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quarta-feira, 7 de julho de 2010

O Jogo Mundial do Poder 2


O Jogo Mundial do Poder

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Um meteoro no céu da mídia

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Nuno Rocha dos Santos de Almeida e Vasconcelos, 45 anos, mais conhecido como Nuno Vasconcelos, “dono” da Ongoing Strategy Investments, é o mais fulgurante meteoro que jamais riscou os céus do universo da mídia em Portugal.
De 2007 em diante, comprou 6,9% da Portugal Telecom (PT), o que fez dele o segundo maior acionista da maior empresa de Portugal; 3,5% da Zon Multimedia, antiga PT Multimediadesmembrada da empresa mãe em 2007 para operar todos os negócios da Portugal Telecom, excluídas a telefonia fixa e a telefonia móvel, e hoje controla 90% do mercado de TV por assinatura, é o maior provedor e tem o maior portal de internet e é dona da maior produtora de conteúdos para TV de Portugal (atua em todos esses ramos em outros países também);tornou-se sócio, com perto de 2%, do Banco Espírito Santo, o maior banco privado do país; comprou o Diário Econômico e o Semanário Econômico de Lisboa por um preço que os próprios vendedores consideraram “irrealista”; montou a Mobbit, que dá consultoria, desenha, hospeda e opera todo tipo desolução de internet tais como sites para qualquer finalidade (inclusive os dos jornais do grupo), iTVs corporativas, painéis informativos, displays de publicidade, etc, em Portugal e no Brasil; tentou comprar a TVI, a maior rede de televisão aberta de Portugal (ele já era sócio da segunda maior rede, pertencente à Impresa, da família Pinto Balsemão); fez uma oferta hostil pela maioria das ações da Impresa; lançou do zero o Brasil Econômico; comprou os três jornais e a licença de TV por assinatura do grupo carioca O Dia; promete para breve o lançamento de um jornal generalista em Brasília “para falar de política”; iniciou as transmissões da TV Econômico de Portugal em dois canais de cabo, um deles em HD; comprou a GPTI, empresa de outsorcing com 19 anos de atuação no Brasil e uma vasta carteira de clientes nas áreas de governo, finanças, telecomunicações, consumo e serviços; lançou o jornal econômico Expansão em parceria com o segundo maior grupo de mídia angolano, o Score Midia; anunciou para breve a assinatura de um acordo também com o primeiro grupo de mídia de Angola, o Media Nova, dono daTV Zimbo, da Radio Mais, do jornal O Pais, do semanário Econômico e da revista Exame; anunciou acordo, com opção de participação acionária, com o grupo Soico, de Moçambique, dono da STV (líder de audiência), da rádio SFM, do jornal O Pais e do jornal Border Post, bilíngüe, visto como “uma porta de entrada para a África Austral”; constituiu a CTN Transnational Contents, criada para oferecer conteúdos audiovisuais e consultoria para TVs de língua portuguesa, dirigida por Fernando Maia Cerqueira, que trabalhou sete anos em Macau implantando a TV local e é o encarregado de expandir a rede Ongoing para o Extremo Oriente.

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Sabões, náufragos e degredados

