segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Poder Dominante (8) - Interferência estrangeira nos destinos do nosso país

Nós ainda somos a Nação (e somos?), cuidemos, pois, para que o Brasil se transforme em um sólido Estado nacional. Ou nada ele será. E bem logo nada mais seremos.
— Difícil saber o que pretendem telejornais espetaculosos ao publicar matérias sobre,Nação o envolvimento dos EUA no golpe civil-militar de 1964.
— Difícil saber porque assumir tal envolvimento vai contra a linha editorial do oligopólio que controla a televisão aberta no Brasil, que prefere acreditar que os militares fizeram o serviço sujo sozinhos. — Vez por outra surge um historiador com a "versão definitiva" sobre a participação estadunidense no golpe, muito embora René Armand Dreifuss e outros, já tenham deixado vasta obra publicada sobre essa interferência estrangeira nos destinos do nosso país.
— Basta aprofundar um pouquinho os estudos para perceber que o golpe de 64 não foi espontâneo, repentino. — 1964 resulta de uma poderosa articulação entre o capital transnacional, o empresariado nacional, os militares e intelectuais a serviço da alienação do patrimônio público brasileiro. — E mais. A mesma estratégia de dominação foi usada em toda a região latino-americana.
— René Dreifuss apresenta o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), o Conselho Nacional das Classes Produtoras (CONCLAP), a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e a Federation of the American Chambers of Commerce do Brasil. Esses foram os mais importantes focos de pressão política onde predominavam os interesses multinacionais e associados. — Seu poder econômico e capacidade de articulação eram tais que não seria exagero falar numa verdadeira administração paralela desde o governo Juscelino Kubitschek.
— Eugênio Gudim, Octávio Gouveia de Bulhões, Roberto Campos, Mário Henrique Simonsen e Antônio Delfim Netto são citados como os principais representantes de uma geração de economistas político-empresariais que ocuparam altos cargos na administração pública e privada, e que implementaram uma forma de gestão bastante favorável aos interesses multinacionais. "Assim, o poder de classe era internalizado no Estado sob a cobertura da racionalidade técnica, necessidade e perícia (todos eles com uma conotação neutra), e legitimado por grupos executivos e pelos escritórios de consultoria tecnoempresariais", Dreifuss pág.83.
— Dois anos antes do golpe, grande parte desses e outros tecnoempresários ocupavam cargos importantes nos aparelhos ideológicos dos interesses multinacionais e associados.

