domingo, 14 de fevereiro de 2016

Cumbe - Carcinicultura (fábrica de camarões) desenvolvimento para quem? 2004 à 2015

A Carta de Fortaleza dos Povos das Águas fez também menção a episódios de violência promovidos pelo segmento da carcinicultura em outros estados, como o Piauí, Rio Grande do Norte e a Bahia. Contando com a assinatura de várias entidades representativas de outros estados e do próprio Ceará, a carta é encabeçada pelas seguintes organizações cearenses: Povo Indígena Tremembé, Associação de Moradores de Caetanos de Cima (de Amontada), Associação de Moradores de Porto do Céu (de Aracati), Associação de Catadores e Marisqueiras do Sítio Cumbe (Aracati), Associação de Moradores de Capim-Açu (Paraipaba), Associação de Pescadores e Marisqueiras de Curral Velho (Acaraú), Associação de Moradores de Tabuleiro de Cabresto/CE, Fórum dos Pescadores/as do Litoral Cearense/FPPLC, Associação de Moradores da Prainha do Canto Verde (Beberibe), Associação de Pescadores da Vila da Volta (Aracati), Associação de Moradores de Aranaú (Acaraú), Fórum em Defesa da Zona Costeira Cearense/ FDZZC, Conselho Pastoral dos Pescadores e Instituto Terramar.

A carta denunciou também as instituições públicas Banco do Nordeste, Banco do Brasil e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por financiarem "a atividade de carcinicultura (que se desenvolve de maneira insustentável), exercendo, assim, um papel determinante na expansão do cultivo de camarão e no quadro de degradação e de pobreza que cresce na Zona Costeira e áreas ribeirinhas". 
"na privatização sem precedentes de água e de terras públicas e indígenas, [na] expulsão das populações locais, desmatamento de manguezais, salinização de água doce, poluição de rios, gamboas e estuários, diminuição crescente do pescado (mariscos, crustáceos e peixes) e empobrecimento dos Povos das Águas. Essa destruição dos manguezais e de outros ecossistemas costeiros segue avançando e a ela se soma a violação sistemática dos direitos humanos e ambientais dos Povos do Mar, dos Mangues e dos Rios."

Dando continuidade à luta contra os impactos socioambientais provocados pelos parques eólicos, as comunidades da zona costeira do Nordeste, entre elas a comunidade do Cumbe, se reuniram em Fortaleza em outubro de 2012 para o Seminário Energia Eólica: Conflitos e Injustiças Ambientais na Zona Costeira. Na carta final do evento, as comunidades presentes denunciaram que esta forma de geração de energia gerava uma série de impactos:
“A apropriação privada dos espaços de uso comum provoca conflitos ambientais e fundiários; o fechamento de passagens das comunidades prejudica o direito de ir e vir e sacrifica gravemente os espaços de interação comunitária e de realização do trabalho na pesca e na agricultura. O uso intensivo das águas para as obras, o aterramento de lagoas, desmatamento dos mangues e a destruição dos campos de dunas são outros exemplos de impactos ambientais que as eólicas geram para as comunidades e que comprometem a autonomia econômica e a convivência coletiva.

Enquanto o governo do Ceará e a mídia veiculam notícias sobre a crise de produtividade da carcinicultura, como em janeiro de 2008, buscando o reinvestimento no setor, problemas importantes que recaem sobre as populações são ocultados: "a degradação do manguezal, a supressão de serviços fundamentais para a sociedade (como, por exemplo, a produtividade biológica das bacias hidrográficas e dos mares, base da alimentação de milhares de comunidades tradicionais e indígenas da costa nordestina), inclusive sua atuação como sistema ambiental que amortece as consequências previstas pelo IPCC

Cumbe, palavra de origem africana ou afro-brasileira, significa quilombo - comunidades formadas por negros no período escravista.
Nesta localidade, as comunidades tradicionais se realizam nas atividades da coleta e pesca de caranguejos, mariscos, peixes, no artesanato, na agricultura familiar e pelo comércio.
Locais de marisqueiras e labirinteiras, palco de monumentos históricos como as igrejas do Senhor do Bonfim e Santa Cruz do Cumbe, sítios arqueológicos com vestígios, peças e fragmentos Tupi-Guarani, são elementos que compõem a vida da comunidade do Cumbe que vem sendo desrespeitada pelos carcinicultores que privilegiam a região para implementar seus projetos.

O desmatamento do Mangue, o abandono de fazendas de camarão, desertificação pelo avanço das dunas, poluição das águas são alguns dos impactos desta atividade.
A instalação de parques de energia eólica , para surpresa de quem a sugere como fonte de energia limpa, vem causando graves incômodos e desrespeitando a comunidade.

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