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Sede da Sociedade Nacional de Sabões
O capital em que se ancora todo este império, segundo Nuno Vasconcelos,  tem sua origem na prosaica Sociedade Nacional de Sabões (SNS) que chegou a ser uma potencia para os modestos padrões portugueses na fase em que produziu para o mercado local marcas mundiais, como Colgate e outras, sob licença.
Ele se diz “o único herdeiro” da SNS. Mas nem isso é verdade. Segundo fonte que conhece de muito perto a história da empresa, o avô materno de Nuno (família Rocha dos Santos) era, na verdade, sócio minoritário (40%) da SNS cujo maior dono era a família Beirão da Veiga (60%). Esse avô teve dois filhos, cabendo a cada um 20%. O tio de Nuno vendeu sua parte aos Beirão da Veiga em 1987. A parte de sua mãe,  “Belucha” (Isabel), foi vendida ao mesmo comprador em 1992, ano em que seu avo morreu, por um milhão de contos, equivalente a algo entre 5 e 6 milhões de euros.
Para cuidar do produto dessa venda foi criado um family office que, sob a chefia de Nuno, passaria a cuidar do dinheiro da família. É ele que dará origem, em 2004, à Ongoing Strategy Investments.
Já seu pai, Luis Vasconcelos, do qual viveu afastado em função do divorcio e do segundo casamento da mãe que levou a família para morar nos Estados Unidos, foi administrador e sócio (23%) de Francisco Pinto Balsemão, criador do jornalExpresso, o primeiro a se estabelecer depois da redemocratização. O jornal deu origem ao grupo Impresa, dono da segunda rede de TV, em audiência, do país – a SIC – e de uma editora de revistas.
Sobre o valor da herança do pai, morto em 2009, Nuno Vasconcelos em pessoa, depondo em março deste ano à Comissão Parlamentar de Ética da Assembléia da Republica que examina a conspiração do governo Jose Sócrates para por de joelhos a imprensa livre de Portugal, disse o seguinte: “Nos últimos dez anos não houve distribuição de dividendos pelos acionistas; a empresa vale metade do que valia e 75% do valor dos acionistas foi destruído“.
E, no entanto, partindo dessas duas heranças relativamente modestas, Nuno Vasconcelos se transformou, de repente, justamente durante os dois anos da maior crise que o mundo vira desde 1929, em que faltava dinheiro para tudo, no maior comprador de empresas de telecomunicações e de mídia da história de Portugal.
Barrado em seu país por violação das leis de proteção à concorrência e em função das suspeitas sobre a origem do dinheiro que movimenta e do envolvimento com o plano do governo para interferir com a liberdade de imprensa, Nuno Vasconcelos e a sua Ongoing, como os náufragos e os degredados do passado, veio dar com os costados na Terra de Vera Cruz.
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Do zero ao infinito

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Difícil não é saber de onde vem o dinheiro que a esposa de Nuno Vasconcelos alega ter investido para fundar o Brasil Econômico e comprar os jornais do grupo O Dia. Difícil é saber de onde vem o dinheiro do próprio Nuno Vasconcelos.
Mas é possível.