Não há “paz” ou “bem da humanidade” que se possam fazer à custa de nosso desaparecimento ou nosso definhamento como unidade política soberana.
— Entre os militares, a Escola Superior de Guerra (ESG) aparece como a principal instituição de doutrinação política pró-EUA. — Muitos de seus freqüentadores eram, além de oficiais, integrantes da UDN, como o General Menezes Cortes, hoje nome de um terminal de ônibus no centro do Rio de  Janeiro. — Os milhares de cariocas que tomam ali suas conduções diariamente talvez não saibam que Menezes Cortes participou ativamente do golpe contra o povo brasileiro em 1964.
— "Alguns oficiais militares eram diretores importantes ou acionistas de corporações privadas, como o General Riograndino Kruel e o General James Masson (Eletrônica Kruel S.A.), General Paulo Tasso de Resende (Moinhos Rio-grandenses Samrig S.A. - grupo Bung & Born), Brigadeiro Eduardo Gomes (Kosmos Engenharia S.A.), General Joaquim Ribeiro Monteiro (Cia. Carbonos Coloidais, C.C.C. - grupo Wolney Attalla), de São Paulo, Light S.A., Mercedes Benz), General Euclides Oliveira Figueiredo (Indústrias Químicas e Farmacêuticas Schering S.A. - Schering Corporation e grupo Assis Chateaubriand)" (página 86).
— Além disso, Dreifuss ressalta que oficiais estadunidenses permaneceram no quadro de diretores da Escola Superior de Guerra até 1960 e os EUA mantiveram um oficial de ligação com o corpo docente da escola até pelo menos 1970.
— A ESG havia instruído quase 3 mil militares e civis até 1975 e sua associação de ex-alunos difundiu sua doutrina entre mais de 25 mil pessoas. — O embaixador dos EUA no Brasil reconheceu tais esforços. — Para ele, o Programa de Assistência Militar foi "um fator altamente importante (para) influenciar os militares (brasileiros) a serem favoráveis aos Estados Unidos".
— Para esclarecer qualquer dúvida que pudesse restar, o General George Robinson Mather, comandante da delegação estadunidense na Comissão Mista Militar Brasil-Estados Unidos, disse em palestra na ESG, no início de 1964: "[o objetivo do Programa de Assistência Militar é] assegurar a existência de forças nativas militares e paramilitares suficientes para combater a subversão comunista, a espionagem, a insubordinação e outras ameaças à segurança interna, sem que se tornasse necessária uma intervenção militar direta dos Estados Unidos e de outras forças do mundo livre". Difícil ser mais explícito.
— Até aqui já deu para perceber que o golpe não aconteceu da noite para o dia só porque alguns sargentos decidiram pela insubordinação. Mas vamos adiante.
— Dreifuss apresenta a Companhia Sul-americana de Administração e Estudos Técnicos, ou simplesmente CONSULTEC. Segundo o autor, trata-se do mais bem sucedido e importante escritório técnico e um anel burocrático-empresarial. "Ao estabelecer contatos diretos com agencias estatais ela evitou o escrutínio do público e a necessidade de responder às demandas populares ou ter de levar em conta outras pressões" (página 94).
— As atividades da CONSULTEC eram basicamente de consultoria sobre pedidos de empréstimos ao Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDE, ainda não havia o "S") por companhias multinacionais e redações de discursos públicos, preparação de projetos de lei, decretos e regulamentos. Vejamos alguns dos integrantes da CONSULTEC e suas ocupações: Roberto Campos, presidente do BNDE; Vítor da Silva Alves Filho, diretor do BNDE; Frederico Heller, editor de economia de O Estado de S. Paulo; Edmar de Souza, chefe do setor administrativo do BNDE; Alexandre Kafka, Fundo Monetário Internacional; João Alberto Leite Barbosa, editor de economia de O Globo; Glycon de Paiva, Companhia Vale do Rio Doce, BNDE, conferencista da ESG e diretor de empresas multinacionais.
— Um caso interessante envolvendo a CONSULTEC é o Projeto Hanna. — Este seria a cópia ipsis litteris do Documento nº 18, produzido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento.— O redator teria sido Mário da Silva Pinto, membro da CONSULTEC e diretor geral do Departamento Nacional de Produção Mineral. — De acordo com o texto, a Hanna Mining, associada à Cia. de Produtos Alimentícios Morro Velho S.A., estaria autorizada a explorar as minas de ouro e ferro Morro Velho. Com as seguintes condições: taxas especiais de cambio garantidas para suas operações sem confisco cambial; segurança satisfatória de juros e reembolso, não recebendo, em hipótese alguma, menos do que os juros do capital investido; o minério de ferro pelo menor preço em vigor no mercado internacional.
Posteriormente, a Hanna não seria ingrata. Entre suas contribuições para o golpe estava o fornecimento de caminhões para as tropas de Minas Gerais que iniciaram a agressão ao povo brasileiro em 1º de abril de 1964.
— Outras duas associações de classe que tiveram participação destacada no golpe foram o Conselho das Classes Produtoras (CONCLAP) e a Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Indústrias Básicas (ABDIB). — A primeira "atacava sem trégua o comunismo e apresentava uma defesa intransigente da empresa privada, da estabilidade financeira e monetária e do capital estrangeiro" (página 106).

Já a ABDIB, criada em 1955 e formada por 28 corporações cinco anos depois, atuaria com mais discrição. "A maioria das companhias pertencentes à ABDIB (...) apareceriam como contribuintes financeiros da ação de classe do bloco burguês multinacional-associado na campanha de 1962-1964 para assumir o poder do Estado" (página 109).
 A participação da CIA no golpe se dava de maneira indireta. O diretor da agência de espionagem era usualmente algum membro importante do Conselho de Relações Exteriores dos EUA. Este, por sua vez, estaria envolvido em outras formas de pressão sobre o governo brasileiro. Uma pressão além da diplomacia e do lobby tradicional. Ivan Hasslocher, por exemplo, era diretor-geral do IBAD e apontado como agente de ligação da CIA para o Brasil, Bolívia e Equador (Dreifuss indica o livro IBAD: alienação da soberania nacional, de João Dória). O próprio IBAD foi denunciado como uma das principais operações políticas da CIA no Rio de Janeiro (aqui a indicação é Inside the company, de Philip Agee "que apresento comentário  na
próxima colocaçãor").
— "Durante a campanha eleitoral de 1962, [o IBAD] serviu de conduto de fundos maciços para influenciar o processo eleitoral e coordenou a ação política de indivíduos, associações e organizações ideologicamente compatíveis" (página 113). Dreifuss cita a criação, dentro do IBAD, de dois canais que seriam utilizados para levar ao golpe. A Ação Democrática Popular, que manejava campanhas eleitorais e fazia lobby. E a Incrementadora de Vendas Promotion S.A., usada para disseminar as idéias políticas do IBAD e para ser um agente publicitário junto a jornais, rádios, revistas e emissoras de televisão no Brasil. (René Armand Dreifuss)
Falo inclusive do desrespeito das empresas que por motivos muito óbvios, nunca nos revelam a que origem pertencem, camuflando-se através de slogans, trocando de nomes e assim, seus propósitos passam despercebidos diante dos nossos olhos.

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