terça-feira, 27 de maio de 2014

O problema das Amazônia é a ausência (secular) do Estado

Não é tolo e deve saber de cor e salteado que o problema do Brasil não é a defesa da Amazônia. Que este é apenas um problema subsidiário. Ao reduzir-se o problema brasileiro à defesa da Amazônia brasileira -- que é o que faz Helio Fernandes e outros tantos do mesmo clube -- apenas escamoteia-se o verdadeiro problema brasileiro.

O Gen Heleno, mostrando-se imune às picadas de moscas azuis, também deve estar farto de saber que tampouco este é o problema do Exército. E que o problema do Exército não se limita à falta de recursos. A alma do Exército, se intacta, não se alteraria com a falta de recursos. E o que hoje se vê alterada é a alma do Exército.

O problema das Amazônia é a ausência (secular) do Estado. O problema brasileiro é a ausência (sistemática) de Estado. O problema brasileiro é a absoluta ignorância a respeito das questões de Estado, que são questões políticas, e a absoluta omissão daqueles que ignorantes não são com relação às medidas necessárias, que são medidas eminentemente políticas, para que esse problema seja sanado.

É a pragmática fé absoluta na absoluta inércia, em benefício de interesses privados, que levou a que não só a Amazônia brasileira chegasse ao ponto em que chegou e em que hoje se encontra, como levou a todo o restante que se observa hoje como um processo enfermo, suicida, aparentemente irreversível que se alastra por todo o País.

E, por ser este o problema brasileiro, e não outro qualquer, o problema do Exército -- cuja única e suficiente função é a defesa ostensiva do Estado e, portanto, a de seu território e de sua gente -- é o atual desvio dessa sua função e de sua missão. Assim, vê-se posto de escanteio no campo da Política, exigindo-se dele que se invista no cargo de aguadeiro oficial do reino, que exerça um papel de guarda-de-quarteirão ou de escoteiro, que distribua cestas básicas, substitua empreiteiras, cuide dos caídos pela dengue, que auxilie as velhinhas a atravessar a rua, um papel típico de defesa civil para poder mostrar serviço, ou que se desgaste no exterior, matando haitianos que não têm o que comer e que não são um problema nosso, ou mais se desgaste em suas Escolas soletrando manuais de Direito e Filosofia. Talvez alguém logo proponha que deva aprender a solfejar, por que não? Aprimora sua educação. Tudo isso é mero diversionismo, enquanto a Instituição míngua a olhos vistos. E não reage. E ninguém reage por ela. E o País vai sendo retalhado.

Já o aparelhamento do Exército -- que, para cumprir as funções às quais vem sendo destinado conforme a cartilha das Nações Unidas, não precisa ser aparelhado -- não virá do que for arrecadado pela venda ou o aluguel de terrenos dos quartéis, providências que apenas demonstram o quanto o Exército é considerado inútil quando não serve às campanhas de candidatos a gerente do nosso pedaço, pedaço esse que um Estado Nacional de fato já deixou de ser faz tempo. Nem virá de uma bilheteria esperta em apresentações públicas de suas bandas de música nos coretos municipais ou da venda de cachorros-quentes.


O aparelhamento do Exército não é um problema de falta de verba -- é um problema de verbo errado, de sujeitos e predicados errados, argumentos errados, de um rol de prioridades equivocadas. *Nem será solucionado com a concessão de medalhas de méritos a ex-guerrilheiros que ele próprio um dia já combateu, ou com a proliferação de Ministérios ou com a formação de uma "bancada militar" no Congresso. 

O problema brasileiro, do qual decorrem o problema do Exército, o problema da Amazônia e todos os demais problemas locais e específicos, é um problema da mentalidade geral. Que é torta. Que, ocupada em versejar fórmulas estatístico-econométricas e brocardos pseudo-pedagógicos, embotada, não alcança perceber o que venha a ser um Estado ou o que signifique uma Nação. Ou seja, não alcança compreender o que há de mais primário na Política mundial.

Se os militares todos, que dizem que sabem o que é o Estado e o que é a Nação, não se unirem AGORA em torno dos verdadeiros problemas brasileiros --TODOS eles problemas do Estado brasileiro, TODOS eles problemas políticos, TODOS eles problemas que não apenas asfixiam o Exército como nos asfixiam, a todos nós -- de nada servirão os afagos cínicos dos jornalistas, dos Ministros, do Congresso ou dos Partidos. E toda e qualquer discussão a respeito de todo e qualquer assunto periférico travada pelos quadros da Ativa ou da Reserva será igualmente inútil.

E, só pra lembrar: a Amazônia definitivamente não precisa de Ministro algum, porque não tem qualquer sentido a Amazônia ter um Ministro. Regiões geográficas não têm Ministros; nem Províncias, nem Estados federados, nem pedaços quaisquer de um Estado-Nação ganham Ministros e Ministérios em Governo algum em momento algum. Ministros cuidam de assuntos nacionais, não locais.

E Helio Fernandes, que não é burro, bem sabe disso. E bem sabe que nenhum cidadão brasileiro consciente pode esperar ver o Gen Heleno ocupando um Ministério qualquer que não seja o da Guerra, recuperado. Nem ele é burro, muito pelo contrário, nem outros tantos o são, inclusive os que são Ministros hoje e os muitos que foram Ministros de outros Governos, que de vez em quando escrevem bonito pra inglês ver o quanto escrevem bonito ou para fazer marola, para não caírem em esquecimento, para nada mais. Pergunte-se, no entanto, a Helio Fernandes, indenizado por "bons" serviços outrora prestados, e a outros tantos que estão nos espaços de quaisquer outros jornais e revistas brasileiros, acudindo a suas pequenas ambições de pequenos poderes individuais a pretexto de acudir ao Brasil, se estão dispostos a pegar em armas, a matar ou a morrer defendendo o solo pátrio.

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