A súbita escalada do dono da Ongoing do tranqüilo vale do seu family office para os mais altos picos das finanças portuguesas coincide com a tentativa do grupoSonae, do empresário Belmiro de Azevedo, que fez dinheiro no ramo de supermercados mas também mantinha um pé nas telecomunicações, associado àFrance Telecom, de comprar o controle da Portugal Telecom por meio de uma oferta hostil por um mínimo de 50% + 1 do total das ações, apresentada no início de 2006.
Algo parecido com o que a Telefônica de Espanha está tentando fazer novamente neste momento.
Foi um verdadeiro terremoto em Portugal, pátria do “capitalismo de relacionamentos” onde nada se faz sem antes combinar cada passo com o governo e com a pequena confraria dos poderosos que estão sempre na sua órbita (ou será o contrario, visto que os governos se alternam e os poderosos continuam sempre os mesmos?).
O estado português detém pouco mais de 7% das ações da PT e mais 500 “golden share” que lhe dão direitos especiais. É ele quem nomeia um terço do conselho de administração, o seu presidente, estabelece os limites ao direito de voto dos demais acionistas e tem o poder de vetar decisões estratégicas. Esta ferramenta, sobretudo nas mãos de um “sócio” com os poderes do estado, tira a transparência da gestão e permite as obscuras manipulações mais voltadas a projetos de poder do que a criar valor para os acionistas em que a empresa se envolve, exatamente como estas que transformaram Nuno Vasconcelos, da noite para o dia, num dos membros do seleto grupo dos grandes acionistas da PT.
Partindo do principio de que a Portugal Telecom não esta entre as futuras consolidadoras do setor, muito pelo contrario, o projeto da Sonae propunha acabar com as “golden share”, descartorializar o setor, dar total liberdade aos acionistas para dispor como quisessem de suas ações, abandonar os negócios paralelos e focar a gestão na criação de valor para os acionistas. Isso sinalizava para o desmembramento das redes de cabo e de telefonia fixa, a separação das atividades de telefonia das de produção e distribuição de conteúdos (na época concentradas na PT Multimedia, hoje Zon) e até a possível venda dos 50% que a PT tem na Vivo à Telefônica. Seria a única maneira que o grupo Sonae teria de pagar o investimento feito na compra do controle da PT. Por esta, razão seu projeto foi apoiado pela companhia espanhola que detém 10% da PT e é dona dos outros 50% da Vivo.
Como o premio oferecido pela Sonae aos acionistas minoritários era muito tentador (como também ocorre hoje com a proposta da Telefônica), o perigo de que a oferta fosse aceita era real.
Em função disso, o governo e seus aliados trataram de protelar ao máximo a decisão, para ganhar o tempo necessário para organizar a resistência. Essa articulação envolveu desde a criação de novos sócios simpáticos à manutenção dostatus quo até manobras para impedir a articulação de acionistas minoritários de forma a reduzir o numero de votantes não comprometidos com a rejeição da oferta na reunião decisiva.
Foi nessa canoa que Nuno Vasconcelos embarcou rumo ao estrelato.

