mil anos de trevas, ignorância, preconceito, fanatismo e intolerância medieval.
 


Alexandria  é mais um excelente filme de Amenábar que conjuga a aventura com o drama, e o romance com o sentido épico de uma época. O realizador resgata assim a memória de um acontecimento que foi apagado pela cultura dominante judaica-cristã do Ocidente. Pode-se dizer, com toda a justiça, que Hipácia é uma mártir da Humanidade. 
A Melhor Pessoa Possível sofreu a Pior Injustiça Possível nas mãos dos Piores Seres Humanos Possíveis.
 Taí a prova que Deus não existe mesmo.

Descanse em paz, Hipácia.



créditos
Paulo Monteiro

00:18 (Há 17 horas)
para Cco:mim

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