Transferências
de recursos feitas pelo Tesouro ao BNDES que começaram em 2008 aumentaram excessivamente a dívida pública,
tornando o Brasil insustentável: “A
nossa indústria de tecnologia de ponta foi destruída nos últimos anos. Não houve nenhuma política que
incentivasse o seu desenvolvimento. Não
se desenvolve, no curto prazo, um setor que foi destruído. A China levou vinte anos para ter a sua indústria tecnológica. A
Índia, quinze anos. Essa é uma prioridade, mas é preciso formar engenheiros, cientistas.”
A primeira transferência do Tesouro
para o banco, no valor de 100 bilhões de reais, foi tomada como uma saída para evitar a
estagnação. As fontes de crédito haviam secado
e o BNDES foi uma das poucas instituições a continuar emprestando. Os
ataques começaram quando o governo
liberou, com a aprovação do Congresso, mais um
aporte de 80 bilhões de reais para o banco. Como os recursos não foram
obtidos por meio do aumento de arrecadação, ou da redução de gastos, o Banco Central emitiu
títulos da dívida pública, pagando juros de
14,5% pelos papéis. Os reais levantados com a venda dos títulos foram
repassados ao BNDES, que os emprestou às
empresas a juros de 5% ao ano. Ou seja: o governo pegou dinheiro caro no curto prazo para
emprestar barato às empresas, que os saldam
em prazos longos. No final de setembro, o Tesouro transferiu mais 25
bilhões de reais ao banco. “O Brasil não está gastando mais porque está arrecadando
mais, e sim porque está aumentando a sua
dívida” disse Armando Castelar, ex-chefe do departamento econômico do BNDES e agora sócio da Gávea
Investimentos, administradora de recursos
de Armínio Fraga. “Esse é um modelo muito arriscado porque joga o problema para o futuro. Em algum momento, a
conta terá que ser paga.” No começo de julho, Henrique Meirelles reclamou
publicamente que o nível recorde de
empréstimos do BNDES freava a redução da dívida pública. Segundo ele, o excesso de dinheiro na economia obrigava o
Banco Central a elevar os juros para evitar
o aumento do consumo e, consequentemente, dos preços. Foi uma das poucas vezes que Luciano Coutinho (Cebrap) reagiu:
afirmou que os créditos concedidos ajudavam a aumentar o investimento.
Arno Agustin, secretário do Tesouro
Nacional, é um gaúcho de olhos claros e barba
eriçada no estilo dirigente sindical da década de 80. No Ministério da
Fazenda, ele é o responsável final pela
liberação dos recursos para o BNDES. “Quando veio a crise, tínhamos que sustentar o nível de
investimento porque teríamos enormes dificuldades de retomá-los”, disse Agustin. “O aporte era
a única forma de impedirmos que o Brasil
voltasse à velha situação de crescer um pouquinho, interromper o crescimento
e a produção, ter mais inflação,
obrigando o Banco Central a dar uma porrada na
política monetária, aumentando novamente os juros, para conter os
preços.”
http://mansueto.files.wordpress.com/2010/10/revista-piaui-o-desenvolvimentista.pdf
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