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O pai, o filho e o Espírito Santo

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Os mapas dos acionistas da PT publicados na época mostravam que a propriedade da companhia era – como continua a ser – muito  pulverizada. Mas é certo que a Ongoing e suas coligadas não constavam deles.
Em janeiro de 2006, quando a Sonae apresentou sua oferta, Nuno Vasconcelos e suas empresas ainda não tinham uma única ação da Portugal Telecom.
Na conturbada Assembléia Geral de Acionistas que finalmente se reuniu a 2 de março de 2007, mais de um ano depois, para decidir a aceitação ou rejeição da oferta da Sonae, a Ongoing já era dona de 3% da PT.
Para escândalo de muitos, Nuno Vasconcelos conseguiu, no momento da votação, cooptar o presidente da Associação dos Acionistas Minoritários para representar a sua pessoa e não os seus associados que, assim, acabaram não votando. Mas não foi só. No calor dessa mesma Assembléia Geral, Nuno Vasconcelos foi, de repente, eleito “administrador” da Portugal Telecom, fato que provocou contestações até na Assembléia da Republica onde deputados exigiram que fosse apresentado o seu curriculum para averiguar o que, nele, poderia recomendá-lo para essa função.
Hoje, Nuno Vasconcelos já tem 6.9% da PT. É o segundo maior acionista privado, portanto, depois do Banco Espírito Santo (BES) que tem pouco menos de 9% (acima do BES, só ha a Telefônica de Espanha, com 10%).
Junto com seu sócio, Rafael Mora, ele vinha armando esse bote ha anos. Os dois eram sócios numa empresa de “gestão de talentos”, a Heidrick & Struggles, que começou a operar em Portugal em 1995 e logo passou a assessorar aPortugal Telecom, o Banco Espírito Santo, o Banco Comercial Portuguêse outras empresas que seriam decisivas para o seu futuro salto financeiro e para compor a frente que barrou a aceitação da oferta da Sonae.
Dois anos depois, com a publicação, em 2009, do balanço de 2008 da Ongoinge as subseqüentes investigações sobre seus números, foi possível montar a história que correu nos bastidores sobre como foram financiadas as compras de Nuno Vasconcelos dentro e fora da Portugal Telecom.
O primeiro passo parece ter sido um empréstimo de 216,4 milhões de euros doCrédit Suisse (que também tinha uma participação de 2,34% na PT). Hoje parece claro que o banco recebeu garantias de alguém que as tinha mais sólidas do que as que a Ongoing podia oferecer. Esse dinheiro terá sido usado para comprar as primeiras ações da PT, que a Ongoing “deu como garantia” para outros empréstimos, daí por diante tomados a bancos bem mais maleáveis.
A maior fatia veio do Banco Comercial Português (BCP), banco privado com poderosas filiais em Angola e Moçambique, que está sob intervenção do governo socialista. O BCP é dirigido, no momento, por um personagem que carrega o sugestivo nome de Armando Vara e tem estado ao lado de José Sócrates desde os seus primeiros passos na política. Envolvido em todos os escândalos que atingiram o atual primeiro ministro, Armando Vara chegou a ser condenado por corrupção.  Mas logo depois da condenação, foi colocado por José Sócrates na direção da Caixa Geral de Depósitos (CGD), o maior banco estatal de Portugal, de onde saltou para o BCP, como interventor, no momento em que era o pivô de mais uma investigação por corrupção, o “caso Face Oculta”,  no qual acabaram sendo colhidas as gravações sobre a conspiração socialista para comprar a TVI e outros órgãos da imprensa portuguesa.
BCP, sob Armando Vara, “emprestou” à Ongoing de Nuno Vasconcelos nada menos que 400 milhões de euros.
Mas ainda não era suficiente.
Ricardo Salgado
Foi então que o maior banco privado português, o Banco Espírito Santo e sua subsidiária, BES Investimentos, dirigidos por Ricardo Salgado, uma das figuras mais poderosas da republica, deslocou-se dos bastidores para a linha de frente. Já estava difícil contornar as regras bancárias para colocar ainda mais dinheiro no topo de uma pirâmide cuja base continuava a ser a modesta herança de Nuno Vasconcelos proveniente de um pedaço de uma velha fábrica de sabões e de uma participação  minoritária no quase falido empreendimento jornalístico dos Pinto Balsemão. O BES, portanto, só pôde “emprestar” à Ongoing 160 milhões de euros. Outros 60,8 milhões vieram do BES Investimentos, na forma de “investimento de risco” em commercial papers emitidos pela Ongoing, sem cotação no mercado.
Em julho de 2009 a Ongoing Strategy Investments publicou seu balanço relativo ao ano anterior. Ele dava conta de que a empresa terminou 2008 (antes, portanto, de dar início às suas compras d’além mar) com um passivo de 831 milhões de euros e um prejuízo consolidado, somente naquele ano, de 65 milhões de euros.
Notas do auditor independente alertavam para o “iminente risco de insolvência”, visto que 97,5% dessa dívida era exigível no curtíssimo prazo.
Mesmo assim, Nuno Vasconcelos mostrava-se tranqüilo e continuava falando grosso.
Disse à imprensa que tinha “excelentes garantias”, que todo o passivo estava sendo renegociado em prazos mais longos e que (apesar do vertiginoso mergulho das bolsas em plena crise do subprime) os dividendos que recebia de suas ações na Portugal Telecom eram suficientes para honrar todos os seus compromissos. Tanto assim que pretendia pagar os 157 milhões  de euros que oferecera pelaTVI “à vista e em cash”.
Com a posição que montou na Portugal Telecom graças à ilimitada confiança com que o tratavam esses banqueiros, Nuno Vasconcelos e seu sócio Rafael Mora conquistaram o direito de fazer parte do Conselho de Administração da Portugal Telecom.
Aí ficou mais fácil.

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Dentro do cofre

O presidente do fundo de pensão dos funcionários da PT, Fernando Soares Carneiro, também fazia parte do grupo de José Sócrates. Tinha sido plantado na companhia como um dos representantes do sócio estado no conselho, compondo o time que, a pretexto da tentativa de take over da Sonae, chegou à PT com a missão de derrubar o então presidente da empresa, Henrique Granadeiro, para colocar Zeinal Bava, o atual dirigente da confiança do grupo de Sócrates, em seu lugar. Executada a tarefa, Soares Carneiro passou a controlar o fundo de pensão dos funcionários.
Portugal Telecom era, agora, dos socialistas e de seus aliados. Mas havia, ainda, um elo fraco na corrente.
Na reunião de 30 de junho de 2009, quando o Conselho de Administração examinou as contas semestrais da PT, Jorge Tomé, membro do Comitê de Investimentos, deparou-se com uma ata em que se registrava a “aprovação por unanimidade” de um “investimento” de 35 milhões de euros do fundo de pensões dos funcionários da PT num fundo de private equity da Ongoing International , com sede no paraíso fiscal de Luxemburgo. Indignado ele interpelou o presidente do fundo de pensão e seus colegas do Comitê de Investimentos afirmando que tal aprovação nunca tinha acontecido e o caso sequer fora debatido no conselho de que fazia parte,  o que era duplamente grave porque beneficiava uma empresa que detinha ações da PT e cujos donos tinham assento no conselho encarregado de aprovar tais “investimentos”. Investigando mais fundo, constatou que outros “investimentos” do fundo dos empregados da PT tinham sido feitos na Ongoing International nos meses anteriores. Foram 105 milhões de euros, ao todo, por este canal.
Jorge Tomé, que tem uma sólida reputação nos meios financeiros portugueses, pediu a correção da ata, demitiu-se de seu cargo na PT e foi à imprensa delatar a ocorrência. Em depoimento à comissão de inquérito da Assembléia da Republica no mês passado, confirmou todas as acusações.
Interpelados, Nuno Vasconcelos e Rafael Mora afirmaram, na cara dura, em depoimento em que foram corroborados por Ricardo Salgado, do BES, que eles mesmos tinham sugerido ao fundo de pensões da PT que saísse das “aplicações mal remuneradas em que estava” e aplicasse o dinheiro no seu próprio fundo, que proporcionava “retornos de dois dígitos”. E mais disseram: que a Ongoing Strategy Investments e a Ongoing International eram empresas “totalmente independentes entre si” e que o dinheiro das pensões dos empregados da PT“jamais seria usado nas aquisições de veículos de mídia”.
Já sabemos, portanto, como é que foi vestido este santo, e quem foram os mais generosos entre os que depositaram nele a sua devoção. Aguarderm... qual o tipo de milagre que esperavam dele.
Fonte:http://vespeiro.com/2010/05/30/2800/ - maio 30th, 2010

O Jogo Mundial do Poder 1 - A conexão portuguesa do “Mensalão”


Série


1


O Jogo Mundial do Poder


No dia 8 de outubro de 2009 o Brasil se deparou com uma imagem inusitada. Sem mostrar nenhum sinal de azia, lá estava o presidente Lula lendo um jornal, com um bem humorado sorriso de satisfação estampado no rosto!

Quando nasce um jornal”, proclamava na legenda, “a democracia é reforçada”.
Nem sempre…
O recém lançado Brasil Econômico é uma das partes que nos cabe naquilo que pretende vir a ser o mais vasto latifúndio multimídia que jamais operou em todo o “universo lusófono” (Portugal, Brasil e ex-colonias portuguesas africanas e do Oriente),  segundo o ambicioso projeto em andamento, como diz o nome da empresa que se apresenta como sua proprietária, a Ongoing Strategy Investments, com sede em Lisboa, Portugal, à frente da qual aparecem Nuno Vasconcelos e Rafael Mora.
Na verdade, a Ongoing que, no mês passado, comprou também os três jornais e a licença de TV por assinatura do grupo carioca O Dia e anuncia para breve o lançamento de mais um jornal em Brasília, é uma peça de uma engrenagem muito maior.
Para entender esta história, será preciso destrinchá-la por camadas.
Na base de tudo está, como sempre, o Grande Jogo Mundial do Poder , que hoje é disputado em escala global.
Na era da economia movida a informação, um dos grandes objetivos desse jogo é controlar as estradas e as ruas por onde ela vai ter de transitar para chegar a cada usuário final ao redor do planeta.
Não é difícil entender por que.
Num futuro imediato, tudo que move o mundo de hoje – informação, entretenimento e dados – terá de transitar preferencialmente pelas redes físicas de telefonia fixa e pelas redes de fibras óticas para poder se deslocar de um ponto a outro do globo com o volume e a velocidade necessárias  ao regime de concorrência feroz em que viverá cada setor da economia
Ao mesmo tempo, a “convergência de meios” acabará fazendo com que tudo que hoje circula sobre outros suportes, mais cedo ou mais tarde seja traduzido embits e passe a circular por essas mesmas estradas e ruas (ou dutos informativos).
Hoje a industria da informação, dentro da qual se insere a imprensa, a única ferramenta autônoma de fiscalização do poder político a sustentar uma equipe profissional especializada dedicada a essa tarefa em tempo integral, é sustentada pela publicidade, um negócio que pode ser independente da política e que, no Brasil, movimenta perto de R$ 18 bilhões. A telefonia sozinha, movimenta 10 vezes mais. Se, como está pintando no Brasil, não houver uma forte regulamentação para garantir igualdade de direitos no uso dessas estradas e para separar a tarefa de construí-las e gerenciar o trafego dentro delas da de produzir os conteúdos que vão transitar por esses caminhos vai se tornar possível sobrepor as duas coisas, o que tende a concentrar nas mãos de quem o tiver um poder capaz de por todos os outros de joelhos.
Na nova realidade de empresas transnacionais com orçamentos maiores que os dos estados nacionais, de propriedade ultra pulverizada, em que as crises globais são desencadeadas pelo mau uso do poder de manipular essas montanhas de dinheiro sem dono visível pelos administradores dessas corporações-gigantes, o problema do controle dos representantes deixa de ser exclusivo da política e a arena da luta pelos direitos civis migra para os campos da legislação financeira e do direito dos acionistas minoritários. Em outras palavras, fiscalizar esses novos donos do poder requer um regime de dedicação e um grau de especialização ainda maiores que os exigidos quando o problema se restringia ao campo da política.
Para tornar essa tarefa impossível não é mais preciso, para os ditadores em projeto, enfrentar o desgaste de produzir legislação para tolher a liberdade de imprensa. Basta armar as “teles” com essa dupla prerrogativa. Isso equivale a dar-lhes uma licença para matar, por asfixia econômica, os canais independentes que hoje se dedicam a fiscalizar os atos dos políticos e a fazer circular as opiniões, concentrando essa tarefa nas mãos de operadores que vivem na dependência de concessões e da regulamentação produzida pelos próprios fiscalizados.
Alem desse efeito, a distribuição de privilégios e prioridades na utilização desses dutos pode, teoricamente, armar a mão de quem tiver o poder de concedê-los com a capacidade de afetar decisivamente o resultado da competição em virtualmente todos os campos da economia, cada vez mais dependentes do “insumo” informação (dados).
Essa perspectiva, mais que real, iminente, assanha ambições gigantescas tanto no campo da política, hoje mera coadjuvante da verdadeira luta pelo poder porque ainda circunscrita a fronteiras nacionais, quanto, especialmente, no do poder econômico.
É sobre este pano de fundo que corre a nossa historia.

A corrida pelo “ouro dos Incas”

No momento, as grandes operadoras de telecomunicações se enfrentam para decidir quem vai dominar cada continente.
Portugal Telecom (PT) é a única empresa de Portugal em condições de alimentar pretensões globais (ou, pelo menos, multinacionais).  Por isso ela atrai, como a luz aos insetos, todos os egos lusitanos inflados o bastante para aspirar participar do Grande Jogo Mundial do Poder . Mas Portugal e Espanha continuam presos àquela velha sina. “Reinos” pródigos na produção de ambições tão grandes quanto as maiores que a espécie humana é capaz de engendrar, suas economias não proporcionam escala suficiente para que elas possam ser satisfeitas em seu próprio território.
Assim, o domínio pelas duas “teles” ibéricas do mercado brasileiro, que por razões desconhecidas oferece-se preferencialmente a elas, está para as pretensões de Portugal e Espanha de continuarem disputando o Grande Jogo Mundial do Poder como a conquista do “ouro dos Incas”, do “Potosí”, do “Eldorado” esteve, 500 anos atrás, para suas esperanças de continuar na primeira divisão do jogo mercantilista.
A trama que trouxe a Ongoing ao Brasil – ha um ano sob investigação de uma comissão de inquérito da Assembléia da Republica portuguesa – insere-se nesse panorama e mistura a corrupção do governo socialista de José Sócrates, em permanente guerra com a imprensa, com movimentos muito mais que suspeitos de bancos públicos e bancos privados lusitanos para garantir para a Portugal Telecom, dona, meio a meio com a Telefônica de Espanha, da Vivo no Brasil, o exercício desse poder ao menos no chamado “universo lusófono”.
Já a Telefônica de Espanha, que herdou a rede de telefonia fixa da Telesp, por via das duvidas arma também o seu grupo de mídia no Brasil, em aberto desafio à norma constitucional, por meio da operação jornalística abrigada dentro do portal Terra. Mas no que ela confia mais é na possibilidade de absorver aPortugal Telecom inteira antes que esse jogo vá muito mais adiante do que já foi.
Ha duas semanas, aliás, ela lançou uma proposta sobre os acionistas da Portugal Telecom, oferecendo US$ 7 bilhões pelos 50% que ela tem da Vivo no Brasil. Essa proposta, com a recusa da PT de sequer considera-la, promete evoluir para uma guerra aberta logo adiante.
Ha ainda a Oi/Telebras, que entra nessa guerra em aliança formal com o estado petista mas já nasce com vícios e dividas que comprometem o seu desempenho futuro, e a Telmex/Claro, uma das gigantes do mundo, disputando com aTelefônica a posição de provável grande consolidadora do setor no Brasil.

O “agente secreto” da piada

Mas o que nos interessa para o momento é o caso português, que pode ser tomado como um paradigma.
Por razões fortuitas ele acabou sendo exposto ao publico com um nível de detalhe impensável em outras circunstâncias. E isto nos permite entrever como se ajustam os interesses do poder político e do poder econômico para, um com a ajuda do outro, lançarem mão  dessa ferramenta decisiva. Não errará por muito quem tomar esta história como um padrão das relações perigosas entre “teles” e governos ao redor do globo…
No caso em exame, foi a sede de vingança do primeiro-ministro José Sócrates contra a imprensa livre que veio juntar a fome à vontade de comer. A ele interessava criar um grupo de comunicações simpático ao governo e vingar-se de alguns jornalistas incômodos. Ao grupo que, dos bastidores, comanda os movimentos da Portugal Telecom, interessa preparar a companhia para ocupar os espaços a serem disputados pelas mídias convergentes articulando o gigante midiático que pretende ser hegemônico ao menos no “mundo lusófono” ou, em caso de uma (provável) derrota para a Telefônica de Espanha na disputa pelo Brasil, reforçar a herança que a PT vai deixar.
A conspiração que uniu os dois veio a publico por acaso, no meio de gravações telefônicas feitas pela Policia Judiciária portuguesa que investigava um dos casos de corrupção envolvendo o governo Sócrates (e os ha para todos os gostos). Em função da divulgação desses telefonemas pela imprensa o país ficou sabendo, contada por seus próprios protagonistas, a verdadeira história que o levou a abortar no ultimo momento uma operação montada para estruturar uma rede de jornais e televisões que o tratassem com brandura, que começava pela compra pela Portugal Telecom da maior rede de televisão aberta do país, aTVI pertencente à espanhola Prisa, na qual as grandes eminências pardas das finanças portuguesas, aproveitando-se do incontido ódio do primeiro ministro aos órgãos de imprensa que o hostilizavam, trataram de usá-lo para fazer avançar um projeto bem mais ambicioso.
A única parte desse projeto que conseguiu avançar livremente é a que diz respeito ao Brasil e às demais antigas colônias portuguesas na África e no Oriente. No próprio Portugal, com os primeiros vazamentos sobre o complô para a imprensa na véspera da eleição de setembro de 2009, a Portugal Telecom foi obrigada a sair (só oficialmente) do páreo por um ato a que foi forçado o próprio José Sócrates, temeroso de que mais um escândalo pudesse atingi-lo. Isso ajudou a dar-lhe a vitória na eleição e a renovar o mandato como primeiro-ministro.
Mas a Portugal Telecom não podia dar-se o luxo de abandonar o seu projeto. Assim, voltou ao seu plano original. Abusando da “cara de pau”, porém. Literalmente no dia seguinte ao anuncio do resultado da eleição, no mais puro estilo do “agente secreto português” da piada,  a Ongoing Strategy Investments, que já vinha sendo preparada para isso ha muito tempo, apresenta-se propondo-se a fazer as mesmas compras que a Portugal Telecom tinha sido impedida de fazer.
Por pouco não conseguiu.
Foi quando já festejava a vitória que vieram a publico as gravações fatídicas

A conexão portuguesa do “Mensalão”

A investigação que se seguiu, e continua até hoje, remete a personagens velhos conhecidos dos brasileiros que têm em comum com José Sócrates um declarado ódio à imprensa livre e que tiveram papel central na “conexão portuguesa” do famigerado “Mensalão do PT”, episódio que, na época, cresceu em importância porque foi nele que se esboçou a única ligação direta entre aquele escândalo e a pessoa do presidente Lula.

Sr. e sra. José Dirceu
O onipresente José Dirceu, que operava também a “conexão portuguesa” do “Mensalão”, se apresenta, agora, no time dos colunistas permanentes do Brasil Econômico. E sua mulher, Evanise dos Santos, vem a ser a “diretora demarketing” da empresa que assumiu o ramal brasileiro da operação, a Ejesa, editora do Brasil Econômico, “pertencente à” … esposa brasileira do dono português da Ongoing Strategy Investments, Maria Alexandra Mascarenhas Vasconcelos.
É com essa história que ofende qualquer inteligência superior à de um primata que Nuno Vasconcelos e as forças por trás dele pretendem passar por cima da norma constitucional que proíbe a posse por estrangeiros de meios de comunicação no Brasil em proporções maiores que 30%.
Foi, aliás, em função da falta de cerimônia com que Nuno Vasconcelos repete explicações desse gênero para tudo que diz respeito à origem das centenas de milhões de euros que a Ongoing movimenta, sempre com uma largueza que não corresponde à racionalidade dos negócios em que entra que, lá onde o conhecem melhor, os seus passos foram, por enquanto, atalhados.

Sr. e sra. Nuno Vasconcelos


Conselho da Portugal Telecom — Nuno Vasconcelos Nuno Vasconcelos acabou vindo, então, para o Brasil onde, violando as leis nacionais sobre propriedade de mídia por estrangeiros, montou o jornal Brasil Econônico, do qual ninguém menos que a mulher de José Dirceu, Evanise dos Santos, vem a ser a “diretora de marketing”. Ha ainda a Oi/Telebras, que entra nessa guerra em aliança formal com o estado petista mas já nasce com vícios e dividas 
Nuno Rocha dos Santos de Almeida e Vasconcelos, 45 anos, mais conhecido como Nuno Vasconcelos, “dono” da Ongoing Strategy Investments, operar todos os negócios da Portugal Telecom, tornou-se sócio, com perto de 2%, do Banco Espírito Santo, o maior banco privado do país; comprou o Diário Econômico e o Semanário Econômico de Lisboa por um preço que os próprios vendedores consideraram “irrealista” O capital segundo Nuno Vasconcelos,  tem sua origem na prosaica Sociedade Nacional de Sabões (SNS) que chegou a ser uma potencia para os modestos padrões portugueses Barrado em seu país por violação das leis veio dar com os costados na Terra de Vera Cruz. Difícil não é saber de onde vem o dinheiro que a esposa de Nuno Vasconcelos alega ter investido para fundar o Brasil Econômico e comprar os jornais do grupo O Dia. Difícil é saber de onde vem o dinheiro do próprio Nuno Vasconcelos.

FONTE: 

Série: O Jogo Mundial do Poder  2   Um meteoro no céu da mídia http://vespeiro.com/2010/05/30/2800/